Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, como estão? Cheguei com mais um capítulo fresquinho para vocês e eu espero que gostem dele.

Boa leitura.



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Killian

—Como assim “não”? – indaguei aborrecido, olhando com incredulidade para minha mãe, que continuava bordando calmamente, mesmo que soubesse que não era daquela forma que se sentia ao reparar como os cantos de sua boca estavam levemente retorcidos. – Era exatamente essa informação que estávamos buscando para conseguir romper o contrato! – exclamei com vivacidade, esperando que ela entendesse a importância daquilo. Olhei para o meu pai em busca de apoio para fazê-la pensar com clareza.

Assim que chegara em Londres, aguentara pacientemente o momento que pudesse ir conversar com meus pais e contar sobre o que descobrira. Fui obrigado a fazer toda a minha rotina na fábrica, aguentando uma repreensão que não acabava nunca de meu tio, que estava verdadeiramente possesso com minha ausência. Neguei-me veementemente dizer onde estivera quando questionara exigindo uma resposta. Tive que me controlar para não o provocar e correr o risco de colocar tudo a perder.

Então, para tirá-lo do meu pé, apenas acatei tudo o que me ordenara. Visitei Milah pela tarde, de quem tive que ouvir reclamações sem fim sobre todos os eventos que teve que atender sozinha, afirmando que já estava na hora de eu agir com responsabilidade em relação ao nosso compromisso, lembrando-me que estava vendo tudo sozinha ao que se referia ao nosso casamento.

Quando a noite finalmente chegou e eu me encontrei livre de todas as obrigações diárias, corri para a casa de meus pais, sendo acolhido animadamente por minha mãe, que antes de me deixar falar, pediu notícia de todos de Goldsberry e queria saber sobre o filho de Belle, fazendo-me descrever cada detalhe que me lembrava dele.

Satisfeita com as informações que recebera, finalmente me deu a palavra e contei exatamente o que Belle dissera, vendo meu pai trocar um olhar rápido com ela, deixando que eu terminasse e não demonstrando nada, diante do que eu acabara de falar.

—Você acha mesmo... – Jenna começou; deixando o bordado de lado e me olhando nos olhos. – Que eu já não teria usado isso se achasse que seria uma boa ideia? – inquiriu lentamente, como se eu ainda fosse uma criança e estivesse explicando que “não é não”.

—Vocês... Já sabiam? – perguntei descrente e meu pai deu de ombros. – Então é verdade mesmo?

—Família tem disso... Saber os podres uns dos outros e tentar não passar para a geração seguinte. – ele falou.

—Exatamente. – minha mãe concordou. – Theodore pode não estar sendo a pessoa mais sensata do mundo por mantê-lo nisso, mas ainda assim é meu irmão e irei protegê-lo. Não usaremos sua condição como um modo de chantagem, Killian. Isso é segredo de família e assim permanecerá. – decretou resoluta.

—Mas mãe... Não estou dizendo para publicarmos nos folhetins nem periódicos! – argumentei. – Podemos ameaçá-lo que iremos contar se caso ele não rasgar esse maldito contrato.

—Eu já disse que não, Killian Jones! – grunhiu se levantando. – Seu tio não é imbecil, iria saber que não passar de uma ameaça sem fundamentos, que nunca iriamos fazer tal coisa. E outra, nunca se deve usar o coração de uma pessoa e a forma que ele sente como um meio de ameaçar.

—Bem... Ele fez isso. – retruquei, trincando o maxilar, o nariz formigando, enquanto os olhos ardiam. – Ameaçou-me para que eu entrasse nisso. Ameaçou a mim e a Emma, garantindo que me reduziria a nada, impedindo que eu desse uma vida digna a ela! – gritei. – Eu posso com os anos ter me tornado alguém que vocês não sentiam orgulho, mas quando eu aceitei, quando as palavras saíram da boca dele, eu disse “sim” pensando em Emma e em como não queria sujeitá-la a vida que o tio estava me ameaçando. – atalhei, indo para a janela. – Eu não queria que as pessoas a ignorassem e nem a ridicularizassem por escolher ficar ao meu lado. – murmurei e fechei os olhos, tentando não chorar, ao me recordar daquele dia infernal no escritório de meu tio em sua casa.

Senti os braços de minha mãe, envolvendo-me por trás e ela descansou sua bochecha em meu ombro.

—Sei que Theo não foi justo com você, filho, mas essa não é a solução. Dê-me mais um tempo. – pediu, virando-me para ela.

Encarei-a de forma instigadora, pedindo com o olhar que me explicasse, por que eu deveria dar mais tempo a ela, se tempo era uma coisa que não tinha tanto luxo.

Não com aquele sobrinho do marido de minha prima rodeando Emma mesmo longe.

—Estou conversando com Loreta. – contou. – Estou me programando para ir sempre aos mesmos eventos que ela e a filha.

—E o que a senhora pretende com isso? Todos sabem que o visconde tem uma amante.

Um sorriso surgiu no rosto de minha mãe.

—Como seu pai disse, toda família tem seus podres... Loreta sem dúvidas, deve saber de algo dos Odom que podemos usar contra eles. Eu só preciso me aproximar mais dela e, Killian, eu estou bem próxima!

Meu pai soltou uma risada incrédula do canto da sala, sentando-se.

—E você acha certo chantagear os Odom? – quis saber, soando paciente, como se ainda fosse o clérigo do passado, lidando com os fiéis. – O que disse antes, então não se aplica a eles? Dá um “não” definitivo quando se trata de Theodore, mas está determinada a desestruturar ainda mais uma família? Isso me soa um bocado hipócrita, Jenna. – repreendeu-a. – Talvez devêssemos nos focar em não chantagear pessoas para nosso próprio benefício... Já pararam para pensar que se outro homem aparecesse para prestar corte a Milah, um homem rico, o visconde quebraria o contrato sem nem pensar duas vezes?

Minha mãe gargalhou.

—Tudo mundo sabe a peça podre que Milah é. Nenhum homem é doido de se juntar a ela por livre e espontânea vontade. Veja só o que o pai dela fez para se livrar dela!

—Levando em consideração o ambiente em que ela cresceu, não pode culpá-la por ser uma peça podre, Jenna. Já ouviu falar que os filhos são espelhos dos pais? Milah sempre foi rodeada de hostilidade e continua até hoje. O pai não a suporta. Nunca vi o homem abrir a boca para dizer uma palavra de carinho para moça, apenas para criticá-la. A mãe mal consegue olhar para a filha e quando conversa com ela, é apenas para reclamar... Não estou saindo em defesa dela, só estou dizendo que é um pouco errado defini-la desse modo, porque ela não tem culpa dos pais que tem. Aposto que se tivesse tido poder de escolha, escolheria ter nascido em um lar amoroso como Killian.

—Milah é louca, pai. Já testemunhei várias vezes.

—Sim, eu sei. – anuiu, juntando as mãos. – Você já nos contou todas as ameaças feitas por ela, mas acredito que Milah as faça, porque de alguma forma, acha que se casando com você, finalmente terá o que nunca teve todos esses anos. É claro que ela quer ser amada. Srta. Odom vê e sabe como cresceu rodeado de amor e quer tomar um pouco disso para si. Quer se sentir amada... O que nós temos que fazer é nos focar em Theodore e o visconde, tentando deixar a moça longe disso tudo, para não a danificar ainda mais no processo.

Balancei a cabeça, sentindo as veias pulsando em minhas têmporas. Eu estava cansado e irritado com minha mãe. Estava aborrecido com meu pai por insistir em ver Milah como uma pessoa danificada e usar isso como justificativa para ser a pessoa que era.

