Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

LOOK WHO IS BAACK!!! Como vão vocês? Depois de um tempo afastada, here I am, para dar continuidade e concluir a história. Muito obrigada a todas as leitores por todo carinho e compreensão comigo. Ainda me pergunto o que fiz para merecer vocês. Espero de todo coração que gostem do capítulo. Confesso que estou um bocado nervousa com ele ushsahsauhs.E claro, dedico esta volta para a minha mini-Emma, você não pode ler aqui ainda, mas sem sua força e luz eu não estaria aqui tão já. Que orgulho eu sinto de ti com cada avanço seu. Acho que é isso.
Boa leitura



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Emma

Quando Killian e eu voltamos para casa, os primeiros feixes de luz do alvorecer, começavam a surgir preguiçosamente no horizonte em tons alaranjados. Jones tinha um sorriso preguiçoso nos lábios, que ficara em seu rosto o tempo todo desde que saímos da água e, eu sabia bem qual era o motivo dele, porque por mais que estivesse me mantendo séria, por dentro eu estava feliz.

Feliz pelo nosso momento. Feliz por saber que ainda nos desejávamos da mesma forma. Feliz por agora ser forte para pará-lo, quando no passado esse papel cabia a Killian.

Ao mesmo tempo que estava feliz, minha parte racional me reprimia por ter feito o que fiz. Jogava a cada minuto que ele estava se aproveitando como fizera uma vez e que era só uma questão de tempo até me deixar novamente. Repreendia-me por ceder tão fácil em seus braços, mesmo sabendo que seu casamento estava marcado.

—Como vamos entrar? – Jones questionou baixinho, mordiscando o lóbulo da minha orelha, enquanto rodeava os braços ao redor da minha cintura, prendendo-me de encontro ao seu peito que emanava um calor tenro.

—Pela porta dos fundos. Os criados nunca se lembram de trancá-la. – respondi, empurrando-o, todavia sem conseguir conter um leve sorriso. – Já que você quebrou nossa escada com esse seu peso. Precisa comer menos. – brinquei dando a volta na casa.

—Acredito que posso perder peso com uma atividade que exige um bocado de esforço físico. - retrucou o tom de voz baixo e malicioso, que fez algo dentro de mim se agitar e minhas coxas se contraírem de leve uma contra a outra quando um formigamento começou no meio delas.

—Mesmo? - consegui indagar com a maior indiferença, sem olhá-lo para não mostrar meu rosto quente e vermelho com os pensamentos que começavam a se formar.

—Mesmo. - respondeu. - E o melhor de tudo é que ele é feito na cama e você pode fazer esse exercício comigo… Na verdade, precisa de duas pessoas. - contou, correndo para ficar de frente para mim. - Posso te mostrar como eu sou bom.

—Não tenho dúvidas que é, Jones. - atalhei, engolindo em seco ao fitá-lo. - Mas eu não sou muito chegada a exercícios.

—Te garanto que irá gostar tanto desse que até irá gritar de prazer. - rebateu arqueando uma sobrancelha, fazendo com que eu perdesse o fôlego por um momento e então riu, correndo a ponta do indicador pela linha do meu maxilar lentamente. - Vejo que consegui deixá-la sem jeito. - constatou divertido.

Pisquei algumas vezes, tentando voltar ao normal e aquiesci.

— Vou entrar primeiro… - mudei de assunto, pigarreando para fazer a voz sair. - Espere alguns minutos, então pode entrar... Para não ter perigo de alguém nos ver juntos. – expliquei.

Jones assentiu e olhou ao redor, antes de voltar a me fitar com olhos atrevidos e me puxar para um beijo rápido; apenas um encostar de lábios como forma de despedida, que foi o suficiente para mandar um choque por todo meu corpo.

—Vou te mostrar que eu não sei só falar, Emma. - sussurrou em forma de promessa em meus lábios, fazendo-me beber seu hálito quente e me senti começar a embriagar com ele pela forma que minhas pernas bambearam. - O próximo passeio é por minha conta.

Anuí, sentindo-me aturdida com suas palavras e não sei como fui capaz de me afastar.

—Preciso entrar. – objetei. - Tenha um bom descanso, Killian. – desejei, vendo-o sorrir com serenidade, enquanto permanecia parado, esperando que eu entrasse.

Esgueirei-me pela casa ainda silenciosa, prestando atenção e tentando não fazer barulho, enquanto andava apressada até meu quarto, doida para tirar a roupa molhada e ficar um pouco embaixo das cobertas para me esquentar do frio que sentia antes de precisar estar em pé. Trombei com uma mesinha e com o reflexo rápido segurei o vaso que estava em cima dela, prendendo a respiração ao ouvir uma porta se abrir e passos pesados soarem no assoalho.

Desesperada subi no parapeito da janela do corredor, puxando a cortina para me esconder atrás dela. Levei o ar superficialmente até meus pulmões, ouvindo meu coração bater em meus ouvidos, tamanho o medo que estava de ser encontrada naquela posição, pois sabia que logo, Killian já estaria dentro de casa e seja lá quem fosse, ao nos ver molhados, deduziria que havíamos aprontado alguma coisa; que envolvia roupas quase arrancadas, a boca de Jones provocando um de meus seios, enquanto uma de suas mãos o massageavam e a outra queria se infiltrar no lugar proibido, fazendo-me gemer e me contorcer com aquilo, que com certeza não deveria ser permitido.

Pelo menos não com a boca e dedos.

Quando mais novos, Killian já havia explorado meu corpo com suas mãos, mantendo-as longe do conteúdo de minhas ceroulas, é claro. Eu tinha-as sentidos em meus seios antes, minha cintura, costelas, barriga e coxas. Jones apertara cada pedaço de pele, levando-me a loucura apenas com isso, então ao saber que poderia ter mais... Que sua boca poderia me dar tanto prazer, além dos beijos, fez todo meu corpo se incendiar e ficar curioso para saber o que mais poderia fazer com ela.

Balancei a cabeça ao sentir o calor se concentrar ainda mais no meio de minhas pernas ao ter tais pensamentos desejosos com o exercício praticado na cama e prestei atenção aos sons. Não escutando mais os passos, achei seguro sair de meu esconderijo e ao me encontrar sozinha, corri em disparada para meu quarto, entrando nele como se estivesse salva no jogo de pique-esconde.

Livrei-me da roupa molhada, secando o corpo, antes de me vestir. Faltava algum tempo ainda para o dia surgir completamente, por esse motivo me enfiei em uma camisola e enrolei-me nas cobertas, permitindo que minha mente se deleitasse com as memórias da noite, enquanto aquecia calidamente meu corpo com as boas lembranças. Senti-me como a garota de quinze anos quando voltava para casa e relembrava tudo o que acontecera, na tentativa de gravar na mente, com medo que desaparecesse cada agitação do estômago, os arrepios que percorria cada centímetro de pele, os beijos trocados e suas intensidades, assim como os sabores. E ri de mim mesma por me encontrar uma vez mais envolta naquela atmosfera de paixão que Killian me colocara uma vez.

Todavia dessa vez ela não parecia tão arrebatadora como antes. Era a mesma atmosfera de paixão, misturada com algo a mais que a tornava suave, menos intensa, ainda assim totalmente envolvente. Era como se agora ela fosse mais contida, mais adulta, sem deixar de ser fascinante e me fazer soltar risadinhas aleatórias, acompanhadas de suspiros apaixonados, e algo pulando em minha barriga que fazia meu coração se agitar e minha pele se acender como uma lareira, a menor lembranças de seu toque.

Quando Jones voltara aquele homem detestável, eu jurei que não iria amá-lo. Tentei a todo custo queimar por completo e varrer as cinzas que cairiam do sentimento que um dia existiu. Tratei-o com indiferença, quase beirando ao desprezo quando ele tentava se aproximar e pedir desculpas pelo modo que agiu comigo quando nos reencontramos. Eu sentia raiva dele. Raiva por ter me esquecido. Raiva de mim, por não ser suficiente para estar ao seu lado.

Eu me senti rejeitada da pior forma e sentir esse sentimento dentro de mim, de rejeição, massacrou uma parte minha, que me apagou por mais que eu tentasse permanecer a mesma Emma. Doía demais e me apertava o peito.

E por um tempo, adiantou. Ou pelo menos me fiz acreditar que sim, que havia tido sucesso em deixar de amá-lo. Sempre ouvi dizer que quando se mente bem demais, nós começamos a acreditar na mentira. Foi isso que aconteceu... Até que ele começou através de gestos e sorrisos, quando as palavras começaram a falhar por eu não querer ouvi-las, a me reconquistar. O vestido. A ajuda com o dinheiro... A forma que pareceu aflito quando vira o que eu fizera com meus cabelos.

Então a armadura que envolvia meu coração foi jogada para o lado por esse órgão tão teimoso que começou a se permitir acelerar, errar a batida e se sentir aquecido uma vez mais, até que me vi, novamente, com ele expandido de felicidade sempre que o via, depois de ficar angustiado com a ansiedade por estar longe. Sentia-o vibrar quando Killian me dava um sorriso. E simples assim, eu soube que estava o amando, como quando ainda era uma menina.

E assim como a menina, eu sabia que ainda era amada. Eu via em seus olhos, agora o mesmo olhar do garoto de dezenove anos, o deslumbramento, a adoração e o amor com que me fitava, que era dedicado para mim. O orgulho que sentia por ser quem me segurava. Orgulho e alegria. O tum-tum-tum de seu coração não mentia quanto ao que sentia e meu bom Deus! Era a melhor coisa do mundo encostar a cabeça em seu peito e ouvi-lo se declarar para mim.

Virei para o lado sentindo o sorriso bobo se abrir, quando meu olhar caiu sobre os papéis em cima do criado mudo. Não é que eu não tivesse coragem, eu só sabia que não mudaria em nada saber as cláusulas do contrato de Killian com Milah e por esse motivo, não mexera neles desde que foram deixados para mim.

Estava sentada na sala particular de Belle fazendo meus exercícios. A condessa sempre me colocava ali, quando eu estava dispersa demais, na tentativa que eu me focasse no trabalho. Na biblioteca eu me levantava demais para ficar olhando os títulos das mesmas lombadas que já olhara um milhão de vezes, ou ficava admirando o lado de fora da casa, com o pensamento longe ou até mesmo sem pensar nada. Minha cabeça, nos últimos dias estava ficando assim com frequência: branca, vazia. Se ia para o meu quarto, logo deixava as coisas na escrivaninha e ia me deitar para um cochilo que eu nunca tive o costume de tirar.

E para ajudar Neal estava ali. Insistindo em sua proposta. Na proposta que meu pai lhe deu a benção desde que eu estivesse de acordo... Mas bem, eu não estava. Eu gostava de Neal, contudo eu não o via como um marido. Não agora pelo menos. Não enquanto houvesse esperança.

