O do contra. escrita por Mical


Capítulo 2
Eu detesto Oliver Queen!




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— Faça de novo. – Oliver ordenou sem ao menos ler o que eu tinha escrito.

Eu queria questionar, eu até abri a boca para perguntar o que tinha feito ele recusar tão rápido um documento que ele mal olhou e que eu havia levado horas digitando. Mas eu fechei a boca com a mesma rapidez que abri. Não se pode questionar nada do que o Sr. Queen mandar você fazer, Felicity, apenas faça! E eu já havia quebrado essa regra uma vez em torno de uma semana e meia atrás quando fui apresentar o conteúdo do notebook baleado para o Oliver:

" – Olha, Sr. Queen, eu não quero me meter no meio de um drama familiar Shakespeareano. – falei fazendo círculos com as mãos.

No que Oliver Queen havia me metido? Primeiro, ele não sabe nada sobre as informações contidas no notebook que ele disse que era dele. Segundo, aquele notebook continha mapas do local que haveria um leilão importante àquela noite. Eu é que não queria ser colocada como cúmplice do Queen, seja lá o que ele estiver planejando.

Afastei o teclado de mim e cruzei os braços, me recusando a continuar a fazer aquela tarefa suspeita.

— Um. – Oliver falou me encarando com a feição séria.

Oh, merda. Voltei a trazer o teclado de volta para perto de mim e comecei a procurar mais informações. Se ser cúmplice do Queen significava ter um emprego, então eu era cúmplice do Queen."

Se eu discordasse dele três vezes, eu poderia dar adeus à possibilidade de trabalhar com qualquer coisa na QC. Isso não seria problema nenhum, se não fosse o fato de que eu precisava desse emprego para viver. Por esse motivo, eu passei um zíper na minha boca para não correr o risco de falar alguma besteira e dediquei à próxima meia hora da minha vida àquele relatório, até que ouvi a porta do elevador abrir:

— Bom dia, Felicity. – Diggle cumprimentou ao entrar.

— Bom dia, Dig.

Ah, Diggle! Nessa uma semana e meia que eu estava como secretária temporária do Oliver cretino, a minha salvação era o Diggle. Em um curto período de tempo já tinhamos nos tornado super amigos, vez ou outra ele ia jantar na minha casa e nós passávamos horas falando mal do Queen.

— Como está o dia, Felicity?

— Tudo otimo. Oliver já está me dando nos nervos e eu já cogitei duas vezes a possibilidade de arrancar a cabeça dele. Normal. – forcei um sorriso.

— Você detesta tanto ele que vai acabar se apaixonando. – debochou.

Levantei uma sobrancelha.

— Sou inteligente demais pra fazer uma burrice dessas. – murmurei. – Eu posso ser loira, mas nem tanto.

Diggle riu enquanto entrava na sala de Oliver, e eu o segui. Depois de um parágrafo digitado eu queria ter certeza que Oliver aprovaria o pouco do que eu já tinha escrito. Eu já estava começando a aprender a lidar com ele.

— Sr. Queen...

— Srta. Smoak, dê um tempo desse relatório... – ele me interrompeu.

Gloria a Deus!

— ... Vá na cafeteria, preciso de um café forte. – continuou.

Estava bom demais para ser verdade... Pigarreei para chamar atenção.

— O senhor pode dar uma olhada no relatório? Eu gostaria de saber se o que já escrevi é da sua aprovação.

Oliver pegou o papel da minha mão com raiva assim que eu estendi pra ele. Olhei perplexa ele amassar o papel e jogar na lata de lixo sem ao menos olhar.

— Se você demorou horas para fazer aquele péssimo relatório. Esse deve ter ficado pior, já que você levou apenas minutos. – bufou de raiva.

Cretino infeliz!

Não pude evitar a raiva que me subiu com a falta de consideração do meu chefe. Movi a cabeça lentamente para Diggle com o meu melhor olhar de "Me tire daqui antes que eu vá presa por engasgar bilionários insuportaveis". E ele entendeu o recado mudo.

— Vou na cafeteria com a Felicity. – anunciou.

— Não lembro de ter te dado permissão para isso. – o Queen resmungou.

