Os Três Reis escrita por Deusa dos Yatos


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Chegueiii trazendo mais um capítulo pra vocês!!
Finalmente nosso rei e o vilão se encontraram hein ahauhauhua
espero que gostem e boa leitura ♥



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“Aqueles olhos vermelhos não refletiam nada. Porém ele era todo sentidos; os piores que um ser humano poderia suportar. Era vazio e obscuro, como uma câmara abandonada já a muito tempo, mas  que quando a adentra sente suas garras lhe puxando para a escuridão e para a agonia. A sua volta nada ousava ter cor, nada ousava ser bonito, nada ousava ter vida perto daquele bruxo.”

 

Os sons do campo de batalha inundavam os ouvidos de Namjoon. Uma cacofonia de trotar de cavalos, metal chocando em metal, carne sendo cortada, pedregulhos rolando, gemidos e gritos desesperados. Embora estivesse imerso no inferno da guerra, sua mente estava em outro lugar.

Nunca fora um rei covarde. Quando assumiu o trono, sabia o risco que corria; sabia que teria que tomar decisões difíceis, que teria que lutar, teria que ser mais forte. Mas nenhum sentimento se comparava ao que teve quando encarou aquele bruxo.

Foi como se ele, apenas com o olhar, conseguisse sondar sua mente e ler seus pensamentos. Foi como se com apenas um olhar ele conseguisse arrancar seu coração. Esse medo pulsava em suas veias a cada momento em que se lembrava de Jin.

Ele seguiu avançando mais e mais para o castelo, como havia sido definido no plano de ataque. Originalmente ele deveria confrontar Jungkook, mas agora já não tinha tanta certeza sobre a culpa do mesmo. Depois que ouviu os relatos de Alekssandru pode ver perfeitamente tudo se encaixando, Yoni e Jungkook não passavam de peças de xadrez no tabuleiro de Jin. Mas, por quê? Qual era o objetivo dele?

Logo que o viu, mesmo à distância, definiu seu alvo. E ele o estava esperando, podia sentir isso.

Conforme combatia e cortava com sua lâmina, mais e mais guerreiros apareciam. Ele com certeza os estava esperando. A pior parte era que Jin, ou quem quer que fosse que estivesse por trás daquilo, não ligava a mínima para o reino. Não foi ordenado o levantamento da ponte, nem sequer o fechamento dos portões. Ninguém foi avisado sobre nenhuma possível invasão, nem que deveria se abrigar em local seguro. Quando finalmente conseguiu chegar à ponte de entrada do castelo correu a toda velocidade para dentro, abatendo cada um dos que cruzavam seu caminho; o desespero e o êxtase se misturando e criando formas em sua mente.

Havia meses que não via as pessoas do castelo, conforme adentrava o pátio arenoso percebia aquelas pessoas com quem convivia lutando para sobreviver de um modo quase frenético. Cozinheiros, criados, servos pessoais, soldados de elite, mercenários contratados, lavadeiras e até mesmo alguns nobres. Todos correndo num alvoroço, parecendo pequenas formigas em um formigueiro de caos.

Sentiu algo tocar sua mente. Uma brisa fina e repugnante. Olhou ao redor procurando aqueles olhos assustadores, porém tudo o que encontrou foi a balbúrdia ao redor do castelo.

Olhou para cima, na esperança de encontrá-lo em alguma das torres, mas só conseguiu visualizar os arqueiros e alguns soldados atirando com bestas. Correu para dentro do castelo e se sobressaltou quando ouviu uma voz firme e familiar orientando um grupo variado de pessoas.

—Aprendiz Liam, vá para as tendas médicas e mobilize o quanto puder de aprendizes e médicos que encontrar pelo caminho. Cozinheira Berta e Guido, ajudem os cadetes da guarda a agruparem e acalmarem as crianças._Num sobressalto Jungkook se virou e agarrou a primeira manga que encontrou_Você_disse se direcionando à um cabo da guarda pouco mais novo que ele próprio_Vá para a escolta da rainha e da princesa.

O cabo assentiu e correu para longe. Namjoon olhava para seu o guarda real boquiaberto. Assim que o viu Jungkook correu até ele, se ajoelhando logo em seguida.

—Vossa Majestade!

Namjoon queria chorar. Foi como se tivesse um peso a menos para suportar, saber que Jungkook não tinha culpa do que acontecera.

—Imagino que eu seja a causa de...tudo isso._Namjoon sentiu a voz do garoto tremer. Porém ele se levantou e o encarou com toda a dignidade que podia reunir dentro de si._Pretendo lutar a seu lado até que tudo acabe. Quando acabar, não me oporei caso queira me subir ao cadafalso.

Namjoon encarou o garoto que mantinha a posição respeitosa de um verdadeiro membro da guarda e que não hesitou em completar:

—Aguardo suas ordens, senhor.

Uma inesperada nostalgia tomara conta do rei de Galarda e ele se pegou quase sorrindo.

—Sir Jungkook!

—Sim, senhor!

—Não morra.

Jungkook arregalou os olhos para Namjoon que ainda o encarava sério. Depois de alguns momentos de silêncio, Namjoon passou por ele, deixando-o perplexo e agradecido.

—Sim, senhor!_sussurrou para si mesmo, quando o rei já corria em direção às escadas.

...