A questão era que não havia esperança e eu já deveria ter dito “sim” para o maldito pedido. Pelos céus! Eu não poderia perder outra oportunidade por esperar Jones. Neal era muito melhor que o fazendeiro Webber: tinha todos os dentes, cheirava bem, não tinha um bigode horroroso e nem uma pança saliente. Cassidy era jovem, diferente do fazendeiro e gostava de mim.

—Ópio. – praguejei ao ver que havia derrubado o tinteiro.

—Emma? – a voz de Belle soou as minhas costas e eu virei-me para ela, que tinha os lábios pressionados. – Tem alguém aqui que quer vê-la.

Empertiguei-me na cadeira, imaginando quem seria.

—Irei pedir para que entre. – informou, relanceando os olhos por cima do ombro. – E lembre-se: se por acaso for tratada mal, tem todo o direito de ser mal-educada e deixar a sala ao se sentir ofendida. Essa agora é sua casa também e ninguém tem o direito de desrespeitá-la aqui.

Um arrepio de pavor percorreu meus braços ao pensar que Milah estaria do outro lado. Não sabia o que ela poderia querer comigo, já que eu estava tentando me manter longe de Killian e não o corresponder de forma alguma.

Mas não foi Milah quem entrou na sala, e sim um homem muito elegante, perto da meia idade, o rosto austero e olhos azuis que me fitaram insondáveis.

—Senhor. – indiquei o sofá, torcendo para que minha voz não tremesse, assim como minhas mãos. Percebi que o ar estava preso em minha garganta e por mais que tentasse soltá-lo, ele não parecia disposto a ir a lugar algum. – Posso pedir algo para o senhor? Um refresco? Chá? Algo para comer?

Um sorriso surgiu na face dele, enquanto encarava a ponta de sua bota.

—Tem uma boa pronúncia pelo o que posso ver. E sabe receber um convidado como uma verdadeira dama. – observou, voltando sua atenção para mim. – A senhorita sabe quem eu sou? – inquiriu com curiosidade.

Sentei-me na ponta da poltrona, tentando controlar meu coração que batia assustado em meu peito ao suspeitar da identidade do homem.

—Acredito que seja irmão da Sra. Jones, tio de Belle e Killian. – respondi. – A cor do azul é bem semelhante. Um azul pervinca, como o da flor.

Ele soltou uma risadinha.

—Não faço ideia do que está falando referente a cor e flor, mas acertou. Sou Theodore Cephas. – apresentou-se com um meneio de cabeça. – Então você é a famosíssima Emma Swan.

—Não sou famosa ainda, mas logo espero ser. – atalhei, decidindo que não iria deixá-lo me intimidar. – Como posso ajudá-lo, senhor Cephas?

O tio de Killian se ajeitou no sofá, pousando uma maleta de couro marrom, que até aquele momento não havia percebido que carregava e a abriu, tirando papéis de lá de dentro.

—Sabe ler? – quis saber.

Aquiesci prontamente.

—Não sou tão rápida ainda, no entanto estou melhorando a cada dia.  Vou ser sincera com o senhor, que demoro um bocado para ler uma palavra como um todo, porém perto do que eu fui um dia, em que frases não significavam nada para mim, leio muito bem, obrigada.

—Quantos anos tem?

—Vinte e quatro, senhor. Faço vinte e cinco em breve.

Theodore anuiu, dispondo as folhas com cuidado em minha frente.

—E quanto a escrita?

—Se sei ler, certamente sei escrever. Não existe um sem o outro, não? – retruquei impaciente com aquelas perguntas. – Redijo cartas já. Fiz questão de me empenhar mais na escrita, pois sentia a necessidade de informar meus pais como estou. Eles ficaram em Hertfordshire. – expliquei. – Mas pretendo trazê-los para morarem aqui.

—Na casa de sua patroa?

—Belle é minha amiga, senhor. – rebati com um sorriso simpático. – E claro que não! Estou vendo uma casa para comprar, todavia, como bem deve saber, não vendem propriedades para mulheres.

—Fiquei sabendo que desenha. – comentou, mudando de assunto. – Gostaria de vê-los.

Assenti, levantando-me e pegando minha pasta. Eu sempre costumava me dedicar a criação depois que terminava as tarefas, por esse motivo tinha sempre os desenhos comigo.

—Eu os deixo na loja da vila. Recebo um tanto sempre que um dos modelos é escolhido. – informei, observando-o estudar os vestidos parecendo absorto. – Perdoe-me se irei soar rude: mas o que o senhor quer aqui?

Ele me fitou, como se lembrasse que estava ali comigo.

—Queria conhecer a mulher que está levando meu sobrinho a loucura. Estou aqui porque simplesmente queria conhecê-la e tentar entender o que Killian tanto adora.

—Acredito que não se sairá bem nesta tarefa, senhor, pois nunca que conseguirá enxergar o mesmo que meu Killy. Julgou-me inadequada antes mesmo de me conhecer e não acredito que irá mudar sua opinião sobre mim. O senhor nunca irá entender o que ele sente ao me ver, assim como não entenderá o que eu sinto. Do mesmo modo que não serei capaz de compreender o que sente por alguém que o senhor ama, entende?

—Acredito que sim. – respondeu. – Então ama mesmo meu sobrinho?

—Sim, senhor. – afirmei. – Desde o primeiro instante em que sorriu para mim e aqueles olhos de menino travesso pousaram em meu rosto, soube que o amava, porque, meu coração entrou em colapso no meu peito e faz isso até hoje quando o vê.

—Não seria por causa da fortuna que irá herdar?

Respirei fundo ao ouvir sua pergunta e cerrei o maxilar com força.

—Serei obrigada a deixar esta sala, senhor. – falei, colocando-me de pé e recebendo um olhar surpreso. – Pois fui extremamente ofendida agora com essa pergunta. Esperei Killian por nove anos, senhor. Fiquei com ele quando o mais longe que sonhava era em herdar a paroquia do pai. Incentivei-o a ir morar com o senhor, quando queria recusar. E se ele recusasse, teria ficado com Jones, porque não me importo com isso que é tão sagrado para o senhor. Talvez seria melhor se tivesse recusado. – murmurei, caminhando pela sala. – Estaríamos casados agora. Não me importo para dinheiro, tenho meus pais como exemplo de que se pode ser feliz mesmo com pouco, se em abundância se tem amor.

Theodore segurou um suspiro como se cogitasse dizer algo “espirituoso” e ficou pensativo por um tempo, antes de se levantar e ir até a escrivaninha, mexendo em meus papéis.

—Você sabe o que é proclamas? – indagou, virando-se para mim.

— É o anuncio lido nas igrejas sobre um casamento que irá acontecer.

—Exatamente... Eles já foram lidos e como bem deve saber, os contratos estão assinados tem anos e que um noivado longo como o de Killian e Millah não é bem visto... Romper isso irá sujar a reputação da Srta. Odom, além de acarretar um processo para meu sobrinho que não teremos condições de pagar, o que nos levará para a cadeia... Não precisaríamos nos preocupar com nada disso se a quebra do contrato viesse da parte deles, porém eles não estão dispostos a abrir mão desse arranjo. – concluiu, pegando sua maleta. – Essas são cópias dos contratos para que leia e entenda melhor. Ficar incentivando Killian em achar soluções para sair disso, não é o caminho, Srta. Swan. Aconselho deixá-lo em paz e não piore mais as coisas. Ouvi dizer que foi pedida em casamento, deveria aceitar, dessa forma, ambos seguirão com a vida. – Theodore hesitou na porta, olhando para mim por cima do ombro. – A senhorita é uma boa mulher, assim como Killian me disse... Posso entender um pouco o motivo pelo qual ele a adora tanto. Sinto verdadeiramente muito por tudo isso. – falou, parecendo sincero. – Passar bem.

—Pedirei que Emma acompanhe Neal hoje. – a voz do conde tirou-me do transe que estava ao observar a comida e olhei para o rosto do homem. – Ele irá visitar algumas propriedades minhas, já que tenho outro compromisso essa tarde.

Belle congelou com um pedaço de sanduíche a caminho da boca e deixou a cabeça pender em direção ao peito ao encarar o marido incrédula.

—E quanto a mim? Ficarei sozinha? Neal pode muito bem fazer isso sem ela. Não é como se Emma fosse ser de extrema importância nessas averiguações. – rebateu.

—Você tem seu primo para fazer companhia a você, Belle. – atalhou cortando o ovo cozido e levando um pedaço a boca. – Sem falar que Emma já deve se acostumar com a tarefa.

—Tio. – Neal pigarreou limpando a boca, parecendo sem jeito. – Emma deverá se acostumar a tarefa se aceitar meu pedido. – retrucou.

Peguei o guardanapo do meu colo e limpei a boca, pensando calmamente no que deveria fazer. Olhei para Belle que me encarava.

—Estou a sua disposição, condessa. O que decidir, eu farei. – respondi por fim.

—Boa escapada e ainda deixou a bucha pra mim. – murmurou com reprovação.

—Muito bom dia! – Killian entrou animado e sorridente na sala de jantar, o cabelo bagunçado, vestindo apenas a calça e a camisa branca com uns botões aberto, dando-me uma visão parcial de seu peito que tanto adorava. Sorri para ele em resposta recebendo uma piscadela em retorno, enquanto se ajeitava na cadeira a minha frente.

O conde revirou os olhos e Neal se enrijeceu ao meu lado, ao encará-lo com desdém.

Belle cerrou os olhos, estudando o primo atentamente, que se ajeitou na cadeira deixando que ela fizesse sua análise minuciosa, a expressão despretensiosa ao aguardar que terminasse.

—Teve uma boa noite? – a morena quis saber.

—Uma ótima noite, minha prima. A melhor dos últimos tempos. – contou, endireitando-se e começando a servir seu prato, senti os olhos da condessa em meu rosto e soube que me entreguei quando o senti começar a ficar quente e tive que abaixar o olhar. – O que estavam conversando?

—Sobre Emma ir visitar minhas propriedades com Neal. – Sr. Gold se pronunciou, a voz seca. – Para, você sabe, se acostumar com a tarefa quando se casar com ele.

O semblante de Jones se fechou no mesmo instante e ele se recostou na cadeira, olhando para o marido da prima.

—Não sabia que Emma havia aceitado o pedido.

—E não aceitou. – Neal respondeu. – Ainda. – acrescentou, sorrindo para mim e eu o retribui de má vontade, escorregando na cadeira como se assim eu fosse poder sumir.

Killian olhou para o homem ao meu lado com escárnio, as sobrancelhas arqueadas e soltou uma leve risadinha, balançando a cabeça afirmativamente.

—E você tem tanta certeza assim que ela irá aceita-lo?

Cassidy assumiu um ar de petulância ao se empertigar ao meu lado.