— É porque eu não pedi permissão. Quero ver você tentar me impedir.

Ponto para Diggle! Como é que ele conseguia desafiar o Queen sem ser demitido? Talvez ele pudesse me ensinar o segredo.

Andei apressada para o elevador com a melhor cara de bunda que conseguir fazer. Não dê um chilique na frente do Queen. Não dê um chilique na frente do Queen. Não dê um chilique na frente do Queen. E os números do elevador passavam devagar. Não dê um chilique na frente do Queen. E eu apertei o botão mais uma vez. Não dê um chilique na frente do Queen. Não dê um chilique na frente do Queen. E finalmente o elevador chegou! Eu mal esperei as portas se abrirem totalmente antes de pular para dentro da caixa de aço.

— Eu odeio esse maldito Queen! – gritei para as paredes quando as portas do elevador fecharam.

— Felicity... – Diggle levantou os braços tentando me acalmar.

— Você viu o que ele fez? Ele jogou o relatório no lixo sem nem ao menos ler. Eu estou a manhã inteira fazendo isso!

— Felicity...

— Eu vou matar ele. – sibilei entre dentes. – Juro que só falta 1% de paciência em mim. Quando acabar eu vou engasgar ele, cortar ao meio, tirar a carne, fazer empada e vender na rua.

Movi as mãos como se o Queen estivesse na minha frente. Ah, sim, a ideia de fazer empada do Oliver era tentadora.

— Você está estressada. – Diggle concluiu.

— Estressada? – ironizei. – Eu estou uma semana e meia trabalhando para o diabo que parece que tem o prazer de discordar de absolutamente tudo o que eu falo. Você já viu o Oliver concordar comigo em alguma coisa?

Diggle me lançou um olhar aborrecido, mas ele sabia que eu tinha razão...

— Fora que eu pareço uma aeromoça. – continuei. – Nada de saias rodadas, nada de blusas coloridas, nada de cabelo solto, nada de batom vibrante.

No mesmo dia em que fui contratada, Oliver teve o prazer de desprezar quase todas as minhas roupas. E ele nem precisou de muito para isso, ele só disse "apareça aqui com roupa de criança ou com qualquer cor que não seja preto, cinza e azul e considere-se sem emprego.". Eu tive que literalmente ir às compras naquele dia, meu guarda-roupa estava cheio de terninhos. Três dias depois Oliver encontrou um cabelo loiro em cima da minha mesa e disse: "Se eu encontrar outro desses por aqui, pode se considerar sem emprego". Agora eu só ia trabalhar de coque e com aquelas redinhas de aeromoças. Mesmo assim eu agradecia aos céus por ele não me fazer pintar o cabelo quando disse educadamente que odiava "essa peruca loira de farmácia" que eu tinha na cabeça.

Ele tinha sorte de ser meu chefe. E como tinha sorte. Caso contrário...

— Oliver sabe ser irritante quando quer. – concordou.

— Eu odeio ele...

— Você não odeia o Oliver.

— Tem razão, eu não odeio ele. Ainda. – concordei. – Eu detesto ele! Mas no dia que eu chegar a odiar o Queen... – encarei Diggle. – Eu vou declarar guerra contra ele. E você não vai querer me ver em guerra contra o Oliver.

— O que você vai fazer? Ameaçar ele com o seu tablet? – debochou.

— Posso fazer coisas com um tablet que você nem pode imaginar...

Como explodir o celular do Queen quando ele estiver falando no telefone e deixar aquela carinha de deus grego toda deformada.

— Acho que já entendi. Agora vamos. – Diggle murmurou apontando para a saída do elevador quando ele abriu as portas.

— Será que se eu me demitir e dar uns bons tapas na cara do Oliver eu consigo outro emprego? – questionei enquanto fazíamos o caminho até a cafeteria que ficava do outro lado da rua.

— Se você se demitir ele vai fazer questão de garantir que você não tenha mais nenhum emprego em toda a Starling City. – admitiu. – Oliver sabe ser vingativo quando quer.

— E você ainda me diz que ele não é um maníaco...

— Oliver não é um maníaco.

