“Viver um pesadelo é muito pior do que morrer. A morte é uma sensação instantânea e depois, paz. Por outro lado reviver e conviver a cada dia com suas maiores aberrações é uma experiência torturante a qual faz com quem sinta isso deseje com todas as forças a morte, a paz da eternidade. Numa tentativa desesperada de se apegar a vida, a cada minuto se procura um novo motivo para continuar. Na verdade, nenhum deles parece servir.”

Naquele dia, a chuva forte e incessável caia sobre Galarda. O castelo estava lotado, todas as pessoas do reino estavam presentes no casamento da princesa Yoni. Namjoon vestia seu manto vermelho, juntamente com a rainha Catarina que estava ricamente arrumada com suas vestes cor de pérola. Yoni também estava deslumbrante com um vestido claro e muito comprido, usava uma coroa de flores na cabeça e trazia um ramalhete das mesmas nas mãos.

Assim que avistou Jungkook a espera-la junto ao padre, abriu um enorme sorriso. Ela olhava para ele com júbilo e imenso orgulho.

Namjoon, por sua vez, estava carrancudo. Aquela situação era demais, literalmente a gota d’água; até tentara convencer Yoni a desistir daquela loucura, mas ela nem sequer deu-lhe atenção. Não era do feitio do rei subjugar sua própria filha, mas ela não deixara opções.

—Eu lhe proíbo, Yoni._ a princesa olhou para seu pai totalmente incrédula, seus olhos vidraram como de uma boneca. Ela parecia realmente assustadora.

—Você não pode me proibir de casar com quem eu realmente amo. _Yoni berrava totalmente descontrolada; aquela não era sua filha, o que diabos aquele maldito sadista fizera a sua preciosa princesa?

—Eu sou seu pai, não só devo como vou te proibir de casar com aquele..._Namjoon se interrompeu.

Yoni deixou as mãos caírem ao lado do corpo e começou a andar pela sala de seu pai de um jeito frenético.

—Não vai me casar com Jungkook?_Ela perguntou finalmente.

—Não.

—Muito bem._A garota saiu da sala apressadamente batendo a porta do escritório. Namjoon sentou-se em sua cadeira e esfregou o rosto com as mãos. Havia olheiras em seus olhos antes jovens e atentos.

Seu breve momento de repouso foi interrompido por Alekssandru. Ele arfava e seu cabelo castanho tinha se soltado um pouco das tranças.

—Vossa Majestade, a princesa está seguindo para a torre do castelo anunciando que vai se suicidar._Namjoon perdeu a cor no mesmo instante que ouviu as palavras de Alekssandru. Então era isso? Assim que ele iria acabar com sua família?

—Lorencio foi atrás dela, mas não acredito que possa fazer algo muito útil.

—Vamos._Namjoon correu juntamente com Alekssandru pelas escadas que davam para a torre leste, a torre mais alta.

Quando chegou lá, Catarina tentava acalmar a filha que olhava para baixo com convicção. Ela estava sentada á beirada da janela com as pernas suspensas para fora.

Lorencio, também tentava fazê-la mudar de ideia. Era quase insano o que acontecia ali. O rei de Galarda olhava para sua filha e simplesmente não a reconhecia, parecia ter envelhecido e perdido o juízo. A mulher com quem se casara, chorava com o rosto tão pálido quanto o dele tentando convencer a filha entre soluços que não deveria fazer aquilo. Os dois soldados estavam apreensivos e enquanto Lorencio dava apoio á princesa Alekssandru tentava manter Namjoon acordado.

Até que ele percebeu que não tinha saída. Yoni estava indo mais pra fora da janela quando Namjoon finalmente disse algo.

—Yoni!_A garota ergueu o rosto, mas não virou para encarar seu pai.

—Preste bem atenção à minha morte e se sinta culpado por me ter tirado à vida.

—Não será necessário._Ela virou um pouco o rosto ensopado de lágrimas.

—Você pode se casar._Ele não conseguia completar “com Jungkook”. Era como se não mencionar esse pequeno detalhe fizesse tudo parecer menos pesado. Mas na verdade não. Sua filha estaria indo para a forca de todo jeito assim como de qualquer jeito ele seria o responsável pela morte dela.