—Eu não quero saber como. – falei, pegando meu casaco e indo para a porta. – Eu só quero que a próxima vez que eu voltar para Berks seja com um anel para pedir a mão de Emma. E quero que seja logo... Vou dar mais um tempo para a senhora, mas se em até um mês não tiver nada, eu irei usar a informação que tenho. – avisei estoico, para mostrar que não estava blefando. – Sei que não será correto, mas a minha felicidade está escapando pelos meus dedos e eu sinto. Eu vi que está. – mussitei, recordando do sobrinho do conde e de como ele estava se engraçando demais para o lado de minha menina. – Terei que esquecer a gratidão que tenho pelo tio ter feito tudo o que fez por mim e... Deixar todos saberem se por acaso ele não acreditar que terei coragem de contar.

[...]

Os dias pareceram passar mais lento que costume, conforme eu me via preso na mesma rotina e nos mesmos grupos quase todas as noites. Eventos eram frequentes quando a temporada estava se iniciando e era praticamente obrigatório para mim, comparecer em todos que surgissem. Tanto para acompanhar Milah, quanto para os negócios da fábrica, para conseguir novos clientes.

Mas durantes aqueles longos dias, um breve momento de felicidade invadia, duas ou até mesmo três vezes na semana, com cartas de Emma. Eu perdia mais tempo lendo-as e as relendo, do que de fato respondendo. Eu sempre mandava a resposta o mais rápido possível, na esperança que o retorno fosse breve.

As cartas de Emma eram sempre bem-humoradas e eu percebia como cada nova correspondência que chegava, ela evoluía. Seus pensamentos estavam sendo formulados de forma mais coerente, sua letra já não era tão irregular e nem hesitante como antes. Swan tratava de assuntos que antes não fazia a mínima noção do que se era e me recomendava livros.

E mesmo que eu tentasse ser animado como as cartas delas, não conseguia esconder como a ansiedade e o desânimo me massacravam cada dia mais. Minhas noites de sono eram mal dormidas, porque meu cérebro parecia não querer apagar de forma alguma e isso me deixava fatigado. Era como se tivesse algo em meus ombros que me puxavam para baixo. Algumas vezes eu deixara de ir trabalhar, por não sentir vontade de sair da cama. Eu dispensava o mordomo e ficava sozinho, ignorando os chamados na porta de quem quer que fosse.

Sabia que Emma estava preocupada comigo, porque ela sempre dedicava uma parte de suas cartas para perguntar como eu estava. Desconfio que sempre tratava de assuntos leves e alegres, com a intenção de me animar mesmo estando longe.

A questão é que eu sabia que estava pagando pelas minhas escolhas. E eu não via a hora daquela dívida acabar para que eu estivesse livre. Eu já havia entendido a lição e não iria cometer os mesmos erros novamente.

E mesmo com a lentidão dos dias, o mês passou. Encontrara Loreta na casa de meus pais algumas vezes, todavia duvidada profundamente que ela deixaria alguma coisa escapar para minha mãe. Meu pai continuava a tentar seus métodos corretos para me ajudar, porém sempre afirmava que estava pronto para uma fuga se nada desse certo. Precisei me ausentar de Londres por duas semanas para inspecionar a fábrica que estava para abrir, tarefa essa, que prorroguei o máximo que consegui, contudo, precisava ser feita por mim.

Foi bom estar em outros ares, longe de meu tio. Nosso relacionamento não estava dos melhores. Eu vivia o provocando com insinuações sobre o que Belle me contara, quando ele começava a me aporrinhar com sermões sobre o meu noivado e de como eu deveria me portar. Discutíamos quase todo momento que estávamos no mesmo ambiente.

Eu tinha esperança de vencê-lo pelo cansaço.

Você não está lidando com seu tio da forma correta” Emma escrevera em uma das cartas que me enviara “Se ele realmente gosta de homens, está precisando de alguém que não o recrimine, nem o julgue por sua escolha. Está precisando de alguém que o aceite da forma que é, Killy. Que mostre que irá admirá-lo e amá-lo mesmo assim. E apesar de ter feito o que fez, de ter nos separado, seu tio o ama e isso é perceptível só de ver tudo que fez por você. Do jeito que fala dele, vejo que, ele o tem como um filho. Se coloque no lugar dele por um momento. Tente sentir em sua pele como seu tio deve se sentir. Ou você acha que ele escolheria essa situação?”

Eu não sabia como fazer aquilo que Swan me pedira na carta. Não sabia como trazer o assunto à tona e nem se agora usaria a informação contra ele. Não depois de Emma demonstrar que não se sentia confortável com aquela opção, que não achava certo a chantagem, com medo do que iria desencadear, e apesar de não o conhece e ter todos os motivos do mundo para odiá-lo, não queria que algo ruim acontecesse.

Então, como se eu não estivesse com preocupações demais na cabeça, recebi uma carta de Emma para acabar completamente com o resto de sossego que tinha conseguido manter.

“Meu querido, Killy

Sei que havia dito que tentaria retornar para que me acompanhasse até nosso condado, e acredite, adoraria que fosse minha companhia, todavia Sr. Gold decidiu que quer ir passar uns dias com Neal, para auxiliá-lo com suas propriedades arrendadas ou seja lá o que isso significa. Belle e eu iremos com ele, já que faz questão de nossa presença nesta viagem, sendo assim, já irei aproveitar para visitar meus pais com Cassidy, que bondosamente se propôs a me acompanhar até lá.

Por favor, meu querido, não fique aborrecido com esta notícia. Garanto para você que vejo Neal apenas como um bom amigo. Sei que está tentando o seu melhor aí em Londres e não quero que fique alarmado com esses dias que iremos passar juntos.

Não prometo escrever nesses dias, mas saiba que tentarei. Mas sei que não passarei mais de duas semanas em Marlow ...Shire, pois Belle não se sente à vontade em ficar tanto tempo de visita e irei voltar com ela, obviamente. Porém fique bem neste tempo, meu amor.

Estarei pensando em você e eu dou permissão para que pense em mim também... Na verdade, ordeno que pense em mim também, para que não corra o risco de esquecer a mulher maravilhosa que sou.

Estou com saudades.

De sua menina,

                                                                                                                                              Emma”

 

E eu fiquei, duas malditas semanas sem notícias dela, só imaginando o que estava acontecendo em Marlow. Com medo que com aqueles dias, o “apenas bons amigos” se transformasse em algo mais, afinal, não levou mais de uma semana para que eu percebesse o que sentia por Swan e ser correspondido. Temeroso do interesse que o sobrinho de Gold demonstrou em ir até Hertfordhire e conhecer os pais de Emma.

E pelos Céus e todos seus anjos! Eu sabia exatamente o conteúdo da conversa dele. Soube de suas intenções assim que os vi interagindo na biblioteca após a leitura de Emma, e vi a forma que ele olhava e se portava perto dela. Claro que a palavra final seria de Swan, no entanto, uma hora dessas; Neal já devia ter pedido a mão de Emma a David e com toda certeza, recebido sua aprovação.

Esses pensamentos fizeram com que minha ansiedade aumentasse. Passei um final de semana em Bath com meu pai, a pedido de minha mãe que começava a se preocupar comigo e meu atual estado de tristeza. Estar perto do mar, junto de meu pai, de fato ajudou-me um pouco, mesmo assim não fez com que parasse de pensar e repensar formas de mudar minha vida.

Minha primeira opção, era a de sequestrar Emma e levá-la para bem longe, de preferência o Novo Mundo, onde seria mais difícil para ela voltar para casa. Então pediria para meus pais, com discrição, mandarem Branca e David para morar conosco e por fim, virem se juntar a nós. Começaríamos uma nova vida e se fosse necessário, com novos nomes para não correr o risco de eu ser encontrado.