Fiz bico, aborrecida.

— Vamos, Felicity, não é tão ruim assim. – Diggle sorriu tentando me animar. – Você já aguentou metade das três semanas, só faltam a outra metade.

— Ainda faltam uma semana e meia para eu me livrar do cretino. – joguei a cabeça para trás em lamento. – Eu odeio você com todas as minhas forças, Diggle. Maldito seja o dia em que você me ofereceu esse emprego.

— Até onde eu me lembro, você ficou bastante animada com ele.

— Porque eu não sabia trabalharia para um psicopata. – Retruquei.

— Oliver não é um psicopata.

— Não defenda o Queen quando estou falando mal dele.

Diggle sorriu da carranca que eu fiz.

A cafeteria que ficava logo à frente a QC era uma das mais caras de Starling, do tipo que se eu comprasse café todo dia nela não me sobraria dinheiro para sobreviver. Mas era Oliver Queen que pagava os próprios cafés, de qualquer jeito, ele amava esbanjar dinheiro e mostrar para tudo e todos que ele era um bilionário e que se quisesse até limpava a bunda com notas de cem.

Outro ponto que eu odeio no Queen: ele vive em festas gastando o dinheiro da empresa que o seu pai levou anos para construir. Já perdi as contas de quantas vezes tive que fazer transferências e comprar coisas caras para as festas que ele dá na mansão Queen todo final de semana.

Diggle e eu entramos na fila para comprar o café e logo mais a frente uma televisão que mostrava o noticiário me chamou atenção. A tela estampava um desenho de um tal "cara do capuz" que andava por aí matando os ricos com flechas. Eu lembrava muito bem da minha mãe me ligando desesperada para que eu não me mudasse para Starling City, de acordo com ela, essa não passava "de uma cidade doida em que policiais saem por aí matando pessoas fantasiados de Robin Hood". Eu demorei cerca de uma hora pra explicar pra ela que o vigilante não era da polícia, e que ele só matava os ricos que faziam alguma coisa errada, como roubar pessoas pobres.

Espera aí...

— É isso. – dei um tapa no ombro de Diggle e apontei para a televisão. – A solução para todos os meus problemas.

Ele olhou para a TV e para mim com a testa enrugada.

— O vigilante?

— Sim. Ele atira flechas em bilionários malignos. – sorri. – Basta uma flecha no peito do Queen para ele sair da presidência e eu me livrar do cretino.

Diggle riu.

— Qual é a graça? – resmunguei aborrecida.

— O vigilante já salvou o Oliver uma vez, Felicity. – argumentou. – O que faz você pensar que ele teria algum motivo para ir atrás dele?

— O vigilante parece não gostar dos ricos. Talvez ele não soubesse que o Queen é rico quando salvou ele.

— Oliver não fez nada que merecesse ser perseguido pelo capuz.

Que você saiba.— observei. – O Oliver é totalmente o oposto de mim. Eu sou uma pessoa boa, então ele é uma pessoa má.

Diggle riu da minha lógica furada.

— Conheço Oliver a mais tempo que você, Felicity. – observou cruzando os braços. – E ele não é uma pessoa ruim e nem merece uma flecha no peito.

— Com aquela cara de serial killer dele? – arfei. – Eu sinto que vou ter um ataque cardíaco toda vez ele me encara com aqueles olhos azuis do mal.

— Não esqueça que o capuz é considerado um serial killer.

— Ele pode até matar pessoas, e isso é ruim. Mas pelo menos ele está tentando fazer uma coisa boa. – contestei. – Isso faz o vigilante ser uma pessoa de caráter, porque está tentando fazer alguma diferença. Ao contrário de Oliver Queen, que só tem por objetivo fazer da minha vida um inferno.

Diggle se limitou a dar um sorriso fraco, como se risse de uma piada interna.

[...]

— Srta. Smoak. Compareça à minha sala. – a voz grave de Oliver soou no interfone que, diga-se de passagem, ele fez questão de colocar na minha mesa.