Agora estava ali, observando a cena que tanto evitara se desenrolar. Jungkook ostentava um sorriso cínico de vitória. Uma raiva quase animal tomava conta de Namjoon e seu olhar foi ficando cada vez mais sombrio conforme a cerimônia acontecia.

Nem sequer percebeu quando o padre encerrou o casamento e os declarou marido e mulher. Mal ouviu as vivas dos presentes. Mas estava atento aos movimentos do guarda real. Ele tomou a mão de Yoni e levou-a até os lábios e então passou-as pelo seu braço acenando a todos com fingida simpatia. Namjoon apertou os olhos e cruzou os braços, sentiu tanto desprezo que teve vontade de acabar com a alegria de Jungkook ali mesmo, matando-o cruelmente na frente de todos.

Até que percebeu que ele queria a atenção, estava prestes a fazer um discurso.

—Senhoras e senhores, estou realmente honrado de tomar Yoni como minha respeitável esposa_aos poucos o burburinho no salão foi cessando até cair num silêncio total.

—Nesse dia tão especial, gostaria de anunciar algumas mudanças. A guarda real estará completa outra vez, com todos os seus membros. Exceto, é claro, pelos cachorros que a abandonaram para seguir filosofias duvidosas;_Jungkook lançou um olhar sugestivo para Namjoon que retribuiu intrigado._Além do mais, o Rei Namjoon II está oficialmente deposto do trono de Galarda. Eu serei o novo regente, minhas leis passam a vigorar a partir de agora._O burburinho recomeçou com força total. Namjoon simplesmente não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Naquele momento ele não pensou em nada, simplesmente voou para cima de Jungkook e lhe desferiu um golpe na face forte o suficiente para quebrar a mandíbula. Infelizmente, não quebrou. Catarina entrou em pânico e aprontou um berreiro. Namjoon agarrou Jungkook pela gola da veste e se aproximou do rosto do rapaz de modo que este conseguia ver nitidamente a insanidade em seus olhos.

—Seu demônio, fique longe do meu reino. Fique longe da minha família. Fique longe de mim. Se ousar tocar no meu trono, arranco suas tripas em praça pública._os lábios desenhados de Jungkook jorravam sangue, mas ele simplesmente puxou um papel do bolso da calça e entregou-o a Namjoon.

—Eu posso fazer isso. Não sou eu quem decidiu e sim a corte.

Namjoon olhou para o papel que estava em suas mãos, era um mandado oficial da corte dando o poder de regência à Jungkook e destituindo Namjoon.

Logo o rapaz se recompôs e olhou para o ex-rei de Galarda com desprezo.

—A partir de hoje Galarda será governada por mim, Jungkook I. Alvar, leve a rainha para o calabouço.

—Como assim?! Você não tem esse direito seu maldito._Namjoon se debatia nos braços dos inúmeros guardas que o seguravam. No fim, viu o que mais temia, sua mulher e sua filha sendo levadas dele.

—Namjoon,_ele prosseguiu olhando diretamente nos olhos do rei_joguem-no na rua, se alguém deste reino o acolher tomarei isso como traição e este deverá pagar com a morte.

Os guardas começaram a arrastar Namjoon pelo corredor a fora em meio a multidão que observava boquiaberta e horrorizada. Este por sua vez, se debatia desesperado até que gritou pela princesa que naquele momento era a única que podia ajudá-lo.

Os guardas pararam ao sinal de Jungkook. A princesa olhou para seu pai totalmente indiferente.

—Vai deixar que façam isso com seu pai?_Namjoon gritava desesperado;

—Acredito que se meu marido tomou essa decisão, então deve ser a certa meu pai.

Jungkook olhou com triunfo para o homem frágil que Namjoon se tornara, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto e ele se deixou ser jogado para fora do castelo.

Caiu com o rosto na lama, a chuva açoitando suas costas impiedosamente. Até que ouviu as portas pesadas do castelo ruírem até estarem completamente fechadas. Não tinha forças para se levantar, era como se tivessem tirado toda sua vitalidade e agora estivesse apenas vegetando. Realmente esperando para morrer. Um raio ecoou no céu e ali no chão de lama, Namjoon, o lendário conquistador de terras e fornecedor de armas caiu no esquecimento.