Minha segunda opção era seduzir Swan, apesar de não me sentir orgulhoso dessa, porque teria que ignorar seu pedido de sermos apenas amigos. Agora ela era uma moça estudada, alguém que a sociedade prestava atenção e se passássemos a noite juntos, eu seria “obrigado” a casar com ela. Tinha certeza que Belle me ajudaria nisso, minha prima, como sendo a responsável por Emma em Berks, iria “exigir” que o casamento acontecesse e tenho certeza que diante desta exigência o visconde quebraria o contrato sem dizer uma palavra.

Quando voltamos para casa no domingo à noite, meu pai e eu descobrimos que minha mãe havia ido jantar com meu tio. Cansado como estava, subi para o quarto, decidindo dormir ali e ir para o meu apartamento cedo no dia seguinte.

Peguei um candeeiro aceso no corredor e segui para o meu dormitório, entrando e chutando os sapatos para longe. Deixei o candeeiro na cômoda e comecei a me despir, pendurando a camisa no encosto da cadeira.

—Estou pensando se eu o deixo terminar de tirar a roupa ou não antes de avisar que estou aqui. Afinal, você já me viu despida. – uma voz divertida veio da direção da cama e virei-me surpreso em como minha imaginação estava produzindo algo tão real, ao ver Swan sentada despretensiosamente e um sorriso malicioso nos lábios. – Nada mais justo que eu o veja também. – concluiu a voz baixa e provocativa.

—Emma? – perguntei, aproximando-me dela com receio. Ela se levantou em um pulo. – Emma! – exclamei ao ter certeza que a mulher ali era bem substancial e puxá-la para meus braços, apertando-a o mais forte que consegui, ouvindo-a rir ao me retribuir e beijar meu peito.

—Acalme esse coração, Jones. Ou acabará morrendo. – pediu ao olhar para mim, sorrindo largamente. – Eu estou feliz em vê-lo também.

—O que... O que está fazendo aqui? – inquiri, mal acreditando. Estudei seu rosto atentamente, memorizando-o mais uma vez, enquanto meu coração batia ensandecido dentro do meu peito, tamanha a alegria que estava sentindo. Tive medo que ele não aguentasse por um instante, devido a forma desconexa que batia. Alguma coisa dentro de mim se agitou ao fitar seus lábios como sempre acontecia e eu queria tomá-los sem nem pensar muito, todavia me contive.

—Belle e eu estamos voltando para casa, quando ela decidiu que seria uma boa ideia passarmos a noite em Londres para então continuarmos. – explicou.

Pisquei confuso.

—Mas... Londres nem é caminho do lugar que vocês estavam. O condado do sobrinho do conde é fronteira com Berks... Londres é outra direção.

Swan deu de ombros e riu, correndo os dedos pelo meu peito, brincando com os pelos.

—Eu sei. – afirmou, abaixando a mão sem graça, respirando lentamente. – Eu tinha esquecido como toda a peça é bonita. – comentou baixinho.

—Você não viu toda a peça. – lembrei-a e, vi seu rosto ficar corado. Ela desviou o olhar, engolindo em seco.

—Tem razão. Não vi. – concordou, afastando-se, abanando discretamente o rosto, indo para a janela. – Belle foi com sua mãe. – informou. – Não achei que seria uma boa ideia eu ir com elas. – acrescentou.

Olhei para seus ombros tensos e voltei o olhar para a cama, balançando a cabeça, diante a tentação da opção dois.

—Como foi sua viagem? Seus pais estão bem?

—Ah sim! – ela se voltou animada, o semblante iluminado. – Eles estão muito bem, Killy. Foi tão difícil ter que deixá-los de novo. Mas pretendo comprar uma casinha em Berks e buscá-los para viver comigo. Já encontrei o lugar perfeito, só preciso que o conde aceite comprá-la para mim em seu nome, porque como sabe, não vendem para mulheres. – observou com desprezo. – Já disse para ele que pagarei tudo bonitinho, e Sr. Gold me garante que irá fazê-lo, porém até agora nada... Meus pais perguntaram de você, por sinal. Ah eu li para eles. Quase o tempo todo, principalmente para meu pai. Ele sempre foi um babão mesmo quando eu não era nada, agora que eu sou alguém, mal pode esconder o orgulho... Mas eu o achei um pouco magrinho demais, estou preocupada com ele, Killy, sabe como a saúde dele não foi mais a mesma, por isso quero levá-los para morar comigo, ficarei mais tranquila. Minha mãe está bem, não parava de me apertar e beijar o tempo todo, acho que ela pensou que minhas bochechas agora bem nutridas eram pãezinhos para serem amassados. Dei uma daquelas bonecas de porcelana para ela de presente e precisava ver como ela chorou de alegria, Jones. Branca sempre me disse que era seu sonho de criança ter uma daquelas também. – Emma fungou e secou os umas lágrimas furtivas que escaparam de seus olhos, rindo. – Aposto que pensa que somos tolas por sonhar em termos algo tão supérfluo como uma boneca de porcelana... Você precisava ver como ela ficou feliz, Killian. E eu quero fazê-los felizes sempre e sempre. É o que deixa meu coração feliz, sabe? Ser finalmente capaz de retribuir tudo que fizeram por mim...

—Respire, Emma. – lembrei-a rindo quando ela ficou sem ar e fui abraçá-la, sentindo-me tranquilo. – Seus pais sempre tiveram muito orgulho de você. E pare de se referir como um nada. Você sempre foi alguém. Sempre foi tudo.

—Nem sempre. – ouvi-a murmurar. – Eu só queria vê-lo. Preciso ir dormir para estar descansada para aguentar mais um dia de viagem. Estava preocupada, em suas cartas você parece tão deprimido e então sua mãe disse que está de fato deprimido, por isso havia ido para Bath com seu pai tentar melhorar os ânimos. Espero que tenha resolvido.

—Vê-la e abraçá-la surtiu mais efeito que as águas termais de Bath. – atalhei. – Fique mais um pouco comigo. – puxei-a em direção a cama. – Vamos conversar.

Emma estancou no lugar, olhando desconfiada para a cama.

—Eu não irei tentar nada, juro. – garanti ao imaginar que ela estaria ponderando sobre aquilo e para minha surpresa, Swan sorriu acanhada.

—Acontece que não confio muito em mim. – confessou. – Acredite, continuo pensando que retribui-lo é um desrespeito para comigo mesma, pois estarei me sujeitando ao papel da outra, contudo... – Emma ergueu os ombros. – É tão difícil ignorá-lo, principalmente quando está assim, sem camisa, porque eu realmente adoro tocá-lo, exatamente como fazia antigamente. E bem... Venho tendo sonhos com você ultimamente. – sussurrou, tão baixo que duvidei que havia entendido bem.

Gargalhei divertido diante do embaraço dela.

—Está tendo sonhos eróticos comigo? – questionei, abaixando o rosto para poder olhá-la nos olhos.

—Sou uma mulher adulta, posso tê-los agora. – retrucou. – Não é como se eles fossem exclusividade do sexo masculino. E aposto que meus sonhos são puros perto dos seus.

—Conte esses sonhos. – pedi, jogando-me na cama.

—Você irá me contar os seus? – rebateu, pousando as mãos nos quadris. Neguei veementemente. – Então sua resposta também é não. – atalhou, mostrando-me a língua e vindo se ajeitar ao meu lado. – Eu quero muito.

—O que?

—Retribui-lo... Por que você tinha que ferrar com tudo? – instigou, socando meu ombro.

—Você pode, minha menina. Você pode fazer tudo o que sentir vontade.

Emma fez que não, olhando para janela.

—Tenho meus princípios, Killian e gostaria de me manter firme a eles. – proferiu, virando a cabeça em minha direção. – Vamos conversar sobre outra coisa que não seja nós dois. -sugeriu e como eu estava feliz de tê-la ali comigo, mesmo que fosse só por aquela noite, assenti.