A Torre de Morfeu era a torre que Namjoon menos gostava. Aqueles pequenos toques em sua mente estavam ficando cada vez mais fortes, mais sentidos conforme se aproximava dela. A torre estava no sentido sul do castelo, revelando a vista dos picos e das florestas que rodeavam Galarda. Sempre que vinha ali à noite, enxergava figuras desformes lá embaixo e por isso achava que até mesmo Morfeu não conseguiria dormir se ficasse ali.

Quando chegou ao topo da escadaria em espiral, espiou a área da torre. Nada. Nem um sinal de que qualquer alma viva estivesse ali.

Ia se virando para ir embora, quando uma rajada de magia o atingiu de súbito. Ele sentiu sua cabeça se desmanchar em vários pedaços que não conseguiam se encaixar. Caiu de joelhos onde estava tentando respirar sem sucesso.

Seus olhos estavam queimando e de repente o alívio. Ar poeirento voou em seu rosto e com ele um cheiro rançoso de morte.

—Mal consigo acreditar no que está acontecendo aqui e agora._Jin olhava para fora da torre, muito além da natureza peculiar de Galarda. Era a primeira vez que Namjoon ouvia sua voz, mas era suficientemente gélida para saber que já a sentira antes. Em Jungkook e em Yoni.

—O que você quer de mim, seu demônio?

Jin soltou uma gargalhada amarga e se virou para encarar o rei. Ele era mais jovem do que Namjoon pensou que realmente fosse, os lábios fartos e rachados incrementavam a estranha beleza do desertor.

—O que quero de você?_Ele pareceu ponderar por algum tempo e depois de alguns minutos finalmente tomou uma decisão_Quero sua felicidade, Namjoon II. Quero seu gosto pela vida. Quero sua esperança e sua fé, quero o amor, quero a perseverança, quero a determinação. Vou tirar tudo isso de você, bem devagar, e quando eu terminar quero que sua alma seja caos e trevas.

Nisso o feiticeiro moveu suas mãos num gesto amplo fazendo com que brisa gelada invadisse Namjoon novamente, a dor e o medo crescendo substancialmente em seu interior.

—Você se acha um rei incrível, não é mesmo? Namjoon: o benfeitor supremo_Jin disse com escárnio.

Namjoon tentou levantar o rosto, mas as agulhas que se fincavam em cada um de seus músculos o atrofiaram como o veneno de uma víbora que paralisa a presa antes de matá-la.

—Você me causou desgraça e dor e ainda tem a capacidade de achar que não merece tudo o que está acontecendo.

Jin soltou uma gargalhada e seus olhos se estreitaram até se tornarem apenas dois riscos no rosto marcado pelo sol.

—Você... não é... humano_a boca de Namjoon parecia cheia de palha, por isso sua voz saiu arrastada e rouca;

—Vossa majestade, tem toda razão_dessa vez Jin se materializou na frente do rei de Galarda e agarrou seu pescoço levantando-o do chão._Eu desisti da minha condição humana há muito tempo só por este momento.

Então, como se as agulhas se tornassem adagas, o corpo do rei de Galarda pulsava com a dor latente que Jin o impunha. Sentia-se zonzo e débil, Jin parecia envolto em brumas e fumaças, totalmente instável. De repente estava no castelo, e era apenas uma criança, a cicatriz acima do olho pingava sangue e latejava, enquanto cavaleiros de preto vinham em sua direção com machados grandes e sujos de sangue. O campo de batalha, Yoongi sendo torturado e Hoseok já morto; Catarina e Yoni gritando inumanamente presas por correntes grossas.  Tudo o que ele conhecia era cuidadosamente vasculhado e corrompido por Jin.

Quando já estava no limiar da consciência, o sopro de vida que ainda lhe restava queimava como brasa em seu peito. Ele se agarrou aquela chama ardente e encarou os olhos vermelhos de Jin.

—Você... não pode... sujar minha alma._dizendo isso o aperto na garganta de Namjoon afrouxou um pouco e logo ele caiu quase inerte no chão.

Quando ergueu a cabeça para localizar o feiticeiro, este o encarava com uma expressão de fúria, muito diferente do sarcasmo e do escárnio de alguns minutos antes. Namjoon sorriu um pouco e de dentro da armadura que usava puxou um pequeno cordão com um frasco na ponta. Dentro do pequeno recipiente notavam-se alguns fios de cabelo aloirado.

—COMO OUSA NAMJOON II?

—Você me subestimou bruxo. Eu sou o rei dessas terras e nada me passa despercebido. Você é tão descuidado que nem sequer se lembrou do cabelo que retirou de sua cabeça logo após a morte de seu mestre, faz parte do ritual não é mesmo? Porém acredito que seu mestre nunca lhe disse para que servia. Esse cabelo representa o primeiro fluxo de magia que recebeu em seu sangue e quando separado de seu portador se torna nocivo ao mesmo. Eu não sou tão idiota a ponto de lutar contra uma criatura como você sem um amuleto.

—Como conseguiu isso?

—eu tenho olhos, ouvidos e mãos dentro do meu reino. Logo logo meus dedos e minha lâmina vão lhe alcançar também, por isso esteja preparado.

Enquanto rei e feiticeiro se enfrentavam, um soldado baixinho e musculoso carregava um imenso machado nas costas, coordenando um punhado de soldados furtivamente por algum canto próximo às terras de Galarda. Olhou para o portão antigo e já tomado pelas plantas e heras, então sorriu e deixou a sensação de missão bem sucedida invadir seu espírito.


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