O que esse cretino quer agora? Levantei da minha mesa já sem muita paciência. "Lembre-se que você precisa desse emprego, Felicity", minha mente me lembrou como se eu já não soubesse que sou pobre. Oliver nem olhou pra mim quando me aproximei da sua mesa, mas continuou concentrado em assinar documentos.

— Preciso que fale com a empresa responsável pela decoração da festa de amanhã e passe para eles os detalhes. – murmurou baixo.

— O senhor ainda não me deu os detalhes, Sr. Queen. – respondi com a voz mais mansa que consegui fazer.

Essa não era uma das festas de capricho do Queen. Ela seria realizada na mansão Queen para promover o departamento de ciências aplicadas que foi inaugurado recentemente. Isso significa que os figurões de Starling City estariam presentes, consequentemente eu estaria trabalhando.

— E porquê você acha que eu te chamei aqui? – resmungou ao me encarar pelo canto do olho.

Bastardo!

— E quais são os detalhes, Sr. Queen?

— Se você fosse mais competente, não precisaria de mim para esse trabalho. – deixou os documentos para me encarar. – Eu recebi um email hoje pedindo a cor tema. O que você acha?

Franzi o cenho. Oliver Queen estava pedindo a minha opinião?

— Eu sugiro azul. É a cor tema da QC. E como evento é para promover a empresa...

— Fraco. Informe que será vermelho. – me interrompeu. – Vermelho é forte, inspira paixão.

Pisquei atônita. Ele não tinha pedido a droga da minha opinião?

— Me desculpe, Sr. Queen, mas um departamento de ciências aplicadas não tem nada haver com paixão. – devolvi.

Eu me sentiria até melhor por ter discordado do cretino, se não fosse o olhar assassino que ele lançou em minha direção assim que eu acabei a frase.

— Dois.

Oh, merda. Por quê eu fui abrir a minha boca? Mas pela cara sínica no rosto do Queen, fazer eu discordar dele era exatamente o seu objetivo naquele momento.

— Desculpe, Sr. Queen, eu não queria...

— Discordar de mim era exatamente o que você queria.

Me aborreci. Agora ele lê pensamentos?

— Não é como se você tivesse dentro de mim. – observei.

Oliver arregalou os olhos com a minha frase de duplo sentido.

— Sua cabeça! Eu quis dizer que não é como se a sua cabeça estivesse dentro de mim. – me apressei em corrigir, arfando assim que percebi que a frase ainda continuava com um duplo sentido gigantesco. – Estou falando da sua cabeça literal, não da outra cabeça. – fechei os olhos para me recompor. Droga, aquele olhar assassino dele estava me deixando nervosa!— O que eu quis dizer, Sr. Queen, é que você não pode ler meus pensamentos.

— Do jeito que você é transparente, duvido muito que exista alguém que não consiga ler seus pensamentos.

Ele não cansa de me insultar?

— Sr. Queen... Me desculpe.

Oliver me encarou por alguns segundos com o rosto impassível. Durante esse tempo eu até temi pelo meu emprego, ou até pela minha vida.

— Informe à empresa responsável pelo evento que a cor tema será vermelho. Qualquer outro detalhe deve ser perguntado diretamente a mim, não quero que você estrague qualquer coisa nessa festa. – avisou enquanto pegava a caneta e voltava a assinar documentos. – Agora volte para a sua sala, sua presença me irrita.

— O sentimento é recíproco. – sussurrei baixo o suficiente só para eu escutar.

Engoli a vontade de quebrar alguma coisa e dei meia volta. Oliver estava pedindo guerra, e no momento eu não poderia fazer nada à respeito. Mas um dia eu me vingaria...

Não vi o Queen o resto da tarde e dei graças a Deus por isso. A única parte boa de trabalhar para o Oliver era que ele simplesmente desaparecia do nada, sem dar nenhuma satisfação. Eu amava as horas incontáveis que ele passava fora e eu finalmente podia respirar aliviada e fazer o meu trabalho sem me preocupar com nada. A única parte ruim era que ele sempre levava Diggle com ele, então eu ficava sem meu moreno-fortaleza para escutar eu tagarelar sem parar.

