Nosso Último Verão escrita por Roses


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, como estão? Cheguei um pouquinho atrasada, mas tô aqui e com capítulo novo.
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Killian

A sala de jantar estava silenciosa. O único som que se fazia presente era o dos talheres quando batiam na porcelana do prato. Eu podia ouvir minha própria mastigação, mas não tinha certeza se estava tão alta como parecia, porém, pelo sim e pelo não tentei diminuir o barulho.

Observei de esguelha cada pessoa a mesa, iluminados parcamente pela luz das velas que estavam nos candelabros bem ao centro. O visconde e a viscondessa, meus pais, Milah. Os lugares que minha prima e seu marido ocupavam estavam vagos e perguntei-me o que teria acontecido para que não descessem para o jantar. Tinha visto Belle algumas horas atrás e ela não parecia feliz. Estava armada de uma carranca que imaginei que teria brigado com Gold.

Mas agora não tinha mais tanta certeza.

Pigarrei sem jeito, sentindo todos os pares de olhos em mim no mesmo instante.

—Alguém sabe onde está Belle? – perguntei para todos, porém olhando para minha mãe que entortou a boca em desagrado, relanceando os olhos para minha noiva.

—Disse que ia jantar na casa de Emma. – ela respondeu em um tom seco, voltando a comer.

Milah soltou uma gargalhada irônica, balançando levemente a cabeça e atraindo um olhar irritadiço de Jenna, que pousou os punhos na mesa, fitando-a.

—Aposto que deve estar tomando sopa rala com legumes velhos para o jantar. – comentou com deboche.

—Eu preferia estar tomando uma sopa rala com legumes velhos para o jantar do que estar sofrendo de indigestão ao ser obrigada a olhar para essa sua face desagradável enquanto como. – minha mãe retrucou, pousando os talheres ao lado do prato e afastando a cadeira, sem terminar de comer. – Com licença. – pediu, saindo da sala com passos duros.

Meu pai crispou os lábios e olhou para o próprio prato com pesar, antes de limpar a boca com o guardanapo e se colocar de pé.

—Desculpem por isso. Os ânimos não estão dos melhores. – desculpou-se. Olhei para ele de forma indagadora e discretamente vi seu olhar pousar em Milah.

—Está tudo bem, Brennan. Sei bem como mulheres podem ser difíceis. – Sr. Odom falou complacente, indicando para que fosse atrás de minha mãe.

Ele assentiu e apertou meu ombro, como se dissesse que depois explicava tudo.

Respirei fundo, retornando à atenção para o meu prato, ignorando o olhar de Milah sobre mim que me causava um arrepio de aflição no corpo todo, terminando de comer. A sala de jantar voltou a cair no silêncio fúnebre de antes, que parecia prestes a me sufocar.

Não importava quanto tempo se passasse, eu nunca me acostumaria ao silêncio inconfortável de cada refeição.

Definitivamente não era aquilo que eu queria para o meu futuro.

Então por que eu hesitava tanto em mudar a minha situação? Eu era ótimo para dizer que não queria nada daquilo, mas ao contrário do que eu dizia para os outros, ainda não havia movido um dedo para sair das garras daquela família.

Tinha de certa forma medo do que aconteceria.

Era vergonhoso admitir, até mesmo para mim, que eu não sabia mais como sobreviver por conta, como fora um dia, em que eu iria dar um jeito de conseguir o dinheiro, não importava o que teria que fazer. Não quando agora eu o tinha sempre ali, ao meu alcance facilitando tudo.

—Um charuto, Killian? – Sr. Odom inquiriu, atraindo minha atenção. Seu prato estava vazio e as mulheres já haviam se levantado da mesa. – Vamos ficar um pouco na sala de leitura junto com as duas e então iremos para o escritório. Quero conversar com você.

—Se for sobre o que estou pensando que é, visconde, a resposta continua sendo negativa. Ela não irá se tornar essa mulher.

O homem arqueou as sobrancelhas, enquanto ajeitava a calça e os suspensórios.

—Bem..., Uma pena. Talvez o amor por parte dela não era tão forte assim. – resmungou pensativo.

—Ela tem família, senhor. Te garanto que eles estão sempre à frente de qualquer outra coisa e ela nunca faria algo para magoá-los, como se tornar a outra. – murmurei quando chegamos perto da porta do cômodo onde estava Milah e a mãe.

—Continue pensando, Jones. Você tem até a primeira semana depois do ano-novo para tomar a decisão certa. Dê um apartamento confortável para ela no centro de Londres, um emprego para manter a fachada se caso não quiser chamar atenção e manchá-la. Às vezes a felicidade necessita de meios assim. – declarou, entrando na sala e indo em direção a sua caixa de charuto.

Aquiesci minimamente, reprimindo a vontade de revirar os olhos para ele. Claro, certamente seria bem mais fácil aquela solução. Porém como vivia repetindo meu pai “O fato de ser fácil, não significa que é o certo a ser feito”.

Eu ainda tinha em minha cabeça as frases enraivecidas e machucadas de Emma quando eu pedira para que se tornasse aquilo. Como ela ficara incrédula. E como tinha razão em cada palavra que proferira.

Sentei-me perto da lareira, saboreando o charuto e preferindo focar minha atenção nas chamas que crepitavam. O prazo estava acabando, tanto o de Belle como o meu. Logo minha prima iria embora e Swan não tinha dito uma palavra sequer sobre ir com ela. Eu tinha pouco mais de uma semana ali e então teria que voltar para a cidade, para os meus afazeres e minha nova vida.

E eu tinha certeza que não conseguiria voltar ao normal. Não depois daquele tempo ali, com Emma, relembrando de uma época que fiz questão de guardar bem no fundo para seguir o rumo que meu tio queria.

A porta da sala foi aberta com violência e logo visualizei Belle parada no umbral, o rosto vermelho, ainda preso em uma carranca, enquanto afagava a barriga.

—Você nunca mais ouse chegar perto de Emma, está me ouvindo sua coisinha desagradável? – questionou, pisando duro até Milah, que levantou os olhos do bordado que fazia, fitando minha prima com escárnio. – Quando qualquer pessoa estiver sob minha responsabilidade, você não passa por cima dela, está entendendo? – rosnou.

—Querida. – Gold cruzou a sala com rapidez, segurando nos ombros dela. – Se acalme, não vale a pena ficar nervosa por isso. Já está tudo resolvido.

Ela olhou para o marido, parecendo estupefata.

