“Talvez seja bom ter alguém com quem compartilhar. Compartilhar toda a vida ou somente um segundo, compartilhar o verão inteiro ou um único entardecer. Ver a vida por uma janela sem participar da festa é uma tarefa cruel, mas que opção tem os pobres diabos que vivem como sombras e que assim que a luz se vai desaparecem sem deixar relatos?"

Yoongi pressionou as têmporas e abafou um rugido de raiva, aquilo definitivamente não estava dando certo. Namjoon, Hoseok e ele passaram a noite em claro discutindo os planos de contra-ataque, porém não chegaram a um consenso. Namjoon estava extremamente afetado pelo cárcere de Catarina e Yoni por isso suas táticas de invasão eram baseadas em cautela, o que, para Yoongi, significava rendição. Hoseok se limitou a escutar as propostas dos amigos e encará-los com cara de reprovação. Na verdade era perceptível que ele estava perturbado, havia deixado Sir Taehyung em Ophélia e trazido consigo a noiva, princesa Arian. A garota parecia de plástico e Yoongi respirou fundo várias vezes a fim de não ser grosseiro com ela. Enquanto estava na presença de Hoseok, ela era uma dama fina e requintada, mas pelas costas ela maltratava os servos do castelo e os soldados da guarda, além de fazer várias piadinhas pejorativas sobre o povo de Denver. Yoongi realmente precisava ter uma conversa séria com Hoseok sobre ela.

Por um momento, em seus devaneios, lembrou-se do quanto Sir Jimin fazia falta para esses tipos de tarefas. O rei de Denver só se recordava de uma vez que as estratégias de Jimin falharam e isso só aconteceu por conta de um espião que revelou seus planos ao inimigo.

Fechando os olhos ele sentiu a brisa matinal entrar pelos grandes janelões do salão real, até que escutou o trote de cavalos e vozes alteradas. Revirando os olhos, levou instintivamente a mão à espada na cintura esperando pelas novidades.

Quando as portas do salão se abriram o susto que tomou o tornou ainda mais pálido do que costumava ser.

Alguns guerreiros de Galarda entravam evasivamente salão adentro acompanhados por Sir Taida, o substituto de Sir Jimin.

—Em quê posso ajudá-los, meus companheiros de Galarda?_Um deles alto e muito bronzeado fez uma reverência em sinal de respeito.

—Vossa Majestade, Yoongi I, viemos até Denver com o intuito de aprender. Nosso rei está sendo pressionado pelos cidadãos devido aos danos que o rio Zardren vem causando com suas cheias. Sabemos do prestígio que Vossa Majestade carrega por suas brilhantes obras de engenharia e humildemente viemos pedir vossa ajuda.

Yoongi olhou para os guerreiros a sua frente, nenhum deles parecia interessado em obras de engenharia. Com certeza, Jungkook sabia sobre Namjoon e os enviara ali atrás dele. Sorrindo de uma forma que lhe pareceu natural ele respondeu ao porta voz do grupo:

—Será um prazer ajudá-los! Mas acredito que levará tempo até aprenderem tudo o que devem aprender...

—Nós não temos pressa Vossa Majestade!_Yoongi não gostou nem um pouco do corte. Seu mau humor estava crescendo e isso despertava o Yoongi carrasco dentro dele. Em poucos minutos, sem que se desse conta, estava imaginando em como o guerreiro bronzeado ficaria perfeito em sua câmara de tortura ou empalhado em algum canto do castelo.

—Muito bem, que seja então!_ele respondeu com um olhar felino_Sir Taida, leve os guerreiros para os aposentos.

Assim que se viu sozinho no grande salão, Yoongi partiu em direção a ala oeste onde Namjoon se encontrava. Porém chegando ao quarto em que ele estava instalado se surpreendeu em achar somente uma cama vazia totalmente bagunçada e um amontoado de livros espalhados de forma desordenada pelo quarto.

...

Namjoon corria pelos corredores em busca de uma abertura de onde pudesse ter vantagem. O castelo de Denver era dez vezes maior que o de Galarda, cada corredor se ramificava em novos corredores cada vez mais estreitos e menos iluminados. Ele procurava por um caminho mais afastado por onde pudesse sair do castelo ou tivesse mobilidade suficiente para um ataque. Porém, de um dos capilares estreitos por onde estava passando saiu em um corredor largo e cheio de colunas muito altas. A frente do corredor se encontrava um enorme portão de ferro, dois guardas estavam caídos à sua frente, porém respiravam.

