Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vão? Desculpem pela demora com o capítulo. Eu estou trabalhando e semana passada foi semana de prova dos meus alunos, então eu estava me afogando em nelas tentando corrigir, sem falar que tem a faculdade também. Foi por causa disso que atrasou, mas saiu finalmente usahushaush. Espero que gostem. E faltam apenas dois capítulos para a conclusão da história e saber disso aperta meu coração. Boa leitura.



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Killian

Eu admirava Emma dormindo profundamente aninhada em meu peito, usando meu braço como travesseiro, enquanto os seus me envolviam. Apesar da posição desconfortável, não ousei me mexer, com medo do que o mínimo movimento poderia causar. Já tinha um bom tempo que havia despertado com a luz do sol que entrava pela janela e que no momento iluminava a pele nua das costas de Swan, deixando-a dourada. Suas pálpebras se mexiam e questionei-me sobre o sonho que ela deveria estar tendo. Seus lábios estavam levemente abertos e um filete de baba escapava pelo canto de sua boca.

Senti um sorriso de prazer e fascínio se expandir em meu rosto com a imagem da mulher adormecida tão à vontade ao meu lado. Meu coração disparou dentro do meu peito, reverberando por todo meu corpo por saber que agora nos pertencíamos de todos os modos e que em breve, momentos como aquele entraria para a rotina que eu nunca iria me enfadar.

Eu tinha plena consciência do “escândalo” que seria e da raiva que a sociedade lançaria em minha direção por romper o noivado de tantos anos com Milah. Já esperava não ter mais minha herança, todavia esse não era mais um fato que me incomodava, afinal, eu havia guardado dinheiro o suficiente durante aqueles anos para viver o início de nossas vidas juntos até que eu conseguisse um novo emprego. Eu ficaria com Emma como deveria ter sido desde o começo. Ficaria ao lado dela despertando sempre antes para poder fitá-la adormecida e constatando que eu era o homem mais sortudo do mundo por tê-la.

Por Emma ter me esperado.

Ela resmungou, fazendo uma careta adorável e se remexeu como se tentasse se ajeitar na cama, deixando um dos seios alvos e de aureolas rosadas de fora e meu corpo estremeceu, lembrando-se da noite passada.

De cada mínimo detalhe. Cada toque e sons que foram produzidos naquele quartinho.

Swan ergueu o braço, colocando sobre os olhos quando a claridade atingiu seu rosto.

—Você é sempre preguiçosa assim para acordar? – questionei.

—Se você tivesse que acordar cedo para trabalhar o dia inteiro até a exaustão, também seria. – retrucou, olhando-me com os olhos cerrados. – Sem falar que fiz muito exercício, estou cansada. – brincou, a expressão travessa. - Bom dia, Killy. – murmurou por fim, a voz rouca e um sorriso singelo no rosto ainda inchado por ter acabado de acordar, os olhos pequenos e preguiçosos meio embaçados.

Fui para cima dela com avidez, ouvindo um risinho de satisfação escapar de sua boca, enquanto envolvia seus braços em meu pescoço, sem conseguir me controlar com a quimera que Emma era, beijando-a e tocando seu corpo, descendo o lençol para que pudesse vê-la por inteira, senti-la mais uma vez e certificar-me que era bem real.

—Muito bom dia minha mulher. – sussurrei em seus lábios, abrindo os olhos para encontrar os dela já abertos, fitando-me com indagação a testa vincada. – Já mencionei como é linda? Se caso não o fiz, tenha certeza que irei lembrá-la todos os dias quando acordamos, reforçar várias vezes durante o dia e provar pela noite. – garanti, mal conseguindo me aguentar de felicidade. – Você é linda, Emma Swan.

—Do que você me chamou? – perguntou em um mussitar, como se as palavras temessem sair de sua boca.

—De linda. – repeti, tentando tomar seus lábios uma vez mais, entretanto, Emma desviou o rosto.

—Não. Antes disso. No início. – insistiu com apreensão.

—Minha. Mulher. – pontuei lentamente, estudando seu semblante que continuava receosa. – Você agora não é mais uma “menina”, tornou-se minha mulher. – constatei simplesmente.

Swan piscou e ficou rígida embaixo de mim. Suas mãos subiram o lençol até estar completamente coberta e sua respiração se tornou superficial. Saí de cima dela, alarmado com seu estado repentino de acuação e sentei-me ao seu lado, esperando que dissesse algo, e quando minutos se passaram e ela nada fez além de olhar para cima com a testa vincada, alguma coisa em meu peito se apertou ao perceber o que seu fechamento completo para mim significava.

—Você se arrepende? – inquiri sufocado com essa ideia.

Emma piscou, desviando os olhos do teto, ainda presa em seu estado de contemplação. Ela abriu e fechou a boca duas vezes, como se estivesse considerando o que colocar para fora.

—Você planejou isso. – ela afirmou, séria. – Belle sabia, não sabia? Era disso que vocês estavam falando! – atalhou, sentando-se encolhida de encontro a cabeceira, fitando-me de forma recriminadora. – Você quis garantir que eu me tornasse algo usado, pois assim ninguém irá me querer! – acusou.

Balancei a cabeça em uma negativa, apertando os lábios, tentando achar um modo de explicar sem que ela acabasse distorcendo minhas palavras, enquanto tentava ignorar a dor em meu peito pela desconfiança dela sobre minhas intenções.

No fim, achei melhor usar a sinceridade, como sempre fizera para ganhar sua confiança.

—Inicialmente sim, era esse o plano... – comecei cauteloso. – Mas diferente do que pensa não foi para esse propósito e sim para ser um modo de ficarmos juntos. Se eu dissesse que havia passado a noite com você... Eles me obrigariam a casar.

Swan começou a rir, um riso histérico e se levantou da cama, enrolada no lençol, o que me fez pensar nas deusas gregas das gravuras dos livros.

—E você realmente achou que essa porcaria de plano ia dar certo? Achou que... Eles iriam falar “Ah, você desvirtuou uma criada. Realmente, deve romper agora o noivado rico em que está e ir se casar com aquela insignificante, inútil” – bradou a voz carregada de ressentimento. – Realmente, faz todo sentindo que isso vá acontecer. –observou com sarcasmo.

—Belle iria me ajudar nisso, ela pagaria seu dote. – expliquei e Swan balançou a cabeça em um gesto descrente. – Iria exigir o casamento, pois você está sob os cuidados dela. E pare de se chamar de “insignificante, inútil”, que sabe muito bem que não é nada disso.

—E se não funcionasse? – quis saber, cruzando os braços debaixo dos seios, ignorando minha última sentença.

—A opção dois seria ela dar uma porrada em sua cabeça e enfiá-la em um navio comigo. – respondi em um tom brincalhão, tentando diminuir a tensão que se infundiu ali. Vi que não funcionou, ao notar sua boca se abrir lentamente de estupefação. – A questão é... – mexi a cabeça de um lado para o outro. – Quando chegamos no baile, antes mesmo disso, eu já tinha desistido da ideia. Não era honrada, não era certa. Eu não sou assim... Tive sim a ideia, todavia não iria colocá-la em prática em respeito a você, Emma. – falei, levantando-me e indo até ela que tinha os olhos apertados. –Mas aconteceu de forma natural. Sem nenhuma artimanha minha, mesmo porque a chuva não poderia ser armação de minha parte. Nós fizemos amor, minha menina... Minha mulher, e foi sem nenhuma premeditação. – declarei segurando-a pelos braços. – Agora somos um só. Apenas um espírito. Meu corpo está marcado como seu...

Emma continuou a me fitar, sem proferir nenhum som. Seus olhos estavam marejados e seu rosto contorcido pela força que fazia para não chorar e seu corpo parecia ainda estar enrijecido sob meu toque.

—Irá ficar? – instigou por fim. – Ficará aqui?

Respirei fundo, aproximando-me mais dela, tendo plena consciência que o que iria responder apenas serviria para deixá-la ainda mais desconfiada sobre tudo.

