Os Três Reis escrita por Deusa dos Yatos


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa minha gente!!
não deu tempo de postar semana passada, mas tô aqui com capítulo novo! Espero que gostem e boa leitura! =^.^=



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“E esses pesadelos invadiram a vida que parecia tão doce. Portas abrindo e fechando, janelas batendo por conta do vento, passos e gritos. E depois silencio. O silencio que duraria a eternidade.”

 

O casebre de dois andares na ruela das estações estava em festa. Donardo e Esme Turner festejavam a chegada do mais novo integrante da família: um menininho de aspecto sagaz, olhos castanhos escuros e cabelo alourado e comprido. Jungkook, o filho mais novo, ficara encantado por ter com quem brincar.

—Jungkook, esse é Jin. Ele vai morar conosco agora e será seu irmão.

Donardo deu um tapinha leve nas costas do garoto que se limitou a encarar o chão;

—Jin, você quer brincar comigo?

O garotinho ergueu o olhar para seu irmão mais novo. Ele era muito pequeno e pálido, com certeza não duraria uma semana no orfanato.

Estava aliviado por ter uma casa onde morar que não fosse aquele manicômio. O orfanato Pupila dos Anjos era o pior pesadelo para uma criança órfã, Jin se lembrava das surras que tomava diariamente das orientadoras sempre agravadas por sua falta de disciplina e desrespeito as regras. Ele era um dos mais velhos do orfanato e com isso sentia mais ainda as penas daquele local. Nunca lhe contaram como chegara até lá e aquela era a única realidade que conhecia.

Talvez por falta de verbas, talvez por negligência das orientadoras, a comida faltava. As acomodações também eram precárias para as crianças, os mais novos dormiam em colchões de palha gastos e cheios de pulgas, enquanto que os mais velhos se acomodavam no chão gelado de pedra. Eles tinham algumas aulas básicas de manhã e, na maior parte da tarde e da noite, trabalhavam nas hortas e na limpeza do casarão que parecia nunca ter fim.

As duas cicatrizes no braço direito de Jin eram as marcas do dia em que se recusara a acatar o toque de recolher.

As crianças ao seu redor estavam totalmente adormecidas, provavelmente exaustas pelo dia de trabalho árduo, porém parecia que o manto do sono havia esquecido de recair sobre ele, que então resolveu desenhar pipas ornamentadas num caderno velho que escondia das orientadoras. Até que de súbito a porta se abriu num estrondo e de lá a orientadora Lida adentrou o quarto com seu passo pesado. Seus quase 200 quilos faziam qualquer criança que cruzasse seu caminho querer desintegrar e virar poeira antes que a punição ocorresse.

Jin não a conhecia muito bem naquela época, a coordenadora de seu dormitório, a orientadora Nádia, era uma mulher medrosa que estava sempre arrastando o nariz no chão para seus superiores, mas que não sentia mais que desprezo pelas crianças.

Lida era muito diferente, ela era uma mulher cruel que se divertia com o choro de uma criança. Jin se sentou em trapos que eram para ser suas cobertas. Ele despontou entre os outros internos como um farol no meio do mar obscurecido pela noite.

Mal abrira a boca quando um chicote cortou dois pontos de seu braço e a dor lancinante correu e se espalhou até a clavícula. Ela cuspiu um “volte a dormir, verme” e saiu do mesmo jeito que entrara. Jin podia ouvir a respiração pesada e o medo dos que acordaram com a cena, ninguém se mexia um centímetro e o dormitório parecia tremer como uma construção medrosa.

Ser adotado e levado para longe dali foi uma surpresa. Agora tinha uma família, pais e irmão. Aquilo era tão bom que nem parecia ser com ele mesmo; Donardo tinha desocupado um quarto só para ele com uma cama confortável. Esme era sargento e passava muito tempo ocupada com a guarda real, mas sempre que estava em casa fazia biscoitos de leite e contava histórias antigas de bruxos e reis para que Jin e Jungkook dormissem.

Em todo tempo que ficara com os Tuners, Jin se afeiçoara mais ao irmão mais novo, Jungkook.