—Tenho certeza que quando menos esperar, Emma irá perceber que aceitar meu pedido é a melhor escolha para ela... Pelo menos posso lhe garantir que tenho a vantagem de nunca tê-la enganado por anos e ficado noivo de outra, mesmo tendo prometido casamento para ela e então voltar do nada, não deixando-a seguir com a vida quando outro homem que se importa igualmente com ela oferece a oportunidade de ter uma boa vida ao lado dele.

Desviei os olhos de Neal que proferira cada palavra com uma calma surpreendente e olhei para Jones alarmada e o vi com os punhos cerrados em cima da mesa. Sua respiração saía pesada e qualquer vestígio de animação que existira quando entrara ali, sumira, dando lugar a uma fúria que lutava bravamente para conter.

—O peixe está delicioso, deveria provar, Kill. – Belle mudou de assuntou, o tom de voz normal, mas seus olhos entregavam como estava assustada com o que poderia se desenrolar naquela mesa.

—Emma vai acompanhar Neal e sem mais discussões sobre isso. – o conde decretou. – Vocês dois sairão em uma hora. – informou ao afastar a cadeira e se retirar da sala.

Killian não levantou seus olhos do prato nenhuma vez, até que me sentindo sufocada ali, pedi licença e subi para o meu quarto.

[...]

—Teve uma boa noite de sono? – Cassidy questionou de repente quando percebeu que eu não estava inteiramente ali com ele, prestando atenção em seu discurso sobre o formato dos campos em que caminhávamos lentamente enquanto ao longe os trabalhadores pareciam arar a terra, preparando-a para um novo plantio. Se fosse outro dia eu estaria fascinada com cada palavra de conhecimento que saia de sua boca, mas não hoje. Não quando eu ainda estava presa na cena do café da manhã e como o sol do meio-dia parecia estar morno demais para o horário quando deveria estar ardido.

—Tive sim, obrigada por perguntar... Por quê?

—Você parece estressada. – observou com cautela.

Fiz uma careta e neguei.

—Acho que minha mente está distante hoje. Desculpe.

—Estava achando que minha companhia estava começando a enfadá-la e a deixando irritada. – falou erguendo levemente o canto esquerdo da boca.

Tentei suavizar meu semblante, sorrindo sem mostrar os dentes.

—Sua companhia é muito agradável, Neal. Nunca irá me enfadar... A não ser que comece a falar de negócios comigo. Detesto esse assunto. – e sobre insetos também, acrescentei mentalmente. – Você sabe que eu o estimo muito.

Cassidy aquiesceu. Ele levou a mão ao meu rosto, afagando minha bochecha delicadamente com o polegar.

—Você já sabe como eu me sinto em relação a você, Emma. – atalhou em um murmúrio, encaixando a mão em minha nuca. – Eu não só a estimo, como a admiro muito.

—Muito obrigada. – respondi desconcertada, mexendo-me para que ele me soltasse.

—Percebo que seu coração não se sente da mesma forma que o meu... Não em relação a mim, pelo menos, mas acredito que poderei fazê-la feliz como nenhum outro homem conseguirá. Sei que está esperando algo, todavia não o faça. O homem que ama não poderá ser seu.

Deixei a educação de lado e tirei a mão de Cassidy em um empurrão, que pareceu deixá-lo magoado.

—Estarei esperando quando perceber isso, Emma. Se acomode comigo e não irá se arrepender. – objetou, afastando-se um pouco.

—Como você descobriu? - instiguei para Neal.

Ele fixou o olhar em meu rosto, sem parecer aborrecido com a pergunta e não precisei me explicar mais, pois percebi que Cassidy sabia ao que estava me referindo.

—Meu tio me contou. – falou simplesmente. – Porque Belle contou para ele, não porque deduziu sozinho. Desculpe se a deixei irritada com meu comentário de hoje cedo. Apenas não acho... Certo o que ele está fazendo com você. Fazendo-a esperar por algo que todos nós sabemos que é impossível de acontecer. E eu verdadeiramente gosto de você, Emma. – afirmou, parando para pegar minhas mãos nas suas, fazendo-me olhar para ele. – Então eu nunca iria sujeitá-la a situações desse tipo se aceitasse ser minha. Sempre irei amá-la e respeitá-la como merece... Eu estive aqui, do seu lado, durante o seu processo de aprendizagem. Escrevia-lhe cartas para ajudá-la na escrita e leitura. Recorda-se que sempre deixava um envelope em seu quarto toda manhã? – indagou, abaixando o rosto em direção ao meu e sorriu carinhosamente. Anuí, lembrando como eu ficava feliz sempre que encontrava uma correspondência nova de Cassidy. – Ensinei-a tudo o que sei sobre todos os assuntos... Estive aqui incentivando-a cada minuto e acima de qualquer coisa: quando decidi pedi-la em casamento, não me importei por ser de uma classe bem inferior a minha ou que ainda está no processo de aprendizagem. E sabe por quê? – inquiriu e neguei, presa naqueles olhos cinzentos meio esverdeados. – Porque você me faz bem aqui. – guiou minhas mãos até estarem sobre seu peito. – Abriria mão de qualquer riqueza por você, Emma... Enquanto o primo de Belle não foi capaz de fazer isso. E sem falar que é muito pertinente Killian decidir que quer tentar ficar com você agora que possui estudos e não iria envergonhá-lo na frente da sociedade londrina se ficarem juntos.  Talvez ele até a ame, todavia sentia vergonha da mulher ignorante que era antes. – concluiu.

Desviei os olhos para o chão quando suas últimas palavras me atingiram, começando a sentir meus olhos arderem com as lágrimas que ameaçavam ferroá-los. Meu peito se comprimiu diante da fala de Cassidy.

—Não disse isso para machucá-la, Emma.

—Eu sei. – atalhei, a voz embargada, ainda sem conseguir olhar para ele. – Sei disso, Neal.

Ele libertou minhas mãos e as colocou nos bolsos da casaca que usava e encolheu os ombros, como se sentisse muito.

—Sei que você o ama, mas talvez você devesse se acomodar comigo. Iria evitar muito sofrimento e decepções. Talvez até com o tempo você aprenda a me amar... Não precisa me dar sua resposta agora, eu sou bem paciente. Apenas pense no que eu falei. – proferiu gentilmente, recomeçando a andar com passos curtos como se para me dar um momento para me recuperar, sem me deixar completamente sozinha.

O dia depois disso pareceu passar como uma daquelas passagens descritivas de livros que te aborrecem, mas que não consegue deixar de ler. Foi parado e seus acontecimentos desnecessários. Almoçamos com uma família. Observei Neal ajudar um fazendeiro com o conserto de sua cerca. Paramos em uma casa para ver um bebê recém- nascido. Então fizemos uma parada em uma taverna para bebermos cerveja e Cassidy fazia comentários aleatórios como se tentasse todos os assuntos para atrair minha atenção. Era como se eu estivesse olhando de fora, enquanto meus pensamentos estavam presos no passado. Nos nove anos que fiquei esperando Jones voltar. Como nem quando seus pais ainda moravam lá ele não se preocupara em me escrever uma única carta sequer. Como todas as notícias que tinha dele eram através de seus pais. Como fiquei sem chão quando Jenna e Brennan me informaram que iriam embora para Londres sem mais explicações após voltarem de uma visita para o filho.

Como sempre fui deixada de lado durante aquele tempo, aguardando-o fielmente, enquanto Killian estava aproveitando sua nova vida...

Talvez o melhor fosse dizer “sim” de uma vez e parar de me enganar. Talvez o tio de Killian estivesse certo quando disse que era para aceitar o pedido, pois dessa forma seguiríamos com nossas vidas...

Contudo, eu ainda vislumbrava um futuro para nós dois juntos. Depois da noite passada, a esperança dentro de mim havia aumentado. Jones dissera que poderíamos levar meus pais juntos se caso fugíssemos, eu não teria que deixá-los para trás.

Essa opção nunca pareceu tão tentadora como agora.

Está certo que eu iria sentir falta da minha Inglaterra, dos meus amigos, no entanto teria quem mais amava do meu lado e isso tornava a perspectiva de abandonar tudo, melhor. Minha avó Eva fizera isso, não? Deixara seu país, para que construísse uma vida ao lado do homem que amava aqui.

Eu poderia fazer isso também.

Poderia começar em outro lugar ao lado de Killian. Transformar um novo país em nosso lar.

Recordei o contrato que começara a ler aquela amanhã e suas cláusulas que não faziam sentido algum para mim, além de que garantia que não havia forma dele ser quebrado. Se por acaso Jones fosse pego, ele estaria em apuros e algo ruim apertava meu peito, só de pensar nisso. Em como ele pagaria por quebrar o contrato.

Eu o amava e queria mais que tudo ficar ao seu lado. Jogaria tudo para o alto se significasse que ficaríamos juntos, entretanto eu não queria isso acompanhado do medo que viria de alguém nos encontrar e levá-lo a força para longe. Não me perdoaria se alguma coisa acontecesse, porque seria culpa minha. Afinal, Killian teria jogado tudo para o alto também para ficar comigo.

—Para você. – Neal murmurou baixinho finalmente sendo capaz de me tirar dos pensamentos melancólicos. Pisquei, percebendo que já era fim de tarde e que estávamos parados diante de Goldsberry Hall. – Tenho certeza que irá animá-la.

Olhei para o embrulho pardo em suas mãos e o peguei, timidamente, rasgando o pacote e encontrando dois livros.

Sorri ao admirá-los com atenção, abrindo-os para descobrir os títulos.

—São gêneros bem diferentes. – comentei, erguendo o olhar para Cassidy que me admirava com seus tão conhecidos olhos bondosos.

Ele deu de ombros.

—Você gosta dos livros infantis ainda. – observou. – E pensei que poderíamos ler “Frankenstein: ou o Moderno Prometeu” juntos. Um capítulo por noite, depois do jantar, o que acha? Eu leio um e você lê o outro. – sugeriu ao abrir a porta da carruagem, saltando para fora e estendeu sua mão para me ajudar.

Aceitei-a, saindo com cuidado e ajeitei a saia vincada do vestido, concordando.

—Parece que será divertido... Mas sabe que sou devagar na leitura. – lembrei-o.

—Isso não é problema algum, Emma. – ofereceu-me seu braço e pousei minha mão no interior de seu cotovelo. – Podemos começar amanhã, pois imagino que esteja cansada de passar o dia sacolejando dentro dessa carruagem e caminhando pelos terrenos irregulares com esses sapatos. Percebo que está mancando um pouco.

Olhei para os meus pés, que de fato estavam doendo e imploravam para se verem livres. Cada passo que eu dava, mordia o interior de minha boca discretamente na tentativa de aguentar firme.