—Eu preciso retornar para Londres hoje, ver o que meu tio quer... Mas eu volto, Emma. Quando menos esperar eu volto para você. Será rápido. Nós iremos nos casar. Eu prometo. — jurei, apertando meus dedos com mais força ao redor de seus braços e prendendo meu olhar no dela, para que enxergasse a veracidade das minhas palavras.

Eu abraçava Emma com força, como se dessa forma eu pudesse levá-la comigo para qualquer lugar que fosse. Desejei ser capaz de congelar o tempo e daquela forma permanecer. Repreendi-me por ter lhe dado ouvidos e aceitado a proposta do meu tio que me levaria para longe de minha menina.

—Como será quando eu partir? Irá me esquecer? – perguntei, percebendo a vulnerabilidade da questão.

—Nunca. Ficarei aqui, esperando-o. – prometeu, erguendo a cabeça para me olhar nos olhos. – Para de tratar nossos encontros como se fossem o último. Ainda temos uma semana. – lembrou. – Vamos apenas aproveitar e não pensar na separação próxima... Declame algum poema para mim, leia algo, converse besteiras... Só não fique remoendo isso que apenas o fará sofrer mais.

Aquiesci, sem conseguir deixar de lado que logo, eu não a seguraria mais. Fiz com que se sentasse e me acomodei atrás dela, deixando-a perto do meu coração.

—Não trouxe nenhum livro hoje.

—Não tem problema... Então recite um poema. – pediu descansando a cabeça no meu ombro para poder me olhar.

Ponderei por uns momentos, tentando me lembrar de alguns, enquanto sentia os olhos verdes de Swan, pousados com expectativa em meu rosto. Sorri ao me lembrar de um que havia lido pouco tempo atrás.

— “Menina dos olhos verdes,

   por que não me vedes?

 

  Eles verdes são

  e tem por usança

 na cor, esperança

e nas obras; não.

Vossa condição

não é d’olhos verdes,

porque não me vedes.

 

Isenções a molhos

que élos dizem terdes

não são d’olhos verdes,

nem de verdes olhos.

sirvo de giolhos

e vós não me credes

porque não me vedes.

 

Haviam de ser

porque posso vê-los

que uns olhos tão belos

não se hão de esconder;

mas fazeis-me crer

que já não são verdes,

porque não me vedes.

 

Verdes não o são

no alcanço deles;

verdes são aqueles

que esperança dão.

Se na condição

está de serem verdes,

por que não me vedes?”

—Eu não te dou esperança, Jones? Está querendo dizer alguma coisa com isso? – inquiriu com diversão.

—Você me dá esperança até demais, todavia, encontro-me sofrendo por ter que ir embora e deixá-la... E se seus olhos verdes, por fim, acabarem dando esperança para outro enquanto estou longe?

Emma bufou, virando e colocando um joelho de cada lado de minhas pernas, deslizando suas mãos pelo meu peito.

—Os olhos verdes são apenas seus. Os olhos, a esperança, o coração... Tudo. Apenas. Seu. – pontuou segurando em minhas mãos e deslizando por seu corpo. Segurei a respiração tentando me controlar a tentação que ela era, ainda mais quando se oferecia para mim. – Eu amo você, Killian. Não precisa ter medo de nada.

—Volto para me casar com você.

—Estarei esperando.

—Será breve a despedida.

—Estou contando com isso. – rebateu, encostando o nariz no meu.

—Logo voltarei e teremos nosso futuro. Eu prometo.

Emma me deu um beijo solene.

—Acredito em você. – murmurou em meus lábios, os olhos fixos nos meus, dando-me esperança.

Emma riu sem vontade alguma, deixando transparecer naquele som seco toda a incredulidade que sentia. Como minha promessa não valia mais nada para ela. Soltei-a machucado com sua falta de fé em mim. Aflito com o questionamento que estava se formando uma vez mais sobre a pessoa que eu era em sua mente.

—Não duvide de mim. – implorei, o coração pressionado com força contra o peito. – Eu a amo, Emma Swan e se estou dizendo que irei retornar para casar-me com você, é porque irei. – afirmei. – Nossa noite, não foi planejada. – frisei uma vez mais. – Você sabe disso. Sei que sente.

—Acho melhor irmos embora. – Swan murmurou, brincando com a saia do vestido, de costas para mim. – A condessa deve estar preocupada. – acrescentou e pegou a ceroula que estava pendurada em uma cadeira, começando a vesti-la com dificuldade enquanto tentava não deixar o lençol cair.

—Está arrependida? – questionei nem ousando respirar.

Seus ombros ficaram tensos e seu corpo todo imóvel.

—Do que adiantaria me arrepender? – rebateu. - Não há como voltar atrás e desfazer.

Fechei os olhos com força, sentindo-os úmidos, ao entender o “sim” escondido naquelas sentenças. Uma dor aguda atingiu meu peito, fazendo com que meu coração se encolhesse com o conhecimento de que algo que o fizera tão feliz, não era objeto de felicidade do coração de Emma e sim de desconfiança.

Sim, eu havia planejado seduzi-la. O baile foi um modo de conseguir isso, porém... Era verdade que havia desistido. Não era o certo a se fazer. Emma não merecia uma noite de amor calculada, planejada... Meu intuito era voltar para a casa da amiga de Belle. E teríamos voltado se a tempestade da noite passada não tivesse desabado, prendendo-nos ali. Assim como não havia mentido sobre os quartos. Não haviam mais disponíveis.

Então quando entrei ali e encontrei Emma daquela forma, a reação que tive fora a mesma das outras vezes. Swan me atraiu para ela, como se fosse uma sereia e seu canto tivesse me fisgado como se eu fosse um homem do mar. O que acontecera fora o que sempre se sucedia quando estávamos juntos. Entregávamos, amávamos, dentro de cada limite estabelecido com o lugar que nos encontrávamos. Ali, naquele quarto, não havia limite, apenas possibilidades e as visões do futuro que viríamos a ter. No momento que a tomei nos braços, que me juntei a ela, nem me lembrava que um dia havia cogitado planejar aquele momento tão puro. Porque o amor que sentíamos um pelo outro era sublime e natural, o tipo de amor mais antigo que a Terra já havia provado e deixado que andasse sobre sua superfície. Nenhuma das situações que eu armasse chegaria perto do que tivemos. Minha mente estava livre de culpas, meu coração estava leve de amor e eu era segurado pelos braços cheios de ternura de Emma. Era real. Nunca que uma noite armada, teria aquela atmosfera de magia que havia se assentado no ambiente, envolvendo-nos.

—Eu gostaria de me trocar. Poderia, por favor, sair do quarto? – pediu, com toda a dignidade, enquanto apertava o lençol contra o corpo, corpo que eu havia visto, tocado e beijado, escondendo-se de mim.

Estudei-a por um minuto inteiro, desejando voltar para a cama com ela e permanecer ali. Amaldiçoando-me por ter trocado “menina” por “mulher” e ter desencadeado nosso desentendimento. Não deveria ser assim o dia seguinte. Não deveríamos brigar e nenhum dos dois deveria se arrepender. Deveríamos ter permanecido da forma que estávamos quando acordamos: sorrindo, felizes, satisfeitos um com o outro.

Aquiesci, procurando por minhas roupas e as vestindo rapidamente, em cada segundo esperando que Emma voltasse atrás.

Mas ela não o fez, continuou parada no mesmo lugar. As mãos pareciam ter se petrificado ao lençol de tão firme que o segurava e seu olhar estava perdido do lado de fora da janela, enquanto seu semblante estava plácido.

Fechei a porta de modo que fizesse um barulho mediano para que soubesse que estava sozinha e deixei-me cair sentado no degrau da escada, sabendo que eu precisava agir logo.

[...]

—Bom... Isso explica muito da forma que ela me tratou assim que chegou. – Belle comentou ressentida. – Emma bateu a porta com tudo na minha face. – contou.

