Stepping on Roses escrita por Any Queen


Capítulo 4
Wildest Dreams


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sei, demorei muito, mas nas férias eu estava vivendo em um estado vegetativo e não tinha forças para escrever, mas... Antes tarde do que nunca, espero que gostem do cap
Beijocas
Boa leitura

OBS: respondo os comentários depois porque no momento estou sem internet



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But this is gonna take me down"
He's so tall and handsome as hell
He's so bad but he does it so well
I can see the end as it begins

— Taylor Swift, Wildest Dreams

— Uma hora ou outra ele viria aqui. – disse Oliver calmamente, se afastando de mim – Fugimos dele no casamento.

— Não fugimos – corrigi – Eu estava passando mal.

— Estava branca como um fantasma, como está agora. Talvez seja alérgica ao nome “Ray”.

Bem longe disso, mas eu não ia falar isso para ele. Respirei fundo e tentei pensar em motivos plausíveis para eu não me encontrar com Ray Palmer.

— Ele é seu amigo, vai reconhecer que eu não sei nada sobre você.

— É só ficar quieta. – disse como se fosse obvio.

— E se ele perguntar como nos conhecemos ou como você me pediu em casamento.

— Felicity, existe uma coisa revolucionaria que se chama “mentira”.

— E, Oliver Queen, existe um ditado ainda mais revolucionário que se chama “mentira tem pernas curtas”. Se ele é seu melhor amigo, com certeza, vai notar que eu não sou seu tipo ou que eu faço ideia qual é a sua cor preferida.

— Simples. – o encarei esperando sua excelente resposta – É verde.

Com isso ele saiu com passos largos até a porta.

— O que você está fazendo?

— Será que nós podemos cortar essas palavras do seu vocabulário?

— Sem elas eu não posso dizer “Você é um idiota”. – continuei seguindo-o até chegarmos na sala.

— Ele realmente é um idiota.

Reconheceria essa voz em qualquer lugar, foi a mesma que salvou a vida de Will e me deu o que mundo havia tirado: esperança. Levantei o rosto para encará-lo, não havia mudado nada, o mesmo sorriso grande nos lábios e seu cabelo negro estava perfeitamente alinhado. Seu corpo largo estava escondido em um terno caro, mas que o deixava extremamente atraente. Eu nunca pensei que iria encontra-lo novamente, nunca tive a chance de agradecê-lo e sonhava com isso, agora ele estava na minha frente e eu não podia fazer absolutamente nada.

— Oliver – o moreno deu um forte abraço no amigo e sorriu para mim, deveria estar com a boca aberta ou com o coração batendo tão alto que não iria escutar mais nada – Você deve ser a Felicity – ele pegou minha mão e a beijou de leve – É mais bonita do que Oliver merece.

— Obrigada. – consegui dizer depois de um certo tempo procurando as palavras.

— Desculpe chegar assim – ele se jogou no sofá como se fosse um movimento natural – Desculpe pelos modos, senhora Queen.

— Só Felicity. – disse sorrindo – Sinta-se à vontade.

— Sabia que você viria aqui mais cedo ou mais tarde. – reafirmou Oliver sentando perto de Ray – Só não achei que seria tão cedo.

— Soube que Walter virá a noite, não queria interromper.

— Walter não se importaria. – Oliver deu de ombros.

— Sei que não – Ray sorriu – Ele me adora.

— Todos te adoram. – disse Oliver dando de ombros – Mesmo assim não estávamos preparados.

— Será difícil me acostumar com não poder vir aqui sempre que quiser. – Ray deu tapinhas no ombro do loiro e se voltou para mim. – Então, pergunta de um milhão, como se conheceram? Todos estão se perguntando da onde vem a garota que fisgou o playboy mais cobiçado de Starling.