—Está certo, Neal. Nem sei como conseguirei chegar ao meu quarto. Tenho certeza que quando tirar os sapatos encontrarei várias bolhas formadas e já estouradas... – parei, fazendo com que Cassidy parasse de andar também e o fiz virar para mim. – Assim que o verão chegar. Prometo para você que até lá, eu te darei uma resposta.

O homem estudou meus olhos e rosto atentamente.

—Faltam só três semanas para o verão, Emma. Não estou pedindo um prazo...

—Eu sei. – cortei-o. – Mas não acho justo fazê-lo esperar por tanto tempo. Talvez até antes disso você tenha sua resposta.

Ele sorriu e se inclinou, depositando um beijo demorado em minha testa.

—Eu a amo, Emma. – sussurrou, voltando a me guiar para dentro.

[...]

Uma batida decidida soou e logo vi a porta do meu quarto sendo aberta por Belle, que enfiou primeiro a cabeça observando o ambiente com atenção antes de entrar com Gideon nos braços. Ela estudou atentamente a posição que eu estava deitada na cama, com as pernas erguidas e apoiadas na cabeceira, até que finalmente veio se sentar ao meu lado.

—Gideon sentiu sua falta. – falou, deitando o bebê ao meu lado que começou a resmungar ao pousar seus olhos castanhos em meu rosto, como que para comprovar as palavras da mãe. – E eu também. – adicionou com um sorriso doce. – Kill não tolera minhas besteiras tão bem como você. – lamentou. –Gid não gosta tanto de Killian assim, então depois de um tempo era só meu primo chegar perto que abria o berreiro. –contou, ajeitando-se. – Como foi seu dia?

Dei de ombros, fazendo caretas para o pequeno que segurava firmemente meu dedo.

—Cansativo. – respondi. – Os sapatos novos destruíram meus pés e agora eles estão melecados de balsamo. – remexi os dedos, vendo desgostosa os machucados e as bolhas. – Desculpe por não ter descido para o jantar.

A morena fez um sinal de descaso com a mão, estalando a língua.

—Killian me contou que saíram noite passada para nadarem na cachoeira. – comentou com cuidado, prestando atenção em meu rosto com a testa franzida. – O que me fez entender a felicidade dele logo pela manhã e como ficou sorridente o resto do dia, como se estivesse em um lugar muito bom, mesmo depois da cena no café... Todavia você não parece compartilhar do mesmo sentimento que meu primo. O que aconteceu?

Balancei a cabeça em uma negativa, olhando para o teto, evitando o olhar de Belle.

—Emma. – chamou-me ternamente. – Eu sou sua amiga. Garanto para você que o que me contar, não sairá desse quarto... Qual o problema? Porque eu a conheço. Sei que tem mais do que apenas cansaço. Seus olhos estão nublados, como o céu antes de despencar uma tempestade. Eles costumam ser sempre brilhantes... Neal tentou algo? Foi desrespeitoso com você? – inquiriu com seriedade.

—Não! – exclamei, estupefata por ela achar que Cassidy seria aquele tipo de homem. – Neal foi o cavalheiro de sempre. Tivemos um dia tranquilo juntos... Conversamos sobre... Essa situação toda e ele até me deu presente. Dois livros.

—Então não entendo... – a condessa pareceu confusa, antes de se empertigar. – O conteúdo da conversa sobre a situação a deixou assim?

Anui, tombando a cabeça para o lado, olhando para ela.

—Por que somente agora, Belle? – indaguei, trincando os dentes com força para evitar chorar. – Por que só agora Killian decidiu que quer ficar comigo?

A morena abriu e fechou a boca, como se tentasse formular alguma resposta para minha pergunta. A luz da vela tremeluziu, fazendo a cor dos olhos de Belle mudarem por um momento, antes de voltarem a ser azuis.

—Não sei o que quer dizer, Emma. – desculpou-se, na tentativa de se esquivar.

—Mesmo quando os pais ainda moravam em Hertfordshire ele nunca me mandou uma carta... Nem presentes. – funguei audivelmente quando meu nariz ameaçou trancar. – Não que eu tivesse dinheiro para mandar presentes e não que eu faça questão deles, mas mesmo assim, em todas as cartas que Sr e Sra. Jones mandavam, eu pedia para eles colocarem uma amor-perfeito no envelope. Era o meu presente, ainda que simples, para Killian, para mostrar que ainda me lembrava dele e o amava... Contudo eu nunca tive nada... Então... Por que agora, Belle? – perguntei novamente, sentando-me.

Ela balançou a cabeça minimamente em uma negativa, pressionando os lábios.

—Talvez devesse perguntar para Killian em vez de ficar criando teorias em sua cabeça que irá fazê-la duvidar do que ele sente. Porque eu sei que meu primo a ama genuinamente, Emma.

Aquiesci, não querendo continuar a discutir aquele assunto com Belle. Não importava o que acontecesse, tinha certeza que ela sempre sairia a favor do primo.

—Seja lá o que Neal colocou em sua cabeça, não é verdade. Acredite em mim. – pediu, apertando minha mão. – Não estou sendo imparcial ou ficando do lado de Killian por preferi-lo, como eu sei que está pensando. Irei deixá-la descansar, porque aposto que Killian irá vir atrás de você mais tarde. Ele irá convidá-la para fazer uma coisa que eu já concordei em ajudar, porém se por acaso decidir que não quer ir, tudo bem. Apenas converse com ele e tire todas as dúvidas que atormentam seu coração. Boa noite. – despediu-se, pegando Gideon da cama e mandando um beijo para mim.

Como Belle previra Killian apareceu em meu quarto algum tempo depois que a casa se tornara silenciosa e escura. Eu estava sentada na escrivaninha terminando de selar uma carta que escrevera para minha mãe, contando sobre tudo aquilo. Eu precisava de um olhar de fora e dona Branca nunca estivera errada em relação a nada.

Jones entrou sem fazer um único barulho. Apenas sabia que ele estava lá porque o ar mudou, assumindo aquela atmosfera de paixão suave, que deixava a tensão escondida, até que algo estalava e a fazia surgir, levando-nos ao extremo em um instante.

—Minha menina? – ele chamou em um murmúrio quando não me virei. Senti suas mãos em meus ombros. – Está tudo bem? – questionou, parecendo preocupado. – Estava com saudade. – confessou em minha orelha, beijando a parte de trás dela.

Remexi-me para me livrar de seu toque e fiquei em pé, virando-me para ele. Encostei-me a escrivaninha cruzando os braços e vi sua expressão se tornar alarmada.

—Algum problema, Swan? – quis saber.

Assenti e peguei o contrato, esticando para ele. Seus ombros ficaram tensos, e vi seu pomo de adão descer e subir quando engoliu em seco. Seus olhos azuis se fixaram nos meus.

—Onde conseguiu isso?

—Seu tio me deu quando veio me ver. – respondi, deixando cair na escrivaninha.

—Não ligue para nada que está escrito ali, Emma. Só esqueça. Eu não me importo com aquelas clausulas, sendo assim não deveria se importar, meu amor. – suplicou, aproximando-se e estendi as mãos para não deixar que chegasse mais perto.

—Os proclamas já foram lidos. – afirmei.

Killian concordou.

—Mas ainda há tempo, Emma... Você pode vir comigo...

Dei um sorriso forçado ao ouvir suas palavras... O pedido para que fugisse com ele.

—Por que só agora, Jones? – inquiri finalmente, forçando-me a olhar em seus olhos. – Depois de tantos anos, por que só agora eu fui sua escolha?

Ele piscou como se estivesse atordoado e maneou a cabeça.

—Você sempre foi minha escolha, Swan. – rebateu.

—Não. Você me esqueceu. Nem quando seus pais ainda moravam no condado você me mandava cartas. Nunca recebi nada seu... Porém agora que não sou apenas uma garota do campo, você parece bem determinado em ficar comigo.

—Do que você está falando, pelo amor de tudo?! – guinchou incrédulo. – Eu nunca a esqueci! Durante todos aqueles anos me mantive a ideia que voltaria para você. Mantive-a por perto. – ele retirou o colar com a pedrinha branca de dentro da camisa. – Quer saber por que nunca recebeu uma carta minha? Porque eu as guardei para mim, porque esperava que um dia iria ensiná-la para que pudesse lê-las sozinhas... Agora está insinuando que só quero ficar com você porque não é mais, usando a palavra que tanto gostava de utilizar para se referir a si própria, uma burra? Existe muitos motivos que não conhece por trás das minhas escolhas, Swan e nenhum deles foi por sentir vergonha de você! – finalizou, o indicador apontado para o meu rosto, os olhos azuis pareciam duas tempestades de fúria.

O quarto caiu em uma quietude ensurdecedora, enquanto nos encarávamos com a respiração lenta, ainda assimilando as palavras um do outro. Killian parecia triste, os ombros caídos e o rosto retorcido, assim como seus lábios estavam crispados.

—Machuca-me saber que dúvida do que sinto... Você sempre foi assim. Sempre duvidou.

—Você não pode me culpar por duvidar agora. – retruquei. – Não depois de ter ficado nove anos sem notícias, para então descobrir que está noivo de outra.

—Noivo de uma mulher que não amo! – aumentou a voz.

—Isso não muda o fato de que me deixou esperando, Killian. Durante esse tempo você nunca fez eu me sentir amada. Tudo bem que tem as cartas, que agora sei que escreveu, porém nunca as enviou, todavia eu não sabia na época. Nunca foi me visitar. Nunca deu um sinal de que se lembrava da minha existência. – passei o dorso das mãos embaixo dos olhos para secar as lágrimas. Meu coração gritava de modo estrondoso para que eu ficasse quieta e deixasse aquele assunto de lado.

Jones juntou as mãos, levando-as a boca, enquanto me encarava com afobação, virando em direção a porta, sem se mover para sair do quarto. Passou os dedos pelos cabelos em um gesto de frustração.

—Se... – começou. – Se eu fazê-la minha, irá acreditar que eu a amo? – indagou, voltando a me fitar. – Sem provocações aqui, Swan. Apenas me diga, se fizermos amor, irá acreditar que eu sempre a amei, que nunca a esqueci, nunca senti vergonha de você e sua origem?

—Você está comprometido! – exclamei.

—Eu sei disso, infernos! – gritou, segurando meu rosto em suas mãos. – Mas eu amo você, Emma Swan. Quero fazê-la minha. – murmurou, descendo sua mão esquerda de forma lenta por meu corpo. – Assim como queria quando éramos dois adolescentes.

Estudei seu rosto com os olhos arregalados, pousando o olhar em seus lábios, encantada por eles.

—Eu não sou mais aquela garota. – murmurei, a voz mole. – Agora sei que o fato de... Passar a noite comigo, não significa o mesmo que me amar. Antes eu achava que sim... Que era uma prova de amor.