—Não está nada bem, Gold! Quem ela pensa que é para passar por cima da minha autoridade e infernizar a vida da garota que estava apenas obedecendo ordens minhas? – indagou, a voz aguda e a fala toda embolada por causa do sotaque. Belle olhou para mim. – Ainda não acredito que você irá sujar o sangue dos Cephas se casando com isso. – apontou para Milah, voltando a olhar para ela, inclinando-se em sua direção. – Da próxima vez que você, Srta. de meia tigela Odom, vier maltratar algum empregado, seja ele meu ou seu e, eu estiver por perto ou ficar sabendo, vou esquecer os bons modos e colocá-la no lugar onde seus pais não conseguiram. Você não é melhor que ninguém por ter dinheiro, muito menos superior. Superioridade vem dos bons modos, da gentileza com que se trata aos outros, da educação, da simpatia e da vontade de ver as pessoas bem, não de quantas libras e terras que sua família possuí.

—Belle! – Gold a repreendeu e ela escapou de suas mãos.

—Não terminei ainda, sendo assim, não me interrompa. – grunhiu. – Você não é superior, Milah. E nunca será enquanto sentir prazer em deixar as pessoas para baixo, enquanto maltratar os outros. Assim como nunca será amada. Ninguém consegue amar uma pessoa tão escura assim... Quanto a você, meu primo, está indo para o mesmo caminho que ela se continuar nesse noivado. E eu te juro que se continuar, esqueça que eu sou sua prima.

A sala caiu em um silêncio ensurdecedor. Eu engoli em seco diante da fúria de Belle e perguntei-me o que havia acontecido para que causasse aquela revolta toda nela.

—Então você já está esquecida, condessa, porque Killian irá se casar comigo. – Milah finalmente retrucou, a voz altiva. - É muita ousadia vir até nossa casa e me ofender desse jeito. Apesar de estar sob sua responsabilidade, quem paga o salário dela é meu pai, sendo assim, aquela inútil ainda é minha criada e eu tenho o direito de fazer o que quiser.

Belle sorriu falsamente, estendendo impaciente a mão para Gold que tirou um papel do bolso interno do casaco.

—Não seja por isso, querida Milah. – falou docilmente, virando-se para o visconde. – Esta é a carta de demissão de Emma. – informou. – Eu a redigi e ela assinou com seu nome. A partir de amanhã ela não pisa mais nesta casa. E estou levando-a comigo, assim como estou partindo ao amanhecer. – avisou, séria. – Uma família como vocês, não merecem alguém tão iluminado como essa garota. – concluiu.

—Ela aceitou? – perguntei, quando finalmente entendi o que minha prima estava dizendo. Senti meus olhos arderem e eu queria sorrir com a notícia de que Emma estava indo para longe dali. Que ela teria a oportunidade de se tornar a dama que nascera para ser.

Belle anuiu, sua cor voltando aos poucos ao normal.

—Hoje à tarde, após um episódio desagradável que ocorreu na biblioteca. – contou sem me olhar nos olhos. – Irei me retirar, tenho que terminar de ajeitar as malas. Tenham uma boa noite. – desejou com um aceno de cabeça, saindo da sala.

—Peço desculpas pela explosão de minha esposa. – Gold proferiu. – Foi uma total falta de educação da parte dela, ainda mais depois de terem nos deixado ficar aqui. Tenham certeza que irei conversar com Belle sobre esse comportamento que não é correto para alguém de seu padrão. Acontece que... Ela se tornou extremamente protetora com essa moça e eu nem ao menos entendo o motivo. – desabafou, retirando um lenço do bolso e secando a testa.

—O lado materno dela está apurado. – o visconde falou calmamente. – E não tem motivos para se desculpar, sua esposa não disse nenhuma mentira, conde.

—Jeremy! – a viscondessa exclamou com indignação. – A mulher acabou de roubar nossa criada e de ameaçar nossa filha. Se ela simpatiza com os criados, problema dela. Essas pessoas estão aqui para nos servir e não para serem amigos. Quando o patrão começa a ser muito bonzinho, esses incapazes começam a folgar.

—Emma não é uma escrava. – Sr. Odom retorquiu, a voz controlada. – Desse modo ninguém está roubando nada. A moça entrou de bom grado e dessa forma irá sair... Para ser sincero, estou surpreso que aguentou tanto tempo. Diferente do que as duas acreditam, criados são pessoas como nós, eles se exaurem, ficam doentes e tem sentimentos. Vocês chamam eles de inúteis, mas os únicos inúteis aqui somos nós que precisamos deles para tudo. Para cozinhar, limpar, lavar e passar nossas roupas... Sem falar que os incapazes têm acesso a nossa comida e nossas vidas, se eles quiserem estamos acabados em um piscar de olhos. Então aconselho as duas a ficarem quietas sobre esse assunto e seja lá o que você fez dessa vez Milah, peça desculpas para a condessa. Eu designei Emma para ficar com ela, dessa forma, a garota estava sim sob a responsabilidade dela e você a transpassou. Sra. Gold está acima de nós, se por acaso se esqueceu como funciona o sistema da sociedade, você deve respeito a ela, assim como obedecê-la.

Milah olhava boquiaberta para o pai, os olhos duros e brilhantes de raiva, sem tentar conter a fúria que sentia. Ela poderia matar naquele momento se olhares tivessem todo esse poder. Percebi suas mãos se fecharem em punhos.

—Seu pai simpatiza com os criados. – Sra. Odom resmungou com frieza. – Tanto que fez questão de enfiar uma na cama dele.

—Loreta está muito bem. Obrigado por perguntar, querida. – retrucou com cinismo, enfiando a carta de demissão de Emma em meu peito. – Estou me retirando também. Só Deus sabe como não tenho mais paciência... Diga para a condessa que não há necessidades de sair correndo assim, podem ficar o tempo que acharem necessário. E é bom você pedir desculpar, Milah, caso contrário não hesitarei em deixá-la uma temporada inteira aqui na casa de campo, sozinha, apenas na companhia dos criados.

—Mamãe! – minha noiva recorreu a mulher mais velha que tinha uma mão pressionada na testa, olhos fechados e lábios crispado.

—Agora não, Milah. Faça o que seu pai mandou que é melhor. Preciso do meu paregórico. – murmurou, abandonando o bordado retirando-se apressada.

Gold me fitou com olhar instigador e eu dei de ombros, vendo Milah parecer sem jeito e o corpo tremendo. Seus olhos marejados encontraram os meus e ela soltou uma risada seca, balançando a cabeça e se dirigiu para a sala do lado, batendo a porta com violência.

—Loreta...?