Conversamos sobre assuntos variados assim como antigamente, até que percebi os olhos de Swan lutando para ficarem aberto. Comecei a afagar seus cabelos e em pouco minutos ela já estava ressonando profundamente ao meu lado. Mesmo cansado fiquei acordado, observando-a dormir. Era a primeira vez que a via adormecida, porque geralmente, eu acabava dormindo com a cabeça em seu colo sempre que Emma me fazia cafuné.

Era hora de retribuir todas aquelas noites que a tirava de casa para usar suas coxas como travesseiro e deixava-a acordada; mesmo que eu soubesse que iria ser mais um motivo para me perturbar quando Swan fosse embora, já que ficaria desejando ter aquela visão todos os dias.

Quase perto da onze da noite ouvi minha mãe chegar com Belle. Saí do lado de Emma com relutância e desci, para cumprimentá-las. Minha prima tinha uma expressão aborrecida no rosto, enquanto pegava Gideon dos braços de Jenna, que suspirou cansada, indo em direção a cozinha, provavelmente em busca de chá.

—Que ótima visão essa que tenho. – falei, chamando sua atenção para mim. A morena se virou de olhos cerrados, escrutinando-me de cima a baixo. – Algum problema?

Ela se aproximou, cutucando meu peito com o indicador e me cheirando.

—Você está sem camisa. – constatou. – Onde está, Emma?

—No meu quarto. – respondi, indicando as escadas e no mesmo instante Belle soltou um gritinho agudo de animação, sorrindo. – Dormindo. – completei, e vi seus ombros caírem e seu sorriso se fechar.

—Dormindo de roupa? – perguntou decepcionada. – Ópio, Killian! Você também não faz nada direito. – resmungou.

—Estou respeitando o pedido de Swan. Aposto que ela já deve ter dito para você.

—Sobre ser desrespeitoso com ela mesma? Já sim. Mas eu acredito que não seja, porque vocês são um do outro antes desse compromisso forjado que se meteu. Se tem alguém que desrespeita aqui, esse alguém é Milah. Ela é a desrespeitosa e desnecessária na história, todavia, nossa Emma tem seus princípios e se essa visão não a fez perder a cabeça, talvez a visão de baixo teria feito. Pensou nisso? Aposto que não, afinal você não pensa... Eu tinha certeza que vocês iriam fazer amorzinho em paz aqui, que encontraria uma Emma super culpada no dia seguinte, porque, como eu disse, vocês teriam feito amorzinho em paz e então eu falaria “Não se preocupe, eu pagarei o que for preciso para juntá-los. Exigirei que Killian se case com você”. Então exigira que o contrato fosse quebrado.

Olhei-a alarmado.

—Você está tendo acessos aos meus pensamentos ou...?

Seus olhos azuis se arregalaram e sua boca abriu.

—Você também pensou nisso? Em fazer amorzinho em paz e então pedir que eu exigisse que se casasse com ela? – murmurou de forma conspiradora. – Grandes mentes, meu caro primo, pensam iguais. – constatou.

—Até dois minutos atrás eu não pensava...

—Gosto de acreditar que pensa quando me convém. – retrucou. – A questão, é que eu esperava que isso acontecesse porquê... – Belle hesitou, parecendo desconfortável. – Neal... Pediu permissão para os pais de Emma para desposá-la. Gold e eu estávamos presentes, ela não estava perto na hora, tinha ido visitar os amigos na vila. Depois de um tempo de conversa, Sr. Charming deu sua permissão. – contou em um tom pesaroso. – Eu imaginava que isso iria acontecer, porque percebi como Cassidy a olha... Todos os homens a olham daquele jeito, mas soube que ele se apresentaria primeiro.

Sentei-me no primeiro degrau, segurando a cabeça com as mãos ao ouvir as palavras dela. Eu já imaginava, tinha certeza, que era aquilo que iria acontecer, entretanto apesar de esperar, eu não estava preparado para a confirmação.

—Ele já pediu para Emma?

—Se pediu, ela nada me contou ainda. Porém acredito que sim, Emma parecia meio transtornada nos últimos dois dias que ficamos lá. – deu de ombros. – E meu Deus, nosso tio, é um homem difícil. Tentei ajudá-lo, mas ele me detesta e olha que eu nunca fiz nada para ele, nem quis ouvir minha proposta. Não fui de muita ajuda. – gemeu frustrada. – Se me dá licença, Kill, irei subir porque estou exausta. Boa noite, meu primo. – deu-me um beijo em minha bochecha e subiu, deixando-me sozinho.

E eu sentia tantas emoções paradoxais, que após alguns minutos encarando o chão, comecei a me sentir anestesiado, até ter a sensação de estar vazio por dentro.

[...]

Belle e Emma partiram no dia seguinte, logo após o café da manhã. Swan se despedira de mim com um abraço apertado e um pedido para que eu ficasse bem. Em momento algum ela mencionara Neal ou que havia sido pedida em casamento.

Isso poderia significar que não tinha a mínima intenção de aceitá-lo e por esse motivo não achara que fosse importante me contar e deixar-me mais angustiado com tudo.

Ela estava esperando. E algo me dizia que Emma iria aguardar até ver que não teria jeito de ficarmos juntos antes de aceitar outro homem.

Pensar que esse era sua finalidade, deixou uma pequena parte minha aliviada o suficiente para continuar minha vida ali em Londres por mais alguns dias.

—O que a filha daquele desgraçado estava fazendo na casa de seus pais? – meu tio inquiriu irritado, assim que pisei em meu escritório. Ele me analisou com redobrada atenção, andando até mim e erguendo meu queixo. – Você parece melhor... Foi sem dúvida uma boa ideia ir até Bath, estava começando a ficar consternado com seu desânimo. Apenas me avise antes, para que eu cancele os planos confirmados. – pediu me soltando e se ajeitando na cadeira.

—Acho que você está se referindo à Belle, que é sua sobrinha também e não tem culpa de você e o pai dela não se darem bem. – respondi, tirando o casaco e indo assumir meu lugar. – Bom, meus pais não têm nada contra ela e inclusive ficaram felizes com a visita, mesmo que breve. Belle é uma mulher maravilhosa, tio. E eu estou melhor, obrigado. Agora se puder se retirar, tenho trabalho a ser feito. – indiquei a porta, sentindo o aborrecimento tomar contar de mim e afastar o leve bom humor que sentia quando sai de casa.

Meu tio ficou em silêncio sem se mexer, encarando-me com a expressão tensa.

—Que mentira aquela garota lhe contou sobre mim? – questionou por fim. - Faz semanas já que está estranho e hostil toda vez que conversamos. Sem falar que sinto que está insinuando algo.

—Se percebeu a insinuação, é porque existe algo. – retruquei, recostando-me a cadeira. – E Belle não me contou mentira alguma, afinal é um fato conhecido pela família toda. – atalhei calmamente e seu rosto ficou lívido.

Theodore tentou se recompor. Levantou-se e deu uma volta pelo escritório, fechando a porta.

—Acredito que irá usar isso contra mim. – constatou. – Irá chantagear-me para que eu quebre o contrato que o obriga a casar com Milah, para que volte correndo como um cachorrinho para aquela camponesa que sua prima pegou para ser o animalzinho de estimação dela. Mas o meu pensamento continua o mesmo de anos atrás, Killian. Não importa quais maneiras ela tem agora nem se tem estudos, eu nunca irei admitir que se case com essa mulher, tendo uma oportunidade tão boa em mãos.

Cerrei o maxilar, controlando a respiração que havia se acelerado conforme a raiva ia fazendo com que meu sangue borbulhasse em minhas veias. Levantei-me e andei até ficar frente à frente com meu tio.