Olhei para Oliver procurando por ajuda, eu sabia que Ray perguntaria algo do tipo, as outras pessoas eram muito educadas para pergunta diretamente, mas Ray era o melhor amigo de Oliver e isso lhe dava o direito de fazer qualquer pergunta. E esse era o meu medo.

— Texas. – disse Oliver o que me fez querer bater nele com todas as minhas forças.

— Ele está brincando. – sorri recebendo um olhar mortal do meu mais novo marido. – Sou de Toronto.

— Veio do Canadá?

— Sim, um pouco longe, mas meu pai tinha negócios com Oliver.

— Não sabia que a QC exportava para o Canadá.

Olhei para o Oliver buscando por ajuda, por mais que seus olhos dissessem: “Você começou, agora termina”.

— Sabe como é, taxas baixas.

— Quando você foi ao Canadá?

Palmer parecia interessado nos detalhes de como nós havíamos nos conhecido, mas Oliver estava calmo, levando toda a história de Canadá para frente como se mentir para seu melhor amigo não fosse nada demais. Ele dava respostas curtas que não abriam espaço para outras interpretações ou que que se misturassem, ele era um ótimo mentiroso.

— Verão passado. – ele levantou a mão para uma das empregadas e como o botão de discagem rápida, ela começou a preparar três copos com uísque – Menti para você, não tinha ido para Las Vegas.

— Você realmente estava muito quieto aquele verão. Bastou um verão para capturar o coração de Oliver, Felicity?

— Não – disse, logo me arrependi, iria ter que criar outra história – Tínhamos nos visto antes, em algumas reuniões de empresa – Muito bem, disse a mim mesma, agora faça como se ele fosse o doido da história— Creio ter visto o senhor em algumas delas.

— Impossível. – a empregada entregou um copo a cada e saiu com uma reverência simples – Eu teria notado alguém como você.

Beberiquei o uísque para não responder, ele tinha me elogiado duas vezes e eu não podia me deixar sentir esse burburinho no estomago, ainda mais com Oliver sentado na minha frente, tudo parecia errado nessa cena. Eu nunca tinha bebido uísque.

— Ray, minha esposa. – Oliver tomou distraidamente o liquido como se não se importasse com o fato de que seu melhor amigo a tinha me elogiado uma segunda vez, talvez não se importasse afinal, não tínhamos a obrigação de gostar um do outro.

— É difícil me acostumar com você casado, cara, ainda mais com alguém como Felicity. Sem ofensas – disse o moreno sorrindo para ela – Mas ele não gostava das certinhas.

Estou longe disso, pensei.

— As coisas mudam. – novamente Oliver disse a frase como se não se importasse com o que estava acontecendo. – Você sempre gostou das certinhas. – Oliver sorriu como cumplice.

— Ainda gosto.

— Vou deixar vocês rapazes trocaram suas confidencias – tentei usar o tom que ouvi uma vez quando assistia TV de um bar, era um programa antigo e nele havia uma família rica e era dessa maneira que a matriarca falava, como se não importasse que seu marido estivesse a traindo com a babá, mas sim que ficariam bem aos olhos de quem quer que fosse.

Me levantei e alisei a saia, percebi que aquele gesto tinha ficado comum para mim nesses dois dias, afinal, eu não havia usado calça. Ray se levantou também, esticando a mão para me cumprimentar, havia algo diferente em seus olhos, como se um novo objetivo tivesse sido travado.

— Foi um prazer, Felicity. – apertei sua mão e tentei fazer de tudo para que demorasse e não parecesse estranho – Desculpe chegar de repente.

— Não foi nada.

— Espero vê-la em uma visita em minha casa. Meus pais e Oliver são como família, adorariam conhecer sua esposa.

— Assim que Oliver quiser. Tenho que ir, até logo, senhor Palmer.

— Até.