—Amante do visconde. – respondi para o marido de Belle, enquanto desdobrava a carta, procurando a assinatura de Swan. Um “Emma” estava escrito no final da folha, uma letra maior que a outra, traços sem firmeza. Poderia muito bem ter sido uma criança que escrevera ali.

—Eu sinto muito. Pela primeira vez eu sinto muito por você. – o homem murmurou, pousando uma mão no meu ombro.

—Por que?

—Por ser esta família que irá agregar a sua. Agora eu entendo o porquê você tenta tanto evitar o casório. Não desejaria isso para meu pior inimigo... – segredou contemplativo. – Irei subir e ver se Belle está bem.

—Eu gostaria de falar... – comecei. Queria saber tudo o que acontecera, como fora o momento que Swan dera sua resposta positiva.

Queria saber por qual motivo minha menina não havia me informado de sua decisão definitiva. Emma pedira minha opinião no dia anterior, acreditava que ao menos me diria o que havia escolhido.

—Melhor não, Killian. Ela já passou por nervoso demais para um dia só. Emoções tão fortes assim podem fazer mal para o bebê.

Aquiesci, sabendo que ele tinha razão. Belle precisava descansar e se acalmar. Minha prima já estava fazendo demais por mim.

—Sabe ao menos me dizer o que aconteceu para deixá-la desse modo?

—Sua noiva entrou na biblioteca quando Belle foi à toalete e tinha deixado a moça sozinha, fazendo as atividades. Srta. Odom então agrediu a criada e jogou os trabalhos dela na lareira. A mulher foi tentar salvá-los e queimou as mãos. Não foram queimaduras graves, mas Bell ficou uma fera... Mas de qualquer jeito, vai soar horrível, porém fico feliz que sua futura esposa tenha feito isso. Belle precisa de alguém que ela goste para fazer-lhe companhia, principalmente quando preciso viajar.

Anui, apertando a carta na mão, antes de enfiá-la no bolso. Eu sabia o que faria naquela noite e para isso, precisava sair de casa o mais rápido possível antes que Milah viesse me aporrinhar.

Ela teria tempo o suficiente para isso quando voltássemos para Londres.

—As duas se deram bem. – concordei. – Emma irá fazer bem para Belle e vice-versa.

Gold fez que sim com um aceno de cabeça, girando para poder sair e eu acompanhei o homem, mesmo ele não sendo a minha pessoa preferida no mundo.

—Belle já tem planos para a garota. Não sei quais são, mas tenho certeza que tem... Aposto que já deve ter até algum pretendente em mente para arranjar. Sem falar que a moça é inteligente, outro dia estava com elas na biblioteca e Srta. Swan é esforçada para aprender.

—Então acha que ela tem um futuro bom indo morar com vocês? – questionei, parado ao pé da escada. O marido de minha prima virou o tronco para me olhar, o pé direito pousado no quarto degrau e seu rostos ficou ponderativo.

—Tenho certeza que tem... Talvez eu já tenha planos para ela também. – confessou. – Boa noite, senhor Jones. – despediu-se, continuando seu caminho.

Fiquei parado, vendo o homem desaparecer e tentando imaginar que tipo de planos ele teria para Emma. Não conseguia pensar em nada que Swan poderia fazer que iria interessá-lo. Sabia que o homem não iria tentar nada para machucá-la, porque minha prima não permitiria, ainda assim me senti inquieto com aquela sua afirmação.

Como se eu tivesse algo a temer só que ainda não conseguia visualizar.

Olhei por cima do ombro e encontrando-me sozinho, peguei o caminho da cozinha, indo escapar pela porta dos fundos para que ninguém me visse, além dos criados que ali estavam, que, todavia, fingiram não me enxergar quando passei por eles.

Estremeci assim que o vento frio perpassou por mim, fazendo-me trincar os dentes, antes de seguir a direção para a casa de Emma.

Era minha última noite para vê-la.

Que se danasse o frio e falta do casaco para me proteger.

[...]

Assim que me aproximei da casa, pude avistar minha menina entre Tinker e Graham. Os três riam alto e percebi que já estavam meio alterados. O oficial deitou a cabeça no ombro de Swan, que depositou um beijo em sua testa, antes de puxar a amiga para o colo de ambos e aninhá-la ali.

Humbert pegou a garrafa que estava ao seu lado e a ergueu, com um ar solene, como se fosse fazer um brinde.

—A nova vida de Emma Swan, que por todos nós irá honrar a frase “Ano novo, vida nova”.

—À Emma! – Tinker gritou, ajeitando-se de modo estabanado para alcançar a garrafa. – Que merece tudo do melhor e mais um pouco... Mas vou sentir saudades. – confessou, fazendo uma cara de choro.

Emma sorriu carinhosamente para a amiga e pegou a garrafa das mãos dela, levantando-se com dificuldade.

—À última saideira com meus melhores amigos. E aos novos recomeços, que eles aconteçam para todos nós. – falou, levando o gargalo a boca e dando um grande gole, fazendo uma careta assim que engoliu.

—Que assim seja. – Tinker e Graham responderam em uníssono, suas vozes deixando transparecer a felicidade que sentiam por ela, ao mesmo tempo que tinha um toque de melancolia.

Swan ficou imóvel de repente, olhando para os dois e quebrou em um choro sentido, deixando a garrafa escapar de sua mão.

—Eu vou sentir tanta a falta de vocês. – balbuciou, rindo sem graça, enquanto secava as lágrimas. – Dos meus pais... Sei que foi minha melhor escolha, mas eu não sei dizer adeus. Nunca aprendi...  Sempre são as pessoas que se despendem. Nunca eu.

—Mas quem disse que é um adeus, dona Emma? – Tinker se levantou. – Nós ainda estaremos aqui. Eu não irei a lugar algum nem seus pais. Você sabe que sempre pode voltar, não precisa ser definitivo.

—Exatamente, senhorita. – Graham evolveu-a em um abraço, que ela retribuiu, apertando-o. – Se não se sentir bem lá ou não se adaptar, basta dar um jeito de avisar que irei buscá-la. Você sabe que a amizade nunca acaba, pode ser afastada e perder aquele laço forte, porém sempre existem as marcas para que o faça novamente, dessa vez o apertando ainda mais. Continuaremos sendo seus amigos, mesmo com você longe.

—E continuaremos cuidando uns dos outros, como agora. – a pequena acrescentou. Dei um passo para mais perto deles, não achando educado ficar bisbilhotando o momento. O olhar de Tinker caiu sobre mim e no mesmo instante sua expressão se tornou azeda. – Alguém veio te ver. – avisou para Swan, que se afastou do oficial, virando-se para mim.