—Apenas porque o senhor não tem liberdade para amar quem quer sem ser julgado, quer tirar esse direito dos outros também. – falei entredentes. – O senhor fez com que eu desistisse uma vez de Emma, mas isso não vai acontecer de novo, tio. Eu a amo e nunca que irei comprimir esse sentimento que me rasga o peito, novamente, para que se sinta bem consigo mesmo ao ver outra pessoa infeliz por não ser permitida amar. E está enganado, não irei chantageá-lo. Cogitei essa possibilidade, mas Emma, a mulher que tanto despreza sem nem conhecer, pediu para que eu não o fizesse, com medo do que poderia acontecer ao senhor se caso virasse de conhecimento público. Essa mulher por quem nutre tanto desprezo, acredita que o senhor deveria ser capaz de amar quem quiser, sem medo de ser julgado pelos outros, enquanto está aqui, julgando-a por uma condição social inferior à nossa... Mas é apenas um tick-tock, tio, porque Swan vai ser grande. Ela está caminhando para isso e tenho certeza que logo, será uma das pessoas que irão fazer o dinheiro ir para os seus bolsos... Eu não me importo com quem o senhor está apaixonado, não é da minha conta por quem seu coração bate. Não foi por isso que minha admiração pelo senhor morreu e sim, por forçar-me a passar o resto dos meus dias com alguém que não amo, quando nem você foi capaz de fazê-lo. Deveria melhor que ninguém, entender como me sinto.

—Você não se importa? – indagou parecendo estupefato. – Está dizendo que não se importa em saber o pecador que sou?

—Não acredito que seja pecado amar, tio. – atalhei com um dar de ombros.

Ele desviou os olhos azuis dos meus, o rosto contraído e deu um passo para trás, caminhando para fora, sem proferir uma única palavra.

—A data do casamento foi marcada para vinte de junho. – anunciou antes de bater à porta e sair a passos rápidos pelo corredor.

Assim que ele saíra e eu me recuperara da conversa que tivemos, de como praticamente havia suplicado ao lado emocional dele para que se compadecesse com a minha situação e mesmo assim tinha recebido um dar de costas como resposta, sentei-me e redigi uma carta para Emma, contando tudo o que acontecera ali e informando que a data havia sido marcada.

Bem no dia de seu aniversário.

A resposta por parte dela demorou uma semana para chegar. Fiquei preocupado com seu silêncio e enviei mais cartas que foram ignoradas. Quando minha mãe informou que havia uma correspondência de Swan, achei-a distante demais enquanto lia suas palavras, como se tivesse escapado de minhas mãos como outrora e eu não sabia como segurá-la uma vez mais. Entendi o que significava seu afastamento ao tomar conhecimento, por conta de Belle, que Cassidy havia retornado para Goldsberry junto com o tio, que ao que tudo indicava, apoiava o matrimônio entre minha menina e ele, decidido a ajudá-lo a ter o “sim” de Emma.

A notícia me desestabilizou. Nunca achei que seria capaz de me sentir tão desesperado e torturado como me encontrava. As horas afligiam-me e não conseguia ficar mais de dez minutos perto de Milah. Não consegui me obrigar a comparecer em eventos que deveria ir, nem fingir, como fizera tão bem, por tantos anos estar satisfeito com o compromisso que tinha com a filha do visconde.

Comecei, desse modo, a evitar a família Odom como o diabo foge da cruz. Meu tio, esse já era mais difícil de se livrar, mas desde a nossa conversa, ele perdia mais tempo me observando, do que de fato me cobrando algo e não sabia o que achar disso. Não fazia ideia se a falta de suas cobranças significava alguma coisa positiva ou não. Por várias vezes, ele apenas se aproximava de mim para mandar que eu fosse para casa descansar, porque provavelmente havia entregue mais papeladas preenchidas erradas.

As cartas de Emma começaram a chegar com menos frequência. O que antes acontecia três vezes na mesma semana caiu para uma, até que cheguei a receber apenas uma correspondência no prazo de quinze dias. E o silêncio vinha de Belle também, que costumava ser vaga e breve em suas cartas que outrora eram longas.

Passei a morar com meus pais depois das últimas semanas, não suportando ficar sozinho em meu apartamento. Os trabalhos eram mandados para lá e por algumas horas do dia eu conseguia fazê-los. Meu tio nos visitava para saber como eu estava, todavia se limitava a ficar na sala com meus pais, recusando-se a me ver, como se temesse o que encontraria. Ouvira dizer que a desculpa que dava as pessoas é que eu estava com os nervos atacados e precisava de repouso, principalmente agora, que se aproximava tanto do casamento.

Milah viera me visitar algumas vezes e eu a recebia por alguns minutos. Ela não reclamava nesses breves momentos em que ficávamos juntos, apenas se limitava a questionar se poderia me ajudar de alguma forma e ao receber uma risada seca como resposta, anunciava que precisava ir; parecendo magoada com a forma fria que era tratada.

Após a última visita de minha noiva, voltei para o quarto e encontrei meu pai arrumando minhas roupas dentro de uma mala, parecendo determinado.

—Vá para Windsor e resolva isso de uma vez por todas que eu não aguento mais. – decretou, fechando as fivelas da mala. – Faça o que for preciso, mas... Eu não posso mais ver meu filho nesse estado. Escreva-me quando tiver algo, estarei pronto, esperando... – ele parou por um instante. – Não depende de Theodore abrir mão desse contrato e sim do visconde. Jeremy não tem interesse algum em rompê-lo.

Pisquei aturdido, aproximando-me da cama.

—O tio...?

—Sim, seu tio... Por algum motivo tentou conversar com ele, eu estava junto. O homem não quis ouvir. Ameaçou a todos nós se caso tentássemos algo. Apenas vá e convença Emma a ir embora com você.

Precisei me sentar, tentando assimilar que meu tio, o mesmo que me colocara naquela situação, havia tentando tirar-me dela para que eu fosse feliz com Emma, apesar de não aprovar.

Fitei meu pai, determinado a conseguir aquilo que me pedia.

—Eu irei. – garanti. – Vou fazer o possível antes que seja tarde demais.

[...]

A viagem para Berks não foi tão difícil como a anterior, mas isso não significava que foi mais tranquilo dentro da carruagem. Não consegui aproveitar a forma como o dia do lado de fora estava bonito e nem como o clima era agradável. Tive medo de chegar lá e encontrar uma Emma noiva e já de casamento marcado.

Tive medo de me deparar com minha menina apaixonada por outro homem.

Assim que desci da carruagem, era fim da tarde e a avistei sentada no gramado com um caderno nas mãos parecendo concentrada, fazendo uma careta como se isso a ajudasse pensar. Ao seu lado estava Neal, com um livro em mãos, mas sem o lê-lo, enquanto observava Emma com olhos apaixonados.

Swan levantou a cabeça ao ouvir as rodas da carruagem se afastando em direção ao celeiro e olhou ao redor, sua boca se abrindo de surpresa ao me ver, todo amarrotado como estava, respirando um pouco mais fundo, antes de se colocar de pé.

Cassidy a observava sem entender o motivo de sua agitação, até que me viu, aproximando-me deles e no mesmo momento seu rosto de fechou.

—Killy! – Emma finalmente gritou, saltitando antes de correr até mim e me abraçar forte, rindo. – Ah meu querido. – murmurou, descansando a cabeça em meu peito brevemente. – Como é bom vê-lo, Belle ficará...

—Kill! Kill! Kill! – minha prima surgiu de dentro da casa gritando e vindo em nossa direção com afobação, erguendo o vestido. Emma se separou de mim, gargalhando e deixou que a morena me atingisse em cheio. – Noob! Como é bom vê-lo depois de tanto tempo sem... Vê-lo! – depositou um beijo demorado em minha bochecha, afastando-se. – E chegou em boa hora. – informou, sorrindo largamente.

Neal agora estava próximo de nós e me fitava com olhos lívidos, o rosto como se fosse talhado em uma pedra. Cumprimentei-o com um aceno de cabeça.

—É mesmo, por quê?