                                                               ***

                Me escondi no quarto até ver Ray sair pela porta da frente, meu coração voltou a bater no seu ritmo normal, mas minha respiração ainda estava entrecortada. Desci as escadas devagar e vi Oliver colocando o paletó e se preparando para sair, ele acenou para mim:

                - Sua aula com Diggle. – disse sem expressão – Fundo do oceano.

                Com essas palavras doces, Oliver saiu pela porta, deixando a casa com um tom calmo e até um pouco sombrio. Andei vagamente por uns cômodos da casa, era o primeiro momento calmo que eu tinha desde que me casei, era bom respirar com um pouco, mesmo que fosse um ar diferente e com um perfume que eu teria que me acostumar.

                Teria que me acostumar com as vindas frequentes de Ray e me acostumar com seu sorriso sem demonstrar o que eu sentia quando ele fazia isso. Acabei em uma parte bem antiga da mansão, estava mais suja que o normal, com algumas partes em preto como se ninguém nunca tivesse limpado, corri a mão pelo batente da porta me perguntando se poderia ou não entrar naquele cômodo, talvez houvesse algumas respostas sobre o passado de Oliver. Coloquei a mão levemente pela fechadura.

                - Senhora Felicity. – falou uma voz forte no começo do corredor.

                Dei um pulo e me afastei da porta. Diggle veio apressado até mim, parecendo até um pouco nervoso.

                - O que está fazendo aqui? – ele colocou uma mão no meu ombro e começou a me puxar – Temos uma aula bem importante.

                - Estava conhecendo o resto da casa.

                - Oliver não gosta que venham nessa parte da mansão, só Raisa pode limpá-la.

                - Ela a limpa com frequência?

                - Quase toda semana. Por que da pergunta? – ele me encarou curioso, porém, eu apenas dei de ombros fingindo desinteresse.

                - Nada demais.

                Deixei que Dig me guiasse até uma sala grande que logo mais se mostrou uma gigante biblioteca. Havia livros de todos os tamanhos e cores, que deixavam a sala com um ar antigo e misterioso como um conto de fadas, talvez Bela e a Fera. Eu poderia jurar que estava sentindo o mesmo que Bela sentiu quando entrou pela biblioteca daquele castelo.

                Por um minuto, me senti como a Bela, tinha aceitado a ficar com uma pessoa para proteger as pessoas que amava, sem nunca poder voltar. Será que a minha versão também teria um final feliz? Oliver seria a fera que se transformaria em um príncipe encantado? Ou o meu destino seria bem mais realístico e ele nunca me amaria?

                Balancei a cabeça tentando tirar aquilo dos meus pensamentos e me concentrei em Diggle, que começou a pegar uns livros médio e os enfileirou na grande mesa de madeira que ficava no centro. Segui até os livros e comecei a ler seus títulos: “Etiqueta para leigos”, “Aprenda a usar os talheres de forma rápida e fácil”, “Como se sentar? Seja uma dama sem perder a pose de poder”, “Se vestir bem: saiba quais são as melhores estilistas do século”.

                - Sério? – disse levantando o “Etiqueta para leigos” – Fiquei loira e agora isso?

                - Precisamos te transformar em uma verdadeira dama.

                - Eu sei me sentar, comer e vestir.

                - Sei que sim. – Diggle tirou uma corda do bolso e indicou uma cadeira – O importante é saber fazer isso da maneira certa. Por exemplo, você tem uma péssima postura.

                - Espero que não planeje me matar com essa corda.

                Segui até a cadeira que ele indicou e me sentei, ele passou a corda pelo meu ombro e amarrou com força, fazendo meus ombros ficarem alinhados e um pouco puxados para traz.

                - Esse é o jeito certo. – ele foi até um livro e me entregou – Como vamos participar de um jantar, vamos começar pelos talheres.

