Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, como vão? Cá estou com mais um capítulo novo e que espero que gostem. Já aviso que os erros, como falta de pontuação e acentos, que virão em determinado momento do capítulo são propósitais.

Boa leitura.



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Emma

Abri os olhos com preguiça, ajeitando-me na cama tão macia que parecia sussurrar tentadoramente para que ficasse um pouco mais nela. Esperei me adaptar com a claridade que entrava pela janela, mantendo os olhos cerrados. Passei as mãos pelo rosto, tirando os curtos fios de cabelos, porém longos o suficiente para fazerem cocegas em minha face. Assim que minha visão entrou em foco, observei o quarto, meu quarto, com atenção redobrada, estudando cada detalhe, desde o teto até as cores dos tecidos dos estofados.

Sorri, como todas as manhãs ao constatar que não era um sonho. Que eu realmente estava usando camisolas boas, assim como vestidos de tecidos nobres; vestidos desenhados por mim e que finalmente saiam do papel.

Faziam exatos dois meses que estava em Berkshire, trabalhando para Belle e para agora o pequeno e exigente Gideon, que nascera pouco mais de uma semana.

Dois meses que eu finalmente via minha vida tomando o rumo que sempre sonhei.

Mesmo que a falta que eu sentia dos meus pais me sufocava e fazia meu peito doer quando eu sentia vontade de conversar com eles ou apenas procurá-los para lembrá-los de que eu os amava mais que tudo, eu estava aprendendo a lidar com a ausência.

Eu me sentia verdadeiramente feliz ali.

Pulei da cama, espreguiçando-me e ouvi as juntas estalarem. Caminhei até minha escrivaninha onde estava minhas atividades de caligrafia. Eu já sabia todas as letras, assim como conseguia escrever razoavelmente bem todas as palavras sem errar, porém, o meu problema maior continuava a ser minha letra garranchada e a leitura.

Apesar de saber juntá-las para formar palavras, o processo ainda era um bocado demorado, tanto na hora da leitura, como da escrita. Eu perdia bons minutos pensando e montando-as em minha mente antes de colocar para fora, lembrando como eram formadas, murmurando-as como se treinasse o som de cada letra e sílaba em minha boca. Belle estava doida para que eu aceitasse fazer uma leitura compartilhada para Gold e Neal Cassidy, sobrinho do conde que estava passando uma temporada conosco, porém eu não me sentia confiante o suficiente para ler para outra pessoa que não fosse ela.

Senti meus lábios se esticarem de leve ao lembrar de Neal. Ele não era um homem muito engraçado ou divertido, mas era muito inteligente e por conta disso sempre estava me ajudando a estudar. Cassidy acreditava que se aprendia mais entrando em contato com os lugares, então sua sala de aula preferida eram as longas caminhadas pelas belas paisagens, mesmo que no momento estivesse tudo ainda meio sem cor por causa do inverno, de Berks. Ele entendia de muitas coisas, como geografia, história, filosofia e entendia maravilhosamente bem sobre botânica, sempre explicando para o que servia determinadas plantas, as que eram boas para remédios, para comer e as que deveríamos ficar completamente longe.

Perdíamos um bom tempo no fim da noite, conversando sobre flores. Eu entendia um pouco sobre elas e sabia praticamente o significado de cada uma, algo herdado de minha avó Eva, que as adorava mais que tudo e sempre se comunicava a partir delas quando tinha oportunidade.

Abri a janela, deixando o ar frio e fresco da manhã, que parecia carregar consigo um pouco da sonolência do despertar, atingir minhas narinas e afaguei as flores molhadas de orvalho, que Neal havia plantado ali no parapeito para mim.

—Você consegue, Emma. – murmurei para mim mesma, como todas as manhãs, afastando os livros infantis que Belle havia me dado logo quando chegamos para que eu treinasse, antes de me dar permissão para utilizar sua biblioteca. -Hora de continuar a escrever a carta redigida por você mesma para os seus pais. Tente fazer uma letra decente. – aconselhei baixinho, pegando papeis, a caneta e o tinteiro, mergulhando a ponta dela no liquido negro.

Já tinha mais de uma semana que começara a escrever a carta, sozinha, para me acostumar com a tarefa. Todo dia eu acordava mais cedo e me sentava por uma hora na escrivaninha apenas para me dedicar ao trabalho, relendo o que escrevera e corrigindo palavras que eu errara. Ela já estava em um tamanho considerável, porém havia acontecido tantas coisas e tantos detalhes que eu gostaria que soubessem que eu nunca terminava de escrever. Eu sabia que meus pais gostariam que eu contasse tudo nos mínimos detalhes para que dessa forma ainda se sentissem parte de minha vida.

Mamãe e papai,

Finalmente me sinto pronta o suficiente para redigir uma carta para vocês de meu proprio punto punho. Na verdade estou escrevendo-a há dias, já que não tenho firmesa firmeza para sentar e escrever um grande amontoado de palavras em um pequeno tempo. Minha mão dói, assim como minha cabeza cabeça que se torna confuza confusa demais e comessa começa há embaralhar tudo aqui dentro.

Sei que Belle mandou cartas, informando como estou, mais mas elas não são peçoais pessoais e não os deixam saber como estou me sentindo. Preciso contar como foi tudo, desde o primeiro dia, então pesso peço que a pessoa que esteja lendo para vocês se prepare pois esta carta podera muito bem ser do tamanho de uma novela.

A viajem viagem ate aqui foi tranquila. Belle falou o tempo todo, de lugares e pessoas que eu adoraria conhecer. Falou sobre minha nova vida e de tudo que eu iria ter direito ao chegar aqui. Não irei mentir, fiquei assustada e um pouco desconfiada de que teria tudo o que ela garantia, porém, como sempre, a condessa não mentiu em nada. Tenho um quarto, bom demais, no mesmo corredor que o dela. Uma cama grande, que caberíamos nós três e ainda sobraria espasso espaço. E o colxão colchão, papai, é tão macio que tenho certesa certeza que ajudaria a evitar as dores que vive sentindo... Ah, neste quarto, tenho minha proprio toalete ou trocador como Belle chama... É simpresmente simplesmente maravilhoso. As paredes são lilases com desenhos de borboletas e flores nelas. E tem um carpete, macio e quentinho, que posso andar descalssa descalça sem preocupações de pegar um resfriado. Assim como tenho um grande guarda-roupa! Craro Claro que não possuo tanto vestidos, porém aos poucos estou o enxendo enchendo. Por muitas veses vezes tenho que “brigar” com Belle para que pare de me dar as coizas coisas. Ela adora me dar presentes inexperadamente inesperadamente, principalmente vestidos. Por sinal, tenho alguns separados que comprei para a senhora e Tinker, espero poder enviá-los em breve, e não se preoucupe preocupe, pai, tenho presentes para o senhor também.