Fazia quase uma hora que havíamos chego na casa da amiga de Belle e por todo o trajeto, Swan permanecera sentada o mais longe de mim, fingindo estar entretida demais com a vista de fora e quando chegamos, ela descera sozinha, enfiando-se dentro da casa sem direcionar nem sequer um olhar em minha direção.

—Será que você ainda não aprendeu que Emma percebe as coisas fácil? Foi assim durante muitos anos, ela encaixa peças do que as pessoas falam para que consiga compreendê-las. – atalhou com reprovação. – Você poderia ter se segurado um pouco mais... Eu sei que eu o incentivava e tudo, mas... Porque achava que não teria coragem. – confessou, a voz assumindo um tom de choro. – Agora estou me sentindo culpada, ópio! – praguejou batendo as mãos nos quadris.

—Eu estou com medo, Belle. – falei. – Eu preciso voltar para Londres, mas estou temeroso de ir e, perdê-la nesse período que estiver longe.

Minha prima balançou a cabeça, vindo em minha direção e ajoelhando-se ao meu lado.

—Ela não irá aceitar o Neal, Kill. Não depois de ter passado a noite com você... Ela não irá fazer isso com ele. Sabe que não é do feitio de Emma usar as pessoas assim... – Belle se calou, parecendo ponderar sobre algo. – Mas terei que ficar de olho nela, pois conhecendo-a do jeito que conheço, é capaz de querer fugir de mim. Você precisa conseguir, Killian.

Anuí, fixando meus olhos nos dela que estampavam toda a preocupação que sentia em relação a situação.

—Eu sei... Eu vou, Bell. – garanti. – Voltarei o mais breve que puder para buscá-la... Todavia, tenho mesmo que ir até lá... Não posso simplesmente abandonar tudo...

Três batidas rápidas e decididas me interromperam. Belle e eu olhamos para a porta, encontrando Emma com o rosto austero, trocada e com os cabelos molhados. Minha prima se levantou com rapidez, parando a meio caminho da porta hesitante.

—Eu gostaria de voltar para casa. – Swan proferiu placidamente, as mãos cruzadas na frente do corpo.

Bell concordou prontamente, relanceando um olhar para mim.

—Claro, Emma. Em alguns minutos, apenas preciso pegar minhas coisas e...

—Para minha casa. – Emma a cortou, aumentando um pouco a voz, fitando-me por cima do ombro da morena.

Minha prima se virou, piscando confusa, a boca aberta.

—Sim, iremos dentro de alguns minutos, Emma querida.

Swan balançou a cabeça.

—Estou informando que irei voltar para casa. – corrigiu-se, mexendo os ombros para trás. – A carruagem já está me esperando. Solicitei-a assim que cheguei... Não irei fugir, condessa. Não é do meu feitio fazer as coisas pelas costas dos outros que tenho alguma consideração. – alfinetou, uma sobrancelha levemente levantada com arrogância, enquanto seus olhos voltavam para Belle.

A morena encurtou o espaço que havia entre as duas.

—Você não pode ir embora, Emma... Suas coisas estão todas em Goldsberry Hall... Sem falar que eu preciso de sua companhia. Converse comigo, não olhe para mim como se não confiasse na pessoa que está a sua frente.

—Você nunca foi minha amiga. – Emma retrucou com desprezo. – Trouxe-me para cá, apenas para que ele terminasse o que não teve tempo de fazer nove anos atrás. – acusou, o redor dos olhos vermelhos com a força que fazia para segurar o choro.

Belle negou, o lábio inferior tremendo.

—Trouxe-a comigo, porque gosto e me importo com você... Quero sua felicidade, assim como a de meu primo. Vocês se amam... Iria acontecer em algum momento. Killian ama você, Emma, ele nunca faria isso que está se passando em sua cabeça. Ele não é esse tipo de homem e você sabe! – exclamou com a voz estridente. – Perdoe-me se ajudei vocês a se pertencerem. Perdoe-me se achei que estava ajudando-a a ser feliz com o homem que ama. Perdoe-me, Emma e eu imploro que não vá embora. Nós daremos um jeito. Cuidarei de você não importa o que aconteça... Se necessário irei morar em uma casa isolada para fazer-lhe companhia...

—Belle! – interrompi-a ao perceber para onde estava indo com seu discurso. Ela me olhou de olhos arregalados, duas bolas espantadas. – Não está ajudando agora... Minha menina... – comecei, caminhando cautelosamente até ela. – Está sendo precipitada e teimosa. Eu a amo. – lembrei-a e recebi como resposta um negar de cabeça. – Eu a amo, sim, por mais que esteja preferindo duvidar disso por motivos que sua mente criou, com pistas falsas que sua imaginação inventou... Eu irei voltar.

—Foram as mesmas palavras! – ela sussurrou com raiva, os olhos cheios de água brilhantes. – As mesmas malditas palavras que me disse quando foi embora da primeira vez... “Eu irei voltar para você. Eu prometo”...  E eu fiquei nove malditos anos esperando-o, passando dificuldades, enquanto se engraçava com as dondocas mimadas. Sendo completamente fiel a você mesmo sem nunca ter um retorno... Mas não irei acreditar de novo. Não deveria ter voltado a acreditar em você e nem ter permitido voltar a amá-lo...

—Eu irei voltar! – aumentei a voz sem intenção, me arrependendo logo em seguida. – Não importa o que eu tenha que fazer. Vou me casar com você, minha menina... A ideia de voltar a ter uma vida onde você não está ao meu lado, como sonhamos e planejamos, causa-me dor. Apenas, seja um pouco paciente e volte com minha prima.

Emma apertou os lábios e abaixou a cabeça, segurando o ar. Olhei para Belle que tinha o rosto marcado com lágrimas furtivas, deixando toda a aflição que sentia se projetar por ser corpo, ao observar a cena. Estudei-a dar pequenos passos vacilantes, aproximando-se de Swan, que começava a oscilar, ainda com a respiração presa.

Então ela soltou uma lufada de ar, parecendo se recompor, obstinada sobre a decisão que tomara.

—Mandarei o vestido que estou indo de volta para a senhora, condessa... E quanto ao dinheiro dos vestidos, fique com ele para que pague todas as minhas despesas e o infortúnio que causei por abandonar o posto de modo tão repentino. Passar bem, Sra. Gold... Sr. Jones. – Swan fez uma breve reverência e girou nos calcanhares, saindo com determinação.

—Emma! – Belle gritou, erguendo o vestido e indo atrás dela. Anna apareceu confusa no vestíbulo com Gideon nos braços que sorriu ao ver Emma, esticando as mãozinhas em sua direção. – Não irei deixar que volte. Seu lugar é aqui. Nós somos amigas e amigas conversam quando uma delas erra.

Swan parou abruptamente, virando-se para minha prima.

—Isso não foi um erro, condessa. Foi uma escolha sua. Uma péssima escolheu que acabou de destruir a vida de uma pessoa.

—Pessoas fazem escolhas erradas às vezes, Emma! – Belle insistiu, segurando-a pelo braço.

—Não cabe a você decidir a minha vida. Eu fiz uma péssima escolha. Não um erro, porque ele me deu a opção de não continuar. Mas eu escolhi ir. Escolhi prosseguir por amá-lo e achar que era reciproco... Como fui tola! Contudo, você, condessa, escolheu me enganar, escolheu me jogar nas garras dele sabendo muito bem como não seria forte para resistir. Escolheu tornar-me alguém... – Emma ficou em silêncio, como se buscasse a palavra. – Usada, para o deleite de seu primo. Talvez seu negócio não seja falsificar assinaturas e sim enganar mulheres em benefício de seus conhecidos... – provocou com uma pontada de maldade.

Um silvo baixo ressoou, antes que o estalido alto se fizesse presente. Emma estava com o rosto virado, parecendo assombrada ao encarar a mão ainda suspensa de minha prima, que por sua vez estava boquiaberta, fitando incrédula a marca vermelha de seus dedos no rosto de Swan.