Um sorriso mínimo apareceu em seus lábios e seus olhos brilharam com alegria. Ela abriu a boca, trocando um olhar com sua amiga e Humbert que reprimiram um suspiro.

—Eu tenho que voltar mesmo para o trabalho. – Graham comentou. – Faça uma boa viagem, Emma. Até mais ver. – ele deu um beijo na bochecha dela e me fitou com olhos zombeteiros. – Como vai, Riquinho? – perguntou ao passar por mim.

—Tudo certo. – resmunguei contra a minha vontade, vendo-o se afastar vagarosamente em direção à estrada.

—Estarei lá dentro. – Tinker informou, lançando-me um olhar desconfiado.

Perguntei-me se algum dia ela me olharia de forma diferente.

Emma caminhou até mim, sua expressão com um ar arteiro e ela parou bem em minha frente, encarando-me, como se esperasse algo.

Busquei suas mãos, encontrando-as enfaixadas e fitei Swan, em um pedido mudo de desculpas.

—Não foi nada. Granny passou clara de ovo no mesmo instante e parou de queimar. – explicou. – Eu estou indo. – informou, como se ainda estivesse se acostumando com a ideia. – Eu aceitei.

—Estou sabendo. Precisava ver a cena que foi quando Belle disse que não iria mais trabalhar lá.

Emma estremeceu, puxando suas mãos das minhas.

—Sua prima ficou furiosa. Fiquei até com medo de algo acontecer com o bebê. Disse para ela que não precisava se estressar, que era normal situações do tipo.

—Fez a escolha certa.

Ela aquiesceu e correu para pegar a garrafa, que estava pela metade, do chão e voltou para perto de mim.

—Acho que sim... – murmurou pensativa. – Podemos caminhar? – perguntou, indicando a estrada. – E comemorarmos, se quiser.

—Parece uma ótima ideia para mim.

Swan segurou em meu braço e começou a me guiar. Não questionei, apenas deixei que ela me levasse para onde quisesse, gostando de estar andando daquela forma. De braços dados, como antigamente. Emma parecia perdida em pensamentos e questionei-me se ela se lembrava que eu ainda estava ali, junto dela.

Por um instante achei que estivéssemos indo para o campo onde nos encontrávamos e a ideia de estar lá uma vez mais com ela animou e encheu de esperança meu coração, de que talvez revivêssemos, mesmo que por um breve momento, aqueles dias.

Os melhores dias.

Porém, Emma pegou um caminho diferente, distanciando-nos dos trigais, em direção onde eu sabia que ficava um pequeno lago, onde por muitas vezes íamos para mergulhar os pés quando o calor estava insuportável demais.

—Você se recorda? A primeira vez que bebemos juntos? – indagou por fim, soltando-me e sentando-se em um tronco, admirando o pequeno lago congelado. -Fora exatamente aqui que eu senti a maior vontade da minha vida de matá-lo afogado. – comentou brincalhona, olhando-me de soslaio, antes de dar um gole na bebida.

—Veja o que peguei hoje para nós. – abri a cesta que havia preparado com comida, retirando o vinho lá de dentro. Emma tombou a cabeça para trás, os pés batendo ritmadamente na água, o vestido erguido até os joelhos.

Suas sobrancelhas finas se arquearam e ela se ajeitou, um sorriso pronto para despontar nos lábios rosados e divertidos.

—Qual a ocasião?

Dei de ombros, sentando-me ao lado dela e tirando a rolha, dando um gole.

—Precisa ter alguma ocasião especial para bebermos? – ofereci a garrafa para Swan que a pegou, levando-a até o nariz, antes de encostar o gargalo a boca entornando-a e fazendo uma careta.

—É bom. – constatou, devolvendo para mim e se esticando até a cesta para pegar os lanches. – Nunca tomei vinho antes. – contou. – Não temos esse luxo todo.

—Você fala como se eu fosse rico.

—Tem uma condição de vida melhor que a minha. – retrucou, voltando a mergulhar os pés na água. – Nós deveríamos ir nadar um dia desses. – sugeriu, aceitando a garrafa mais uma vez e dando pequenos goles sem devolvê-la para mim.

—Tome cuidado para não ficar bêbada. O que vou dizer para os seus pais se acordar com ressaca amanhã? – adverti, retirando dela e recebendo um olhar duro em resposta ao me observar dando gole atrás de gole.

—E você não fica bêbado, belezura? – instigou com sarcasmos, fazendo que não quando fui devolver para ela.

—Ah, eu fico sim. Depois de várias garrafas dessas. Sou mais forte que você quando se trata de álcool. – respondi, cutucando sua costela para provocá-la. – Que eu saiba não tem costume de beber.

—Bebida de pobre sim, quando meu pai oferece. E devo dizer que são bem mais fortes que o seu vinho. E não fico bêbada.

—Só toda risonha e distribuidora de abraços. – retorqui e Emma me olhou boquiaberta. – Suas aventuras que seus pais compartilham são adoráveis... Sei de cada causo... – cantarolei, recebendo um tapa forte dela.

—Você não sabe de nada!

—Sei que era adepta do nudismo. – comecei. – Que detestava colocar roupa e sua mãe tinha que sair correndo atrás do cisco louro para conseguir vesti-la. – continuei, vendo seu rosto ficar rubro no mesmo instante que apertava os olhos e soltava um gemido de desagrado.

—Eu era uma criança! – justificou-se, a voz extremamente aguda. – Isso não é justo. Eles não podem simplesmente contar essas coisas para você.

Gargalhei com vontade diante de sua expressão emburrada e recebi um olhar cortante. Deitei a cabeça em seu ombro, acariciando seu maxilar com meu nariz.

—Pode voltar a praticar o nudismo quando casarmos. Juro que não irei reclamar.

—Killian! – guinchou, empurrando-me. – Irei parar de vir encontrá-lo se continuar. – ameaçou com seriedade. – Pelo visto você se torna do tipo chato quando bebe. – observou. – Vou fazer questão de arrancar os podres do seu passado com sua mãe também. Apenas espere.

Sorri ao me lembrar, sentando-me ao seu lado e descansando a cabeça no seu colo.

—Posso considerar como nossa primeira briga aquela noite? – inquiri, aceitando a aguardente que Swan ofereceu. Ela riu e repararei bem em seu rosto, a forma como estava corada e como os olhos pareciam desfocados.

Como a bebida já estava alta em suas veias.

Ela balançou a cabeça negativamente, enfiando os dedos em meus cabelos. Fechei os olhos para aproveitar o carinho que ela tão de boa vontade estava fazendo, querendo guardar aquele toque tempo o suficiente.

