Girl escrita por Swimmer


Capítulo 2
O dia que confiei num garoto louco




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Sem mais delongas, eu disse que a nossa história começava com um guarda-chuva. Na verdade, o guarda-chuva nem tem muito a ver. Como toda quinta-feira, eu e minha melhor amiga, Alice, estávamos voltando do curso de inglês. Sim, era no SENAI (eu disse que ia ser sincera).

Alice é loira, tem olhos castanhos e é bem alta, já eu, tenho a pele morena e quase sempre uso o cabelo natural, cacheado (lê-se cacheado mesmo e não com algumas ondas). E não achei uma maneira menos fanfic nerd X popular de dizer isso, lamento.

Era junho e estava chovendo, então eu carregava meu belo guarda-chuva rosa. Queria deixar claro que foi minha mãe quem escolheu a cor.

A casa da Alice não era realmente perto da minha, então, depois de dez minutos andando, paramos para nos despedir. Estávamos num bairro perto do centro, e um caminhão de mudanças estava parado na frente de uma das casas e isso chamou minha atenção. Cinco garotos descarregavam a mudança, mesmo na chuva, que não estava forte naquele momento, correndo.

—Disfarçadamente, olha pro outro lado da rua - sussurrei.

Ela se virou e definitivamente não disfarçou.

—Ô, lá em casa – ela disse. É, Alice nunca soube disfarçar.

Um dos garotos olhou para nós, dei um tapa nela e gritei a primeira coisa que me veio na cabeça:

—Bela casa! – sorri.

Ele assentiu e voltou ao que estava fazendo.

—Eu vou matar você – sussurrei pra ela, rindo, e fui embora.

Andei até em casa, mas peguei chuva, já que meu amado guarda-chuva era pequeno demais, e ganhei um belo resfriado.

Na manhã seguinte, acordei às seis e meia, me arrumei e fui para escola. Não vou detalhar essa parte, vocês sabem como as pessoas se vestem. Já tinha parado de chover e, quando cheguei lá, o sol brilhava tanto que parecia me desafiar a continuar resfriada. Não rejeito um desafio, querendo ou não.

A primeira aula foi ruim, a segunda péssima e na terceira eu dormi. Saí para o intervalo com Alice e fomos sentar no lugar de sempre e esperar o Artur, nosso outro melhor amigo. Ele é dois anos mais velho que a gente e está no último ano.

—E aí, vadias? - ele se sentou entre nós.

—Cadê a comida, Artur? Sabe o que isso significa, não sabe? - Alice tentou parecer séria.

—Vai comprar, folgada. Pareço seu empregado?

Revirei os olhos para a briga dos dois e passei a observar a fila da comida. Eles tinham essa mesma briga todo dia.

—Sabe que não pode andar com a gente se não me alimentar! - Alice reclamou.

—Vai ver se eu tô na esquina...

—Gente - arregalei os olhos. Só podia ser coincidência.

Claro que não era, mas você já sabia disso.

—Vocês vão na festa do Edu, né? - Artur perguntou e tirou duas barrinhas de cereal da mochila, dividiu uma no meio e deu para nós.

Eu tinha esquecido completamente. Naquele momento eu já tinha parado de prestar atenção neles, mas vou explicar.

Artur não deveria levar a mochila para o intervalo, mas agora isso fazia sentido, já que era véspera do aniversário do Eduardo, o namorado do Artur, e eles sempre matavam aula quando um dos dois fazia aniversário. Por isso, ele faria uma festa no sábado, festa da qual eu tinha esquecido completamente.

O garoto que eu estava olhando percebeu o que eu estava fazendo e eu desviei o olhar, checando muito discretamente se não havia baba no meu rosto.

—Desde quando ele estuda aqui? - perguntei para os meus amigos.

—O Edu? Desde sempre? – Artur riu, me olhando como se eu fosse louca.

Alice se virou e procurou o que eu tinha visto.

—Ela tá falando daquele guri moreno olhando pra cá. Não é o mesmo que a gente viu ontem, na frente daquela casa?

—Acho que sim – falei. – Espera, olhando pra cá?

—Ah, ele tá na minha sala, entrou hoje. O nome dele é Leandro... vai que é seu, Soph... – Artur pegou o celular.

—Ele é bonito. Acho que me viu encarando ele...