No fim do expediente eu continuava sem notícias de Diggle, mandei várias mensagens sem receber respostas e isso era péssimo. Eu ainda não tinha comprado um carro e dependia da carona dele para voltar para casa. Eu iria de metrô se ainda existissem estações naquela cidade, por isso resolvi ir a pé, já que a minha casa ficava apenas à meia hora de distância da QC.

Starling City era uma cidade grande e, como todas as outras, tinha ruas muito parecidas, em que uma pessoa que não conhecia a cidade poderia se perder facilmente. Como eu. Já estava ficando escuro quando eu finalmente encontrei a rua do meu apartamento, depois de parar incontáveis pessoas na rua para pedir informações. Isso era um saco, então eu tinha que lembrar de dar uma bronca em Diggle por me deixar na mão. Meus saltos já estavam machucando o meu pé e o terninho esquentava o meu corpo, me deixando suada. A única coisa que eu conseguia pensar era em tomar um banho, deitar na minha cama e sonhar quebrando o pescoço de Oliver Queen. Mas um vulto preto atrás de mim me chamou atenção.

Olhei de relance para trás, mas foi o suficiente para identificar que três rapazes suspeitos estavam me seguindo. Era só o que me faltava, mal cheguei na cidade e já vou ser assaltada! Eu bem que devia ter escutado a minha mãe... Andei mais rápido para dar tempo de alguém aparecer, mas a rua estava simplesmente deserta e os rapazes andavam mais rápido conforme eu me distanciava. Peguei um spray de pimenta na minha bolsa como arma para o caso de uma emergência, sabe lá Deus se os bandidos daquela cidade se contentavam em apenas assaltar as pessoas ou se eles gostavam de deixar umas marcas roxas também. Mas antes que eu pudesse ter alguma reação ou correr dali, ouvi um ruído do que parecia ser uma flecha e paralisei no lugar, olhando instantaneamente para trás.

Os três rapazes estavam caídos no chão, imóveis, cada um com uma flecha no ombro. Meus lábios se separaram instantaneamente em surpresa com a visão.

— Você está bem? – uma voz muito grave soou perto do meu ouvido.

— Aaaah! – gritei de susto, me virando automaticamente e disparando o spray de pimenta na direção de quem quer que estivesse atrás de mim.

O vigilante levou as mãos até a face ao mesmo tempo que soltava um grunido de dor, seu rosto estava coberto com o capuz, mas obviamente o spray tinha acertado seus olhos. 

— Mas que droga, Felicity! – ele reclamou estendendo a mão para tirar algo de dentro da sua aljava.

— Ai meu Deus. Me desculpe! Por favor, não atire uma flecha em mim! – pedi desesperada. – Eu juro que não sabia que era você, pensava que fosse um assaltante.

— Não vou atirar uma flecha em você. – ele garantiu.

O vigilante pegou uma garrafa preta e passou o liquido em seu rosto, talvez fosse água, o seu capuz impedia que eu tivesse certeza. Passaram-se alguns segundos silenciosos até que eu me dei conta do que ele falou pra mim.

— Como sabe o meu nome? – questionei.

— Está no seu crachá.

Ah! Olhei para baixo apenas para verificar o crachá da QC pendurado em meu pescoço e voltei a olhar para ele, que parecia ainda se recompor da queimação do spray de pimenta. Não pude deixar de notar que a sua voz era mais grossa do que o possível, então ele provavelmente usava um emulador de voz para disfarçar a verdadeira. Eu fiquei olhando o vigilante se recompor em silêncio, ainda não acreditando que estava diante do homem que era procurado em toda a cidade, mas que era o único que ainda levava um pouco de esperança para as pessoas.

— Você não me respondeu se está bem. – ele observou.

— Eu estou... Eu... – engoli em seco. – Você chegou antes que eles chegassem perto de mim. Porque me ajudou? Achei que só matasse os ricos.

— Eles não estão mortos. – apontou para os três rapazes no chão. – São flechas tranquilizantes, vão acordar daqui à uma hora... E eu estava por perto.

— Obrigada.

Ele endireitou a postura para me encarar.

— De nada. Mas você não deveria estar andando sozinha à essa hora. Esse é um bairro perigoso.