Como se naquele instante o tempo não tivesse passado e fossemos os mesmos. Encontrando-nos no meio da noite para aproveitar a companhia um do outro pelo tempo que fosse possível antes do sol aparecer.

Eu ainda era aquele rapazote que tinha certeza do que queria no mundo e tudo o que mais queria era mulher que lhe dava o afago, que fazia o corpo esquentar e estremecer por apenas olhar e sorrir.

Tudo o que eu mais queria ainda era Emma Swan, porém continuava hesitando sem saber o que fazer em relação a tudo. Não querendo abrir mão do que havia conquistado durante os anos que passei fora e do que poderia conquistar.

Um império que meu tio formava e que cada dia acrescentava mais para o dia que fosse passado para mim.

A indecisão fazia de mim um homem tão horrível quanto eu me sentia?

Parecia uma pergunta simples, com a resposta certa clara como água. Eu deveria escolher o amor. Sempre o amor, fora assim que meus pais me criaram.

Todavia, de alguma forma, eu continuava oscilando para a resposta errada. Não éramos nada no mundo sem dinheiro no bolso. Presenciei casais se odiando no fim do dia por falta dele, conhecidos da época do colégio indagando o motivo pelo qual se casaram por amor e afirmando que na época que vivíamos apenas isso não encheria barriga, que uma hora a miséria afetaria os sentimentos, transformando-nos em estranhos.

O fato é que a escolha certa, apenas funcionava nos livros de romances românticos, onde o final feliz era obrigatório para uma boa história. A vida real era um pouco mais cruel para com os amantes que tentavam seguir o mesmo caminho e, no fim da vida, tudo o que restava eram duas pessoas com desprezo uma pela outra dividindo a cama.

Abri os olhos, estudando a face de Emma que por sua vez estava entretida com o céu nublado. E se nos transformássemos naquele tipo de casal? E se meu tio conseguisse de alguma forma cumprir tudo o que ameaçara daquela vez e eu fosse incapaz de dar uma boa vida ela? Meu maior medo sempre fora não conseguir atender todas as suas necessidades e dar-lhe a vida que sempre achei que merecia.

Eu a amava de uma forma que meu coração batia com tanta força que doía meu interior, porém não poderia sujeitá-la a uma vida tendo que trabalhar no campo o que lhe daria uns dez anos a mais na aparência. Sei que ela não se importaria em ter que trabalhar, mas eu não conseguiria viver, tendo consciência que eu me colocara em uma situação daquela e que consequentemente a arrastara junto.

Porque pelos céus! Eu tinha certeza que Emma não recusaria se casar comigo naquele instante se eu sugerisse, mesmo sem ter certeza do que o futuro nos reservaria.

Swan abaixou o olhar e encontrou o meu. Ela contemplou meu rosto e traçou com a ponta de seu indicador meu nariz, sobrancelhas, lábios e queixo com uma lentidão torturante, que causava uma leve cocegas em minha pele e deixava um rastro quente que comprovava que seu toque tinha trilhado aquele caminho.

Um sorriso nasceu em seu rosto, vagaroso, iluminando a noite.

—Você tem um rosto perfeito. – mussitou, a costa de sua mão acariciando minha barba. – Não sei se comentei, mas achei que ficou muito bonito assim. Deixou-o com jeito de homem sério. Charmoso e arrasador de corações. – comentou e riu. – No entanto, eu gosto mais quando está barbeado.

Ajeitei-me, arqueando uma sobrancelha para ela.

—Se eu ficar sem barba irei parecer um molecote.

—E continuará charmoso, arrasador de corações. Você parece inofensivo sem barba. Como se não pudesse causar dor alguma... – sua voz morreu e Swan se levantou, colocando a ponta do pé na água congelada e forçou até que um trincado surgiu. – Eu amo a forma que você sempre segura a minha mão e brinca com os meus dedos. – ela proferiu baixinho, sem se virar para mim. – Amo as ruguinhas que surgem ao redor dos seus olhos quando sorri de verdade. Amo como seu rosto fica vermelho quando eu o provoco. – continuou, soando controlada, mesmo que no final as palavras titubeassem. – Ou quando descansa a cabeça em meu ombro e me abraça, como se soubesse que está seguro. Amo como seus olhos brilham com orgulho ao ver cada vitória pessoal minha. – Emma girou, ficando de frente para mim, olhos vermelhos e rosto marcado com lágrimas. – Amo como sempre acreditou em mim e em minha capacidade. Amo o modo como ainda é carinhoso e ainda é você, mesmo que demore um pouco para se reencontrar e nesse meio tempo acabe agindo como um imbecil. Amo o cheiro leve de charuto em suas roupas, como nesta noite, se tornou parte do seu perfume. E amo como seu coração ainda festeja quando estou dentro do seu abraço. Eu consigo ouvi-lo...

Fiquei em pé, dando um passo para perto dela, recordando daquele jogo.

—Eu amo você. – falei, sentindo minha garganta obstruída e os olhos verdes sorriram para mim por eu me lembrar.

—Cansei de jogar damas. – Emma reclamou assim que comi sua última peça.

—Então o que quer jogar? Cartas? Dominó? – sugeri, juntando as peças do jogo para guardar dentro do tabuleiro. – Peteca?

Swan balançou a cabeça em uma negativa, engatinhando até estar sentada no meio das minhas pernas, fitando-me atentamente, como se pensasse em alguma coisa.

—Já sei! – exclamou, ficando de joelhos e de frente para mim, os olhos transbordando animação. – Nós iremos falar pequenas coisas que amamos um no outro...

—Cada partezinha sua. – respondi prontamente. – Ganhei?

Ela ficou quieta, a cabeça tombada de leve ao me olhar com censura por interrompê-la.

—Não assim, Killy! É uma forma para saber se prestamos atenção aos detalhes.  Vamos falar dessas pequenas coisas, acrescentando a lista.

—E como termina o jogo? – eu quis saber.

—Aquele que aguentar mais tempo ouvindo essas pequenas coisas. O jogo se encerra quando o participante fala “Eu amo você”. Aquele que conseguir falar mais antes de ser interrompido é o vencedor.

—Parece fácil. Vamos tentar. – concordei. – Pode começar. – indiquei.

Emma limpou a garganta e respirou fundo algumas vezes, como se estivesse se preparando e abriu a boca.

—Eu amo você. – soltei antes que dissesse algo. Vi a irritação passar por seus olhos e sorri para ela. – Tudo bem. Desculpe.