—Significa sim. – teimou. – Significa que eu a amo tanto que quero marcá-la como minha. Minha mulher. E ser marcado como seu. Porque quando nos juntarmos, não só nossos corpos, mas como nossas almas irão se unir como uma só e ninguém poderá romper esse laço. Eu a amo, Emma. – balbuciou, antes de tomar meus lábios com calma, apesar de parecer faminto segundos antes. Sua língua dançou de encontro a minha, preguiçosa e seduzente, enfeitiçando-me lentamente e fazendo com que meu corpo se tornasse argila em suas mãos grandes.

Killian me tomou em seus braços, tentando a todo custo não cessar o beijo, e deitou-me delicadamente na cama, seu corpo quente cobrindo o meu. Sua mão direita subiu a bainha da minha camisola e senti a ponta de seus dedos deslizarem por minha pele, até o interior da coxa, apertando-a, enquanto arfava em minha boca e em troca eu gemia na sua, tentando trazê-lo para mais perto de mim, erguendo o quadril de encontro ao seu e sentindo seu membro duro através do tecido da calça.

Joguei a cabeça para trás em um arquejo surpreso ao sentir onde um dos dedos de Killian estava. O calor se intensificou em meu baixo ventre e percebi minhas pernas se abrirem mais. Fechei os olhos em puro prazer quando senti-o movimentar o dedo lentamente, brincando, conhecendo aquela parte minha tão delicada. Contorci-me embaixo dele, para que soubesse que queria que continuasse tocando-me ali de maneira tão libidinosa, gemendo seu nome, quando gostaria de ser capaz de dizer frases coerentes.

Queria ser capaz de conseguir pensar naquele momento em que minha pele esquentava a cada segundo, resumindo-me a nada a não ser um turbilhão de prazer.

—Ahh meu... Killian! – guinchei, quando seu polegar começou a me tocar também. Mais senti do que vi, o sorriso triunfante que se formou em seu rosto, enquanto sua boca estava entretida com meu pescoço e sua barba arranhava-me.

—Está gostando, Swan? – sua voz baixa e carregada de desejo, quis saber em meu ouvido.

Assenti freneticamente, sem ser capaz de pronunciar nada, além de palavras desconexas, quando senti uma contração que tomava conta de todo meu corpo, enrijecendo todos os meus ossos de um única vez.

E então seus dedos desapareceram do meio das minhas coxas antes que eu soubesse onde aquele espasmo me levaria.

Abri os olhos desnorteada e o encontrei me fitando com admiração, as pupilas dilatadas, deixando claro o desejo que sentia.

Respirei fundo, tentando conter o tremor que se apoderara de mim e voltar ao normal.

—Por que... – puxei o ar com força uma vez mais. – Por que parou? – indaguei com um tom não intencional de irritação.

Jones se inclinou, beijando rapidamente meus lábios e se deitando ao meu lado.

—Isso foi uma degustação. – respondeu. – Mesmo porque, estou aqui para fazer um convite e não para seduzi-la. Que tipo de homem eu seria se a seduzisse dessa forma? – instigou estupefato.

—Do tipo horrível. – atalhei, arrancando uma gargalhada dele.

—Quando entrei aqui esta noite não tinha intenção nenhuma que acabássemos nisso, mas então, você provocou...

Virei de lado para poder olhar para ele.

—Convite para o que? – perguntei, arrastando-me para mais perto e passando meu braço por seu quadril.

Repreendi-me por sempre ceder tão fácil a Killian. Por esquecer tão rapidamente tudo o que me atormentava assim que seus lábios tocavam os meus e quando se separavam o que mais queria era ficar próxima a ele daquela forma. Abraçá-lo, e sentir seu peito subir e descer.

—Quero levá-la a um baile. Sempre foi minha maior vontade, dançar com você. Fiquei sabendo que terá um no sábado na próxima semana em Ascot. É um baile público, não precisaremos nos preocupar muito com o decoro e podemos dançar a noite inteira juntos. Já conversei com Belle e ela afirmou que irá nos ajudar a sair sem que Gold e Neal fiquem sabendo... O que me diz? Aceita ir ao baile comigo? – questionou com uma pontada de ansiedade infantil no olhar ao baixar os olhos para o meu.

Estiquei os lábios lutando contra o sorriso que quis surgir e mesmo que a resposta fosse positiva, fingi pensar por um instante.

—Acho que não tenho nada importante para fazer no sábado da semana que vem. – atalhei casualmente.

—Isto é um “sim”? – Killian levantou uma sobrancelha.

—Sim. Isto é um “sim”... Vou adorar sair para dançar com você uma noite inteira sem olhos maldosos em nós dois. – ergui o queixo para elevar meu rosto a altura do dele, dando um beijinho no canto de sua boca e encostando o nariz no seu.

Killian suspirou de satisfação e seus braços me apertaram mais de encontro ao seu peito.

—Como eu gostaria de poder ficar dessa forma pelo resto de meus dias. Nesta cama, com você nos meus braços e todas essas caricias do passado. Eu amo esse beijo no canto da boca. – segredou. – É tão casto e delicado, mas eu sinto todo o amor que sente por mim... – então ele se interrompeu e balançou a cabeça, como se não quisesse prosseguir naquele assunto. – Apesar de desejar permanecer aqui, dessa forma, tenho algo para você em meu quarto. Irei pegar e já volto. – avisou, soltando-me e pulando da cama.

Sentei-me, sentida com seu afastamento, ao mesmo tempo que estava curiosa.

—O que é?

Jones fez um sinal de “espere” e saiu do quarto. Permaneci parada no mesmo lugar, ainda sentindo os toques de Killian de minutos atrás e apenas a lembrança deles foi o suficiente para fazer meu intimo afundar deliciosamente e um comichão percorrer meu corpo, o que trouxe um sorriso involuntário aos meus lábios ao recordar dos sons que saiam do fundo de sua garganta que mostrava o prazer que sentia com aquele momento.

—Espero que esse sorriso seja porque está pensando em mim. – observou divertido, ao retornar e fechar a porta com cuidado, equilibrando uma caixa grande em sua mão, dando passos lentos como se tentasse aumentar minha expectativa.

—Me dá isso logo! – resmunguei, ficando de joelhos no colchão, estendendo as mãos. Jones depositou a caixa bem na minha frente e indicou que eu abrisse. Fiz o que pediu sem nem hesitar e encontrei o vestido de baile amarelo que ele me dera. Toquei o tecido como da primeira vez, maravilhada com a beleza da peça. Eu me arrependia profundamente de ter me livrado dele, porque era o presente mais lindo que já havia recebido, mas na hora da raiva, teimosia e orgulho, não pensei duas vezes em tirá-lo na frente de Killian mesmo e voltar praticamente nua para casa, recusando-me a ficar com ele depois do que Jones fizera.

—Eu fui buscá-lo no dia seguinte. – falou. – Eu fiquei realmente surpreso quando fez aquilo.

—Eu também. – confessei. – Mas estava muito, muita possessa da vida com você.

—Eu sei. Mas você deve saber que eu estava morrendo de ciúmes, porque você mal falava comigo, todavia estava trocando beijos com o oficial. E caramba! Ele já havia tido sua companhia, seus sorrisos, suas risadas e uma dança com você. Tinha que conseguir seus beijos também?

—Se você tivesse dito logo que era por causa disso, talvez eu não teria tirado. Mas não. Veio dar a desculpa de estar “salvando minha reputação” – revirei os olhos. – E aqui estamos. Você não muito preocupado com ela.

Seu rosto que corou um pouco.

—É diferente. – murmurou. – Porque muito em breve eu espero que se torne minha... Gostaria que o usasse no baile. – pediu parecendo acanhado. – Se quiser, é claro. – adicionou.

Balancei a cabeça afirmativamente, esticando-me para poder beijá-lo.

—Eu irei, meu amor... Muito obrigada por ter guardado. Eu realmente o adorei e sempre pensava nele com uma dor no coração... Eu amo você.

—Também amo você, minha menina. – ele beijou minha têmpora, descansando a bochecha no topo de minha cabeça. – Nunca deixe ninguém envenenar sua mente do contrário.

—Neal disse que você só quer ficar comigo porque agora tenho estudos e não corro mais o risco de envergonhá-lo.

—Imaginei que fosse ele que plantou a dúvida em seu coração. Cassidy está errado. Nunca me envergonhei de você. Sempre senti todo o orgulho do mundo por quem você é... Devo deixá-la agora. Vemo-nos amanhã. Boa noite, Emma. – despediu-se, dando-me um último beijo demorado.

Eu o segurei, relutante em deixá-lo ir quando se separou, mas tudo o que Killian fez foi sorrir para mim e me desenrolar dele como se fosse uma tortura me desprender de si, correndo para a porta, quase como para fugir de uma possível tentação.

Ou como se se sentisse culpado. Tive a impressão de que seus olhos estavam pesados com uma culpa que eu não sabia de onde vinha.

[...]

Os dias que se antecederam ao baile passaram de forma tranquila. Não houve mais desentendimentos por parte de ninguém. Killian evitava estar no mesmo cômodo que Neal, que por sua vez deu uma pause em seus lembretes diários sobre seu pedido de casamento, principalmente porque estávamos passando mais tempo juntos e isso parecia deixá-lo satisfeito. A parte do dia era exclusivamente dedicadas à Belle, Gideon e Cassidy, todavia quando anoitecia e a casa toda ia dormir, essas horas da noite eram completamente dedicadas a Jones, isto é, quando Gideon não inventava de acordar no meio da noite, o que me fazia levantar correndo para ir ao seu socorro e o levava para passear pela casa até que se acalmasse. Killian tentara me acompanhar nessas poucas vezes, contudo, o pequeno parecia gritar ainda mais quando percebia sua presença e dessa forma ele acabou por desistir de tentar me ajudar. Porém quando não éramos interrompidos, ficávamos deitados abraçados, conversando sobre tudo ou então lendo. Mesmo que já soubesse ler, Jones parecia gostar de fazer uma leitura para mim e eu adorava me encostar em seu peito, sentir como seu tórax vibrava a cada som de palavra que se formava e saía por sua boca, de modo rouco. E como no passado, eu observava seu rosto sorridente, maravilhada com cada ângulo e forma que o desenhava, constatando o quanto era lindo. E consequentemente, sempre que deixava meu quarto, mais apaixonada eu me sentia.

Não voltamos a ter um contato tão íntimo como da outra noite, por mais que eu ansiasse para que acontecesse novamente, mesmo sabendo que não deveria. Havia a troca de beijos e com muita frequência as mãos dele iam parar em meus seios ou traseiro, apertando-os sem muita força, todavia Killian lutou bravamente para mantê-los escondidos pelo tecido da camisola. Não fora como outrora que ele enfiava suas mãos por baixo dos panos e me tocava. Jones pareceu perceber que agora esse método não iria mais funcionar e que nos levaria longe demais. O mais longe que ele chegou a ir, foi beijar a pele exposta de meus seios pelo decote da camisola.