—Nós vamos a feira após o jantar. Então entre para tomar um banho e descansar um pouco, porque eu exijo que vá conosco.

Aquiesci, encantado por aquela recepção calorosa das minhas duas mulheres preferidas no mundo, sentindo a alegria voltar a habitar o corpo cheio de ansiedade e aflição do último mês.

Eu faria o que elas quisessem, sem nem hesitar.

—Eu estou feliz que esteja aqui, primo... Agora eu preciso voltar para dentro porque deixei Gideon sem roupa e com Gold cuidando dele, enquanto desci igual louca para te ver. Emma, ajeite as coisas para ele, sim? – pediu, dando-me uma piscadela e retornando para dentro.

—Neal... Eu irei... – Swan começou sem jeito, tropeçando nas palavras, conforme tentava fazê-las sair depressa. – Vemo-nos mais tarde. – falou por fim, indicando a casa para que eu a acompanhasse.

Entramos em silêncio, mas colados um ao outro. Uma tensão pairava sobre nós e tinha certeza que ela sentia, apesar de estar sorrindo alegremente, feliz por eu estar ali. Admirei-a, como seus cabelos estavam mais longos que a última vez, a curva de seus quadris e como seus seios pareciam convidativos no vestido lilás que usava. Minhas mãos formigaram para tocar os ombros desnudos e senti uma vontade louca de distribuir beijos por sua nuca.

Emma levara-me para o mesmo quarto e tocara a sineta, logo sendo respondida por uma criada. Swan pediu que um banho fosse preparado e que minhas malas fossem levadas para lá imediatamente. Enquanto esperávamos, ela começou a abrir o quarto, para que entrasse luz.

—Quanto tempo irá ficar? – quis saber.

—Não tenho certeza ainda. – atalhei. – Por que está me escrevendo tão pouco? – indaguei.

Emma pressionou os lábios e me fitou.

—Imaginei que seria melhor se eu escrevesse cada vez menos para você... Que facilitaria mais sua vida. E estou meio sem tempo também com Neal aqui.

—Ele a pediu em casamento. – afirmei e Swan assentiu, parecendo culpada.

—Mas não disse nada ainda... Não tenho certeza se seria uma boa ideia. – proferiu baixinho, parando perto da cama. – Eu estou muito feliz que esteja aqui... Eu conheci seu tio. – contou hesitante e eu pisquei surpreso com a informação. – Ele veio até aqui e pediu para conversar comigo. Fez várias perguntas estranhas e pediu para ver meus desenhos... Você não sabia?

Neguei com a cabeça, começando a me despir.

—Não temos conversado muito ultimamente... Ele gostou de você?

—Não sei dizer, Killian. Sr. Cephas se manteve impassível o tempo todo. Fiquei nervosa diante sua presença, ainda mais com tamanha semelhança de olhos azuis que vocês têm. – murmurou, aproximando-me e me ajudando a desabotoar a camisa, deixei minhas mãos penderem e a fitei com toda a adoração. Seus olhos verdes se ergueram para os meus e eu sorri, sendo invadido por uma serenidade que há tanto não sentia. Emma ergueu os lábios para os meus, e depositou um beijo delicado e casto, afastando-se rapidamente. – Não. – disse para si mesma, então olhou para mim, seus olhos brilhando com lágrimas. – Até mais tarde, Jones. Espero que realmente vá conosco a feira.

Seis horas em ponto, estávamos saindo de Goldsberry em direção a vila onde a feira estava montada. O marido de Belle não parecia contente com o programa e era claro que só ia para agradar minha prima, que não conseguia ficar parada em seu lugar, inclinando-se para a janela o tempo todo. Emma segurava Gideon, para que minha prima ficasse mais à vontade, enquanto era espremida entre Neal e eu, e tentava parecer confortável, não dando atenção a nenhum de nós dois, o que talvez fora a escolha certa a se tomar para que não estragasse a diversão de Belle.

Logo que chegamos, fomos assistir à exibição que estava tendo dos artistas circenses. Esse era o preferido de Belle. Ela olhava fascinada para os truques, soltava exclamações surpresas para cada atração que já tinha visto dezena de vezes, prendia a respiração em momentos de tensão, para respirar aliviada quando os aplausos se fazia ouvir para o artista. Desde que podia me lembrar, minha prima reagia da mesma forma. Ainda me lembrava da menina com as mesmas expressões que a mulher agora fazia. Emma estava ao seu lado e tinha um semblante alegre e concentrado, acompanhando Belle em gritinhos animados quando algo as pegava desprevenidas, para rirem em seguida, olhando uma para outra.

—Elas realmente se adoram. – Gold murmurou para mim, sem nem mexer os lábios. – Obrigado pela sugestão para que a trouxéssemos.

Olhei-o de soslaio.

—Não foi nada.

O conde olhou discretamente para a outra ponta, onde Neal estava sentado ao lado de Swan.

—Meu sobrinho a pediu em casamento. – comentou.

—Mesmo? – inquiri, querendo saber onde iria chegar.

—Mesmo... Então, eu agradeceria se ajudasse ele a conseguir um “sim” em vez de atrapalhar. Não sou tolo, sei que ama a garota, todavia, você está noivo de outra. A coisa mais certa a ser feita é deixá-la ir de uma vez. Diga para aceitar o pedido. Belle ficará feliz que ela se torne parte da família.

Comprimi os lábios, tentando não me irritar com o homem ao meu lado e seu pedido absurdo. Soltei uma leve risada sarcástica e o encarei.

—Emma sabe muito bem o que quer e se ainda não disse “sim”, é porque ela não quer. – atalhei, levantando-me. – Com licença.

—Kill. – Belle chamou, quando dei as costas para eles. – O que você fez? – perguntou com repreensão para o marido.

Fiquei parado ali perto, esperando que a exibição acabasse, querendo restaurar meu humor. Gold aprovava o casamento e pelo visto ansiava para que acontecesse. Swan deveria estar sofrendo pressão de ambos os lados para que desse uma resposta positiva. Era só uma questão de tempo para que acabasse por ceder.

—Vamos dar uma volta só nós dois. – minha prima surgiu em minha frente, com Gideon nos braços. – Bem... Nós três. Sinto muito por meu marido ter sido tão indelicado. Vou recompensar fazendo-o se senti melhor. – prometeu, um sorriso hesitante nos lábios e como eu nunca consegui ficar muito tempo em péssimo humor com Belle, devolvi o sorriso, indo acompanhá-la como sempre fizera.

[...]

Quando voltamos da feira, já passava da meia-noite. Belle parecia satisfeita e feliz, enquanto descansava a cabeça em meu ombro e observava o filho adormecido nos braços. Emma estava sentada do outro lado dela, olhando para fora, o semblante cansado. Suas pálpebras piscavam como se estivessem pesadas demais para ficarem abertas por tanto tempo. Neal e Gold estavam sentados em nossa frente, cada um com uma expressão zangada diferente.

Assim como na ida, ninguém trocou uma única palavra.

Ao chegarmos, Swan foi a primeira a dar boa noite, correndo para o seu quarto, como se quisesse se livrar de nós. O que provavelmente era o seu propósito. Ela deve ter percebido o ar de competição que se instalara no ar, e como seu amigo Cassidy e eu não tínhamos nos dado bem, mesmo sem trocar uma única palavra. Os olhares diziam o suficiente e ambos sabíamos que éramos ameaças de alguma forma.

Sendo assim, sem mais nada para fazer, também me despedi deles e fui para o meu quarto, exausto. A visão da cama nunca me alegrou tanto como naquele momento. Troquei as roupas pelo camisão de dormir e me enfiei embaixo dos lençóis gelados como se tivesse encontrado o repouso no paraíso e antes que pudesse virar para o lado, já havia pego no sono.

Acordei algumas horas mais tarde com um sopro quente e suave no rosto. Abri os olhos com preguiça, e incomodado e deparei-me com duas gemas verdes, encarando-me, um sorriso de quem está prestes a aprontar algo.