Voltando ao dia que cheguei aqui, na propriedade Goldsberry Hall, fiquei embazbacada embasbacada com o tamanho. Para mim, eu estava diante de um castelo e fis fiz o comentário, o que fez o conde soutar soltar uma risadinha e responder “Na verdade é apenas uma mansão... A senhorita tera bastante tempo para visitar o palasio palácio de Windsor”.

Vocês conseguem acreditar que estou morando perto de um palácio de verdade? Mau Mal podia acreditar quando as palavras saíram da boca dele, assim como não conseguia esconder meu contentamento. Creio que fiquei bem parecida com uma criança ao receber a informação.

E sim, adiantando para vocês, eu já fui visitar o castelo. Quando a família real não está nele, temos permição para entrar. Caminhei por aqueles corredores, sentindo-me uma prinsesa princesa. Vou até lá pelo menos uma vez por semana na compania companhia de Neal. Nem sempre entramos. A minha parte preferida são os jardins... Se vovo Eva estivesse viva, tenho certeza que enlouqueceria ao ver as variedades de flores.

Bem, uma vez mais sai da narrativa, fazendo uma digressão (Belle está me ensinando Literatura, não gosto tanto de saber as estruturas e nem suas teorias, mas a condessa fica tão animada, me explicando os termos, que é impossível não se prender). Os primeiros dias foram os mais difíceis para mim. Eu não conseguia durmir dormir e chorava por conta disso. Eu estava anciosa ansiosa demais com o novo... Amedrontada e não conseguia apagar. Conheci a casa toda em uma madrugada, porque como sabem gosto de andar quando me sinto desse geito jeito, contudo não podia me arriscar do lado de fora sozinha, do mesmo modo que faço em Hertfordshire... Ainda não me atrevo a andar sozinha por essas bandas e não irei mentir sinto um pouco de fauta da liberdade que tinha.

Com o passar das semanas, meu corassão coração foi acalmando, se acostumando. Belle faz o possivel para que eu me sinta em casa. Ela sempre me trata bem e pergunta varias vezes no dia como estou. Belle sabe que estou morrendo de saldade saudade de vocês, A condessa já me pegou conversando sozinha, como se estivesse contando tudo para os dois, como costumo fazer... A pior parte de tudo isso é não ter vocês aqui. Afrige Aflige-me não vê-los todos os dias e ter certeza que estão bem. Morro de saudade dos abraços do pai e dos beijos da mãe enquanto afaga meu rosto. Sinto falta dos meus amigos. Belle tenta ser uma amiga, ela quer que eu a veja como uma amiga, porém, eu sei qual o meu lugar. Sra. Gold nunca me dá ordens. Nunca. Quando precisa de algo sempre adissiona adiciona um “por favor” no início ou no final da centença sentença. Sempre me trata como uma ingual igual e não sua... Empregada.

Mas meu Deus não estou recramando reclamando! Longe disso. Não pensem que sou uma ingrata. Só é estranho para eu, apenas isso, depois de tantos anos sendo mautratada maltratada na residencia dos Odom. Nunca imaginei que pessoas tão bondosos assim poderiam existir e que se importariam comigo. Estou começando a acreditar que a oferta de emprego foi apenas uma desculpa para que eu viesse pois Belle me conhece e sabe que eu nunca aceitaria a proposta cem sem que eu pudesse dar algo em troca.

Como podem ver continuamos com as aulas, que felismente felizmente parecem estar dando resultados... Pelo visto minha mente ainda não está tão velha para aprender. E eu me esforço. Muito. Sou tão empenhada em aprender que continuo estudando mesmo depois quando deveria estar descansando, o que deixa Belle louca. Vou sempre dormir tarde treinando caligrafia ou lendo baixinho para eu mesma e só decido ir me deitar, porque meus olhos começam a pesar tanto que por mais que eu lute, não consigo deixar abertos... Eu estou feliz, mamãe e papai. Eu choro toda vez que observo meus trabalhos e sei que eu os fiz, assim como quando consigo concruir concluir uma leitura sozinha. Choro de incredulidade e orgulho por conseguir mostrar que o fato de ser uma garota pobre e do campo, não me faiz faz alguém incapaz de aprender. Eu não sou uma inútil como afirmam. A única diferença entre eu e essas dondocas mimadas, são as oportunidades. A minha chegou um pouco atrazada atrasada, porém eu estou extraindo o maximo que consigo. E quando eu estiver estavel aqui, com uma boa quantia guardada, comprarei uma cazinha casinha e trarei vocês para morar comigo... Estou apaixonada por Berkshire. Por seus lugares e suas pessoas. O único motivo que me faria ir embora seria vocês porque por mais que esteja feliz e realizando um sonho eu preciso ter meus pais perto de mim. Vocês são as coisas mais preciosas que tenho na vida.

Ah, quase ia esquecendo de comentar: acreditem ou não, aquele homem taciturno que conheceram, o conde, também está ajudando-me nos estudos. Mas ele me ensina os números, a fazer contas e tirar medidas, o que me é muito útil, levando em consideração que gosto de desenhar roupas. Sr. Gold contou que em uma casa, a mulher muitas vezes fica responsavel pelas despesas, tendo que dar conta da quantia que o marido deixa para que ela abasteça a residência. Nisso ele me deu um livro de registros, onde eu o completo em base com o livro de registros da casa, que Belle cuida. Sempre me sento com a condessa e analizo analiso o dela, antes de fazer as anotações no meu... Talvez daqui um tempo eu acabe ficando com a respondabilidade responsabilidade já que Sra. Gold odeia números mais que tudo e sempre pragueja horrores na hora de fazer as contas. Os dois são otimas pessoas e professores, e pelo jeito deles de ser, dá para perceber em qual das areas eles se sentem mais a vontade. Belle é tagarela comunicativa, logo é apaixonada pelas palavras e as ensina maravilhosamente bem, enquanto Sr. Gold gosta dos números, o que exige mais atenção e raciocinio, por esse motivo é mais na dele, quieto e de certa forma, parece amedrontador, mas é só uma faixada fachada e você descobre isso quando passa a conviver com ele.

Bem, duas semanas depois que chegamos, uma visita apareceu. Eu a sitei citei no início da carta. Neal Cassidy, o sombrinho sobrinho do conde, que está passando uma temporada aqui. Contudo ele chegou com más notícias de que sua mãe, irmã do Sr. Gold, havia falecido. O homem chegou verdadeiramente em frangalhos e no mesmo enstante instante o conde pediu para que eu prestace prestasse atenção nele e se possivel tentasse animá-lo. Cassidy perdera o pai não tinha muito tempo, então devem imajinar  imaginar que ele estava em um estado lastimavel. Eram apenas ele e sua mãe já que não tem irmãos e ainda não é cazado casado mas como Sr. Gold vive observando, é algo que Neal deve fazer em breve já que erdou herdou o titulo de barão do pai. Gosto da companhia dele, mas Deus me perdoe por dizer isso, Cassidy é um homem sem grassa graça na maior parte do tempo. Sempre com assuntos serios ou apontando insetos e fazendo comentarios fassinados fascinados sobre eles, quando tudo o que consigo achar é nogento nojento porém quando fala sobre flores e prantas plantas, que é algo realmente entende vejo-me presa em cada fala sua interessada em saber mais. Sempre saímos para caminhar antes do anoitecer e nesses momentos, recebo uma aula ao ar livre sobre tudo o que ele sabe. Não recramo reclamo de aprender. de modo algum. no entanto as vezes sinto falta de conversas apenas para destrair distrair e se divertir. Sinto falta de poder falar bobagens e gargalhar até minha barriga doer, porque falta o ar...