—Belle. – chamei-a aparvalhado. Tudo acontecera tão rápido que ainda tentava assimilar a cena que acabara de acontecer.

—Meu Deus. – ouvi a morena murmurar quando Emma se endireitou e nos deu as costas. – Perdoe-me, não quis agredi-la. Nunca ergui a mão para bater em alguém... Acontece que não sou essa pessoa que está me acusando de ser. – minha prima se justificava, tentando impedir que Swan entrasse na carruagem. Desci as escadas, sabendo que o melhor era deixar que fosse e esfriasse a cabeça, então provaria para ela minha palavra indo até Hertfordshire, para pedir sua mão. Segurei minha prima gentilmente pelos ombros. – Emma! – Bell continuou a gritar, agora de modo histérico, enquanto o veículo se afastava, sacolejando. – Eu a agredi. – mussitou, tampando a boca com horror, impedindo um soluço de sair. – Eu juro que não fiz por maldade, Kill...

—Eu sei, Bell. Acalme-se. – pedi, tentando tranquiliza-la, por mais que eu estivesse completamente desestabilizado. – Emma está brava comigo, não com você.

 -Eu a amo como uma irmã. – continuou. – E acabei de machucá-la ainda mais... Por que não a impediu? – instigou, apoiando-se com força em meus braços, erguendo o rosto para o meu.

Desviei o olhar para a estrada por onde a carruagem com Emma havia desaparecido. Apesar de tudo que acontecera, eu ainda não conseguia me sentir culpado. Não quando não era verdade o que Swan estava me acusando. Eu não havia a usado, não havia a destruído, muito menos enganado.

—Porque só quando ela tiver a prova concreta, Emma irá acreditar em tudo o que eu disse. Apenas quando Swan ver, ela irá crer que o que aconteceu noite passada, não foi algo para destruí-la... Eu irei buscá-la em Hertfordshire, não preocupe. – abracei-a. – Talvez seja até melhor Emma ter ido, ficar em Goldsberry Hall na presença de Neal, iria deixá-la mais transtornada do que já estava. – acalmei-a, depositando um beijo em sua cabeça e a guiando para dentro, mas lançando um último olhar para trás, na esperança de ver minha menina retornando.

[...]

Cheguei em Londres na manhã de terça-feira, exausto, tanto fisicamente, quanto mentalmente. Emma permaneceu o tempo todo em minha mente. Eu estava preocupado com ela, ansioso para saber como estava. Havia enviado uma carta para ela antes de partir, no entanto, tinha certeza que não obteria resposta alguma de sua parte.

A única forma para falar com Swan seria pessoalmente. E com um anel em mãos.

Mal tive tempo de tentar descansar quando meu tio veio ao meu encontro em meu apartamento nem se preocupando em ser convidado a entrar.

—Preciso que venha comigo até a casa dos Odom agora mesmo. – anunciou, jogando o casaco amarrotado que acabara de tirar em minha direção e enchendo uma taça de conhaque.

Apertei a ponte do nariz, sentindo uma veia pulsando em minha testa e me apoiei no braço do sofá.

—Eu passei a noite com Emma. Não irei me casar com Milah. – contei, erguendo o olhar para o homem em minha frente sem parecer surpreso com a minha confissão. – Não me importo com nada, tio. Não irei falhar dessa vez. Não posso falhar.

Theodore respirou fundo e entornou o copo de conhaque, pousando-o com violência na mesinha.

—Será que você pode pelo menos uma vez na vida fazer o que estou pedindo e vir comigo até a casa dos Odom? – instigou impaciente. – Seus pais estão indo para lá. – informou, o que me fez vincar a testa e me questionar o motivo pelo qual meus pais estariam indo até a casa de Milah. – Junto com Loreta. – adicionou, como se o nome da amante do visconde fosse despertar meu interesse. O que funcionou, já que me coloquei de pé, enfiando os braços nas mangas do casaco e indo com meu tio em direção a porta.

Esperei que ele me desse mais alguma informação, todavia o homem permaneceu calado durante todo o trajeto até a carruagem, indicando que eu entrasse primeiro.

Por fim, não aguentando mais de curiosidade, abri a boca para questionar o que estava acontecendo e por que era tão urgente que não poderia esperar eu conseguir tomar um banho e parecer pelo menos um pouco apresentável.

—Espere e verá. – Theodore respondeu. – Mas digamos que filhas de viscondes não se casam com pessoas de nossa classe. – proferiu, com um pequeno sorriso de triunfo nos lábios, deixando bem claro que não iria dizer mais nada, o que fez a impaciência tomar conta do meu ser. Minha vontade era chacoalhar meu tio até que me contasse, afinal, meus humores não estavam dos melhores para joguinho de mistérios. Eu tinha coisas importantes para resolver no período mais curto o possível de tempo e certamente, brincar de charada não me ajudaria nessa questão.

Todavia, consegui me controlar e dentro de quinze minutos, estávamos estacionando em frente à casa da família Odom. Uma sensação ruim percorreu meu corpo, um calafrio que estremeceu todos os meus pelos assim que pisei na calçada e acompanhei Theodore a passos rápidos até a entrada. Meu coração se apertou e algo obstruiu minha garganta, impossibilitando-me de engolir a saliva que se formava em minha boca.

A porta foi rapidamente aberta pelo mordomo da família e sem esperar que indicasse onde deveríamos ir, meu tio foi em direção a sala, mudando sua forma de andar para algo mais tempestuoso, como ele sempre fazia quando queria fazer uma entrada que deixasse registrada a sua chegada. O cômodo estava em silêncio e uma atmosfera tensa se assentava do lugar, tão densa que era possível vê-la e se permanecêssemos mais um pouco ali, descobriria ser capaz de tocá-la também.

A primeira coisa que procurei foram meus pais, que estavam confortavelmente sentados no sofá de dois lugares, minha mãe com um ar vitorioso escapando de sua máscara de complacência e meu pai parecia estar aliviado, como se um peso tivesse sido tirado de suas mãos. Mais ao lado estavam Milah e a mãe dividindo o banquinho do piano. A viscondessa não fazia questão de esconder o desagrado e fúria que sentia ao fitar a amante do marido, enquanto a filha, por mais que tentasse esconder, deixava transparecer toda sua confusão, que ficou ainda mais evidente assim que olhou para mim com olhos indagadores, pedindo respostas, como se eu soubesse o que estava se desenrolando ali.

Perto da lareira estava o Sr. Odom, com sua postura de indiferença de sempre, enquanto levava o charuto aos lábios, expelindo a fumaça logo em seguida, como se apenas ele estivesse no cômodo. Na poltrona próxima a ele, estava Loreta, com o semblante determinado.

—Estamos aqui. – meu tio anunciou sem necessidade, já que todos haviam notado nossa presença.

—Talvez podemos começar para acabar de uma vez? – meu pai sugeriu incomodado.

Olhei sem entender para o rosto de cada um quando a amante do visconde assentiu e se colocou em pé, engolindo em seco e se virou para Sr. Odom, que por mais que estivesse descontente com a situação, que eu ainda não entendia qual era e a dimensão da sua gravidade, respondeu ao olhar da mulher sem hesitar, como se seus olhos fossem atraídos para ela.

—Espero que seja capaz de me perdoar, Jer... – começou. – Mas não posso deixar que force esse casamento, do mesmo modo que forçaram o seu... E eu não poderia ignorar o apelo de uma mãe que quer ver seu filho feliz. – Loreta indicou minha mãe com um gesto de mão.

Voltei a observar Milah e a viscondessa. A mulher mais velha estava mais pálida que o normal e seu olhar agora estava vidrado no desenhos intricados do tapete.

—O que está acontecendo aqui? – Milah instigou com impaciência ao envolver as mãos da mãe nas suas, como que na tentativa de aquecê-las.

Loreta respirou fundo, girando para observar todos na sala.