Eles sempre soltavam juntos as pipas que Jin fazia. Jungkook ficava admirado com a habilidade de Jin para desenhar e dar vida a lindas obras de arte que, muitas vezes, acabavam perdidas no céu. Eles brincavam até tarde, quando o pai os chamava para dentro.

Até que um dia o que parecia o paraíso se tornou o inferno. Era um dia estranho de outono, o sol estava fraco por entre nuvem feias. Os garotos brincavam na cozinha da casa quando ouviram pessoas socando a porta da frente. Donardo correu até a cozinha e disse para os meninos subirem para os quartos.

Os dois foram para o quarto de Jin e ficaram escutando o pandemônio acontecendo no andar de baixo, passos, muitos passos soando dentro da casa e vozes alteradas. Jin pode ouvir a voz do pai gritando agonizante, então tapou os ouvidos de Jungkook que estava agarrado em sua camisa e tremia convulsivamente.

Ele fez um gesto para que se escondessem debaixo da cama. Não ouviram mais a voz do pai.

Pela fresta onde eles estavam viram uma bota pesada entrar no quarto suja de sangue. O homem parou e pareceu hesitar por um momento, foi interrompido por outro oficial:

—Nada aqui também?

—Nada.

—Menos mal, achei que tivessem filhos. Já demos cabo da mulher e do homem, mas não fico confortável matando crianças.

—Tudo por Vossa Majestade e por Vossa Alteza.

—Você realmente acha que isso está certo? A sargento Turner não era má pessoa, ela jamais deixaria que uma criança se machucasse daquele modo.

—Eu não dou ordens, só cumpro. Você sabe como o rei mantém o príncipe Namjoon, age como se o garoto fosse de vidro. E o garoto também é inconsequente, ele foi até aquele penhasco por vontade própria, a sargento salvou a vida dele. Mas é como dizem: “o rei sedento de sangue, aproveita as menores cenas para se satisfazer”.

—De qualquer forma, está terminado. Vamos sair daqui, antes que alguém venha.

Os oficiais saíram, deixando os dois com o coração martelando nos ouvidos. Assim que escutaram a porta da frente se fechando saíram do esconderijo e com cuidado desceram as escadas. O chão de linóleo claro empossava sangue escuro e pegajoso e no meio daquela lagoa negra o corpo de Donardo Turner jazia sem vida.

Jin se sentou na escada tremendo e ouvindo o choro de Jungkook, o medo crescendo dentro do peito. Ele estava sozinho de novo.

...

Caminharam por dias a fio. Depois do assassinato brutal dos pais, o primeiro reflexo de Jin foi pegar o quanto conseguisse de comida e sair dali com Jungkook, não conseguia nem imaginar a possibilidade de voltar para o orfanato.

No caminho encontraram uma garota baixinha e loura que os levou para uma cabana caindo aos pedaços. Lá, a avó da menina os acolheu e deixou que ficassem. Eles trabalhavam junto com Jilian, a garota loura, na decadente plantação de milho e o resultado vendiam na feira do reino. Aos poucos, se adaptaram aquela vida e logo se sentiam em casa novamente. Nos tempos de calor, os três tomavam banho no riacho em frente à propriedade enquanto vovó ficava sentada na varanda se abanando com um leque antiquado.

Já crescido, Jungkook foi até a feira de Galarda e lá encontrou o novo rei, Namjoon II, que prometeu levá-lo para o castelo como integrante de sua guarda. Quando Jin soube da noticia, tentou impedi-lo, tentou detê-lo de todas as formas que conseguia imaginar. Jungkook podia não se lembrar de quem Namjoon era, mas Jin se lembrava muito bem. A conversa entre aqueles oficiais jamais saíra de sua mente, Namjoon era a causa da morte de seus pais.

Sem escutar Jin, Jungkook partiu para a corte a fim de melhorar a situação para todos eles, e, principalmente, para ter dinheiro para se casar com Jilian um dia.

Jin sentia como se tivesse perdido um membro de seu corpo sem Jungkook. A vida não parecia tão boa quanto antes e foi assim, que inocente e brilhante a magia sorriu para ele e depois mastigou até o ultimo resquício.


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