E acredito que irão sorrir ao ouvir que o bebê de Belle naceu nasceu! Eles foram agraciados com um menino, o que deixou Sr. Gold nas nuvens de tamanha felicidade. Eu fiquei no quarto com a condessa durante o parto que durou exaulstivas exaustivas horas, claro que para ela foram bem mais do que para mim e fiquei bem feliz quando a cria finalmente decidiu sair de dentro da barriga e constatei que minha mão continuava inteira apesar da Sra. Gold ter parecido bastante determinada a deixar ela aos pedaços. Nunca imaginei que poderia ver Belle gritando tanto. E como proferiu palavras baixas. Sei que não deveria mas ri nesses momentos pois ela é tão delicada e ali estava, totalmente fora de si, mandando que eu e a parteira saíssemos do quarto porque não queria mais que o filho saisse la de dentro.

Murmurei palavras de incentivo para ela, secando sua testa cheia de sour suor e a mulher me puchou puxou para baixo, olhando bem no fundo dos meus olhos, a espreção expressão desvairada e respirassão respiração entre-cortada entrecortada “Você fala isso porque não é sua vagina essa mulher está olhando na espera que uma criança passe por ela” declarou, o que fez arregalar os olhos de surpresa. Então ela se ageitou ajeitou olhando para a parteira. “Faça alguma coisa, mulher! Achei que você tirasse bebês de dentro das barrigas, se fosse para ficar sentada e esperando eu mesma faria isso com um espelho em minha frente para olhar!” gritou, jogando a cabeça para trás e chorando em agunia agonia.

O parto de Belle foi uma das senas cenas mais comicas que já vi na vida. E por favor, que fique apenas entre nós. A condessa na verdade pediu que eu esquecesse tudo o que ela dissera no quarto, justificando que não estava pensando direito devido a dor.

Garanti para ela que nem lembrava mais... Mas por tudo! Eu nunca irei esquecer esse momento que todo mundo diz ser o que toda mulher sonha, o momento mais feliz de suas vidas. Imagino que deva dar uma felicidade mesmo, quando o bebê finalmente sai de dentro de você e a dor ceça cessa.

Ah, e o nome do bebê é Gideon. Achei meio estranho quando ela disse mas agora já estou acostumada acredito que combine muito bem com ele.

Acho que já devo ficar por aqui. Estou escrevendo esta carta tem dias já. Uma ultima informação antes de me despedir formaumente formalmente: quase já não uso mais a peruca apenas quando preciso sair. Meu cabelo está crecendo crescendo. No presente momento está batendo em meu maxilar e está totalmente caixeado cacheado o que meio me irrita já que me sinto como um desses querubins gorduxos gorduchos que usam apenas fraldas e são intalhados entalhados como enfeite ou aqueles cachorros de dondocas... Poodles. Mas novamente, estou feliz em ver que logo ele estará cumprido comprido novamente.

Estou morrendo de saudades e espero em breve poder visitá-los. Espero que a quantia de dinheiro que estou mandando para vocês sejam suficiente e se não for, por favor, não me escondam e pessa peça para alguem me escrever.

Eu os amo mais que tudo no mundo, nunca se esqueçam.

Com muito amor de sua filha (a mais linda, maravilhosa e um verdadeiro ser de luz na vida das pessoas)

Emma.”

Respirei fundo, segurando o sorriso que queria surgir ao ler minhas últimas palavras e endireitei-me, relendo o que já tinha escrito, procurando minhas anotações com as palavras que tinha dificuldade, começando a revisar. Constatei que teria que passar a carta toda a limpo devido a tonelada de palavras rabiscadas e corrigidas, sem acentos e com falta de pontuação. Eu tinha progredido muito em dois meses, Belle afirmava, com um leve tom de repreensão. Ela dizia que fazia mal forçar tantas novidades de uma vez só. Quantas vezes Sra. Gold vinha brigar comigo por me encontrar estudando de madrugada, querendo engolir tudo de uma vez, com pressa para que o conhecimento se tornasse parte de mim.

A condessa não entendia que eu tinha urgência em não ser mais uma ignorante. Que talvez, deixando de ser aquela garota burra do campo, as coisas começariam a mudar para mim.

Suspirei pesarosa, colocando a caneta de lado e olhei para além janela, tocando de leve meus lábios, sendo levada para minha última noite em meu condado. Revivendo uma vez mais aquele beijo roubado que por pouco não se tornara algo mais sério. A barba de Jones arranhando minha pele ao me beijar com tanta paixão e urgência, ainda causava um arrepio delicioso por todo meu corpo. Seu gosto de uva ou poderia muito bem ser o vinho, ainda fazia meu estômago se contrair em desejo como se continuasse estivesse vivendo naquele momento, com seus toques que por muito pouco não fizeram com que eu perdesse a sanidade de vez.

Dois meses ali e nenhuma notícia de Killian.

Gemi exasperada quando as lágrimas ferroaram meus olhos e balancei a cabeça, negando-me a chorar por aquele assunto.

Certas coisas apenas não eram para ser, não importava o quanto quiséssemos.

Mas santo céus! Eu ainda esperava uma carta ou até mesmo o próprio Jones chegando até ali com a notícia que estava tudo resolvido. Que conseguira resolver a situação e poderíamos ficar juntos.

Soltei uma risada melancólica, guardando minhas coisas e indo até o guarda-roupa escolher um vestido. Parei por um instante perto da janela ao ver Neal caminhando sozinho, como sempre fazia todas as manhãs. Observei o homem cabisbaixo, ombros caídos, como se não aguentasse o peso que fora colocado neles. Cassidy era uma pessoa triste e eu me preocupava com ele. Tentava a todo custo trazer um sorriso ao seu rosto e com o tempo cada vez maior que passávamos juntos, mais frequentes eles se tornavam.

Todavia eu ainda não havia conseguido fazer com que seus olhos sorrissem. E olhos sorridentes eram mais valiosos do que lábios esticados.

E eu estava determinada a deixá-los felizes.

O homem olhou para cima como se tivesse sentido meu olhar e me cumprimentou com um aceno de cabeça.