                Fiquei um pouco aliviada por saber que começaríamos pelo menor. Peguei o livro e comecei a gravar os tipos de talheres e onde usar cada um deles. Eu tinha uma boa memória fotográfica e era bem inteligente, quando ainda estava na escola era a melhor da minha turma. Quando aprendi o necessário, Diggle me desamarrou e fez uma breve massagem no meu ombro. Depois disso, colou dois livros na minha cabeça e um salto gigante e me fez andar por toda a biblioteca. Tenho que dizer que preferiria ficar memorizando talher.

                - Você é muito boa que memorizar coisas. – disse Dig do meu lado, ao mesmo tempo, um livro que estava na minha cabeça escorregou e quase caiu, mas Diggle foi mais rápido e o segurou – Contudo, nem tanto em andar corretamente.

                - Ora – falei indignada – Eu nunca tinha andado em saltos antes... isso dói pra caramba.

                - Olha o linguajar. – ele recolocou o livro e eu voltei a minha caminhada.

                - Desculpe. Esses sapatos estão um pouco apertados e vem ferindo meus pés.

                - Melhor.

                Depois de dar cinco voltas completas na biblioteca, Diggle me fez sentar e começou a falar sobre tópicos de economia que poderia ser os assuntos do jantar, me fez memorizar números para incrementar a conversa.

                - Você é muito boa em economia também. – disse ele – Já fez alguma faculdade?

                - Não. – respondi com um pouco de vergonha.

                - Por que não pede a Oliver? Se daria muito bem fazendo algum MBA.

                - Acho que eu escolheria algo envolvendo TI, era muito boa com computadores.

                - Era?

                - Tivemos que vender o único que tínhamos faz uns cinco anos, não mexo em um desde então.

                - Devemos ter medo de um Felicity com computador?

                - Se estiver na internet, eu posso achar.

                                                                               ***

                Me arrumei antes que Oliver chegasse, tentei usar algo não tão arrumado, acabei por escolhendo um vestido vermelho e deixei meus cabelos soltos. Assim que terminei de colocar o brinco, Oliver entrou no quarto batendo a porta e se jogando na cama, deixando a pasta cair de lado. Sai do closet e peguei a pasta enquanto ele massageava a têmpora.

                - Dia difícil?

                - Um dia comum na QC.

                - Diggle conseguiu me ensinar algumas coisas hoje.

                - Não esperava mais que isso. – ele deu um pulo e me encarou – Boa escolha. – com isso, andou até o banheiro e se trancou no recinto.

                Guardei sua pasta e decidi descer para ver se estava correndo tudo bem.

                Assim que Oliver desceu, ele ajeitou a gravata e me chamou em um canto com uma linha fina nos lábios de preocupação.

                - Walter me conhece desde pequeno, não quero nenhum deslize.

                - Acho que me saí muito bem com o Ray.

                - Mudando toda minha história?

                - Você disse que eu era do Texas!

                - E daí?

                - Eu sou branca como um boneco de neve, será que não percebeu?

                - Não passo meu tempo pensando na cor da sua pele.

                - Grr. – grunhi – Impossível fazer você me ouvir.

                - Está agindo com uma garota dos Glades agora.

                - Porque eu sou uma garota dos Glades!

                - Não mais.

                A campainha tocou e Oliver estremeceu.

                - “Que comecem os jogos”. – com essa frase, ele colocou a mão nas minhas costas e me guiou até a porta, respirou fundo e estampou um sorriso no rosto, decidi que era melhor fazer o mesmo

                A porta abriu, mostrando um homem por volta dos fins de seus quarenta anos, careca e com a pele escura, usava um terno caro e sorria feliz.

                - Oliver. – disse com um sotaque britânico.

                - Bom te ver, Walter. – os dois homens se abraçaram, em seguida, Walter se virou para mim e sorriu.

                - Você deve ser a linda Felicity. – ele pegou a minha mão e eu a sacudi, mas acontecia que ele estava levando minha mão aos seus lábios para beijá-la, então meu chaqualhar acabou indo direto no seu rosto, ele a soltou com um susto, mas depois começou a rir.