—Emma?

—Oi, Killy. – cumprimentou baixinho.

—O que está fazendo aqui?

Ela subiu na cama, deitando-se ao meu lado, os lábios pressionados formando um biquinho.

—Nós quase não conseguimos nos falar...Então eu estava pensando se não gostaria de ir dar uma volta comigo. – falou. – Eu estou com muito calor e bem... Não sou acostumada com essas bandas para andar sozinha... Por favor?

Fitei seu rosto, os olhos atrevidos e suspirei fundo, sentando-me. Emma sabia muito bem que eu não negaria nada que me pedisse, muito menos se incluía apenas nós dois, saindo de madrugada como antes,

—Achei que de madrugada nós dormíamos. – comentei com ironia.

—Eu também... Mas não vou conseguir passar nenhum tempo com você com Neal aqui, ele vai ficar monopolizando a minha atenção, já que sente ciúmes de você. – falou, levantando-se em um pulo e indo em direção a janela. – Vamos descer por aqui. Se Gold descobre sobre essa saída eu estou ferrada. – murmurou, passando uma perna, e depois a outra com cuidado pelo peitoral e sumindo de vista. Aproximei-me para observá-la descer, enquanto calçava o sapato para poder acompanhá-la. Swan era cuidadosa e ágil, mesmo que estivesse usando uma camisola que devia atrapalhar no trajeto. Em poucos minutos, Emma estava chegando ao chão e olhou para cima, arqueando as sobrancelhas. Fingi aplaudi-la e ela fez uma reverência.

Fiz o mesmo que Emma, grudando-me ao ferro que ficava preso a parede. Assim que joguei o peso, percebi que estava meio solto e redobrei o cuidado, prestando atenção onde segurar e colocar os pés.

—Ande rápido.

—Estou sendo cuidadoso.

—Isso está meio solto, se demorar demais, você irá cair!

Balancei a cabeça, optando por ignorá-la. Eu havia escapado daquele modo um milhão de vezes, eu sabia muito bem como evitar uma queda...

Eu mais vi do que senti. Vi o ferro soltando de vez da parede e tombando para trás, comigo, por causa do meu peso. Foi devagar, como se tudo tivesse parado ao redor e só o momento da queda era perceptível.

Senti o baque em minhas costelas e fechei os olhos, praguejando mentalmente e tentando fingir que não estava doendo. Abri os olhos, respirando fundo, recheando os pulmões de ar e encontrei Emma de pé, olhando-me com ar de riso.

—Não diga nada. – roguei, estendendo a mão e logo senti a sua na minha para me ajudar a levantar.

—Machucou alguma coisa? – quis saber, passando o braço pelas minhas costas com cuidado.

—Acho que não, apesar de estar doendo. – falei.

—Consegue caminhar?

—Acredito que sim.

Swan ficou pensativa por uns minutos.

—Já sei! Tenho um lugar perfeito. Daí podemos ver se machucou e relaxar ao mesmo tempo.

—Você é a guia esta noite. – enlacei seus ombros com meu braço, indicando com a mão que nos levasse até o lugar.

Começamos a caminhar em um ritmo lento. Tentava prestar atenção a presença de Emma e ao calor do corpo dela para tentar esquecer a humilhação de ter caído em sua frente e a dor infernal que estava sentindo.

—Então Neal está com ciúmes? – instiguei animado.

Emma olhou para mim, segurando o riso.

—Ah sim. Morrendo de ciúmes. – afirmou. – Principalmente porque o chamo carinhosamente de “Killy” e fico toda sorridente quando suas cartas chegam... Cassidy tem ciúmes porque não tem o mesmo impacto que você tem sobre mim, por mais que tente.

Pegamos uma trilha que parecia não ser muito utilizada e antes de chegar ao destino, pude ouvir sua água correndo.

—Aquela cachoeira que falou da outra vez?

—Sim. – afirmou, relanceando os olhos para mim. – Pensei que poderíamos nadar. – respondeu sem me olhar.

—Nadar? – indaguei, observando ao redor quando chegamos. A cachoeira não era muito alta. As pedras ao redor irregulares davam a impressão que ela uma espécie de ninho. As flores selvagens preenchiam o lugar com cores e aromas, criando uma atmosfera única. A lua estava cheia e iluminava o ambiente como se fosse dia. Ao longe os grilos e cigarra cantavam suas músicas, que me fazia tanto lembrar de meu condado e as escapadas noturnas com Emma.

—É. – ela afirmou. – Nadar. – declarou puxando a camisola que usava pela cabeça, ficando só com a chemise verde que estava por baixo. Perscrutei-a de cima à baixo, fixando os olhos em suas pernas nuas. – Ora! Não fique me olhando como se nunca tivesse me visto assim. Vamos, tire a roupa para que eu possa ver se se machucou. – pediu.

Balancei a cabeça atordoado, desabotoando o camisão de dormir. Emma ficou parada, observando atentamente cada movimento meu, até que a peça estivesse caída no chão. Ela ergueu os olhos e sorriu sem graça, aproximando-se de mim e rodeando-me.

Senti seus dedos tocando minha pele, causando um arrepio enervante por todo meu corpo e fechei os olhos, controlando a respiração. Swan apertou cada ponto de minhas costas de forma lenta, como se quisesse me torturar.

—Ah eu adoro nadar! – Emma exclamou quando enxergou o lago. – Meus pais costumavam me trazer bastante aqui quando eu era criança.

—Você sugeriu outro dia. – lembrei. – Agora eu irei trazê-la. – peguei-a no colo, girando-a e correndo para água, ouvindo-a rir em meus braços.

—Espere! Eu vou molhar meu vestido! – reclamou, batendo em meu ombro.

Parei de supetão, olhando-a alarmado.

—E você vai nadar como?

—Não se preocupe que ficarei com a chemise. – riu, descendo do meu colo, ficando de costas para mim, em um pedido silencioso para que eu desabotoasse seu vestido. Sem perder tempo comecei a tirar os botões das casas, vendo o tecido da chemise surgir.

Não iria esconder muita coisa, pensei torturado.

Cingi seus ombros morenos do sol e deslizei as alças do vestido por seus braços, acompanhando-o cair aos seus pés.

Swan se virou para mim, olhos sorridentes e se adiantou, desabotoando minha camisa como se não fosse nada demais.

E não era, eu vivia ficando sem a peça em sua presença que já estava até acostumada.

—Agora estamos prontos para nadar. – constatou, correndo em disparada para o lago e soltando um gritinho agudo. – A água está gelada. Venha Killy! – chamou, enfiando-se mais para o fundo e mergulhando.

Corri para me juntar a ela, vendo-a dar braçadas preguiçosas até o meio do lago e parando para me esperar, cuspindo a água da boca.

—Belas braçadas. – elogiei.

—Obrigada, meu pai é um ótimo nadador. – respondeu com orgulho, diminuindo a distância e envolvendo seus braços em meu pescoço. – Você fica ainda mais lindo molhado. – falou séria, rodeando suas pernas em minha cintura. – Como isso é possível? Irei exigir que ande molhado sempre.

—Você também fica linda... Mas eu a acho linda de qualquer jeito, minha menina.

—Mesmo se eu ficar careca?

—Mesmo assim. – afirmei, dando um beijo nela. Emma se desvencilhou de mim, rodeando-me e se agarrou em minhas costas, dando um beijo em minha nuca.

—Gosto de ficar agarrada assim em você. – comentou. – Mas acho que devemos competir para ver quem nada mais rápido – sugeriu. – Caso o contrário ficaremos nos agarrando aqui.

—Não vejo motivo para que não fiquemos nos agarrando. Gosto muito dessa opção. – informei, apertando suas cochas.