—A prima vera chegou. – gritou, fechando um dos olhos por conta da luz do sol. – Você já a cumprimentou?

Fiz que não, debruçando-me na janela, sentindo os raios amarelo pálido em meu rosto, começando a aquecer minha pele de modo terno.

—Ainda não tive a oportunidade de dar boas-vindas a primavera. – repliquei, olhando ao redor. O verde começava a tomar conta, com algum esforço, da paisagem que fora tão castigada por causa do inverno. – No entanto sei que ela sabe que estou feliz com a visita dela. Estava sentindo falta das flores selvagens, assim como do calor. Os dias quentes estão chegando, Sr. Cassidy. – anunciei.

—Então você é uma mulher que gosta do calor? – quis saber.

—Claro. As melhores lembranças que tenho aconteceram em dias quentes do verão... O senhor não gosta?

Neal negou, chutando uma pedrinha.

—Sou mais atraído pelos dias frios. Poder sentar ao lado de uma lareira e me aquecer junto ao fogo.

Endireitei-me, sorrindo para ele.

—O senhor diz que prefere o frio, pois sempre teve uma lareira com fogo para se aquecer... Agora com sua licença, Cassidy, preciso me arrumar.

—Vá. Teremos tempo para mais conversas. – indicou com um gesto de mão que eu entrasse. Acenei para ele, dando-lhe as costas e retornando aos meus afazeres.

[...]

Encontrei Belle amamentando o filho, ainda de camisola. A cadeira balançava levemente para frente e para trás, enquanto ela olhava admirada para o bebê. Dei um toque no umbral para avisar que eu estava ali e a mulher ergueu a cabeça, sorrindo contente, como sempre fazia, ao me ver.

—Bom dia, condessa. – cumprimentei-a, fazendo uma reverência ao entrar. Afastei um pouco as cortinas e comecei a mexer na cômoda de roupas do pequeno, separando uma fralda limpa e roupinha para a manhã.

—Belle, Emma. – ela suspirou cansada. – É tão difícil assim me chamar de Belle?

Sorri me desculpando, ajeitando o berço. Tirei os lençóis, levando-os ao nariz e sentindo o cheiro azedo de gorfo. Fiz uma careta, embolando-os para levar para baixo.

—Eu queria entender o porquê de Gideon vomitar tanto. – Belle comentou com certa preocupação ao ver a roupa de cama no chão. – Será que ele tem alguma coisa?

Olhei para ela querendo tranquilizá-la.

—Gideon está ótimo, Sra. Gold... Talvez devesse alimentá-lo menos. Quando bebês estão cheios demais, é comum colocarem para fora.

—Mas o que eu posso fazer se ele chora toda hora querendo mamar? – retorquiu com certa exasperação.

—Nem sempre o choro indica fome, condessa. – respondi, indo tirá-lo de seus braços, ao perceber que havia abandonado o seio da mãe e contorcia-se tentando encontrar de onde vinha minha voz. – Bom dia, senhor Gideon... Teve uma boa noite de sono?

—Ah sim! Ele dormiu a noite toda... Como deve ter percebido. Foi a primeira vez. – falou alegre, ajeitando a camisola e vindo para o meu lado. – O chá de camomila realmente ajudou... Não sabia que já podia dar chá.

Desde que nascera, o pequeno não dormira uma noite inteira, sempre abrindo o berreiro. Por mais que Belle tentasse acalmá-lo, Gideon não parava de chorar, gritando cada vez mais alto e estridente. Quem não morasse na casa, poderia muito bem achar que estávamos matando a criança. Eu sempre aparecia no quarto para socorrê-la e encontrava-a com o rosto em lágrimas, perguntando para o bebê qual o era o problema, para então resmungar que era uma péssima mãe por não saber como ajudá-lo.

Gideon era como eu, gostava de andar, sendo assim eu sempre o pegava e ia dar uma volta pela residência, cantando ou conversando com ele, até que se acalmasse. Apontava pinturas e parava em frente à janela, mostrando o lado de fora iluminado pela luz da lua.

Ele adorava ficar observando os peixes no grande aquário que ficava na sala de visitas.

Mas até o choro cessar, metade da noite já havia passado e Belle se recusava a sair do quarto mesmo depois que o filho tinha pego no sono.  Aquela fora a semana que menos passamos juntas, já que ela acabava por dormir o dia todo devido a péssima noite dormida.

—Bom... Pelo menos em alguma coisa eu posso retribuir tudo o que está me ensinando. – objetei, soltando a fralda do bebê que estava molhada de xixi. – Quer tentar trocá-lo?

Belle anuiu, afastando-me com uma batidinha de quadril. Ela molhou um pedaço de pano e passou com cuidado para limpá-lo, secando-o logo em seguida e passando talco. Sra. Gold pegou a fralda e olhou para mim, começando a dobrá-la, sempre relanceando um olhar em minha direção, confirmando se estava fazendo direito.

—Eu consegui! – exclamou, observando o próprio trabalho. – Veja Emma! Eu consegui trocar meu filho sozinha. Coloquei a fralda no lugar certo! Seu bumbum está bem protegido. – comemorou com a voz débil, sorrindo para o bebê que retribuiu a alegria da mãe, contraindo o rosto em um sorriso banguela.

—Muito bem, condessa... Logo nem precisará mais de mim.

Ela me lançou um olhar torto.

—Não diga bobagens! Claro que irei. Não vou deixá-la mais ir embora daqui... Como espera que eu lide com tudo sozinha? Você me ajuda não só com as minhas coisas, mas a manter a casa em ordem.

—É o mínimo que posso fazer quando está sendo tão generosa comigo.

Belle ficou em silêncio, brincando com Gideon, como se tivesse parado de me escutar. Abri mais a janela, arrastando o berço Moises até ali e forrando para que ela o colocasse lá. Toda manhã o pequeno tomava um banho de sol. Minha mãe dizia ser bom a criança pegar os primeiros raios, já que a luz fraca também tinha vitamina que ajudava no crescimento.

—O que significa o choro se não é apenas fome? – Belle indagou de repente, pegando Gideon no colo e o deitando no berço. O pequeno fez uma careta e se remexeu inquieto, resmungando. Comecei a balançar de leve o cesto e isso fez com que parasse no mesmo instante, seus olhos pequenos e castanhos me fitando.

—Pode ser várias coisas... É difícil de dizer. Uma dorzinha de barriga, alguma coisa o incomodando... Ou apenas que ele está estressado de passar tanto tempo no colo ou deitando. Geralmente a cólica é mais comum, quando o pequeno não consegue fazer sua necessidade... Então damos um chá morno e tentamos aquecer sua barriguinha para que a dor passe... Fazer massagem também ajuda, porque assim os...

—Gases? – Belle tentou ao perceber o meu dilema se dizia a palavra ou não.

Assenti com um aceno.

—Isso. Para assim os gases saírem.

