Cruzei o longo corredor sem ao menos dar a mínima importância aos recrutas em treinamento. Respondo a alguns cumprimentos apenas com um movimento mínimo de cabeça e paro bem em frente a porta fechada da sala do Alex. Me concentro na decisão que tomei e me armo de todo equilíbrio que busquei durante anos. Levo a mão ao peito e tenho a sensação de sentir o garoto raivoso dentro de mim fazer o mesmo. Respiro fundo e me armo de toda valentia e audácia desse mesmo garoto, antes de dá três batidas na porta.

Não espero resposta e entro.

Ele está sentado na mesa e levanta a cabeça lentamente a medida me aproximo. Quando está prestes a voltar novamente sua atenção aos papéis a sua frente, para e me olha mais atentamente. Sustento seu olhar durante algum tempo e aos poucos os músculos do seu rosto se tornam tensos.  

— Algum problema, Garoto? __ a voz dele é contida.

— Quero saber o quanto você está disposto a pagar por um peixe grande.

Ele sorri e nesse momento começo a sentir a confiança escorrer pelos meus dedos.

— Não tente negociar comigo, Gustavo. Você trabalha para Citros e sabe que nos deve sua lealdade acima de tudo. __ ele se encosta na cadeira e folga a gravata. — Então diga de uma vez exatamente o que você sabe.

— Não. __ sorrio e deixo toda minha audácia vir à tona. — Não devo nada a vocês. Já vocês, devem muito a mim. __ ele arqueia uma das sobrancelhas e se empertiga na cadeira. — Mas não é esse o assunto que me trouxe aqui.

— Você tem toda minha atenção.

— Você não respondeu a minha pergunta. __ me aproximo ainda mais da mesa. — Quanto está disposto a pagar por um alvo padrão ouro?

— Depende de quem é o alvo e do que você quer em troca.

O olhar dele é duro e sei que pretende me intimidar, mas não consegue.

Sorrio.

Sinto cansaço domar meu corpo e minha consciência me pede para parar e descansar, mas me agarro ao desespero de não saber onde e como elas estão e isso me faz ter ainda mais certeza de que vou conseguir tudo o que preciso para trazê-las de vocês.

— O Barão, Alex. __ a expressão dele é de total descrença. — Você lembra dele, não lembra?

— O Barão está morto, garoto __ ele tenta disfarçar, mas é quase impossível. — E você sabe muito bem disso.

— Isso é o que ele fez todo mundo acreditar durante todos esses anos. __ ele abre a boca, mas não diz nada. — Capturar e matar o Barão traria para a Citros muito mais do que você já imaginou Alex. E com certeza você receberia muito pela cabeça dela.

— Você está blefando, Garoto. __ ele levanta e sorri amargo. — E eu com certeza não vou cair nessa.

— Você acha mesmo? __ seu sorriso se desmancha enquanto coloco um pequeno gravador em cima da mesa.

Agradeço mentalmente ao David por ter conseguido resgatar algumas ligações do telefone que consegui quando encontrei a Alice naquela velha usina. Essa gravação vai ser mais do que o suficiente para convencê-lo.

Giro o aparelho na mesa e assim que aperto o play o barulho de uma linha chamando enche a sala.

“— Chefe.

— Você conseguiu?

— Estamos no rastro dela senhor. Mais um pouco e a encontraremos.

— Ótimo. __ o homem respira fundo. — Não a machuquem.

— Sim, senhor. __ silêncio. — Barão?

— Sim. __ um ruído torna a ligação ruidosa. — A levaremos até o senhor.”

A expressão do Alex é de completa perplexidade. Ele não desgruda os olhos do aparelho em cima da mesa e agora sei que o tenho nas mãos. O próximo passo precisa ser dado com muito cuidado, por que tudo vai depender disso.

— O que você quer? __ ele levanta o rosto e me encara. — O que você quer para me dizer exatamente onde o Barão está?

— Minha liberdade. __ ele não diz nada. — E um contrato garantindo que você não vai voltar atrás no nosso acordo.

Vejo uma veia saltar em sua testa e esse é o único sinal, do qual consigo lembrar, de que ele está perto de seu limite.

— Claro que é isso. __ vejo sua mão agarrar o gravador e ele me olha desafiador. — Só isso?

Ele aperta firme o gravador entre os dedos e caminha lentamente até a parede de vidro que mostra a sala de treinamento vazia.

— Não. __ vejo os nós dos seus dedos tornarem-se brancos e seus ombros se tornarem tensos. — Ainda tem mais uma coisa que você vai fazer por mim.