                - Desculpe, senhor Steel.

                - Só Walter por favor.

                - Vamos jantar. – disse Oliver, demonstrando que estava doido para aquela noite acabar.

                Durante o jantar, Diggle acertou a maioria dos tópicos que foram abordados. Walter ficou impressionado ao me ver participar da conversa, porém Oliver permaneceu calmo e até dando alguns sorrisos quando Senhor Steel falava algo engraçado. Quando o jantar se encerrou, Queen chamou o dono do banco parar ver seus charutos cubanos, percebi que essa era a minha deixa. Levantei com calma e tentei não tropeçar nos saltos.

                - Vou me retirar, senhores, tive um dia longo. – estava me preparando para sair quando Walter me chamou.

                - Pode dar um beijo no seu marido, não fique com vergonha. Me sinto péssimo por interromper os primeiros dias de casados de você.

                - Não se preocupe.

                Segui com passos calmos até Oliver e respirei fundo, ele me olhou com um avisou e sorriu, como se realmente quisesse um beijo. Segurei seu rosto levemente e lhe dei um beijo demorado, que não foi de todo mal, contudo, não era aqueles lábios que eu queria beijar. Assim que me separei, ele segurou meu rosto e me deu um beijo rápido na testa, que foi um gesto quase carinhoso. Se continuássemos desse jeito, conseguiríamos nos safar.

                - Recém-casados são uma coisa linda. – disse Walter antes de eu conseguir passar pela porta.

                                                                               ***

                Depois de três dias, estava conseguindo dominar os saltos com quase uma maestria, contudo, ainda deixava os livros caírem umas duas ou três vezes.

                - Vamos, Felicity, olhos para frente. – Diggle já tinha perdido a paciência e não me chamava mais de “Senhora Felicity”.

                - É muita informação: “Respire, sorria, olhe para frente, arrume a postura e não esqueça de demonstrar superioridade”. – disse tentando imitar sua voz.

                - Eu esperava algum tipo de avanço depois de três dias. – Dig se jogou na cadeira e suspirou.

                - Desculpe. – não tinha percebido que a minha constante falha na postura iria estressar tanto o motorista.

                - Não. – ele sorriu fraco – Oliver foi específico quanto seu avanço, se eu não conseguir até sábado... Deixe.

                - Não! – quase gritei exasperada, achava que Diggle estava livre das ameaças de Queen, tirei os livros da cabeça e me arrastei até a mesa, me sentando em uma das cadeiras. – O que o terrível Oliver disse? Fundo do oceano?

                Diggle deu um pequeno sorriso.

                - Eu tenho uma filha. – arqueei as sobrancelhas estupefata – Sara, Oliver banca a escola dela, uma das melhores da cidade, disse que se eu não a melhorasse, ele pararia de bancar Sara e diminuiria meu salário.

                - Eu não... Não imaginava isso.

                - Tudo bem.

                - Não! Eu não achava que Oliver fosse capaz de uma coisa dessas com você, é um dos poucos amigos dele.

                - Não sou seu amigo, sou seu empregado.

                - Não é a forma que eu vejo. Ele não contou aos outros empregados sobre mim e nem colocou seu futuro na mão deles. Acho que Oliver está a tanto tempo nesse casulo dele que não sabe dizer que confia sem fazer uma ameaça.

                - Tão perceptiva?

                - Ele é fácil de ler. – olhei para um quadro para não encarar Dig – Pelo menos, sua parte dura e impenetrável.

                - Por quê?

                - Eu fui assim por muito tempo.

                O telefone tocou, me livrando das perguntas de Diggle. Andei vagarosamente até o aparelho esperando não ser mais um dos amigos empresários de Oliver.

                - Alô?

                - Felicity? – a voz de um senhor invadiu o telefone, fiquei atenta por ele saber meu nome.

                - Sim. – disse desconfiada.

                - Meu nome é Simons Palmer, pai de Ray.