—Sabe... Todos nós soltamos gases, não é segredo nenhum, logo não precisa sentir vergonha de falar essa palavra. – observou brincalhona. – Você vai ser uma mãe maravilhosa, Emma. – comentou, indo para a cômoda e abrindo a última gaveta para escolher um jogo de berço para repor.

—Se eu chegar a conseguir... Não tenho certeza se algum dia irei casar ou não. – murmurei, mordendo o interior de minha boca e olhando para fora.

Eu queria filhos. Isto era claro. Adorava crianças mais que tudo, porém... Não tinha certeza se alguém se interessaria por mim para algo mais sério. O único que demonstrara querer algo mais estava noivo de outa.

E sem falar que eu já estava velha. Logo completaria vinte e cinco anos.

—Você irá, Emma. Tenho certeza disso... Talvez não com a pessoa que sonhou, todavia, sei que irá encontrar alguém que fará seu coração se sentir aquecido. – Belle ponderou por uns instantes. – Tenho conversado com Killian... Uma ou duas vezes por semana. – contou.

Virei-me para ela, tentando fungar sem ser ouvida, meu coração acelerando ao ouvir o nome dele.

—E como ele está?

—Eu não tenho certeza... Mas as coisas não andam muito bem por lá.

Senti as lágrimas inundarem meus olhos e virei-me rápido para secá-las, antes que caíssem.

—Imaginei. Está tudo bem, mesmo... Eu só...

—Não precisa se explicar. Só quero que saiba que ele está tentando... No entanto, não se apegue a isso, sim? Sei que você o ama, porém não creio que seja certo parar sua vida uma vez mais, na esperança que ele volte. Eu adoro Killian com todo meu coração, todavia, não vou ficar incentivando-a a esperá-lo. Permita-se conhecer os rapazes da região... Gold e eu iremos pagar seu dote. – informou. Abri a boca para retrucar e Belle me silenciou no mesmo instante. – Ahn shiu, shiu. Não quero ouvir, Emma Swan! Nós dois iremos fazer isso por você sim... Assim que eu sair do repouso, eu irei apresentá-la formalmente a todos... – ela sorriu, apertando meu braço de leve. – Você inclusive já está muito parecida com uma dama. O sotaque do campo é quase imperceptível, já consegue escrever muito bem sozinha, são poucos os erros, e sua letra é legível. Sem falar que consegue conversar sobre todos os assuntos, já que sempre se empenha em aprender de tudo um pouco... Claro, que se sobrecarregar como você fez para aprender não foi correto, contudo, com um pouco mais de treino, não precisará mais de mim.

Fiquei sem saber o que dizer, fitando-a. Como sempre acontecia eu me sentia confusa e culpada, como se estivesse abusando da boa vontade da condessa e seu marido. Eles me davam moradia, deixavam que eu me sentasse a mesa com eles, que comesse da mesma comida, assim como me pagavam um salário altíssimo, sendo que meus afazeres nem eram tantos. Não considerava um serviço ter que passar o dia inteiro conversando com Belle e auxiliando-a nas coisas. Não quando a mulher passava a maior parte do tempo na biblioteca lendo e ensinando-me.

—Tenho algo no meu quarto para você. – avisou, vestindo o robe e indo para a porta. – Troque-o para mim, por favor e venha ajudar a me vestir. – pediu.

Balancei a cabeça, pegando Gideon no colo. O menininho começou a emitir uns sons, como se estivesse conversando comigo. Eu o respondia e cada vez que ouvia minha voz, incentivando-o, mais animado ficava.

Aquele seria igual a mãe, um verdadeiro tagarela quando crescesse.

A porta do quarto de Belle estava aberta e ela indicou que eu entrasse, enquanto arrumava os cabelos. Ela virou a cabeça de um lado e para o outro, como se certificando que estavam em ordem e se levantou. A camisola já havia sido substituída pela calçola e o corset. O vestido estava esticado na cama.

Sra. Gold pegou um envelope e me entregou. Ajeitei Gideon em um braço, olhando desconfiada para ele, que parecia conter algo mais que uma carta.

—É seu, Emma. Gold deixou antes de sair para viajar. Seu pagamento pelos vestidos que desenhou. Ele teria entregue ontem, porém como chegou tarde, você já estava dormindo.

Arregalei os olhos de assombro.

—Tudo isso? Naquela meia dúzia de desenhos que fiz?

Logo que chegamos e eu me instalei devidamente na casa, Belle realmente havia pedido para que os vestidos que eu fizera para ela fossem feitos. Claro que tive que refazê-los, já que Milah havia jogado no fogo os primeiros desenhos, mas a questão é que a condessa realmente gostara deles. Assim como sua costureira, que logo quis saber quem os desenhava. Belle lançou um olhar para mim e disse que era segredo dela, que era sua estilista particular quem os havia feito, todavia podia ver se estava disposta a deixar alguns modelos na loja.

A condessa cuidara de tudo, negociando com a mulher, que cada modelo que eu desenhara que fosse encomendado, quarenta por cento do lucro seria meu e que todo o início de mês, alguém da casa passaria para receber a minha parte.

Eu havia passado os dias seguintes a visita na costureira criando modelos novos para que Belle pudesse mandar para a loja e desde que eles foram, esperara impaciente por aquele momento para saber se tinham sido escolhidos ou não.

—Quanto eu devo dar a você? – indaguei. – E não adianta dizer “nada”, porque você negociou, Sra. Gold... Estou começando a me sentir uma abusadora de sua boa vontade.

—Bobagem, Emma. Apenas continue fazendo vestidos exclusivos para mim e me salvando no meio da noite quando Gideon decide acordar a casa inteira... Que tal um passeio pelo jardim? O dia está agradável hoje. -mudou de assunto, tirando o filho do meu colo e o deitando na cama, para que eu pudesse ajudá-la a se vestir.

[...]

O dia passara sem muitas novidades, o que era bom, já que assim eu sabia o que esperar. Como Sr. Gold estava fora, Belle se permitiu ficar na biblioteca até tarde da noite, respondendo suas correspondências. Eu a observava atentamente, reparando como seus lábios se retorciam enquanto estava pensativa ou como balançava a cabeça em repreensão quando errava e era obrigada a usar o mata-borrão.

Gideon ressonava tranquilamente na cesta do berço Moises, então me levantei, já que ele não iria exigir atenção alguma naquele momento, e comecei a olhar as prateleiras com atenção, puxando os livros lentamente, estudando seus títulos e abrindo aqueles que me pareciam interessantes, antes de devolvê-los ao lugar e continuar minha busca por nenhum em particular.

Puxei um que parecia ter sido colocado ali recentemente e levei-o ao nariz, gostando de sentir o cheiro de novo, diferente dos outros que possuíam um leve aroma mofado pelo tempo que ficavam parados. Acreditava que dificilmente Belle retornava a ler um livro novamente. O único que eu a via lendo sempre era o que sua mãe costumava ler para ela e que sempre contava para Gideon quando estava calmo. Naquele dia mesmo, enquanto estávamos do lado de fora, sentadas na grama tomando um pouco de sol, sua voz melodiosa de contadora de histórias se misturava com a leve brisa que insistia em tirar os fios de seus cabelos do lugar.