Então o sábado do baile chegou e eu mal podia aguentar de ansiedade. A ideia de aventura fazia meu coração bater mais rápido e o sangue correr em minhas veias como resultado. Tentei parecer neutra durante o café da manhã para não entregar que estava para aprontar alguma coisa naquele dia. Observava Belle, e toda a sua calma e tentava imitá-la, afinal sairíamos após comermos. Eu tinha que conseguir fingir por pouco tempo.

Killian, eu já sabia, estava instalado na estalagem da vila, apenas aguardando o momento que iriamos ao seu encontro, já que ele iria conosco. Belle usara da desculpa que iria passar a noite na casa de uma conhecida que morava na cidade próxima a Windsor, o que era verdade, a única mentira ali, era que eu não iria ficar junto com ela. Nem Cassidy, muito menos Gold iriam desconfiar que a condessa estava indo dormir fora para que eu pudesse sair com seu primo sem impedimentos.

Para o conde e o sobrinho, Jones havia saído para resolver problemas referentes a trabalho, o que foi uma desculpa bem aceita, e que não voltaria tão cedo, já que ele havia recebido uma carta no dia anterior de seu tio, pedindo que regressasse urgentemente para Londres, o que me desanimara profundamente por saber que Killian teria que partir mais uma vez.

Saímos sem problemas, apenas pedidos de que tomássemos cuidado e uma promessa de minha parte de que tomaria conta de Belle e Gideon com a minha vida. Cassidy pareceu chateado, mas não disse uma palavra sobre o assunto, o que agradeci mentalmente, porque tudo o que eu menos queria era me sentir culpada aquele dia por estar mentindo para ele.

Quando passamos para fora dos portões de Goldsberry Hall, permiti-me libertar o sorriso de animação que estava segurando e vi os lábios de Belle se esticarem também ao me fitar.

—Ansiosa? – quis saber.

Aquiesci prontamente.

—Muito. Você não sabe quanto tempo eu esperei para poder ir a um baile com Killian, Belle.

—E como foi o baile noite passada? – perguntei aborrecida, sem encará-lo ao me sentar à sombra da árvore e aguardar meus pais que ainda não haviam feito uma pausa para o almoço.

—Divertido, como sempre. – respondeu, tentando dar um beijo em meu rosto.

—Hm. – atalhei, desviando-me. – Dançou com muitas mulheres?

—Esperava que eu dançasse com homens, Emma? – rebateu com certa impaciência na voz.

Revirei os olhos, optando por não responder sua provocação. Na noite anterior, Killian partira mais cedo para que pudesse ir se divertir e dançar em um baile público na cidade vizinha com alguns amigos do colégio que estavam nas redondezas. Eu havia implorado para que me levasse junto, todavia Jones fora firme em seu “não”, porque eu era nova demais e se meus pais não permitiam que eu fosse tinha um motivo e não seria ele que passaria por cima.

—Irei buscá-la hoje no horário de sempre. – falou mudando de assunto, a voz mais leve e sedutora. Olhei-o de rabo de olho, fingindo desinteresse.

—Não precisa. – bradei com desinteresse.

—Como assim “não precisa”?

Dei de ombros.

—Você me trocou ontem para poder ir se esfregar com outras mulheres, enquanto enchia a cara com seus amigos do colégio. Não precisa ir em casa me buscar. Não quero. – decretei, fitando-o decidida. – Eu nunca o deixaria para que pudesse ir dançar com minhas amigas se por acaso fosse você quem não pudesse ir.

Killian se empertigou, olhando por cima do ombro para ver se meus pais estavam perto de nós e ao encontrá-los ainda trabalhando, voltou a me encarar.

—Achei que você não se importasse. Eu perguntei e você disse que eu poderia ir.

—E você esperava que eu dissesse o que, Killian Jones? – instiguei com sarcasmo. -  Não quero controlar sua vida. Você faz o que bem entender, assim como eu tenho todo o direito de não gostar e fazer o que eu bem entender, também. E estou o privando de minha companhia.

—Emma... Se você pudesse, eu a levaria. Você sabe. – murmurou baixinho ao perceber meus pais vindo em nossa direção.

Abri um sorriso cético para ele.

—E você acha que meus pais deixariam eu ir me encontrar de noite com você nos trigais? – retruquei no mesmo tom, vendo sua expressão se fechar. Branca e David já sabiam das minhas escapadas noturnas, porque eu contara, contudo, Killian não sabia do conhecimento deles sobre isso. – Vamos. Pergunte. – desafiei.

—Você é... – começou.

—Sim?

Killian respirou fundo e balançou a cabeça.

—Emma, eu levaria você se pudesse. Só não quero nos meter em problemas. Logo você me acompanhará em todos os bailes. Eu prometo.

Belle fez uma careta pensativa.

—Hmm... Nove anos? – chutou.

—Sim. Nove anos... Nem acredito que finalmente está acontecendo. – confessei. – Estou com medo, Belle. E se depois de hoje eu nunca mais... Seu tio mandou uma carta pedindo que Jones regressasse. E se o casamento foi adiantando?

A morena pressionou os lábios, desviando o olhar para fora ao perceber que parávamos na frente da estalagem e Killian já vinha em nossa direção com as malas.

—Não pense nisso, querida... E sobre essa noite: faça tudo o que eu faria, não tenha medo de ser feliz. Vou estar aqui por você. – garantiu, segurando minha mão.

—Olá. – Killian falou, escancarando a porta e pulando para dentro, ajeitando-se ao meu lado e depositando um beijo rápido em meus lábios. – Pronta para esta noite? – questionou.

Troquei um olhar com Belle e assenti, encaixando meus dedos nos dele.

—Um pouco nervosa. – segredei. – Afinal, é a primeira vez que vamos dançar juntos. Só não podemos voltar muito tarde, Belle falou. Temos que estar na casa da amiga dela no máximo até a uma da manhã. Então é bom não ter esquecido seu relógio. – tagarelei.

Jones forçou um sorriso e a condessa abaixou o olhar, como se estivesse incomodada.

E por algum motivo, a forma que meu estômago se contorceu e gelou, eu senti algo mais aconteceria aquela noite além de um baile.

Só não sabia identificar se era algo bom ou não.

[...]

Belle e a amiga dela, Anna, ajudaram-me na hora de me arrumar. A mulher ruiva e imperativa, conseguia falar ainda mais rápido que eu e era ainda pior que a condessa quando se tratava de falar coisas impróprias. Ela tinha um jeito jovial e inquieto, que lhe dava um certo charme irritante e que eu decidi que gostava.

Anna assumira meus cabelos, enquanto Belle escolhia joias para me enfeitar, por mais que eu tivesse afirmado não fazer questão nenhuma delas, já que era um baile público e apenas pessoas simples estariam lá. A morena fez uma cara feia e deixou o conjunto exuberante de safiras que havia pego, escolhendo, com desânimo, um conjunto delicado de perolas rosadas.

Eu havia levado a peruca que ganhara de presente, todavia a ruiva jogou-a para trás, ignorando-a. Por mais que meus cabelos já estivessem na altura dos ombros, ainda era considerado curto e por esse motivo ainda usava a peruca quando precisava sair. Mas ela afirmara que não ficaria bonito, iria me atrapalhar na hora das danças e que não era natural.

Perto do fim da tarde, quando o céu tinha ganhado colorações incríveis e indescritíveis, que sempre me deixava embasbacada, tive permissão para me olhar no espelho. Meu cabelo estava volumoso, por conta dos cachos feitos e desfeitos para dar aquele efeito. Duas mechas separadas de cada lado se juntavam atrás, da forma que costumava usar, com um caminho de pequenas flores brancas, azuis, amarelas e rosas que dava a impressão que estava usando uma coroa. Anna olhava orgulhosa para o seu trabalho e Belle sorria sem mostrar os dentes, seus olhos carregados de inquietação.

Encontrei Jones no vestíbulo, andando de um lado para o outro, as mãos atrás das costas. Ele estava vestido de maneira simples: calça escura, botas, camisa branca e suspensórios, sem um casaco. O cabelo estava meio desarrumado e assim que Killian percebeu minha presença, parou de supetão, segurando a respiração e se adiantando para me ajudar a descer.

—Imaginei que estava completamente perdido desde a primeira vez que a vi. Agora tenho certeza. – murmurou ao beijar minha mão.

Revirei os olhos diante a sua fala.

—Tolo. – resmunguei. – Sabe que não é justo eu estar super produzida e você assim, todo simples.

Killian me escrutinou com atenção e olhou para trás de mim.

—Está perfeita, Emma. Completamente em sua essência. Brilhante e encantadora como o sol de verão. – apontou para o vestido. – Fresca e agradável como as noites que acompanham ele. – concluiu ao tocar de leve meus cabelos, que de fato, pareciam uma nuvem ao redor do meu rosto.

—Claro, afinal, eu carrego o verão dentro de mim.

—Sim. –concordou, sério, os olhos pousados descaradamente em meus lábios. – Muito obrigado, Srta. Anna, por sua hospitalidade e discrição.

Virei o pescoço para olhar a mulher que estava com Gideon nos braços com Belle ao seu lado. Ela deu de ombros e fez uma careta de descaso.

—Qualquer coisa que precisarem. Estou sempre do lado dos amantes desafortunados. – respondeu com vivacidade. – Agora vão se divertir, porque como bem sabem, a noite é curta.

Belle assentiu para a fala da amiga.

—Divirtam-se. – desejou a condessa. – E cuidado com o que forem fazer. – acrescentou, olhando para Killian com uma sobrancelha erguia, que achei suspeita.

Um cabriolé alugado nos esperava na entrada da casa e logo me vi a caminho da vila, com Belle e Anna ficando para trás e diminuindo até sumirem conforme o veículo se afastava. Ajeitei-me no banco e olhei para Jones.

—O que está acontecendo? – perguntei por fim.

—Como assim?

—Você e Belle, estavam dizendo coisas, como se quisessem dizer outra... Sei que teve entrelinhas naquela última frase dela e que você entendeu.

Killian riu relaxado e passou o braço pelas minhas costas, aproximando-me mais dele, acariciando minha bochecha com a ponta de seu nariz.

—Acho que você está se sentindo culpada e vendo coisas onde não tem nada. Creio que minha prima quis dizer para não passarmos da conta na bebida e acabar extrapolando.

Balancei a cabeça, concordando com ele, sentindo meus ossos ficarem menos tensos com sua explicação, enquanto olhava para fora com atenção e tentava não parecer satisfeita com os afagos das pontas dos dedos de Killian em minha pele exposta pelo vestido nas costas.

—Você está parecendo uma daquelas gravuras de livros infantis, que retratam como protetoras da natureza...