                - Oh.

                - Meu filho disse coisas maravilhosas sobre você.

                - Creio que são eufemismos.

                - Não seja modesta, espero que você e seu marido possam nos juntar hoje para um jantar em minha casa. Ficaria muito feliz em conhece-la, afinal, criei Oliver como se fosse meu filho.

                Silêncio. Eu não sabia se deveria dizer sim, claro que gostaria de ver Ray novamente, mas não dessa forma, com sua família e meu marido. Contudo, a voz do senhor Palmer era suplicante, ele queria me conhecer e eu não queria perder a chance de ver seu filho.

                - Claro.

                - Ótimo. Vejo vocês às sete.

                - Até mais.

                - Até.

                Soquei o telefone no gancho, querendo bater minha cabeça na parede, não queria ter que ficar encarando Ray a noite toda. Deus, como isso seria difícil.

                - Quem era? – perguntou Diggle.

                - Por acaso você tem equipamento de mergulho? – Diggle me encarou divertido enquanto eu fazia uma feição enjoada.

                - Por que você precisaria disso?

                - Para quando Oliver me jogar no fundo do oceano.

                                                               ***

                - Felicity. – gritou Oliver assim que entrou no quarto.

                - Ele insistiu! – gritei saindo do closet com as mão para cima.

                Com isso, a toalha que estava a minha volta caiu no chão, me deixando apenas de roupa intima, dei um gritinho e peguei logo a toalha, enquanto encarava Oliver corando. Ele apenas deu de ombros e esticou uma sacola.

                - O que é isso?

                - Use-o.

                - Eu sou meio contra drogas. – peguei a sacola e dei uma espiada dentro – Por essa eu não esperava. – tirei o perfume da sacola e tentei ler o que estava escrito, mas estava em francês.

                - Importado.

                - Percebi quando eu não consegui ler.

                - Como se você conseguisse ler todas as palavras da nossa língua. – Oliver deu de ombros mais uma vez e começou a tirar o paletó.

                - Eu sei ler muito bem!

                - Apenas vista-se, está embaraçando a si mesma parada aí.

                - Como você é irritante! – quase joguei os braços para o alto, mas isso faria a toalha cair novamente.

                Depois que escolhi um vestido marfim e os saltos amis baixos que encontrei, borrifei o perfume e tentei não tossir, aquilo não tinha um cheiro bom.

                - Isso fede! – gritei saindo do closet.

                Oliver estava sem camisa, com a toalha enrolada na cintura. Eu nunca tinha ficado perto de um homem que estivesse praticamente nu, me virei corando querendo não pensar que por trás daquela ignorância toda tinha um corpo magnifico.

                - Você não está acostumada. – escutei a toalha caindo no chão e Oliver abrindo uma gaveta, franzi os lábios de nervoso e tentei não tremer tão visivelmente. – Deixe de ser tão puritana, a maioria das mulheres e Starling gostaria de me ver nu.

                - Eu não sou puritana! – Não era? Até onde eu sabia o máximo que eu tinha feito era beijar umas poucas bocas na minha vida – Só que isso é constrangedor.

                - Eu não me sinto constrangido, na verdade, me sinto livre.

                - Por que a única hora que você é mais leve é quando está tirando sarro da minha ingenuidade?

                - Sua ingenuidade é divinamente engraçada. Até para mim. – depois de algum silêncio, outra gaveta se fechou – Pode olhar.

                - Não sei, não confio em você.

                - Seria realmente muito engraçado ver a sua feição surpresa, mas estamos atrasados.

                - Ainda não acredito em você. – comecei a batucar o pé no chão, não sabendo ao certo se deveria virar, contudo, senti mãos fortes nos meus ombros, me obrigando a virar, segurei um gemido e deixei que ele me virasse. Oliver estava completamente vestido, porém com a blusa para fora da calça e a gravata aberta no pescoço.