—Você, Killian, assinou um contrato para se casar com a filha de um visconde. – iniciou, os olhos fixos em meu rosto. – Mas acontece que Milah, apesar de carregar o nome de Jeremy, não é filha dele. – revelou, cruzando as mãos em frente ao corpo.

Pisquei, atordoado, esperando que as palavras que dançavam em volta de minha cabeça, entrasse em minha mente e se mostrassem ser realmente o que significavam.

—E antes que você dê um ataque, mocinha. – Loreta se virou para Milah, deixando que eu assimilasse a informação. – Não, eu não estou mentindo. Você é fruto de uma relação fora do casamento... Mas sua mãe não teve culpa, ela apenas foi forçada a se casar com um homem que nunca amou.

—Mamãe? – ouvi a voz de Milah, vulnerável como nunca ouvira antes, indagar.

Por mais que naquele tempo, a felicidade começavam a preencher minhas veias com o significado de tudo aquilo, com o fato de que, eu estava livre para voltar para Emma, livre do contrato e de tudo mais que me prendia ali e impedia que eu fosse feliz ao lado da mulher que amava, fui forte o suficiente para não demonstrar, em respeito a Milah e como a vida que conheceu estava desmoronando de uma vez ao seu redor.

A viscondessa ergueu a cabeça para a filha, como se só houvesse as duas na sala.

—É verdade, Milah. – afirmou, o tom de voz embargado. – Você é filha de um criado, um lacaio, da casa de seus avós... Eu ia fugir com ele, mas... Seu avô descobriu e... Tratou de arranjar um casamento o mais rápido possível.

Senti meus olhos se arregalarem diante da confissão e um riso nervoso, totalmente inoportuno subiu pela minha garganta. Era realmente irônico que aquilo estivesse acontecendo com Milah. Uma peça pregada pelo destino, em resposta a todas as maldades que ela fizera com criados.

Milah era um deles esse tempo todo.

—Jeremy assumiu sua paternidade, mas nunca te criou como filha. E em agradecimento por me deixar ficar com você, nunca me importei com seus encontros com Loreta.

Minha ex-noiva, respirava com a boca aberta, como que para conseguir enviar maior quantidade de ar para seus pulmões, enquanto que de seus olhos, lágrimas gordas e brilhantes rolavam sem parada, perdendo-se em seu pescoço.

—E quanto ao meu pai? Onde ele está agora? – quis saber, um sussurro falho.

—Morto. – respondeu simplesmente. – Ele nunca soube de sua existência. Seu avô pediu para que os capatazes acabassem com ele. – a mulher balançou a cabeça, fungando e se colocou de pé. – Você lembra tanto ele. – devaneou com um sorriso triste. – Que na maior parte do tempo tenho dificuldade em olhá-la. – confessou sem pesar e vi Milah se encolher como se tivesse levado um soco. – Eu irei me retirar que... Não tenho mais cabeça para isso no dia de hoje. – informou, indo para a saída.

Olhei para minha mãe, que tinha os olhos fechados e meu pai que fitava Milah com pena.

—Está livre para ir atrás da moça. – meu tio falou, apertando meu ombro. – Nada mais o prende aqui.

Busquei Loreta com o olhar e ela sorriu para mim. Agradeci-a com um aceno de cabeça, por ter feito o que fez. A mulher de cabelos negros, andou até o visconde e enlaçou seu braço ao dele. O homem olhou-a de um modo que demonstrava que ela estava perdoada.

—Só peço que... Essa conversa não saía daqui. Para todos os efeitos, Milah ainda é minha filha. – pediu. – Com licença.

Sr. Odom e Loreta saíram juntos, enfiando-se para dentro da casa. Minha mãe se colocou em pé, relanceando um olhar, pela primeira vez não hostil para Milah, que permanecera imóvel desde que a mãe se retirara.

—Converse com ela. – Brennan murmurou ao passar por mim.

Anuí, permanecendo no mesmo lugar ao esperar que saíssem e nos deixasse sozinhos. Meu pai encostou a porta e quando seus passos se distanciaram, aproximei-me de onde Milah estava.

—Por favor. – ela começou. – Eu imploro que não rompa o noivado. – suplicou erguendo o rosto. – Irá me destruir.

Contorci o rosto diante de seu pedido.

—Passei a noite com Emma. Não posso me casar com você, Milah... Tenho que voltar para ela.

A mulher a minha frente soltou um riso dolorido ao se encolher ainda mais. Senti-me mal por piorar aquele péssimo momento para ela.

—Claro. Emma... É com ela que você passou as últimas semanas. – constatou infeliz. – Então... Deixe que eu rompa o noivado. Se eu decidir não me casar mais com você... Ainda há chances para que eu encontre alguém.

—Tudo bem, Milah.  – concordei prontamente. Não me importava como seria rompido, só desejava que fosse. – Nada mais justo... Apenas peço que informe o mais rápido possível o nosso rompimento. – solicitei. – Preciso retornar...

—Para Emma. – completou desgostosa. – Compreendo. Terei um baile na sexta para ir, deixarei que todos saibam... Por favor, tome conta das papeladas.

Aquiesci.

—Garantirei que até o início da próxima semana esteja em suas mãos para que assine sobre a quebra de contrato.

Milah assentiu e deu-me as costas, voltando a se sentar ao piano. Levei isso como um pedido para que eu me retirasse e do lado de fora da casa, com o ar abafado da cidade de Londres ao meu redor, permiti-me a sorrir finalmente, feliz, mal acreditando que finalmente havia acabado.

Não havia mais contrato.

Não havia mais noivado.

Nada mais no caminho entre mim e Emma.

Fechei os olhos e fiz uma prece a Deus agradecendo por poder voltar aos braços de minha menina.

O nosso futuro que sonhamos juntos iria começar e essa constatação fez-me começar a rir sozinho em meio as lágrimas.

[...]

Enviei uma breve carta para informar Belle sobre a boa notícia e como só estava esperando tudo se oficializar para ir atrás de Emma com o anel de noivado que havia comprado.

Assim que saí da casa do visconde, caminhei até uma joalheria que ficava a caminho da fábrica do meu tio e entrei sem hesitar ao ainda ver o anel que vinha namorando desde que o vira ali na vitrine, destacando-se por sua cor amarelada e os pequenos diamantes ao redor. Eu sempre pensava no sol de verão quando eu o via, o que me remetia a Swan sem dificuldade alguma. Era para ser dela. Para pousar em seu dedo.

Meus pais mal podiam aguentar de contentamento. Comemoramos a quebra do contrato com um jantar, acompanhado de risos. Pela primeira vez em anos, éramos a família de antes. Depois do momento tenso que tivemos pela manhã, o resto do dia fora como se os nove anos nunca tivessem acontecido.

No entanto, precisei ficar na cidade até a outra semana, por conta de toda a papelada e para garantir que a notícia do rompimento havia sido espalhada. E fora. Em todos os eventos que compareci, conseguia ouvir o burburinho das pessoas, contando umas para as outras o motivo do término e sempre aumentando um pouco. Como era de se esperar, eu era pintado como o vilão e recebia olhares de aversão sempre que me aproximava. Isso me divertia e não poderia me importar menos com o que falavam.

Depois daquelas duas semanas não seria mais obrigado a viver ali, retornaria para meu condado e compraria uma casinha para que todos vivêssemos juntos. Era por esse momento que ansiava.

Achei estranho não receber uma resposta de minha prima e enviei outra carta antes de sair de viagem para Hertfordshire. Meu tio havia acabado de mandar os papéis assinados por Milah que garantia minha liberdade e sem perder tempo, enfiei-me em minha carruagem rumo ao interior. De Londres até lá era apenas um dia, chegaria pela madrugada e teria ainda que esperar o dia amanhecer para poder tornar tudo oficial com Emma. A espera por esse momento tirava o meu sono e por mais que tentasse, não conseguia apagar.