—Posso? – inquiriu com as sobrancelhas arqueadas. Anuí, fingindo costurar meus lábios. – Amo quando você vai sorrir. Sua boca se entorta levemente para a direita, antes de seus lábios se esticarem e me dar o vislumbre de seus dentes. Amo quando seu cabelo está em um dia ruim, porque ele sempre cai em sua testa e isso o deixa com um ar de menino travesso. Amo como sempre prende a respiração quando eu beijo o canto de sua boca após nos beijarmos. Amo a forma que suas mãos acariciam meu corpo, como se fosse um modo de se certificar de que sou real. Amo, amo, amo quando sua barba está por fazer e acaba me arranhando. Amo o fato que você tem alguns fios ruivos e louros perdido nessa imensidão negra que é seu cabelo. Amo sua voz quando está lendo ou dizendo coisas adoráveis para mim, ela fica rouca, baixa, como se ainda estivesse tentando me conquistar. Amo sua paciência sem fim comigo...

—Eu amo você. – interrompi-a. – Eu pretendia deixá-la falar mais, todavia foi impossível me segurar por um tempo maior. Agora é minha vez, certo? – indaguei e ela aquiesceu, olhando-me com expectativa. – Prepare-se, porque eu tenho muito o que falar...

—Eu amo esse seu jeito solto que tem quando está perto de quem se sente à vontade. Amo que as ruguinhas ainda são formadas na ponte do seu nariz e suas bochechas se erguem, fazendo com que seus olhos se fechem quando sorri. Amo o som do seu riso. Amo a sua força e sua independência, a forma como lida com os problemas de cabeça erguida e muito orgulho por estar de pé lutando mais uma batalha. Amo a lealdade que tem para com seus pais e seus amigos. Amo como sempre tenta ajudar os outros mesmo que esteja machucada. Amo quando solta coisas inapropriadas para uma dama e que me deixam horrorizado. Amo como mesmo com toda a dificuldade, você manteve esse brilho natural aceso. Amo como ainda parece tanto a menina de anos atrás. Amo como é honrada. Amo sua bondade e como se controla diante das coisas desagradáveis. – eu soltava rápido, praticamente tropeçando nas palavras, no desespero de conseguir dizer tudo. – Amo como é esforçada e inteligente. Amo que quando eu olho para você, lembro-me das coisas boas da vida...

—Eu amo você. – cortou-me, parecendo sem graça. – Eu amo mesmo você, tentei convencer a mim mesma que o sentimento havia morrido, mas não. Ainda está aqui... – pousou a mão sobre o coração, fitando-me. Prendi a respiração por estar ouvindo-a dizer novamente, ao afirmar que ainda me amava, meu coração começava a bater rápido, como se fizesse festa dentro do peito. Tive tanto medo de não escutar mais aquelas palavras saindo de sua boca. - Acho que ganhou.

—E eu nem terminei. – retorqui, acabando com o pequeno espaço entre nós e sentindo Emma abraçar-me com força, enquanto escondia o rosto em meu pescoço. Apertei-a contra mim, como se precisasse de todo contato que ela pudesse me dar, respirando fundo o cheiro de sua pele e sentindo as lágrimas dela molharem a minha.

—Eu preciso voltar para casa. – balbuciou sem me soltar, sem se afastar.

Percorri minhas mãos por suas costas pequenas, não querendo deixá-la ir ainda.

Agoniado para ter algo além daquele abraço.

Querendo apenas um último beijo.

Daria qualquer coisa para sentir aqueles lábios mais uma vez.

Encontrei os olhos verdes marejados me fitando atentamente, como se estivesse lendo meu pensamento, porque sua boca se abriu de leve e seu olhar caiu em meus lábios, quase como se pedisse exatamente aquilo.

E eu estava mais que pronto para atendê-la, quando seu rosto se abaixou e suas mãos deslizaram para os meus ombros. Swan pousou sua cabeça em meu peito e balançou-a de um lado para o outro, antes de voltar a me observar.

Fechei os olhos ao sentir seus lábios pressionados em minha bochecha e tão logo eu os senti, logo já haviam desaparecido, assim como seu pequeno corpo dos meus braços.

— Será que eu irei vê-lo de novo? – questionou, fungando.

—Não sei. – fui sincero. – Belle e eu não temos muito contato assim, apenas por cartas. E eu tenho meu trabalho, não posso ficar me ausentando por tanto tempo. – expliquei.

—Posso escrever para você quando aprender e minha letra não parecer mais um garrancho? – quis saber, lutando contra o choro que continuava a atingi-la.

Fiz que sim, sorrindo para ela, tentando confortá-la, mesmo que eu fosse feito de todos os sentimentos de perda naquele instante.

—Claro que pode, minha menina. Ficarei feliz em trocar cartas com você.

—Você vai mesmo tentar romper o noivado com Milah?

—Estou tentando e pensando como fazer isso. – garanti, tanto para ela, como para mim de que eu precisava tentar algo. – Mas não irei prometer que vou ter sucesso nisso.

Emma assentiu, provavelmente entendendo o que deixei no ar.

De todas as pessoas no mundo, eu sabia que Swan era a única que me entendia naquela loucura e confusão toda. Apenas ela, sabia como o mundo agora funcionava e que ele não era gentil, como um dia fora.

—Se caso não conseguir... Promete que irá me convidar para o seu casamento? – pediu, mais lágrimas escapando de seus olhos. – Quero estar lá, por você.

—Tudo bem. – concordei desconfortável com seu pedido. – Será a convidada de honra.

Ela balançou a cabeça.

—Não me coloque tão perto assim. Não irei suportar assistir de um lugar tão privilegiado... Quero que saiba, que se por acaso eu encontrar alguém em Berks, disposto a se casar comigo... Eu irei aceitar, Killian.

Fechei os olhos, sentindo um nó na garganta, enquanto meu coração, que segundos atrás estava em festa, se contorcia com o que tinha ouvido, exigindo que eu tomasse uma atitude.

—Você deve fazer isso. – concordei, deixando a voz neutra para que eu não me traísse.

—Mas se você conseguir sair desse contrato ou, seja lá o que for isso... Me avise. – pediu simplesmente. – Porque minha escolha ainda é você. – garantiu, olhos fixos nos meus.

Meu peito subia e descia rápido demais, enquanto eu escrutinava a mulher parada bem na minha frente, sendo sincera como sempre fora; garantindo que apesar de tudo que eu fizera, ela ainda me amava e, que eu, continuava sendo sua escolha.

Emma ainda queria aquele futuro comigo.