                - Não brinco em serviço. – ele me deu um piscadela e se afastou para a cama.

                - Quando você brinca?

                - Touché.

                Quando os dois estavam prontos, nos encontramos na saída e esperei que ele saísse para pegar o carro. Mas Oliver apenas começou a sair pela porta.

                - Não vamos de carro? – perguntei adiantando o passo atrás dele.

                - Eles moram a duas quadras.

                - O quê? – quase gritei e finquei meu pé no chão.

                Então os pais do meu Príncipe Misterioso moravam tão perto assim de mim? Como eu poderia viver com essa pressão constante.

                - O que foi agora, Felicity?

                Ele se virou para mim com uma expressão cansada, claro que eu não disse a verdade.

                - Não sabia que ia ter que andar com esses saltos.

                - Não espera que eu te carregue, não é mesmo?

                - O quê? Não!

                - Então vamos.

                Porém meus pés não obedeciam, não tinha sido uma boa ideia concordar com esse jantar, não sei como me controlaria e agora sabia que eles moravam assim tão perto. Oliver arqueou a sobrancelha e bufou, depois começou a andar com passos largos até onde eu estava e se abaixou.

                - O que você está faz...

                Não consegui terminar minha frase, Oliver me jogou por cima do ombro e começou a andar, eu dei um gritinho e comecei a me mexer.

                - Isso não vai funcionar. – avisou ele.

                - Me coloca no chão.

                - Você vai andar se eu fiz isso?

                - Não! – tentei estapear as costas dele, mas eram duras demais para surgir algum efeito.

                - Então não.

                - Oliver! – ele começou a rir e colocou a mão na altura do meu quadril, quando eu dei outro grito sua risada aumentou – Tira a mão daí!

                - Se eu tirei você vai cair.

                - Ora, é isso que eu quero.

                Ele parou por um momento, depois jogou o corpo para frente, me fazendo cair com tudo de bunda no chão, ele olhou para mim com um sorriso satânico no rosto e com as mãos no bolso da calça.

                - Você é um pervertido.

                - Essa é nova.

                - Você sujou meu vestido!

                - Era isso que você queria. – ele deu de ombro e voltou a andar.              

                - Ei! – chamei – Pelo menos me ajuda.

                - Você está patética no chão. – mesmo com o comentário ele voltou para me ajudar, esticando a mão, porém, ao invés de aceitar, peguei sua mão e o fiz cair no chão.

                - Felicity! – ele gritou enquanto caia de barriga no chão, foi a minha vez de rir.

                - Agora quem está patético no chão? – disse entre risos.

                - Os dois, devo dizer. – falou uma terceira voz.

                Meu sorriso se desmanchou e eu tentei não corar enquanto levantava a cabeça para encarar o dono da voz. Ray estava a cima de nós, em seu terno caro de linho e uma gravata perfeitamente alinhada. Ele parecia sério, não divertido como eu vira antes. Palmer me estendeu a mão, eu aceitei e levantei enquanto Oliver tentava limpar sua blusa branca suja.

                - O que vocês dois estavam fazendo? – perguntou Ray.

                - Ela não queria andar. – resmungou Queen.

                - Então você a jogou no chão? – o moreno colocou as mãos no bolso e deu um pequeno sorriso.

                - Para a minha defesa, ela também me jogou no chão.

                Depois disso, seguimos para a residência dos Palmer, Oliver e Ray conversavam sobre finanças e eu tentei me concentrar em outra coisa, para não ficar nervosa com Ray tão perto.

                Assim que chegamos, Ray tocou a campainha e um senhor pareceu, ele sorriu e abraçou Ray e Oliver.

                - Felicity – disse Ray – Esse é meu pai, Simons Palmer.

                - Nos falamos por telefone. – ele pegou  a minha mão e dessa vez eu não a chaqualhei, deixei que ele plantasse um beijo terno na palma.