Todavia, parecia que a vida tinha outros planos e que envolvia deixar-me por mais tempo na sofreguidão de acertar tudo com Swan. Eu sabia que agora éramos um do outro, que nos pertencíamos, no entanto, eu precisava dela comigo. Minha menina havia partido brava e acreditando em algo que não era verdade, então eu sentia urgência para consertar tudo. Ainda mais que eu demorara mais do que o esperado. Tinha medo que nessas duas semanas, Emma tenha achado que estava certa.

—Ora, Sr. Jones! – uma idosa rechonchuda me saudou assim que entrei na estalagem. Iria ficar ali até o sol raiar e tentaria dormir um pouco. – O que faz por aqui? – quis saber, ajudando-me a tirar o casaco. – A família Odom está aqui também? – indagou alarmada, virando-se para fora.

Fiz que não, fitando a cozinheira dos Odom.

—Sou apenas eu. Não acho que eles voltem tão cedo... Como vai Granny?

A velha pareceu surpresa e suas bochechas adquiriram um tom vermelho.

—Oh! O senhor se lembra de mim. – falou incrédula e eu assenti. – Eu trabalho aqui quando a família não está na casa. – contou como que para se explicar. – Então o que faz aqui senhor Jones? Não querendo ser intrometida...

Fiz um sinal de descaso com a mão, feliz em poder contar para alguém o que eu estava fazendo ali. Minha mão foi para o bolso da calça onde a caixinha do anel estava.

—Vim atrás de Emma. – falei, abrindo a caixa e deixando que visse o anel. A expressão da senhora se fechou em uma carranca e percebi o que só aquilo poderia significar para quem não conhecia a história toda. – Vou pedi-la em casamento. – adicionei. – Srta. Odom e eu não estamos mais noivos.

—Sorte a sua, não? – comentou com sarcasmo. – Fico contente em saber que tomou a decisão certa de ficar com a moça... É um bonito anel, senhor Jones... Mas acredito que perdeu a viagem.

Encrespei a testa confuso.

—Por que, Granny?

—Emma foi com a família para Berks no início dessa semana. Humbert e Tinker foram com ela também... Por sinal, o senhor sabia que Tinker e Graham estão noivos? O homem finalmente teve coragem de pedir...

Segurei sua mão para atrair sua atenção para mim uma vez mais antes que a mulher começasse a tagarelar sobre o noivado dos amigos de Swan.

—A senhora disse que Emma foi para Berks? – inquiri.

Granny aquiesceu.

—Duas carruagens com o brasão do conde veio buscá-la.

Levei a mão a boca, apertando as bochechas em frustração. Por que Belle não me contara que viera buscar Emma e que estavam bem? Eu enviara a carta e não obtive resposta. Minha mãe enviara cartas também e minha prima permanecera em silêncio. O que não fazia sentido, afinal, Bell fazia o possível para nos ajudar a ficar juntos, então de repente, ficara quieta, como se de uma hora para outra, tivesse desistido.

—Muito obrigado pela informação, Granny. – agradeci, pegando meu casaco e voltando para a carruagem. – Não desatrele os cavalos. Nós vamos para Berks agora. – informei o cocheiro que começava a soltar os animais.

[...]

Mal esperei a carruagem parar na frente da casa e já saltei, correndo para dentro sem ser detido, já que a porta estava aberta. Eu estava exausto e com o corpo todo dolorido, entretanto teria tempo para descansar verdadeiramente depois de tudo resolvido. Desviei dos empregados que estavam trabalhando a todo vapor, carregando móveis, enfeites e pratos já prontos de comida.

Aquilo só poderia significar que Belle iria oferecer um baile.

Era bom, pois assim poderíamos transformá-lo em uma festa de noivado.

Parei no saguão por um momento, olhando para os lados tentando encontrar Emma na confusão de cabeças que trabalhava a toda.

—Com licença... Emma Swan? – indaguei para uma moça que passava com um arranjo de flores.

—Srta. Swan está no quarto dela se preparando, senhor. – informou sem parar para me olhar.

Peguei o caminho para as escadas, começando a subi-las o mais rápido possível.

—Killian! – Belle exclamou surpresa ao trombar em mim, olhando ao redor com aflição como se buscasse uma explicação para eu estar ali. – Não avisou que estava vindo... O que... O quer? – gaguejou, segurando em meu braço.

Enfiei a mão no bolso e puxei a caixinha do anel de noivado, abrindo-a e revelando seu conteúdo. Eu não conseguia parar de sorrir tamanha felicidade que me invadia e esperei o sorriso despontar no rosto de Belle ao entender o que ele significava.

Porém tudo o que eu recebi foi um olhar apavorado e culpado.

—O que significa isso, Kill? – inquiriu a voz controlada.

—Não recebeu minha carta com a boa notícia? – questionei.

Sua feição se retorceu.

—Você me enviou uma carta? Eu... Eu não a recebi. Não tenho notícias suas tem duas semanas.

—E você também não me enviou uma carta. Perdi um bom tempo, pois fui até Hertfordshire. – contei com reprovação que não durou muito tempo e voltei a sorrir largamente. – Porém nada disso importa mais. Eu posso finalmente ficar com Emma! – gritei com animação, voltando a subir as escadas para chegar até minha menina.

Tive a impressão de ouvir minha prima praguejar “Ópio” enquanto tentava me seguir, chamando-me com aflição,

Meti a mão na maçaneta do quarto de Swan e a abri, adentrando e encontrando-a em frente ao espelho. Ela se virou para mim com rapidez ao ver meu reflexo e seus olhos se arregalaram de espanto.

Caminhei até Emma lentamente, mostrando-lhe o anel, tentando recuperar o fôlego, enquanto esperava alguma reação dela, que observava a aliança fixamente, os olhos brilhantes com as lágrimas que se acumulavam ali.

Ajoelhei-me em sua frente e precisei piscar para me livrar do choro que embaçavam minha visão. O rosto de Emma estava contorcido e ela mal ousava respirar.

—Aceita se casar comigo? – consegui sussurrar, quando minha voz teve força para transpassar toda a emoção que obstruía minha garganta. Sabia que não precisava colocar em palavras, que Swan havia entendido, mas senti necessidade de proferi-las para que o ar as carregassem, tornando-as oficial aos ouvidos de quem estivesse no quarto.

Foi quando esse pensamento passou por minha cabeça que olhei em volta e me dei conta que minha menina não estava sozinha. Duas criadas de quarto estavam ali, paralisadas ao observar a cena, assim como Branca, que segurava um véu longo com cuidado, boquiaberta e Tinker que arrumava uma mala.

Voltei meu olhar para Emma que estava com uma mão na cabeça, lábios pressionados e a estudei atentamente. Ela estava trajada de um vestido branco perolado bordado com sóis intricados e mangas curtas. Os cabelos que já estavam na altura dos ombros, estava solto, com flores silvestres brancas enfeitando-os.

Ela parecia uma princesa.

—Por que está vestida assim? – perguntei com estranhamento.

Swan trocou um olhar com a mãe e então para a porta, onde imaginei que Belle estaria e respirou fundo voltando a me fitar, olhos carregados de culpa ao mesmo tempo que imploravam perdão.

—Hoje é meu casamento, Killian. – informou com a embargada e baixa.

Franzi a testa, achando que não havia ouvido direito e coloquei-me de pé, ainda pesando suas palavras e não achando graça naquela brincadeira.

—Hoje é o que? – inquiri, sem encará-la.

—Meu casamento. – repetiu com mais firmeza.

Fitei Belle parada no umbral, lábios crispados, apertando as mãos enquanto me olhava com apreensão.

—Sinto muito, Kill. – ela murmurou. – Eu não sabia... Não recebi sua carta... Se soubesse eu...

—Não. – eu a cortei, não querendo ouvir justificativas.

—Acho melhor sairmos todos. – Branca sugeriu. - E deixá-los conversar.

As duas criadas assentiram e se retiraram em silêncio. A mãe de Emma tocou meu braço, como se tentasse me confortar e Tinker lançou um olhar para Swan como se estivesse lhe enviando forças.