—Este é bom? – indaguei baixinho para não acordar o bebê e nem atrapalhá-la. Belle ergueu a cabeça e apertou os olhos. – Jane Eyre. – falei, passando as pontas dos dedos pelo título “Jane Eyre: uma autobiografia, volume I”.

—Não sei te dizer, Emma. – respondeu, relaxando na cadeira e jogando as pernas no braço da cadeira, ficando toda torta. – Gold o trouxe recentemente para mim e ainda não tive tempo de lê-lo.

—Ah tudo bem. – murmurei, voltando-o ao lugar, junto com o os volumes II e III. – Irei esperar a senhora ler.

A condessa balançou a cabeça, levantando-se em um pulo e caminhando até mim.

—Pode pegá-lo. – incentivou, pegando-o e dando para mim. – Não me importo em ler depois. A pior coisa é ficar com vontade de ler um livro. Depois me diga o que achou. E anote as palavras que desconhece.

—Não tem problema? – inquiri duvidosa, apertando-o contra mim.

—Nenhum, minha querida... Talvez quem sabe ele até a encoraje a aceitar fazer aquela leitura compartilhada.

—Eu leio para você e Gideon. – rebati. – Isso é uma leitura compartilhada.

Belle sorriu para mim e me abraçou do nada. Ela vivia fazendo isso, o que me deixava sem reação por alguns segundos antes que eu a retribuísse.

—Quando você se sentir pronta... Acho que já podemos ir dormir. Amanhã eu termino de responder essas cartas. Preciso aproveitar que meu pequeno está dormindo para ver se consigo ter uma noite com sonhos não interrompidos. – brincou, pegando a cesta com cuidado do chão. – E como anda Neal? – quis saber, relanceando os olhos para trás.

Franzi a testa. Tanto ela como o marido sempre me faziam aquela pergunta. Desde o primeiro dia que ele chegara ali e Sr. Gold pediu para que eu tentasse me aproximar dele.

—Melhor do que quando chegou, acredito eu. Ele está mais falante e às vezes até arrisca fazer uma piada ou um trocadilho tosco. – contei, a voz baixa enquanto caminhávamos para os quartos, para que Neal não nos ouvisse. – Assim como está sorrindo com mais frequência. Acho que o luto está finalmente o deixando.

—Ele é meio que um porre, não? – a condesse mussitou, trocando um olhar conspirador comigo. – Lembro-me de uma vez em que estávamos conversando. Ele falou, falou, falou e eu não faço a mínima ideia do que estava dizendo, apenas balançava a cabeça e sorria. Neal se sentia instigado a continuar apenas com isso. – concluiu com um leve revirar de olhos. – Eu adoro meu sobrinho, não pense que não. Ele apenas não tem assuntos interessantes.

—Eu não gosto quando Cassidy começa a falar sobre insetos. – confessei. – Quando saímos para as caminhadas, do nada ele sai correndo e se embrenha no meio das árvores, voltando algum tempo depois um com inseto nas mãos, completamente fascinado... Porém adoro quando decide falar sobre flores e plantas. Faz eu me lembrar da minha avó Eva e ela as adorava. Sabia o significado de cada flor... O sonho dela era ter um jardim bem grande, mas nunca tivemos dinheiro para ajudá-la a realizar esse desejo.

Belle me olhou pesarosa e segurou minha mão.

—Talvez você possa começar o jardim por ela.

—Talvez... Se eu conseguir ter uma casa com um terreno que dê para plantar algo.

—Eu sei que irá conseguir. Logo terá condições de abrir uma própria loja, com costureiras suas para vender seus modelos. Será referência e ganhará muito dinheiro com esse seu talento. Eu consigo ver claramente, você não? – indagou, inclinando de leve a cabeça, voltando a atenção a Gideon. Ela o tirou com cuidado da cesta, passando o para o berço, nem ousando respirar quando o ajeitou, como se temesse que ele começasse a chorar.

Belle apagou a vela e segurou em meu braço, puxando-me para fora do quarto do filho, indo em direção ao dela. Ajudei-a trocar de roupa, soltando seus cabelos que iam até a base das costas e os escovei lentamente. A condessa ficava imóvel, estudando o reflexo no espelho, seu semblante neutro, como se estivesse longe dali.

—Você e Killian chegaram a... ?– soltou de repente, como se não fosse nada demais.

Arregalei os olhos e senti minha face esquentar.

—Pelo amor de Deus! Não. – respondi sem jeito. – Não, condessa. Killian sempre me respeitou. – informei, recordando que geralmente eu o incentivava a ir mais longe. – Jones sempre afirmou que preferia esperar o casamento.

—Mas e quanto a você? Concordava com ele? – quis saber, estudando-me atentamente. Foquei uma atenção desnecessária em seus cabelos. – Pela sua reação vejo que não, sua safadinha. – brincou, virando-se para mim. – Se fosse agora... Você...?

—Quem sabe se ele não fosse comprometido? – retruquei um pouco alto demais. – Afinal, o que são essas perguntas toda?

Belle balançou a cabeça despretensiosamente e se levantou, indo até sua cômoda.

—Achei uns textos nas coisas dele quando estava em Hertforshire... Faz tempo que quero lhe perguntar sobre o assunto, mas não achei que possuíamos amizade o suficiente para tanto. – explicou, pegando uma caixinha e guardando os brincos que usava. – Agora que pronunciamos a palavra gases, acredito que atingimos o nível. – comentou sarcástica.

—Acredito que atingimos esse nível quando falou “vagina” olhando no fundo dos meus olhos, pouco mais de uma semana atrás. – retruquei com cinismo.

Os ombros de Belle enrijeceram e ela se virou para mim, um sorriso divertido nos lábios.

—Emma Swan, você é uma pessoa horrível! – afirmou, demonstrando que não havia ficado brava com minha observação. – Quando estiver tendo seu filho, farei questão de estar do seu lado, para poder lembrá-la sempre de suas palavras nesse momento tão encantador quando seu bebê decide que não quer sair para esse mundo adorável e a deixa sofrendo.

Dei risada, arrumando sua penteadeira, vendo-a se ajeitar na cama e se cobrir, soltando um bocejo longo.

—Textos sobre o que a senhora achou? – inquiri, vencida pela curiosidade. – Que a fez pensar que nós...

—Sobre o que homens escrevem textos? – ela retrucou com outra pergunta, como se fosse óbvio. – Sobre pele alva e macia, cabelos sedosos, toques, corpos nus...

—Já entendi! – ergui as mãos para que Belle parasse de falar.

