“Quando voltamos ao nosso lar sentimos a segurança e o conforto que ele nos proporciona. Mas quando algo está errado logo se percebe, porque aquele lugar é o lugar que você conhece mais do que a si próprio. Aquelas pessoas que agora caminham por suas ruas são as pessoas que realmente fazem desse local o seu lar.”

Tudo estava diferente em Galarda naquele dia. As pessoas andavam apressadas pela rua e muitas vezes o encaravam com desprezo. A guarda real também estava agitada. Assim que chegou ao castelo Namjoon percebeu o porquê.

—O que aconteceu aqui?_perguntou adentrando a sala de Jungkook.

—Oh, Vossa Majestade, nem acredito que já voltou!_respondeu em tom de deboche.

—Pois acredite que já voltei e estou a esperar por uma explicação plausível para o meu reino estar um caos.

—”Seu reino”? Hum, talvez não deva se referir à Galarda desse modo, até por que Galarda é nossa!

—Não me enrole.

—Fiz um pequeno discurso a nossa população, explicando sobre o ajuste feito pelo rei Namjoon II, em nossa lei de proteção contra saqueadores._Namjoon olhou para Jungkook confuso e logo depois percebeu aonde ele queria chegar.

—Que ajuste você fez?

—Bom, digamos que os pobres, salafrários, mendigos, bêbados, escravos, servos e qualquer um que não possa pagar uma boa quantia para a corte não mais terá a proteção da guarda real;

—Ficou louco? Essa é toda a população de Galarda.

—Exatamente. E foi por esse ajuste que agora tenho também o apoio de toda a nobreza e burguesia de Galarda; sabe, Namjoon, os ricos detestam pagar os custos dos pobres, o que eu fiz foi nada mais nada menos do que entregar a conta a quem ela realmente pertence, não é mesmo? Acho que já deu pra perceber que meu povo é diferente do seu.

Falando isso saiu da sala deixando Namjoon sozinho e atônito ao que acabara de ouvir. Até quando aquilo ia prosseguir? O rei de Galarda sabia que devia fazer algo, mas o quê? Estava de mãos atadas. Sabia muito bem do que Jungkook era capaz e em algum momento iria ter que lutar.

Sem pensar muito nas consequências de seus atos foi até o pátio da guarda real. Os cavaleiros e guerreiros lá concentrados caminhavam atordoados e assim que viram Namjoon um sussurro geral começou. Alguns deles sorriam em aprovação ao ajuste que Jungkook havia imposto em nome de Namjoon, outros por sua vez o olhavam com repulsa e era nesses que o soberano depositava sua confiança.

—Atenção, meus guerreiros._Namjoon ergueu sua mão direita e logo o murmúrio coletivo cessou._Hoje, venho comunicar que não foi realizada nenhuma mudança no código de leis de Galarda. Esse ajuste foi criado por Jungkook, que pelo visto quer disputar o trono com o atual soberano, eu. Aos amigos que estão comigo desde o começo de minha jornada aqui em Galarda, peço que continuem comigo. Aos que pretendem se juntar a Jungkook, larguem suas espadas e seus cavalos e vão. Se juntem a ele, mas não permaneçam no meu castelo._a voz de Namjoon era cortante o suficiente para que cada soldado ali estremecesse. Ainda receosos alguns deles largaram suas espadas e foram andando em direção a saída. Aos poucos, a maioria dos guerreiros foi saindo, um a um deixando o enorme pátio semivazio. Somente cinco soldados permaneceram.

—Vejo que vocês são os únicos homens com quem posso contar por ora._Um deles, baixinho de cabelos compridos e trançados, deu um passo a frente, fazendo uma breve reverência.

—Vossa majestade, eu sempre soube que sendo o homem que é jamais acataria que uma atrocidade dessas fosse realizada com nosso povo._O homem era jovem, mas o olhar em seu rosto era puro fogo. Os cabelos castanhos lhe conferiam ar de austeridade e convicção._Quando Jungkook anunciou o ajuste fiquei preocupado que talvez pudesse ter manipulado algo pra que saísse tudo conforme ele queria. Pelo jeito eu estava certo, e é um alivio saber que ainda estás ao lado de Galarda. Essa terra não perdeu sua esperança;

—Alekssandru, estou honrado em ter teu apoio, mas os cinco estejam cientes de que Jungkook é muito pior do que possam imaginar. Preciso que tenham certeza do que estão fazendo.

—Eu tenho absoluta certeza do que quero, Vossa Majestade._Se apressou Alekssandru.

Vendo a determinação do último, os outros quatro deram um passo a frente ficando lado a lado com Alekssandru.

—Alekssandru, Gregorius, Ramon, Lorencio e Miro. Vocês são a guarda real a partir de agora, e lembrem-se não houve nenhuma mudança em lei nenhuma. A proteção contra saqueadores permanece a mesma para toda a população.

Antes mesmo que os guardas pudessem responder ao rei ouviram passos ecoando pelo cascalho do pátio. O guarda real trazia uma expressão vazia e caminhava lentamente.

Namjoon o observou e ele olhou para cada um dos guerreiros.

—Miro, ladrão. Alekssandru, bêbado. Ramon, apostador. Lorencio, molestador de virgens. Por ultimo, mas não menos importante, Gregorius, escravo. Bela guarda Vossa Majestade. É assim que pretende declarar guerra a mim?

—Farei o que tenho que fazer.

—Muito bem, então vou declarar guerra do meu jeito._O rapaz saiu andando pelos portões do castelo ainda naquele modo calmo e inabalável. A guerra havia começado.

...

Jungkook subiu silenciosamente as escadas que davam nos aposentos da princesa Yoni. Bateu de leve na porta e logo foi autorizado a entrar.

—Digníssima princesa, seu pai pediu que lhe trouxesse algo para beber. Todos nós estamos realmente preocupados com Vossa Alteza, mal tem se alimentado e parece tão magra!

—Acredito que esteja exagerando, Jungkook. Uma princesa não deve comer muito, a propósito o rei Hoseok me achou esplêndida, sabia disso?_Com um sorriso o rapaz lhe entregou um copo grande de leite. Assim que a menina sorveu o líquido todo do copo, Jungkook se voltou a ela.

—A propósito, a princesa sabe latim, não sabe?

—O suficiente.

—Estava pensando se não poderia ajudar a esse pobre servo a decifrar a pronúncia das palavras nesse frasco._O guarda real entregou um frasco pequeno a princesa, que examinou com cuidado as palavras ali escritas.

—Vamos ver...

Assim que disse as palavras em voz alta sua visão ficou turva e logo estava inconsciente sob o olhar de Jungkook.

O guarda real deixou os aposentos da princesa e junto dela, seu decreto de guerra.