Quando a porta bateu, girei para voltar a olhar Emma, que encarava o chão fixamente, o rosto marcado com lágrimas silenciosas.

—Desde quando você estava noiva?

Ela demorou para responder, brincando com o anel de noivado em seu dedo.

—Depois que eu fui embora. – contou, erguendo o olhar para o meu. – Neal foi me procurar em Hertfordshire... Eu disse que não poderia aceitá-lo mais, que não era mais uma boa escolha, porém mesmo assim, mesmo eu deixando no ar o que havia acontecido, ele não retirou o pedido... Ele me ama de verdade se está disposto a me aceitar desse jeito... Eu disse “sim”. – explicou, voltando a olhar para sua mão com a aliança.

—Depois de... Passar a noite comigo? Você... Você ficou noiva... Mesmo depois de termos feito amor?

—Eu precisei. – se justificou. – Eu... Eu não tinha certeza do que seria. Não... Não podia... Deixá-lo achando que iria me tornar a outra.

Comecei a rir e me sentei em sua cama, quando o quarto girou.

—Você achou que eu iria transformá-la nisso? Eu lhe disse, na manhã seguinte que iriamos nos casar. Que eu voltaria para me casar com você. – recordei. – E mesmo assim, disse “sim” para Neal? Não confiou em minha palavra?

—E você me culpa por isso? Eu já tinha ouvido essa conversa antes e o resultado de ter acreditado nelas foram nove anos sozinha, para descobrir que havia me trocado por dinheiro! – guinchou, a voz machucada. – E eu morri de dizer que entendia sua escolha. Afirmei que faria a mesma coisa que você se alguém propusesse um casamento que me tiraria da miséria... Mas a verdade é que eu nunca o trocaria por dinheiro nenhum no mundo. – sua voz aumentou, tornando-se falha. – Nunca, Killian. Porque eu sei que o dinheiro ajuda muito sim, mas ele de nada serve se não existe amor. E eu te garanto, Jones, apesar de toda a dificuldade de antes, eu sempre fui verdadeiramente feliz. Assim como meus pais são felizes, mesmo com toda pobreza.

—E ainda assim, aqui está você, vestida para se casar com um homem rico.

—Você não sabe de nada. – garantiu com a voz cansada. – Nada. E não pode ficar bravo comigo por minha escolha.

Fechei os olhos, tentando conter o tremor em meus ombros, prestando atenção em minha respiração para ignorar o estardalhaço causado pelos pedaços de meu coração que caíam lentamente, trincando em ínfimos estilhaços.

—Fique comigo. – sussurrei para não demonstrar todo meu desespero. – Vamos nos casar, Emma. Escolhi você, minha criança. Eu a amo e fui um tolo por ter demorado tanto para voltar para os seus braços. – levantei-me, segurando-a pelos ombros com mais força que seria necessária.

—Killian...

— Começaremos a viver a vida que sonhamos durante aquele verão. – continuei, usando meu melhor tom persuasivo, procurando seus olhos verdes e tentando achar um vestígio de esperança que sempre estava ali.

Emma colocou as mãos em meu peito, impedindo que eu a puxasse para perto.

—Killian... Não. — declarou lentamente. – Não. – repetiu.

Ri de incredulidade, soltando-a, mas sem me afastar.

—Não? – questionei, começando a sentir raiva. - Você... Você disse que... Eu ainda era sua escolha se eu conseguisse romper o compromisso e agora... A resposta que eu tenho é não?

Emma balançou a cabeça.

—Eu disse que se eu não encontrasse alguém... Você conseguiu tarde demais, Killian.

—Não. Eu dormi com você... Eu a toquei... Eu a fiz minha tem duas semanas! – berrei e Swan se encolheu diante do meu estado, afastando-se lentamente. – Minha resposta ainda será “não”?

Ela endireitou os ombros, erguendo a cabeça.

—Não. – decretou com firmeza. - Eu esperei por você durante nove longos anos. E quando voltou, disse que não escreveu porque eu não sabia ler. Eu não era alguém que valia seu tempo. Neal achou que... Eu era alguém que seu tempo valia. Ficou do meu lado. Ajudou-me a aprender, foi paciente. – falou os dentes cerrados. – Ele não se importou que eu, era uma burra pobre sem estudos, pediu-me em casamento mesmo assim.  Mesmo sendo alguém já usada. Agora que sei juntar as letras, formar uma frase, escrever e ler, agora que pareço uma dama e que não corro risco de envergonhá-lo, você quer ficar comigo? – indagou descrente. – Quer que eu o escolha e deixe o homem que me apoiou no altar como um tolo, aguardando-me?

—Nós já tivemos essa conversar, pelo amor de tudo! – berrei. – Neal colocou isso em sua cabeça para convencê-la a aceitá-lo... Eu nunca disse que você não valia meu tempo. Pare de colocar palavras na minha boca. Pare de puxar acontecimentos de um momento que eu estava surpreso em vê-la. Eu sempre a amei. Recorda-se que eu prometi para você que iria ensiná-la quando nos casássemos? Quando eu ensinava palavras na terra? Se eu me importasse não teria me envolvido com você lá atrás. Eu me arrependo de qualquer ato que a machucou. Por ter sido mesquinho, ganancioso durante nove anos... Mas eu quero ficar com você, Swan. Agora é para valer. Eu comprei o anel que já deveria estar em seu dedo... O anel, que irá garantir a nossa felicidade e nossos sonhos. Eu a amo, Emma.

—Eu também o amo, Jones, mas você não é mais a minha escolha.

Fechei os olhos, assimilando as palavras dela. Tentando fazer entrar na minha cabeça que, Emma estava dizendo que apesar de me amar, ela iria escolher outro.

—Nós passamos a noite juntos. – recordei-a, na esperança que a fizesse perceber que agora estávamos ligados. Que já pertencíamos um ao outro, tanto física, como espiritualmente.

Swan riu sem humor.

—Eu sei. Acredite que minha consciência e meu corpo não me deixam esquecer disso.

—Você pode estar grávida. – adicionei, ainda tentando fazê-la mudar de ideia. Fazê-la enxergar que aquilo que estava prestes a fazer era loucura. Observei-a quando me deu as costas, os ombros tensos. – Foi por isso que decidiu dizer “sim” para Neal. Você achou que eu não voltaria ou que tentaria convencê-la a se tornar minha amante. Quis garantir um pai para o nosso filho.

—Não tem filho nenhum, pelo amor de tudo! – rosnou. -  E se tiver, hoje à noite Neal e eu vamos... Sendo assim, eu nunca saberei.

Comecei andar pelo quarto, sentindo-me inquieto e nervoso, sem mais saber o que fazer para fazer Emma me escolher. Eu poderia sequestrá-la e levá-la para bem longe, ninguém a encontraria. Seria apenas nós dois e nossos filhos.

—Eu irei contar para todos que passamos a noite juntos. Que fizemos amor. – ameacei. – Você terá que ficar comigo. Eles vão exigir que nos casemos, Emma.

—Você não irá fazer isso. – afirmou, andando até a janela antes de se virar para mim. - Escute, volte para Londres e dê um jeito de reatar seu compromisso com Milah. – sugeriu, cruzando os braços na frente do corpo. - Pegue sua herança e esqueça o que aconteceu. Nada aconteceu, está me ouvindo? – indagou, seu tom de voz distante.

—Você está se vingando. – constatei ao ouvir suas últimas palavras. Um zumbido deixava meus ouvidos tampados e o quarto parecia rodar.

—Não, Killian. Não estou. Não é do meu caráter me vingar das pessoas e você sabe. – Emma passou o dorso no nariz, limpando-o. – Estou pedindo para fazer algo que já fez uma vez sem dificuldade alguma, nove anos atrás. Agora se puder dar licença, eu preciso terminar de arrumar. – informou, dando passadas decididas até a porta.