— Eu geralmente pego carona com um amigo: Diggle... Mas não tive notícias dele.

— Talvez tenha acontecido algum imprevisto com ele. – sugeriu. – De qualquer forma, sempre procure andar acompanhada por aqui.

Balancei a cabeça fazendo que sim. Um conselho do vigilante deveria se tornar lei.

— Sabe, hoje eu estava falando sobre você para esse meu amigo. – lembrei.

— Eu preciso ir. – deu as costas.

— Não, não, espere! – implorei ao me aproximar dele. – Eu gostaria de te fazer uma pergunta.

O vigilante parou e se voltou para mim novamente. A forma como ele sempre mantinha a cabeça abaixada para que o rosto ficasse encoberto pela sombra do capuz chegava a dar medo. Mas eu precisava perguntar pelo bem da minha sanidade e do meu emprego.

— Você tem alguma coisa contra Oliver Queen? – perguntei curiosa.

Seus ombros se levantaram rapidamente como se tivesse levado um susto com a minha pergunta. Ou talvez ele tenha ficado surpreso.

— Por quê eu teria? – devolveu a pergunta.

— Sei lá. Oliver Queen tem uma cara de maníaco, você não acha?

Ele tombom um pouco a cabeça para a frente.

— Cara de maníaco?

— É. Ele parece todo o tempo que quer matar alguém. Na verdade, parece todo o tempo que ele quer me matar. – forcei um sorriso ao apontar para o meu rosto. – Tenho certeza que ele é no mínimo um psicopata.

— Felicity... – o vigilante arfou. – Você tem provas que Oliver Queen fez alguma coisa errada?

— Não. Mas eu posso conseguir. Ele é  um psicopata, eu tenho certeza. Seria o sonho da minha vida se você pudesse enfiar uma flecha nele. – juntei as mãos para implorar. – Por favor. Você pode perseguir ele para mim?

— Não posso ir atrás de alguém sem provas. E eu preciso ir.

— Espere! – pedi mais uma vez antes que ele se afastasse. – Se eu conseguir provas contra ele você enfia uma flecha no cretino?

— Porquê você tem tanta raiva de Oliver Queen?

— Ele é o diabo. – esclareci. – Não literalmente o diabo, mas talvez seja descendente dele.

— Isso não parece uma explicação para mim.

— Por favor. – juntei as mãos novamente. – Eu juro que consigo alguma prova contra Oliver Queen. Aquela cabeça diabólica deve ter algum plano diabólico.

O vigilante respirou fundo.

— Muito bem. Consiga alguma coisa e eu irei investigar. – concluiu se voltando de costas mais uma vez.

— E como eu vou te avisar quando eu conseguir as provas?

— Eu vou saber se você conseguir. – falou atirando uma flecha para o alto e desaparecendo ao ser puxado para trás de um prédio.

Legal.

Eu mal podia esperar para contar ao Diggle o que aconteceu. Eu já estava a apenas uma quadra da minha casa então não demorou muito até que eu me encontrasse de frente para a portaria do prédio onde eu morava. Os últimos minutos pareciam surreais e eu custava a acreditar que eu realmente havia conhecido o vigilante de Starling City, que me salvou de ser assaltada com flechas! Quem disse que elas estavam ultrapassadas?

Antes de entrar no prédio, eu olhei para trás por puro impulso. Não pude evitar o sorriso quando identifiquei a figura de verde me observando. O vigilante estava parado na sombra da noite no topo de um prédio a frente do meu, ele deu apenas dois passos pra trás no momento em que o vi, mas foram o suficiente para ele desaparecer na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Olá!

Ainda não acredito que demorei uma semana inteira para não escrever nem 4 mil palavras. Me lembrem de pensar duas vezes antes de decidir escrever uma fanfic no contexto do arqueiro da próxima vez. Essa fanfic é mais difícil de escrever que a última!

Eu quero agradecer aos lindos comentários do prólogo. Foram tantos que meus olhos até brilharam! Eu também agradeço ao voto de confiança das treze pessoas que favoritaram, meu coração se encheu de amor por vocês ❤.


Aguardo ansiosa a opinião de vocês com respeito ao capítulo.