—Eram descrições precisas demais, Emma. – continuou. – Por esse motivo desconfiei... E se tivessem também, não vejo problema algum, desde que não saía espalhando para todos. Porque você sabe, as pessoas tratam as relações sexuais como uma coisa abominável. Vocês se amam, é natural. Fim de história.

 – Os textos são claramente fantasias que seu primo tem. – justifiquei, pegando o livro que havia deixado em cima da cama. – Juro, Belle, que nada nunca aconteceu. Killian tinha muito juízo, muito mais do que eu. - murmurei envergonhada de quantas vezes o provocara para que fosse adiante. – É engraçado que eu o infernizava com esse assunto. Na época com minha mente de quinze anos, cheguei a achar que o motivo de não querer fazer... Significava que não me amava. Agora sei, que relutar tanto, foi a maior prova que me deu do respeito e amor que sentia por mim. Com sua licença, Sra. Gold, eu irei me deitar. Tenha uma boa noite. – desejei, apagando a vela e saindo do quarto.

—Hmm... Emma. – Killian me chamou, afastando-se um pouco, mas sem de fato tirar suas mãos debaixo do meu vestido. – O que você está... Tentando fazer? – indagou com a respiração falha.

Ajeitei-me em seu colo e Jones fechou os olhos, como se clamasse por autocontrole.

—Nada, Killy. – respondi inocentemente, beijando atrás de sua orelha. – Achei que era para ficarmos mais à vontade o motivo de virmos aqui.

—Estamos aqui hoje, porque começou a chover. – retrucou, sentando-me ao seu lado. – Emma, já falei para você que ainda não. – repetiu e eu bufei exasperada, olhando-o de forma dissimulada. – É difícil me controlar.

Soltei uma risada incrédula e me levantei, ajeitando o vestido.

—Onde você vai? – inquiriu, vindo atrás de mim.

—Embora. – avisei sem olhar para trás. – Se tivesse realmente intenção de levar isso a algum lugar mais sério não lutaria tanto. Estou perdendo meu tempo aqui. – murmurei não querendo soar irritada ou brava, muito menos ressentida.

—Emma. – Killian me chamou, virando-me para ele. – Eu já te expliquei. Não acredita em mim? – quis saber, os olhos tristes ao fitar os meus. – Em algum momento eu dei motivos para que não acreditasse em minha palavra?

Desvencilhei-me dele, continuando meu caminho para fora. A chuva estava forte e relâmpagos cortavam o céu de tempo em tempo.

—Swan!

—Acontece que eu não sei se você me quer no mesmo tanto que eu quero você! – gritei, quando Jones segurou meu braço uma vez mais. – Eu o amo tanto que quero ter mais, no entanto parece que você não sente o mesmo. – desabafei e, olhei para cima, quando senti as lágrimas pesando. – Eu não quero ter que ficar mendigando nada. Assim como não quero que... Me use como um passatempo enquanto fica aqui no campo...

—Eu já disse tantas vezes que a amo, montei um futuro todo ao seu lado e ainda assim há dúvidas em seu coração? – questionou descrente.

—Você não pode me culpar por isso. – rebati, meu corpo tremendo com a força que fazia para manter o choro dentro de mim. – Da época que está falando em casamento, em pedir minha mão para o meu pai, tudo o que eu tive foram palavras! Eu entendo em esperar para poder casar, mas poderia pelo menos... Tornar tudo oficial de uma vez. Você nem ao menos me faz a corte da forma correta. – guinchei. – Pelo menos isso é culpa minha, já que concordei em me encontrar dessa forma com você... Mas da mesma forma que falei sim, eu posso falar que acaba aqui.

Killian ficou olhando fixamente para o meu rosto, o maxilar trincado, enquanto a respiração saía devagar.

—Eu sou um nada para as pessoas, mas tenho meu orgulho, Jones. Enquanto todas esperam que um príncipe irá aparecer para tirá-las da pobreza, eu sempre tive consciência do meu lugar e que sonhar alto demais iria fazer a queda ser maior, por isso sempre mantive meus pés no chão. Eu tenho quinze anos, posso ser uma menina, mas já sei lutar e sei que ela nunca vai se acabar, porque além de ser pobre, eu não tenho estudos. Casamento nem se passava pela minha cabeça até você aparecer e me encher deles, assim como fez sentimentos estranhos tomarem conta do meu corpo e do meu coração. E eu deixei você entrar. Permiti me iludir com suas palavras, contudo de uns tempos para cá...

—Eu irei amanhã, na hora do jantar em sua casa. – falou rápido. – Começarei a fazer-lhe a corte da forma que quer. Então pedirei sua mão, eu só preciso conseguir juntar dinheiro para um anel... Emma! – gritou, quando balancei a cabeça e dei-lhe as costas.

—Eu quero que você faça porque sente que deve, não porque eu finalmente decidi lhe contar que me sinto incomodada com isso. Se eu não tivesse dito, você iria amanhã na minha casa, fazer-me a corte? – perguntei com seriedade. Killian negou minimamente com a cabeça como se sentisse vergonha de admitir. – Como eu imaginei... Eu estou indo e não quero que venha atrás de mim.

—Espere a chuva passar, minha menina. – pediu. – Enquanto isso podemos conversar e resolver tudo que a incomoda. Não quero que exista dúvidas em seu coração quanto aos meus sentimentos. Eles são reais, Emma. Eu a amo tanto que quero te dar mais do que eu possuo. Uma vida melhor, onde não tenha que se preocupar. Eu a amo tanto que quero que nos tornemos um só, não só fisicamente, mas espiritualmente. Nós nunca brigamos, vamos continuar dessa forma.

Hesitei por um instante, observando seu semblante apavorado.

—Não sou feita de açúcar, Killian. – declarei, saindo para a chuva e o deixando sozinho, permitindo finalmente chorar, por ter tirado do meu peito todas aquelas palavras que me sufocavam com a incerteza.

Apesar de Gideon ter dormido a noite toda, eu não conseguira fechar meus olhos por um instante. Um dos motivos fora que a conversa com Belle trouxera à tona, memórias da primeira briga que tivera com Killian. Havia discutido com ele por não querer dar um passo mais sério na relação.

Hoje não poderia ser mais grata por ele ter insistido tanto em se controlar.

Outro motivo, foi o livro que estava tentando ler, que prendera minha atenção, mesmo que eu demorasse um bom tempo para conseguir concluir uma página antes de passar para a outra.

—Mas veja só quem já está de pé! – Neal exclamou, desviando minha atenção do livro. – O que a traz tão cedo ao jardim? – indagou sentando-se ao meu lado na manta que estava estendida.

—Decidi mudar um pouco meus hábitos... E é um dia lindo demais para ficar presa no quarto.

Cassidy afagou meus cabelos, puxando um dos cachinhos, que voltava como se fosse uma mola.

—Conseguiu concluir a carta que estava escrevendo para seus pais? – quis saber.