—Ah minha menina. – murmurei, cedendo a vontade que crescia cada vez mais, e que nutrira desde quando a vira e a puxei para mim, pressionando meus lábios contra os seus, segurando sua cabeça para que não se afastasse como sabia que iria fazer.

Swan manteve-se firme, sem deixar que eu aprofundasse o beijo, por poucos segundos que me pareceram anos e, então, senti-a a relaxando e, logo sua língua brigava com a minha, confusa, furiosa, aflita... Cheia de saudades.

Ela me abraçou, suas mãos caminhando por minhas costas, indo até meus cabelos, afagando meu rosto, enquanto seu corpo tentava a todo custo chegar mais perto do meu e eu o ajudava, apertando-o, querendo que ficasse ali, redescobrindo suas curvas delicadas, o calor tão terno que emanava de partes que eu sentira tanta falta de tocar.

As curvas do quadril até a cintura...

De seus seios...

A curva de seu ombro encontrando o pescoço.

Senti um gemido saindo do fundo de minha garganta, misturando-se com os que saía de Emma e uma dor insuportável começou a tomar conta das minhas partes baixas e como eu estava apenas me entregando, assim como Swan, desci minhas mãos até seu traseiro, apertando-o, pressionando-a de encontro ao meu quadril. Um arquejo mais alto saiu dela que cravou as unhas na minha nuca, parecendo desfalecer por um instante em meu braço. Abri os olhos brevemente para observá-la e meu estômago se contraiu de desejo com a visão.

Emma estava de olhos fechados, e uma expressão de satisfação e felicidade.

—Eu a amo. – murmurei, sem me separar dela, erguendo-a do chão. Soltei uma risada incrédula, beijando sua face quente. – Está vendo como todo meu corpo está em festa? Principalmente este coração aqui. – balbuciei, voltando para seus lábios e sendo retribuído com o mesmo desespero.

Sentei-me na pedra onde momentos antes Emma estava, ajeitando-a em meu colo, enfiando as mãos por baixo de seu vestido e deslizando-as por suas pernas, cada parte de meu corpo atento para aquele contato...

No mesmo instante o beijo foi cessado, e a respiração pesada e falha de Emma atingiu meu rosto.

—Eu... Preciso... Voltar para casa. – gaguejou, saindo do meu colo com passos cambaleantes, apertando as mãos, parecendo fraca. – Belle disse que sairemos cedo. – explicou, sem me olhar.

—Emma... – chamei-a, sentindo-me mais desnorteado que ela.

Swan se virou para mim.

—Isso foi errado.

Aquiesci, tendo plena consciência que fora.

—Nós somos amigos agora... Não deveria ter acontecido.

—Eu não me arrependo que tenha.

Ela sorriu melancólica.

—A pior parte é que eu também não. – confessou envergonhada. – Mas você tem Milah e mesmo que não a ame, deve respeito a ela.

—Emma. – chamei-a em um suplica. Ela poderia esquecer Milah por um momento e apenas deixar que acontecesse. – Não temos certeza se...

Ela anuiu, seu rosto se contorcendo para não chorar de novo.

—Adeus, Killian. – proferiu em um só fôlego, rosto rubro, lábios inchados e brilhantes, dando-me as costas.

Sendo como sempre, aquela que se afastava na hora da despedida.

[...]

Belle estava impaciente enquanto esperava que as malas fossem ajeitadas em cima da carruagem. Ela se recusara a tomar café-da-manhã e de tempos em tempos retirava o relógio do bolso do marido para olhar as horas.

Meus pais a observavam em silêncio. Tudo o que eles tinham para conversar já havia sido dito na minha ausência, como minha prima tão taciturna havia garantido. Como se eu não fosse digno de ouvir a conversa sobre algo que só estava acontecendo por causa da minha intervenção.

Fechei os olhos, encostando a cabeça na parede e prestei atenção no andar de Belle, lento, pesado, cuidadoso e deixei minha mente vagar para a noite anterior, meu corpo no mesmo instante se eriçando com a sensação dos lábios de Emma, de seus toques, da textura de sua pele...

Da lembrança do sabor que continuava o mesmo, com adição do leve gosto do álcool que ela ingerira.

—Senhor, a carruagem está pronta. – um criado anunciou e eu abri os olhos, vendo meus pais se levantarem e minha prima segurar no braço do marido.

—Já não era sem tempo. Estamos atrasados para buscar, Emma. – resmungou, olhando para minha mãe e em seguida para o meu pai. – Foi um prazer vê-los novamente. Por favor, venham me visitar. – pediu.

Jenna sorriu e se aproximou dela.

—Assim que o pequeno nascer iremos passar uns dias com você, filha. – garantiu.

—Mas até lá você estará em boas mãos. – Brennan falou. – Emma é responsável.

—Sei disso, tio. – respondeu e me procurou com o olhar. – Quanto a você... Não venda sua alma por tão pouco, Kill. Eu o amo e você sabe, mas não posso aceitar isso que está fazendo com sua vida como algo correto. Se não der um jeito, estará se condenando a passar o resto da vida com seu próprio demônio... Irei mantê-lo informado sobre o progresso de Emma se assim quiser.

Aquiesci, adiantando-me para ele e abraçando-a com cuidado.

—Obrigado por estar fazendo isso. Serei eternamente grato, mesmo que esteja me lembrando a cada segundo de que irá me odiar se caso me casar com Milah. E saiba que continuará sendo minha prima preferida.

Senti um tapa forte na lateral da minha cabeça e me afastei, encontrando dois olhos claros furiosos.

—Eu sou sua única prima, palhação. – retrucou. – E não estou mais fazendo isso por você e sim por ela. Emma tem um potencial que fará com que vá longe... Escreverei dentro de algumas semanas, mas não se sinta acanhado de mandar as cartas também.

Eu estava prestes a responder quando a família Odom apareceu no vestíbulo. Milah e a mãe estavam emburradas, enquanto o visconde parecia incrivelmente enfadado.

—Muito obrigada pela hospitalidade. – Gold se pronunciou, vendo que a esposa não iria fazê-lo. – Belle e eu agradecemos muito.

—Não foi nada, vossa senhoria. – a viscondessa respondeu, a voz forçadamente agradável. – Foi um... – ela engoliu em seco e olhou para o marido que indicou que continuasse. – Verdadeiro prazer recebê-los em nossa casa.

—Sintam-se à vontade para voltar. – Sr. Odom acrescentou. – Milah não tem nada para dizer? – inquiriu.

Minha noiva interrompeu um suspiro e olhou diretamente para minha prima, que por sua vez, fitava-a com desdém.

E ver aquele olhar em Belle era a coisa mais rara de se acontecer.