Senti-a dando de ombros, mordiscando minha orelha e descendo para dar uma mordida em meu ombro.

—Mas eu não acho uma boa ideia. – murmurou, desprendendo-se de mim e nadando para longe. – Se eu tivesse um pouquinho mais de autocontrole, eu poderia gostar muito também... Contudo você molhado assim, é demais. – falou com a voz rouca e um tom malicioso, jogando água em meu rosto.

Olhei de soslaio para ela, tentando enxergá-la e vi seu rosto parcialmente contorcido, os lábios abertos, como se tivesse com dificuldade de respirar.

Emma ergueu os olhos, encontrando o meu olhar e engoliu em seco, antes de sorrir.

—Não tem nada quebrado. – deslizou a mão pelo meu flanco esquerdo.

—Isso não vai prestar. – murmurei, segurando sua mão e trazendo-a para a frente do meu peito. –Durante o dia eu até consigo me controlar, todavia agora... – virei-me para ela, buscando seus olhos que estavam anuviados com culpa, seus lábios contorcidos. Pousei minhas mãos em sua cintura pequena, sentindo a estremecer e cambalear para mais perto de mim. Aproximei meu rosto do seu e Swan o ergueu, esfregando seu nariz no meu, sua respiração suave e quente fazendo-me aproximar-me mais dela. 

—Ah, Killian. – lamentou. – Facilite minha vida. – suplicou. – Ajude-me a me respeitar.

—Não será desrespeito nenhum, minha menina. Não há olhos nem ouvidos aqui para que alguém espalhe algum rumor. Só existe nós dois.

—Mas isso o fará pensar que estou bem em ser a segunda...

—Shhh... Não fale besteiras, Swan. – pedi. – Eu nunca pensarei isso. Porque eu não quero que seja a segunda. Você irá carregar meu nome, Emma, da forma que sonhamos e planejamos. Eu a amo, esqueceu? – questionei calmamente, fitando seus olhos para que visse a verdade neles.

Vi-a titubear, enquanto pesava minhas palavras. Enquanto lutava internamente com o que seu lado racional pensava e impunha: que me retribuir seria uma prova de que ela não se respeitava. Que se entregar, estaria se sujeitando ao papel da outra. Ao mesmo tempo que seu lado sentimental, seu espirito e sua vontade, empurravam-na para mim. Incentivavam-na a retribuir sem hesitação, porque era isso que seu coração queria.

Por fim, uma das partes levou a vitória e Emma segurou em minha nuca, encostando os lábios nos meus. Tentei passar minha língua por eles, em um claro desespero pelo beijo, agoniado para senti-la de novo, para descobrir se seu gosto permanecia o mesmo que meses atrás, porém permaneceram fechados firmemente e ela se separou, deixando o magma em minhas veias em fusão total.

—Não é desrespeitoso, porque eu a respeito. – declarei. – Eu nunca irei transformá-la na outra. – garanti.

Swan se limitou a sorrir e correu, pulando na água e soltando um grito quando emergiu, tirando os cabelos do rosto.

—Está gelada. – informou, os dentes cerrados e seu queixo tremia. – Teremos que nadar muito para esquentar. – observou, começando a bater as pernas.

Juntei-me a ela, estremecendo com a água gélida que logo começou a relaxar meus ossos. Emma nadou até perto de mim, mergulhando e segurando em minhas mãos, puxando-me com ela para baixo da queda d’água.

—Irá tirar sua tensão toda. – afirmou, ajudando-me a subir em uma pedra e massageando meus ombros.

—A água ou suas mãos?

Ela ponderou por um instante, encostando o queixo em meu ombro.

—Ambos. – respondeu beijando meu pescoço.

—Diga-me: ficará provocando-me mesmo ou deixará que eu a beije também? – quis saber, virando-me para ela.

Emma se esquivou, ficando embaixo da queda, antes de pular de volta para água.

—Eu amo você, sabe disso, não sabe? – inquiriu e eu assenti. – Mas sabe que tenho medo que acabe como meses atrás, quando retornou e me tratou como... A última pessoa que gostaria de ver no mundo.

—Eu não farei isso. – prometi prontamente, nadando para perto dela. – Nunca mais agirei como daquela vez, minha menina.

Ela se grudou em mim, enlaçando as pernas em meus quadris e prontamente a segurei, espalmando minhas mãos em seu traseiro, meu corpo todo bem desperto e consciente do corpo dela.

—Fuja comigo. – pedi um vez mais. – Vamos nos livrar desse pesadelo.

—E quanto aos meus pais?

—Iremos levá-los conosco. Eu prometo. Não os deixaremos para trás... Eu paguei por aquele dia que agi como um asno. Venho pagando todos os dias por tê-la deixado por tantos anos. Se soubesse como tem sido minha vida, Emma, saberia que não pretendo nunca mais me separar de você. Por nada nesse mundo eu irei abrir mão de você. – falei com toda sinceridade. – Eu a amo com todo esse coração que bate de forma tão anárquica quando estamos junto.

Emma ensaiou um sorriso nos lábios trêmulos e os juntou aos meus uma vez mais, deixando que eu a retribuísse. Sua língua calma tentava tranquilizar o ritmo da minha que estava faminta por ela. Swan deixou suas mãos vagarem sem caminho, puxando-me mais para perto de seu corpo, enquanto as minhas se enfiaram por baixo de sua chemise, tocando-a como um dia fizera, sentindo sua pele.

Soltei um gemido que foi acompanhado de Emma quando apertei de leve seu seio, fazendo com que ela jogasse a cabeça de leve para trás e se arqueasse, com um pedido para que eu os tomasse. Eles estavam visíveis através do fino tecido molhado, entumecidos. Beijei seu maxilar, descendo para o pescoço, sentindo seus braços passando por meus ombros e abraçando-me, a respiração resfolegando em meu ouvido.

Encostei-a em uma pedra e baixei as alças finas da chemise, deleitando-me com a visão dos seios alvos e de aréola rosadas, pequenos e firmes. Desci a boca faminto para eles, mordendo de leve o direito, ouvindo Emma arquejar com dificuldade, antes de tomá-lo com tudo, sentindo suas unhas entrarem em meus ombros. Sorri com sua reação, brincando com o bico do seio, torturando-a com a língua.

—Ah meu Deus, Killian! – guinchou, quando uma de minhas mãos se enfiou por dentro de sua roupa intima e meus dedos tentavam sentir o calor daquela área. Suas coxas se contraíram e ela olhou para mim com olhos grandes. – Longe... Demais. – balbuciou com dificuldade, quando minha boca deixou seu seio com relutância. – Depois de casados? – brincou, depositando um beijo rápido em meus lábios.

Anuí, deixando-a se afastar, achando adorável como seu rosto estava afogueado e os lábios inchados.

—Não posso te prometer isso, Swan. – respondi, respirando com dificuldade, meu coração batendo intensamente depois do que acabara de acontecer, insistindo para que continuássemos. – Talvez eu a seduza.

Ela ficou séria, estudando meu rosto.

—Neste caso acredito que terei que ser forte e não me deixar ser seduzida de novo... Venha, vamos apostar uma corrida. – sugeriu, ajeitando as alças da chemise, nadando para longe de mim, o semblante e olhos carregados de remorso.

Soube que Emma iria evitar a todo custo, que nosso momento na cachoeira se repetisse, até que tivesse convicção que ficaríamos juntos da forma certa, como prometera.

E tive certeza, mais do que nunca, que precisaria seduzi-la, tanto para tentar ser “forçado” a casar-me com ela, tanto para convencê-la a fugir, se caso a “exigência de casamento” fosse negada.


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Notas finais do capítulo

Então... O que acharam? Gostaram, amaram, detestaram? Digam com toda sinceridade no corações de vocês suas impressões sobre o capítulo... Eu adoro lê-las.

Muito obrigada por terem lido.

Beijos.



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