—Não, Emma! – implorei, ficando de joelhos e abraçando seus quadris. – Não faça isso, eu suplico... Vamos voltar para Hertfordshire... Eu... Eu irei trabalhar... Nossos pais irão morar conosco. Vamos cuidar um do outro. Começar nossa família...

Emma se abaixou e seus lábios tocaram minha testa demoradamente. Swan segurou em minhas mãos, desprendendo-as de seu quadril e me fez levantar.

—Eu fiz minha escolha. – mussitou. – E apesar de não ser mais aquela ignorante, eu não possuo riquezas. Volte para Milah, ela tem o que você realmente precisa.

Balancei a cabeça em uma negativa, deixando as lágrimas correrem livremente pelo meu rosto.

—Eu preciso de você, minha menina. Só de você.

—Não, Killy. Apenas você seria o suficiente para mim, todavia, eu não sou...

—Não termine essa frase. Não ouse terminar! – grunhi. – Você é suficiente para mim. Sempre foi. Sempre será. Tudo o que eu preciso e quero na vida. Emma...

—Sinto muito, Killian, mas pelo visto não é para ficarmos juntos. Isso acontece na vida às vezes... Nem toda história de amor foi feita para ter um final feliz. Mas eu o agradeço, por tudo mesmo. E espero que fiquei para o meu casamento. Ficarei feliz com sua presença.

Neguei com a cabeça, engasgando com o choro.

—Por favor, menina dos olhos verdes. – implorei. – Você é o meu verão. Não faça isso...

A porta se abriu em um estrondo e o conde entrou com dois criados robustos.

—Tire-o daqui. – ordenou, apontando com o queixo para mim. Swan se afastou, deixando que os dois homens me cercassem.

—Emma! Você não pode se casar! – gritei inutilmente, várias e várias vezes, vendo-a dar as costas e tampar os ouvidos, na tentativa de ignorar meus apelos e enquanto era arrastado para fora, vi Neal com um sorriso vitorioso no rosto, em seu traje de casamento.

[...]

Depois de ser expulso da casa de minha prima, que tentou impedir que isso acontecesse, brigando com os criados, e se enfiado entre mim e eles, ela por fim acabou se acalmando quando pedi que parasse, sentindo-me oco, vazio. Era como se aquilo não estivesse acontecendo comigo, e sim com outra pessoa e eu estava assistindo de camarote a desgraça alheia.

—Ela ainda está brava comigo, se quer saber. – Belle contou, sentando-se ao meu lado no banco da igreja. Eu havia ido para lá, por algum motivo que não sabia qual. O lugar já estava relativamente cheio e pessoas chegavam a cada minuto se ajeitando, conversando baixinho entre si. – Foi tudo muito rápido. Contei que Emma havia ido embora e Neal foi atrás dela sem hesitar... O desgraçado deve ter deduzido. – praguejou e então tampou a boca, olhando para cima. – Perdão... Então, ele retornou dizendo que haveria um casamento, Gold e ele cuidaram de tudo. Emma chegou no início da semana sem nem trocar uma palavra comigo... Eu sinto muito, muito mesmo, Killian. Não foi assim que imaginei o final dessa história.

Balancei a cabeça afirmativamente, mesmo que não tivesse prestado atenção em nada que ela dissera. Observei Branca entrar acompanhada de Graham e Tinker, e coloquei-me de pé, ao perceber que logo Swan entraria. Belle me seguiu para o fundo da igreja, onde fiquei escondido pela sombra de um pilar. Neal entrou sorridente e cumprimentando a todos.

—Como gostaria de tirar o sorrisinho da cara dele. – Bell resmungou ao meu lado. – Você ficará bem? Preciso ir para o meu lugar. – avisou. – Mas estarei aqui para o que precisar, Kill. Você ainda é meu primo preferido.

—Eu sou seu único primo. – rebati sem humor e a morena suspirou pesarosa, indo para o lado do marido.

A marcha nupcial invadiu o ambiente e logo Emma entrou em meu campo de visão, desfilando pacientemente em direção a Neal pelo corredor, que a esperava com um sorriso terno e feliz no rosto. Seu pai a levava com passos lentos e com o auxílio de uma bengala, mas era capaz de dizer que ele estava orgulhoso de ser capaz de levar a filha por aquele caminho. De onde eu estava conseguia ver sua bochecha erguida, que entregava o sorriso que enfeitava o seu rosto. Eu não sabia dizer como estava a expressão de Swan, já que eu só tinha a visão de suas costas que apareciam graças a renda do vestido branco.

Meu coração afundou e algo se agitou em meu diafragma, ao recordar que havia tocado cada pedaço de pele dela. Beijado e provado cada centímetro de seu corpo e agora estava ali, vendo-a escolher outro. Caminhar para pertencer aos braços de outro homem.

David entregou-a para Neal e os dois homens trocaram um breve abraço. Cassidy ajudou-o a chegar até o bando e retornou para junto de Emma.

A cerimonia se iniciou e os dois se olhavam, sorriam ansiosos e apertavam as mãos. Tenho certeza que nenhum deles prestou atenção em uma palavra que o padre dizia, estavam perdidos demais. Cassidy em Swan e Emma fingindo estar perdida nele. Mas eu a conhecia bem o suficiente, para saber que sua mente estava longe dali.

—Aceito. – a voz de Neal tirou-me de meu devaneio, da mesma forma que arrancou Emma, que ergueu a cabeça parecendo atordoada.

—Você, Emma Swan Charming, aceita Neal Cassidy como seu legitimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?

Swan abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. Ela piscou nervosamente e abaixou a cabeça, tentando responder, porém sem nada sair de seus lábios. Emma ergueu os olhos e virou a cabeça, procurando algo, escrutinando cada canto com atenção. Meu coração começou a bater rápido demais, quando se deu conta de que ela estava me procurando.

Dei um passo, deixando-me ficar visível para ela. Seus olhos verdes se fixaram em mim e eu sorri, incentivando-a vir comigo. Correr por aquele corredor direto para os braços.

—Emma Swan Charming? – o padre a chamou e minha menina desviou o olhar, fitando Neal que a olhava com expectativa. Ela abriu a boca uma vez mais e voltou a me procurar, olhos brilhantes por lágrimas contidas dessa vez.

—Aceito. – Emma murmurou, mas aos meus ouvidos foi como se tivesse gritado, tão alto que me deixou surdo. Ela voltou a olhar Cassidy. – Eu aceito. – repetiu com vontade, vivacidade, um sorriso estampado seu rosto.

Fiquei estático, assistindo ele deslizar o anel no dedo de Emma. Aquele círculo que significava que Swan agora o pertencia. Que ela era sua mulher.

Uma maldita argola em seu dedo e estava tudo acabado.

Encontrei Belle que me estudava com certa pena no olhar e murmurou um “sinto muito” antes de se virar para a frente, para terminar de acompanhar a cerimônia.

Dei as costas, saindo da igreja com desespero não querendo ver a parte do beijo. Eu estava sentindo falta de ar. Meu coração doía de certa maneira que não achava ser possível até aquele momento. Eu era incapaz de ouvir alguma coisa além de meu sangue sendo bombardeado rápido demais em meus ouvidos. Minha cabeça girava e eu estava me sentindo enjoado. Vomitei, sem me preocupar onde era, sem conseguir enxergar nada, sem parar por um momento. Tudo o que eu tinha mente era que eu precisava sair o mais rápido possível dali. De perto deles.

Depois de tudo, eu ainda a perdera.

—Senhor? – meu cocheiro soou preocupado, amparando-me quando me aproximei da carruagem.

—Para Londres. Leve-me para Londres, agora. – ordenei, segurando-me com força na porta para tomar impulso e entrar no veícculo. – Apenas nos leve o mais rápido que puder para Londres.


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Notas finais do capítulo

Então... Foi isso. O que acharam? Ai, que tristeza que dá saber que só faltam dois capítulos.
Até o próximo.
Beijos.