—Peço sinceras e profundas desculpas pela maneira que agi ontem com aquela inú... Com Emma. – corrigiu-se a contragosto. – E por desrespeitar sua autoridade, condessa.

Bell abaixou a cabeça, olhando para o chão e dando um leve sorriso.

—Sua tentativa de pedir desculpas já é alguma coisa. – comentou. – Obrigada por nos aceitarem em sua residência... Talvez em um futuro... – começou, porém se deteve, como se não conseguisse pronunciar mais nenhuma palavra.

—Possamos retribuir. Nossa casa estará à disposição para quando quiserem visitar Berks. – Gold completou, olhando de soslaio para minha prima que se limitou a pressionar os lábios e assentir.

Acompanhei-os até o lado de fora e ajudei Belle a subir na carruagem, dando uma última olhada nela com atenção.

—Volto a repetir que está linda grávida, minha prima.

—Obrigada, Kill. Espero que acompanhe seus pais quando eles forem me visitar. E, por favor, apenas vocês. – sussurrou, antes de se arrastar até o outro canto para que o marido pudesse se sentar ao seu lado, acenando para mim e sorrindo docemente, daquele modo que apenas ela sabia.

Foi o primeiro que havia recebido desde que Bell começara a presenciar a forma que Milah agia com os outros e me repreender por estar compromissado com ela.

Gold me direcionou um aceno breve de cabeça e fechou a porta. Afastei-me, vendo a carruagem começar a se movimentar e se distanciar em direção a saída da propriedade Odom, traçando seu caminho para a casa de Emma.

E foi apenas nesse instante, quando o veículo desapareceu do meu campo de visão que me dei conta do significado daquela partida.

Que me dei conta que Swan não estaria mais ali daqui algumas horas.

De que talvez noite passada fora a última vez que eu a teria visto.

Retornei para dentro, sentindo-me estranho com o pensamento que Emma estava partindo, quando um criado apareceu em minha frente com uma carta.

Abri-a imediatamente, ao reconhecer a caligrafia de meu tio e soltei um suspiro de desagrado ao lê-la. Ele solicitava minha presença o mais rápido possível em Londres em nome dos negócios.

Guardei-a no bolso e estava indo para o meu quarto, desesperado para descansar e reviver de mil maneiras diferentes a noite passada, quando Milah interrompeu-me, bloqueando o caminho.

Fitei-a sem demonstrar nada, esperando que assim deixasse-me em paz.

Ela indicou com o queixo meu bolso.

—De quem é?

—Meu tio. Ele está pedindo para que eu adiante minha volta para Londres. – respondi, desviando-me dela, sem querer esgotar minha paciência logo pela manhã.

—E está se sentindo feliz? Demorou para voltar para casa. – comentou despretensiosa. Optei por ignorá-la para que não visse em meus olhos que sim, eu estava me sentindo muito feliz. – Foi você, não? – inquiriu, fazendo-me parar para encará-la. – Você chamou sua prima aqui para salvar Emma. Para tirá-la de perto de mim. Eu vejo o que está tentando fazer e eu juro por Deus, que não irei deixar, Killian. Adiantarei o casamento se for preciso.

Não consegui reprimir a vontade de rir.

—E como fará isso, Milah? Posso saber? A data marcada foi a mais próxima que conseguimos.

—Eles sempre adiantam um casamento quando uma boa moça acaba se entregando antes da hora, meu querido. Basta eu afirmar que passamos a noite juntos...

Aproximei-me dela, sentindo meu sangue esquentar de uma única vez. Fechei as mãos em punhos, tentando controlar a vontade repentina que surgiu de esganá-la.

—Você não faria isso.

Milah sorriu carinhosamente, afagando meu rosto.

—Nossa noite juntos foi adorável, não? Tentamos a todo custo nos controlar, mas... Foi mais forte e no fim, estávamos um nos braços do outro. – suspirou nostálgica. – Desde então minhas regras estão atrasadas. – concluiu, tocando a barriga com ambas as mãos da forma que Belle fazia, parecendo aterrorizada. – Parece bem convincente para mim. E para você, querido marido? – questionou, segurando meu queixo com força e pressionando seus lábios nos meus.

Empurrei-a para longe, sentindo um asco terrível ao observá-la: olhos brilhantes e vazios de qualquer sentimento, apenas uma diversão maldosa. Um sorriso pronto a despontar, zombeteiro.

—Está avisado, Killian. Não pense por um segundo que não sei o que está tramando. Você está preso a mim e assim será. – constatou, saindo na direção oposta e deixando-me sem reação.

Depois de alguns minutos sem saber o que fazer, toquei a carta de meu tio e agradeci mentalmente por ela ter chego, dessa forma me dando um motivo para me afastar de minha noiva e sua família.

Pelo menos por um curto período.

Caminhei até o quarto de meus pais e abri a porta, ainda em assombro com o que acabara de acontecer. Encarei-os por um tempo, o que fez minha mãe vir até mim, colocando a mão em meu rosto preocupada.

—Precisarei voltar antes para Londres. – informei, segurando sua mão no mesmo lugar, gostando como estava quente. – Quero que voltem comigo. Antes disso, gostaria de pedir que fossem visitar os pais de Emma e deixem com eles um pouco de dinheiro para que consigam se virar até que Swan receba para enviar. – soltei de uma só vez, a voz monótona. – E... Aquela oferta para me ajudarem a romper com Milah, ainda há tempo para dizer que eu aceito? Pelo amor dos céus e todos seus anjos, ajudem-me. – implorei, intercalando o olhar entre minha mãe e meu pai que havia se aproximado. – Eu não posso me casar com ela.

Os olhos azuis de minha mãe se fixaram nos meus e ela me envolveu em seus braços. Procurei meu pai como um garoto assustado e pedi seu abraço com o olhar, sendo atendido no mesmo momento, aquele conforto e calma que exalava dele, aos poucos aquietando meu coração apavorado com a possibilidade de Milah realmente fazer aquilo e prender-me a ela sem me dar chances de provar que eu era inocente.

—Faremos o nosso melhor, filho. – meu pai beijou minha testa, sua mão em minha cabeça. – Tentaremos tudo que esteja ao nosso alcance. – garantiu e eu fechei meus olhos, agradecido por eles estarem ali.

Por ainda cuidarem de mim.


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Notas finais do capítulo

Bem, foi isso, espero que tenham gostado do capítulo. E, por favor, não se sintam acanhados em me dizerem o que acharam. Gosto de verdade de ler seus comentários.

Muito obrigada por lerem.

Beijos.