—Ninfas. – respondi, voltando a fitar. – São seres mitológicos, Killy. – acrescentei.

—Eu sei... Você sabe que várias ninfas tiveram filhos com deuses, não sabe?

Fixei meu olhar nele, arqueando uma sobrancelha.

—Está querendo dizer o que com isso?

Ele deu de ombros, ajeitando os fios bagunçados com os dedos e sorrindo maliciosamente para mim.

—Eu poderia muito bem ser um deus, não acha? – provocou com a voz baixa e rouca, os olhos brilhando perigosamente. – Afinal, como você mesma já disse, eu tenho um rosto perfeito... E posso te mostrar que não só o rosto. – atiçou com divertimento.

Forcei meu olhar continuar em seu rosto, quando ele queria descer para baixo. Recordei quantas vezes, quando éramos adolescentes, sentia seu membro duro e pulsante, quando estava sentada em seu colo, enquanto nos beijávamos e ele deixava suas mãos se perderem dentro do meu vestido. Como na outra noite em meu quarto que ele me tocou eu o senti novamente, impaciente para ser liberto do pano da calça e percebi um calor surgir no meio das minhas coxas, que subiram até meu âmago, contorcendo-se de modo delicioso.

—Por que me provoca assim se não tem total certeza se poderá ficar comigo? – indaguei, soltando-me dele. – Você sabe muito bem como me sinto, Killian e sabe quanto quero fazer amor com você... Mas não faça isso, quando sabe que não pode ser meu.

—Eu posso! Basta você vir comigo para bem longe.

Neguei veementemente.

—Esta não é uma opção que me agrada. Sua vida estará em risco se fugirmos.

—Só se eu for pego, Emma! Podemos ir agora para o porto mais próximo e entrar no primeiro navio que zarpar para bem longe daqui. – discursou em um tom persuasivo e seus olhos imploravam para que minha resposta fosse positiva.

Segurei seu rosto em minhas mãos, afagando sua barba.

—Eu amo você com todo esse coração...

—Eu também amo você, Swan. Tanto.

—Mas eu não irei fazer isso, Killian. Eu morreria por você, todavia não posso fazer isso que está me pedindo.

—Então irá me sujeitar a passar o resto da minha vida com uma mulher que detesto, se caso não conseguir romper o contrato?

Soltei seu rosto, machucada com suas palavras.

—Não venha colocar a culpa em mim, Jones. Você aceitou se casar com ela para manter sua fortuna...

Jones virou o rosto e trincou o maxilar, parecendo irritado. Suas mãos estavam fechadas em punhos.

—Parto amanhã para Londres. – comunicou, a voz baixa. – Meu tio não entrou em detalhes sobre o que é tão importante.

—Tudo bem. – sussurrei, apertando a saia do vestido. – A fábrica está em expansão, você disse, deve ser algo relacionado a isso. Ou sobre o casamento. – ergui a cabeça ao perceber que o cabriolé havia parado. Eu escutava música alegre vindo do salão municipal que já estava lotado. – Afinal, estamos perto. – conclui, olhando para Jones, que havia assumido uma máscara impassível. – Se irá ficar com essa cara, sugiro que voltemos para trás.

Killian piscou e buscou minha mão, entrelaçando nossos dedos, sua expressão se suavizando.

—Eu a trouxe aqui para dançar com você até seus pés ficarem cheios de bolhas. E isso eu irei fazer. – decretou, saltando do veículo e ajudando-me a sair também, puxando-me para dentro do salão abarrotado.

[...]

Assim que entramos, mal tive tempo de respirar e Jones já havia nos infiltrado em uma dança começada. Ainda estava tentando identificar qual dança era aquela, quando ele me pegou nos braços e rodopiou, trocando de lugar, um sorriso largo em seu rosto e tão lindo que me atordoou por um momento, fazendo com que eu trombasse com um homem ao errar o lado para qual iria ir.

Quando a música terminou, Killian não se movera, pronto para a próxima, que seria uma quadrilha. E a mesma coisa aconteceu com a dança seguinte, e a outra, e a outra, e a que veio depois e ele teria continuada, se eu não tivesse pedido um tempo para tomar um refresco e recuperar o ar. O suor se formava em gotas grandes e deslizava por minha pele, deixando-me melada. Eu sentia dor em minha barriga pela falta de ar e meus pés já estavam reclamando dentro dos sapatos de dor. Apesar dessas coisas, meu peito estava leve com o deleite e o júbilo que sentia por estar sendo segurada por Jones em todas aquelas danças. Eu estava feliz por cada gargalhada que dávamos durante as danças e contente com as conversas que travávamos sobre nada de importante durante elas

Enquanto dançávamos, Killian tentava o tempo todo manter suas mãos em mim e quando nos aproximávamos, ele grudava meu corpo ao seu de forma indecente. Por várias vezes senti sua coxa no meio de minhas pernas, nossos quadris tão próximos como se fossem colados. As palmas de suas mãos se pressionavam em minhas costas para garantir que não ficássemos um centímetro sequer separados. E mesmo com toda essa proximidade para me distrair, o que realmente tirava a minha atenção era como seu rosto estava iluminado de felicidade com o sorriso que se recusava a fechar e seus olhos que estavam alegres. Como as mechas negras caiam em sua testa por conta do suor e como eu sentia vontade de enfiar meus dedos naquela negritude macia.

—Mal posso acreditar que dançamos! – ele cantarolou, entregando-me uma taça de vinho e beijando meu rosto. – Não quero que acabe. Quero ficar sempre dançando assim.

—Como se estivesse preso a mim? – provoquei.

—Mas eu estou, minha menina. – retrucou, servindo-se de outra taça. – Desde o primeiro instante... Quero-a bem perto do meu corpo, Emma. É uma forma para ter certeza que ainda a tenho.

Terminei de beber o meu vinho barato e pousei a taça na mesa, limpando o suor da testa com o dorso da mão.

—Temos mais algumas horas. – comentei. - Vamos aproveitar, neste caso, Killy. – pedi, segurando sua mão e dessa vez, eu o arrastei de volta para os casais que pulavam ao som da música.

[...]

Só percebemos que o clima havia mudado quando um trovão ribombou próximo e uma rajada de vento conseguiu adentrar o salão, fazendo cada corpo em movimento parar e olhar para fora alarmados. Troquei um olhar com Jones que tirou o relógio do bolso, consultando as horas e crispou os lábios.

—Precisamos ir. – informou desanimado e seus ombros encolheram um pouco quando um relâmpago clareou o lado de fora. – De qualquer forma, já que o tempo virou.

Assenti, segurando sua mão para que me guiasse para fora. Quando chegamos na rua, Killian soltou um palavrão ao encontrá-la deserta, sem uma única carruagem, nem o nosso cabriolé que havíamos alugado para nos levar de volta para casa. O vento chicoteava com vontade e tive que tampar meus olhos para evitar que terra entrasse nele, enquanto me segurava mais ao braço de Jones.

—Talvez eles estejam na estalagem. – sugeri, aumentando a voz para que me ouvisse. O vento estava gelado demais para uma noite de primavera e eu sabia que aquilo era sinal que uma tempestade estava a caminho. A mudança fora repentina demais e o ar se tornara violento, como se estivesse furioso. Provavelmente já estava chovendo em algum lugar próximo ali e se não fossemos rápido, não conseguiríamos voltar para a casa.

Caminhamos a passos apressados até a estalagem mais próxima, mudando para uma corrida desajeitada da minha parte quando a água gelada desabou de uma única vez. O vento forte jogava a chuva contra nós e tive a impressão que agulhas perfuravam minha pele.

Killian ajudou-me a ir mais rápido e logo um arrepio percorreu meu corpo com a mudança de temperatura que estava dentro da estalagem. Passei a mão no rosto tentando tirar a água e sorri para Jones que tinha uma expressão aborrecida.

—Continua lindo molhado. – murmurei ajeitando as mechas de cabelo que caíram em sua testa. – Já mencionei uma vez que deveria andar assim sempre.

Ele riu, seu semblante relaxando.

—Não foi bem assim que imaginei o fim de nossa noite, Emma. Desculpe.

Estalei a língua.

—Nem tudo o que planejamos saí da forma que queríamos. Quem sabe a chuva vai nos trazer algo bom ainda? Afinal a vida é feita de surpresas... Pense só como seria chato se tudo desse certo. Não teríamos nunca algo pelo que esperar. Nossa noite foi perfeita e tenho certeza que o final dela será também. – acalmei-o, afagando seu rosto e Killian segurou minha mão, beijando as pontas dos meus dedos.

—Vá para perto do fogo... – instruiu indicando a lareira acesa, onde algumas pessoas já estavam em volta. - Que eu irei tentar achar alguém para nos levar embora.

Aquiesci, separando-me dele e erguendo um pouco a saia do vestido que parecia pesar uma tonelada. Espremi-me no meio de duas mulheres que estavam em um estado semelhante ao meu e estiquei as mãos, tentando captar algum vestígio de calor.

Olhei por cima do ombro, cuidando Killian e o encontrei conversando com um grupo de cocheiros que negavam veementemente, apontando para fora, como se explicassem algo. Após alguns longos minutos, Jones veio em minha direção.

—Então?

Killian balançou a cabeça.

—Os homens falaram que sem condições de sair com esse tempo. Uma árvore está bloqueando o caminho principal e o outro, eles falaram que não vale a pena, que acabaríamos atolados.

Senti minha testa franzir, quando cruzei os braços de modo inconsciente, o que entregava que estava me sentindo preocupada.

—E agora? – quis saber e por algum motivo me aproximei dele. Deveríamos voltar para a casa da amiga de Belle, para que retornássemos a Goldsberry Hall na hora do almoço. Isso iria atrasar tudo. – Belle ficará preocupada se não voltarmos.

Ele balançou a cabeça, passando os dedos pelos cabelos.

—Belle está vendo a situação do tempo, não se preocupe... Pedi um quarto para você, a mulher irá levá-la até lá. – indicou uma senhora que esperava pacientemente perto do balcão.

—E quanto a você?

—Continuarei procurando alguém disposto a nos levar, se não achar, pedirei um quarto para mim e partimos pela manhã. – explicou. – Tudo bem para você? – quis saber, estudando meu rosto com atenção.

Fiz algo entre um sim e um não, indicando que fosse sem se preocupar comigo. Caminhei em direção a senhorinha que saiu detrás do balcão, começando a subir um lance de escada estreito com degraus que rangiam a cada passo. A mulher abriu a porta para que eu entrasse, apontando tudo o que tinha disponível no quarto e indagou se eu precisava de alguma coisa, quando permaneci em silêncio observando o ambiente simples e escuro.