—E daí? Sabemos que ele tem uns amigos lindos, então super apoio vocês namorarem e ele me apresentar pra um deles – Alice falou, olhando pro nada.

—Meu Deus... – murmurei rindo.

—Espera – Artur se levantou e não tive tempo de pensar em impedir o que ele pretendia fazer – Leo, vem cá – ele gritou.

—Qual é o seu problema, Artur?! – sussurrei e tratei de disfarçar a expressão espantada.

Sério, odeio o Artur.

—Artur, né? – Leandro perguntou.

—Sim. Sabe o Edu, que estava falando com você na primeira aula? Ele vai dar uma festa amanhã e falou pra te convidar... tenho que ir agora, mas... Essa é a Sophia e essa é a Alice – ele apontou pra gente – deixa seu número com elas e eu te mando o endereço mais tarde, beleza?

O garoto pareceu confuso por um instante mas assentiu. Já eu, devia estar bem parecida com um pimentão.

—Beleza. Temos que ir pro auditório agora, não é?

Olha só! Mais uma coisa que eu tinha esquecido! O grupo de arte da escola ia se apresentar hoje, então não teríamos as duas últimas aulas. Quase pulei de felicidade, mas lembrei que estava tentando parecer normal e me segurei.

—Garoto novo... tudo bem. As duas aí vão te mostrar onde fica o auditório, eu não vou – Artur deu de ombros e se virou pra mim. – Se joga— ele murmurou sem som e deu a volta, trocou um soquinho com o Leandro e saiu.

—Hum... olha a hora! Preciso ver se a Clara vai querer aquela coisa – Alice falou de um jeito nada convincente.

—É claro que precisa – murmurei depois que ela saiu. – Bom, parece que você está preso comigo.

—Tudo bem – ele ficou me olhando por um tempo. – Sophia, né? Só por curiosidade, você mora com seus pais?

É claro que eu achei estranho. Mas o que posso fazer, o garoto era realmente bonito.

Ahn... com a minha mãe, e você?

—Com uns... amigos.

Resolvi não perguntar e disse que precisava pegar minha mochila antes de irmos pro auditório e ele foi comigo, fazendo perguntas estranhas. Quem pergunta pra alguém que acabou de conhecer se a pessoa conhece o pai? Achei que devia parecer louca, por que ele perguntou se eu andava vendo coisas estranhas.

Nós conversamos bastante e ficamos amigos, já que falamos sem parar durante as apresentações. Perdi a conta de quantas vezes a diretora nos olhou feio.

Alice sumiu e não vi mais ela naquele dia. Conversamos por mensagem à noite e também falei com ele. É clara que não foi nada útil, mas descobri que ele falava inglês e fiquei mandando piadas idiotas.

No sábado, Alice passou na minha casa para irmos juntas para a festa do Edu. Acabamos nos atrasando porque ela colocou música alta e eu fiquei cantando junto ao invés de me arrumar. Quando finalmente saímos, já tinha passado mais de uma hora do horário marcado.

Da esquina dava pra ouvir a música lá dentro. Edu estava maravilhoso, como sempre, e assim que nos viu, colocou copos de bebida em nossas mãos. Mais ou menos à meia-noite, nós estávamos dançando feito loucas quando comecei a espirar e me sentei no sofá para respirar um pouco.

Peguei outro copo de bebida, Leo se materializou na minha frente e pediu para falar comigo. Andamos até o lado de fora e eu me sentei numa cadeira de balanço da varanda.

—Fala, Leo – cruzei os braços.

—Ahn... então...

—Desembucha, logo – mordi o doce que eu tinha pegado.

—Lembra quando me disse que tinha lido Percy Jackson, ontem? – ele perguntou.

—Lembr... ai meu Deus, o que é aquilo? – me levantei e apertei os olhos.

Talvez eu estivesse meio bêbada, mas eu poderia jurar que vi uma forma estranha na esquina da casa. Comecei a andar na direção daquilo, até sentir Leo puxando meu braço.

—Presta atenção, você não queria ser uma semideusa e ir pro Acampamento e tal? Parabéns, você conseguiu isso! Mas confia em mim, nós precisamos ir. Agora – ele me encarou, sério.

É claro que eu conhecia o cara há pouco mais de vinte e quatro horas e ele podia ser um maníaco, um serial killer ou pior... mas eu agarrei o braço dele e o segui correndo pela rua.


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