                - Muito bonita realmente. – disse Simons.

                Uma mulher não muito mais velha do que eu apareceu na porta, ela segurou o braço de Simons e sorriu para mim. Aquela não poderia ser a mãe de Ray, ela era bonita e tinha longos cabelos negros, mas não tinha idade o suficiente para ter um filho tão velho.

                - Essa é a minha madrasta, Clara. – disse o moreno como se lesse meus pensamentos.

                Assim que entramos, Oliver e Simons se mergulharam em uma conversa sobre negócios enquanto Clara fora ver como o jantar estava. Comecei a olhar as fotos que estavam na parede, tinham varias de Ray e algumas de seu pai, mas nenhuma de sua mãe. O que me chamou atenção foi a foto de dois menininhos por volta de sete anos, eles seguravam mini mochilas e estavam vestidos para ir à escola, o menino moreno sorria genuinamente, contudo, o loiro estava com uma feição triste de dar dó, como se nada no mundo poderia lhe trazer felicidade.

                - Oliver era carrancudo desde criança. – disse Ray atrás de mim.

                - Esse é Oliver?

                Encarei com mais precisão e consegui a ver a semelhança, ele estava triste, uma tristeza que poderia ser a explicação de sua ignorância atual.

                - Ele me parece triste. – disse.

                - A maior parte de sua infância foi assim, depois ele simplesmente parou de chorar.

                - O que...

                - Felicity. – chamou Simons – Venha me contar sobre o Canadá.

                Por que tinha escolhido esse país?

                                                                               ***

                Depois do jantar, me retirei rapidamente para ir ao banheiro no andar de cima, parei no topo das escadas na volta e encarei a bela vista que os Palmer tinham, era simplesmente de tirar o fogo. Assim que virei, meu corpo bateu em alguma coisa sólida e quase caí para trás. Braços fortes me seguraram e me puxaram de encontro ao seu corpo.

                - Ray. – disse tentando recuperar o ar – Não te ouvi chegando.

                - Estava admirando você.

                Ai. Meu. Deus. Tentei encontrar o ar depois dessa declaração, mas estava complicando pensar em outra coisa que não fosse a mão de Ray em meu corpo.

                - Como você sabia que esse era o meu perfume favorito? – ele me encarou com puro desejo, como se eu fosse algo extremamente valioso, eu não conseguia entender o que estava acontecendo, ele não me soltava e me olhava com se fosse me devorar.

                - Eu não sabia... – ele sorriu e me soltou, virando seu olhar para a vista que eu via a pouco.

                - É uma vista incrível, as vezes me sinto infeliz aqui.

                Respirei fundo algumas vezes, ele tinha voltado com sua postura contida.

                - Infeliz?

                - Vejo o quanto sozinho eu estou.

                - Não acredito. – ele me olhou com incredulidade – Quer dizer... Você tem família e dinheiro, pessoas que te amam e comida na mesa. Triste seria se você não tivesse ninguém, passasse fome e não tivesse como sustentar quem você ama. Não ter saída. Isso sim é triste, você tem várias.

                - Realmente uma ótima maneira de ver. – ele sorriu novamente para mim – Você tem um coração bom.

                - Você não tem como saber.      

                - É sincera. – disse como se explicasse tudo – E vejo no seus olhos...

                Ele ficou em silêncio e voltou a me encarar com uma força voraz.

                - O que vê?

                - É tão linda por dentro como é por fora.

                - Realmente acho que você me superestima.

                Ray se virou para mim e começou a baixar seu corpo, vagarosamente como se fosse me beijar, mas isso era impossível, ele sabia que eu era esposa do seu melhor amigo, não poderia fazer uma coisa dessas com Oliver há poucos metros. Contudo, ele não parava de abaixar seu rosto de encontro ao meu, então a única resposta que restava era: Seria eu capaz de fazer isso com Oliver?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Desculpa novamente pela demora ♥



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