Um nó se formou no estômago do rei de Galarda ao perceber que os cadeados do portão estavam destrancados. Aproximou-se o suficiente para ouvir sussuros vindos de dentro da câmara.

Então empurrou o grande portão que rangeu de uma forma assustadora. A mulher que lá estava se sobressaltou, ela empunhava uma espadilha e tentava focar o olhar em quem acabara de entrar no aposento. A iluminação ali era extremamente precária, mas Namjoon conseguiu distinguir outros dois guardas caídos no chão sujo.

—Quem é?_A mulher sibilou ainda apontando a espadilha para Namjoon.

—Sou eu, Namjoon, rei de Galarda.

—O que você quer?

Namjoon não respondeu, porém reconheceu a voz daquela mulher. Era a rainha de Denver, Beatriz. Atrás dela havia um homem, provavelmente um prisioneiro.

Foi então que realmente se deu conta do que acontecia ali, aquela era uma sala de tortura. Namjoon tentou fixar os olhos no rapaz ajoelhado no centro da sala e quase não acreditou no que viu. Sir Jimin estava muito machucado, era evidente que sua vida estava por um fio.

—O que está acontecendo aqui, rainha?

—Se disser algo do que viu á Yoongi, eu mesmo me encarregarei de tomar sua cabeça, Namjoon II.

Com passos cautelosos ele se aproximou, Beatriz se levantou e avançou indo de encontro a Namjoon, que levantou as mãos em sinal de paz.

Era quase impossível reconhecer o guarda real de Denver, o corpo geralmente musculoso estava magro e judiado. Os cabelos castanhos e curtos estavam grudados na testa ensanguentada, os lábios fartos rachados. O olhar sempre expressivo estava tão apagado quanto às luzes do recinto.

—O que fizeram a ele?

Parecendo cair na realidade em que estava Beatriz caiu no choro outra vez. Ajoelhou-se ao lado de Jimin e voltou a limpar suas feridas com um pano úmido.

—Tudo isso só está acontecendo por minha causa. Parece que sempre que amo alguém, faço essa pessoa sofrer. Como vê neste caso não é diferente.

—Eu não entendo o que quer dizer.

—É Yoongi quem o está mantendo assim, por minha causa. Eu o amo e não à Yoongi. Como deve saber, nós as princesas somos sempre escolhidas por nossos futuros maridos, mas ninguém nos pergunta se queremos ou não este casamento. No meu caso eu não queria, eu nunca quis. Porém achei que este era o meu destino e o aceitei com resignação; quando cheguei a Denver e vi este bravo guerreiro não pude deixar de me sentir atraída por ele. Seu senso de aventura, seu jeito galante e cortês isso sem contar o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha vida. Sem me dar conta do que estava acontecendo eu já estava apaixonada por ele e não me contive quando ele disse que também me queria e que podíamos fazer isso dar certo. E olha como terminou.

Namjoon conseguia imaginar a dor de Beatriz, afinal sua esposa Catarina também estava presa em um lugar escuro sofrendo sabe-se lá quais danos. Pensar nisso encheu seu coração de ódio e amargura.

Catarina o amava, disso ele sabia. E era desse amor que retirava as forças para continuar lutando. O curioso foi que quando procurava uma esposa, ela foi até ele. Ela o encontrou e assim que a viu seu coração se encheu de júbilo. Tudo o que queria era tomar-lhe como esposa, pois era a mulher mais linda que jamais tinha visto.

Ao olhar Beatriz chorar por seu amado sentiu-se desamparado e inútil, porém sabia que Yoongi também deveria estar sofrendo e a forma como demostrava isso era realmente bruta.

—Eu queria poder libertá-lo, mas se fizer isso ele não vai descansar até que um de nós esteja morto. Por mais absurdo que pareça, enquanto ele estiver aqui pode ser que sobreviva. Eu tenho fé que Yoongi vai libertá-lo enquanto eu me manter longe.

Namjoon levantou abruptamente e se dirigiu para as portas de ferro decidido.

—Rainha Beatriz, não se esqueça de trancá-las quando sair._Ele virou-se e com um meio sorriso despediu-se de Beatriz disposto a enfrentar o perigo.