Respondi a ela que está tudo ótimo e a dispensei. Não havia lareira, então fui logo em busca de velas na gaveta que a velha apontara que ficavam. Com o quarto já iluminado, comecei a procurar por alguma roupa seca, mas não encontrei nenhuma, apenas lençóis e toalhas. Suspirei com irritação e andei até a janela, a chuva batendo no vidro não permitia que eu enxergasse nada do lado de fora, além de um véu de escuridão. Meu peito estava apreensivo e tentei me tranquilizar com as palavras que usara com Jones. Tentei me fazer acreditar que a chuva havia sido mandada para que algo bom acontecesse e fechasse a nossa noite de modo esplêndido. E mesmo que não fosse assim que terminasse, eu ainda tentaria ver como alguma coisa boa, afinal Killian partiria em algum momento do dia seguinte e talvez fosse para sempre dessa vez.

Balancei a cabeça com força, tentando arrancar os pensamentos da mente para não estragar os momentos perfeitos que tive com Killian enquanto dançávamos. Levei as mãos até as costas para soltar os poucos botões que haviam, chutando os sapatos e rindo com a sensação de sentir meus pés livres e doloridos. Comecei a puxar o vestido para baixo com dificuldade, já que estava pesado e ficava grudando em minha pele. Após longos minutos de briga, vi-me despida dele e meu corpo arrepiou com uma corrente de ar que conseguia entrar no quarto.

Comecei a tentar me secar, enquanto procurava um modo de estender o vestido quando a porta abriu em um rompante, fazendo-me tampar os seios com a toalha que segurava e eu olhei para Killian atordoada.

—O que está fazendo aqui? – indaguei alarmada ao vê-lo começar a tirar a roupa molhada.

—Não achei ninguém para nos levar. Fui a taverna, retornei ao salão. Ninguém. – ele explicou. – E eles não têm mais quartos disponíveis. – respondeu simplesmente. – Teremos que dividir o quarto.

O estudei sem camisa, prestes a começar a desabotoar a calça.

—Não acho que seja prudente dividirmos o quarto. – falei, apertando a toalha embaixo das axilas com força.

Killian me olhou com divertimento.

—E eu irei dormir onde, Swan? – inquiriu com aquela maldita sobrancelha arqueada.

Tentei pensar em alguma coisa, todavia meu cérebro parecia ter derretido dentro da minha cabeça, enquanto os olhos se deliciavam com a visão do peito de Killian e aquele cabelo molhado, até que senti algo se acender dentro de mim.

—Então pelo menos tenha a decência de ficar vestido. – soltei rapidamente.

—Você não está vestida. – pontuou. - Pense que estou retribuindo aquela vez que eu a vi nua ou quase nua. – retrucou e sem cerimônia alguma se livrou da calça, mexendo nos armários do quarto atrás de alguma toalha. – E outra, estou molhado até os ossos. Sinto muito, mas prefiro não pegar uma gripe que pode levar a uma pneumonia que irá acabar por me matar. – falou com rispidez.

—Você não é o único irritado pela forma como a noite acabou, Jones. – rebati, ficando irritada com suas maneiras. – Ou você acha que estou saltitando de felicidade por estar nesta situação aqui?

Ele se virou para mim com olhos debochados.

—Se fosse outra época aposto que ficaria, mas agora você é a Santa Emma, não é mesmo? – inquiriu com sarcasmo, começando a passar a toalha pelo corpo. – Não faz nada que possa manchar sua imaculada reputação.

Senti meu rosto esquentar e forcei-me a olhar para o teto, percebendo como minha respiração estava saindo alta demais e tentei manter a calma. Nós dormiríamos. Nada além disso iria acontecer, afinal, Jones teria que ir embora no dia seguinte... Sem falar que nudez era algo completamente normal, não tinha motivos para ficar nervosa. Era apenas outro corpo humano.

E outra, não dividiríamos a cama. Killian certamente deixaria a cama para mim como bom cavalheiro que era.

—Desculpe. – ele murmurou. – Estou aborrecido com outra coisa, não com você ou a chuva que nos prendeu aqui...Você está bem? -Jones questionou, os lábios colados em meu ouvido. Sobressai com o susto por encontrá-lo tão perto e abaixei o olhar para o seu calção que era a única coisa que o tampava e voltei o olhar para os seus olhos que brilhavam perigosamente e meu corpo todo estremeceu. – Está com frio?

Fiz que não, concentrada demais em respirar e me manter sã, quando as mãos de Killian rodearam meus pulsos e subiram lentamente por meus braços. Eu sentia os pelos de seu peito fazendo cócegas em minhas costas enquanto o calor passava para o meu corpo, incendiando-me de modo torturante.

E então, minhas pernas bambearam quando o senti dar um puxão na toalha que me cobria e as pontas de seus dedos deslizaram por baixo de meus seios. Senti sua boca em meu ombro, começando uma distribuição de beijos quentes e mordidas até atrás de minha orelha.

—Para ser sincero, a chuva me ajudou a decidir uma coisa que estava na dúvida. – pensei tê-lo escutado sussurrar, mas não poderia afirmar, porque toda minha concentração estava em ficar lúcida. – Eu estou saltitando de felicidade com a situação. – proferiu com mais clareza, seus dedos deslizando pela linha de minha coluna.

—Killian... O que...? – comecei a perguntar, todavia não tive forças para terminar, quando senti-o massageando o bico do meu seio.

—Você pergunta sobre os sonhos... – sua voz rouca reverberou em cada poro do meu corpo e fechei os olhos, querendo gravar aquele tom. – Sobre os escritos... – continuou, parando de me tocar e virando-me para que eu ficasse de frente para ele. Meu coração batia com violência em meu peito e eu o sentia em meus ouvidos, pulsos, em cada canto do corpo, do mesmo modo que todo meu ventre se contraia. Eu estava inteira trêmula e observei vidrada Killian erguer meu queixo, enquanto colava seu corpo ao meu. Algo percorreu toda minha extensão quando pele com pele se chocaram, algo maravilhoso e enervante.

Suas mãos grandes espalmaram meu traseiro e ele o empurrou com contra seu quadril, soltando um arquejo, no mesmo instante um gemido incoerente deixou meus lábios e minhas mãos trilharam livres seus braços, para que eu me firmasse.

—Eu poderia contar para você. – voltou a falar com um sussurro que beijava os meus lábios. – Mas sabe... – ponderou por um momento, estudando-me demoradamente e senti suas mãos descendo minha ceroula. Seus olhos se tornaram perigosos, enquanto ele me guiava para cama e me deitou lentamente, beijando, mordendo e lambendo do pescoço até minha barriga, fazendo com que fosse impossível ficar parada. Procurei uma de suas mãos e levei até meu seio, para que ele o tocasse como das outras vezes, meu corpo se arqueando e contorcendo, respondendo prontamente a Jones e aos seus toques. – Eu acredito que devo mostrar... Você quer que eu mostre? – indagou, uma vez mais parando, como se estivesse me dando uns minutos para recobrar a sanidade e pensar.

Mas nem todos os minutos do mundo seriam suficientes, porque eu era incapaz de montar uma frase ou de executar uma ação independente. Killian havia tomado conta de cada terminação de meu corpo e tudo o que eu queria era mais dele. O calor dos seus toques, sua voz... A sensação esplêndida de sua barba arranhando minha pele nos lugares sensíveis e seus dentes, mordiscando-me.

—Você quer, Swan? – repetiu novamente.

Olhei para ele, encontrando paixão, desejo, carinho e deslumbramento em sua expressão. E sabia que se pudesse me ver, seria a mesma coisa que eu encontraria em meu rosto. Minha respiração ainda estava ofegante, meu coração tão acelerado que me surpreendia que não tivesse parado. Meu corpo explodia com sentimentos que me levavam ao extremo e ele nem ao mesmo havia mostrado tudo o que havia imaginado em seus sonhos.

—Eu... Eu... – comecei, testando as palavras em minha boca e não reconheci a voz mole que saia, como se fosse um eco vindo de longe.

Pelo amor de Deus! Era claro que eu queria. Como queria saber tudo, sentir e aprender com Killian.

Eu quisera aquilo desde que descobrira que o amara tantos anos atrás. Quisera tudo o que ele tinha e não tinha para me oferecer. Eu o queria para mim, marcado em minha pele como meu e lutar contra aquilo, como eu estava fazendo havia semanas, seria errado.

Algo dentro de mim gritava para que eu o afastasse, para que eu respondesse “não”. Alertava-me que não era boa ideia, que seria errado ceder. Gritava com fogos de artificio para que eu seguisse o caminho certo e não o deixasse ir mais longe do que já havia ido. A minha parte racional tentava me lembrar de algo importante, mas minhas emoções, meus sentimentos berravam de modo tão anárquico que cobria a voz da razão e por esse motivo, dei ouvidos a eles, silenciando de vez meu lado racional e que me protegera durante tanto tempo.

Fitei o rosto de Jones e ele estava uma bagunça deliciosa. Cabelos desgrenhados e lábios inchados, olhos enegrecidos. Senti seu membro em meu quadril direito e foi instantâneo o modo como todo meu corpo se contraiu com a expectativa. Percebi minhas pernas se abrindo para que ele se ajeitasse ali.

—Por favor. – balbuciei. – Por favor, Killian.

Ele sorriu como se sentisse vitorioso e olhou para cima rapidamente de olhos fechados, como se fizesse uma rápida prece, antes de voltar a se concentrar em mim, deitando-se sobre meu corpo e tomando meus lábios com uma leveza sensual, que foi aumentando gradativamente, misturado com gemidos, arquejos, até se tornarem gritos sufocados.

Tornamo-nos uma confusão de pele e mãos, palavras incoerentes com juras de amor perdidas entre elas. Agarramo-nos um ao outro como para não ter perigo de nada nos afastar, recusando-nos a ficar longe por muito tempo.

Eu o beijava e o tocava com afobação para conhecer cada pedaço de seu corpo, para deixá-lo gravado em meu tato. Puxava-o para perto de mim cada vez mais, não deixando que parasse por um minuto, querendo que permanecesse para sempre dentro de mim, deixando meu mundo colorido enquanto nossos corpos se movimentavam em sincronia.

Suor, prazer que explodia e sorrisos de exaustão trocados quando seguramo-nos ao terminar, tentando nos recuperar da epifania que nos arrebatou.

Sorrisos de satisfação, de admiração, que ansiavam por mais assim que o ar retornasse, e nossos ossos voltassem a serem resistentes.

E quando isso aconteceu, Killian me mostrara tudo, enquanto nos amávamos noite a dentro.


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Notas finais do capítulo

Então foi isso! O que acharam? Gostaram? Não? "Exclui de novo a história e desiste pelo amor de Deus"? Digam-me, adoro saber.
Ah e já informo que estamos na reta final de NUV, faltam poucos capítulos. YAAAAY!!

Isso é tudo.

Até mais!