—Sim, ontem de manhã. – contei com certo orgulho. – Irei revisá-la mais algumas vezes antes de passar a limpo para poder mandar.

Neal assentiu, tirando o livro de minhas mãos e o estudando.

—Apenas para seus pais?

—Uma carta para meus pais e amigos que deixei. – justifiquei. – Sei que irão ler todos juntos.

—Nenhum pretendente?

Olhei atentamente para o seu rosto e Neal ergueu o olhar para o meu. Olhos cinza esverdeados, melancólicos e bondosos.

Balancei a cabeça de um lado para o outro em uma negativa.

—Você? – indaguei, não por estar sendo abelhuda, apenas porque parecia que ele queria que eu lhe perguntasse... Nunca tínhamos tocado no assunto “vida amorosa”.

Geralmente assuntos do coração era uma linha perigosa de se ultrapassar em uma conversa, já que você nunca saberia como a outra pessoa iria reagir. Ela poderia muito bem não ter tido uma ou ter superado a que teve.

E tinha aquelas, assim como eu, que sentia dificuldade em falar a respeito porque ainda estava recente demais e o coração estava inflamado.

—Estive noivo por um tempo, uns anos atrás. – respondeu, desviando o olhar para o topo das árvores. – Ela ficou doente. Pneumonia.

Pousei a mão em seu joelho, sem saber se ele precisava ser confortado ou não, e por fim, Neal baixou o olhar para ela, antes de colocar a sua por cima.

—Já conheceu alguém que sofreu tantas perdas assim? Minha noiva, meus pais... Sou praticamente sozinho no mundo, tenho apenas meu tio.

—E Sr. Gold o estima muito. Ele o adora. – declarei com animação. – Eu já tive alguém também. Muito tempo atrás.

—O que aconteceu?

Dei de ombros, tomando cuidado para não mostrar a dor em minha fala.

—Foi embora para concluir os estudos e nunca mais voltou. Está noivo.

—Que merda, Emma. – soltou com sinceridade. – Desculpe pela palavra usada, mas é uma verdadeira merda. Você está bem com isso?

—Não. – soltei levemente. – Mas assim é a vida. Merdas acontecem o tempo todo, para todas as pessoas. Não importa quem seja, em algum momento, algo desagradável irá acontecer.

Cassidy ergueu minha mão e beijou as juntas, sorrindo para mim ao soltá-la. Escrutinei seu rosto descaradamente, pela primeira vez, percebendo que ele era um homem bonito. Possuía muitas marcas de expressões, principalmente em sua testa, que se vincava profundamente, todavia, Neal tinha um certo charme que eu não sabia dizer de onde vinha.

—Você vai gostar desse... – proferiu, devolvendo-me o livro e tirando-me do devaneio que estava. – Na verdade, acredito que irá se identificar com a personagem de certa forma. – observou e eu olhei para ele instigada, querendo que falasse mais. – Não irei dizer o motivo, terá que ler e descobrir.

—Não é justo! Você sabe que eu demoro séculos para ler. – resmunguei, fazendo uma careta para ele.

Neal riu, segurando minha mão.

—Vou precisar ir embora. – informou. – Tenho que voltar para as minhas obrigações.

—Tão já? – perguntei desanimada diante da ideia de perder meu companheiro de longas caminhadas, o que me deixaria reclusa aos limites da propriedade.

—Estou aqui dois meses, Emma. – retorquiu divertido. – Eu só gostaria de ir embora e ter tido a chance de vê-la lendo.

Comprimi os lábios, abrindo e fechando a capa do livro, ponderando sobre seu tom pidão. Apesar de Neal não ser a pessoa mais divertida do mundo, e por nutrir uma fascinação por insetos que eu não entendia e achava de certa forma entediante, ele me apoiara em cada instante que esteve ali. Tanto me ensinando o que sabia, quanto me incentivando sempre a melhorar. Se não fosse a ajuda dele também, talvez eu não estivesse tão avançada em meus estudos, sendo capaz de escrever por conta própria, mesmo cometendo vários erros durante o processo, e me sentir preparada para arriscar uma leitura sozinha como a que eu estava tentando no momento.

Cassidy havia se tornado um amigo muito querido para mim naquele pouco tempo. Eu nutria um carinho imenso por ele, que sabia ser reciproco. Neal se preocupava comigo na mesma proporção que eu me preocupava com ele.

—Apenas para você? – murmurei baixinho.

—Uma leitura compartilhada. Para Belle, meu tio e eu. – explicou com cautela, estudando minha reação.

—Tenho vergonha, Cassidy... Eu travo demais ainda. Demoro para conseguir ler uma palavra como um todo...

Ele balançou a cabeça, olhos fixos nos meus para me acalmar ao perceber que começava a me sentir exasperada.

—Nós três sabemos disso e teremos toda paciência do mundo. Nós já passamos por essa situação em algum momento e vejo só! Sobrevivemos.

Crispei a testa, pensando naquele pedido.

—Quando irá embora?

—Em duas semanas. Estou esperando meu tio retornar.

Gemi desconfortável, levantando-me e olhando para a casa, imaginando que já devia ser hora de entrar para ajudar Belle.

—Aqui para você. – ele tirou um embrulho do bolso da casaca. – Pedi para fazerem especialmente para a senhorita. Estou tem um bom tempo ansioso para dá-lo.

Tirei o presente de sua mão. Senti seu peso. Não era muito pesado, tampouco era leve. Sabia que era uma caixinha, mas, curiosa para saber seu conteúdo imediatamente, desembrulhei-a, abrindo com cuidado a tampa.

—Um sinete e ceira para poder lacrar cartas! – exclamei maravilhada, retirando o sinete que repousava sobre o interior forrado de veludo negro. Estudei o “S” gravado ali.

—Pedi para que personalizasse. Agora não dá para perceber, mas quando usá-lo e for lacrar suas cartas, irá perceber que o “S” parece um cisne. – informou com vivacidade ao perceber minha reação com o presente.

—Eu adorei. Muito, muito obrigada, Neal. – dei-lhe um abraço, que ele retribuiu prontamente. -Agora terei que prometer que irei pensar no seu pedido, depois desse presente incrível, Cassidy. – falei com uma falsa desanimação, recebendo um sorriso tímido e culpado dele. O homem havia feito de propósito, para me incitar a ler na frente dos três, como Belle estava louca que eu fizesse. -Vou entrar. Até mais tarde. – despedi-me antes de sair correndo em direção a casa, ansiosa para usar meu mais novo presente até a cera acabar.


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Notas finais do capítulo

Então foi isso! Espero de verdade que tenham gostado e me digam o que acharam. Amo, amo, amo ler o que vocês têm a dizer.
E bom, acredito que já estejam de férias, não? O que planejam fazer nesses dias abençaodos e sem dores de cabeça?

Muito obrigada por terem lido.

Beijos.



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