Proibida Pra Mim escrita por GabriellySantana


Capítulo 76
74º Capítulo – “Ele sabia. O tio Ben sabia.”




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Num momento estou dormindo e no outro as lembranças das últimas horas me despertam. Fito a parede e as pedras amareladas pelo desgaste do tempo me fazem arrepiar. Em um impulso repentino me sento e consigo agora ter uma visão melhor do cômodo. Assim que olho ao meu lado vejo a Paloma dormindo calmamente. Estamos em cama grande, cercada por lençóis brancos. Ao nosso lado, rente a parede, tem um pequeno criado mudo com um abajur ligado e mais adiante, no mesmo lado, duas janelas quadradas que vão do chão ao teto são separadas por uma cômoda de madeira. O outro lado do quarto está vazio, exceto pela porta. No chão, um tapete felpudo recobre todo piso abaixo e ao redor da cama. Arrasto minhas pernas até que meus pés toquem o tapete e quando uso as mãos para levantar, sinto o vão do braço dolorido. Quando levanto e olho mais atentamente, vejo um pequeno hematoma causado por uma agulha.

Testo meu equilíbrio e caminho até a janela mais próxima. Para a uma distância razoável, para que os homens armados abaixo da janela não me vejam e os observo enquanto conversam. Deixo meus olhos percorrerem a estrutura da janela e não me surpreendo quando vejo trancas de metal e cadeados nas extremidades.

— Estão trancadas __ a voz da Paloma me faz olhá-la. — E a porta também.

Assinto com a cabeça e respiro fundo.

— Você está bem, Alice? __ ouço ela levantar e antes que eu consiga responder ela já está na minha frente.

— Estou. __ forço um pequeno sorriso e mostro o braço. — Você sabe o que eles injetaram em mim?

— Não. __ ela nega com a cabeça. — Quando você desmaiou o tio Ric... o Barão surtou. Gritou com aqueles caras armados e rapidinho eles trouxeram um médico que...

Três batidas rápidas na porta chamam nossa atenção. Sinto a Paloma se aproximar um pouco mais de mim e quando a porta se abre o Barão dá um único passo para dentro do quarto. O olhar dele nos avalia por um momento e em seguida um sorriso frio surge em seu rosto.

— Vocês estão prontas, ótimo.

Olho para meu corpo e vejo que estou vestindo uma roupa que não é minha.

— Prontas para que? __ minha voz é quase um sussurro.

O sorriso dele se alarga ainda mais e um alarme silencioso desperta o medo dentro de mim.

— Vamos tomar nosso primeiro café da manhã em família.

O seguimos em silêncio enquanto nos conduz até ao que parece ser a sala de refeições. No centro uma mesa pequena, com apenas três cadeiras, está repleta de pães, queijos, bolos, sucos e tudo mais o que desejaria para um café da manhã. Ele se senta e o silêncio que se precede deixa claro que ele deseja que façamos o mesmo. Nos sentamos e não consigo deixar de notar a presença de homens no canto do cômodo, nos observando.

— Pedi para colocarem tudo o que vocês gostam de comer. __ ele sorri afetuoso. — Podem atacar.

Olho a mesa mais atentamente e me sinto de volta ao passado. Nela tem quase tudo o que costumávamos comer quando éramos crianças e por um breve momento sinto o cheiro familiar da nossa antiga casa. Meu peito dói como se uma antiga ferida tivesse sido aberta e aos poucos sou tomada pela dor.

Silêncio.

Olho para o homem sentado à minha frente e por mais que eu saiba quem ele é, não consigo reconhece-lo. A voz daquele homem tatuado ecoa dentro de mim e tudo o que ele contou sobre esse homem, meu pai, não parece mais tão impossível assim.

— Comam. __ seu sorriso afetuoso deu lugar a um tom áspero e frio.

Olho mais uma vez a mesa a minha frente e sou tomada pela dor. Luto penosamente contra as lágrimas e todo vazio que senti nos últimos anos pesa dentro de mim. Olho para a minha prima e as lágrimas que escorrem pelo rosto dela molham a toalha creme da mesa. Direciono meu olhar ao Barão e sua expressão leve enquanto come, me faz sentir por ele algo que nunca imaginei sentir antes: ódio. 

— Você nos deve uma explicação. __ minha garganta arde assim que as palavras deixam minha boca.

Ele ergue o queixo e me olha passivo.

— Achei que vocês fossem querem comer antes. __ ele pega o garfo e leva mais um pedaço de bolo até a boca, como se nada estivesse acontecendo.

— Você é o Barão. __ afirmo.   

Ele larga o garfo na mesa e me olha com atenção.

— Sou. __ seu tom é ainda mais calmo. 

— Eu vi você morrer. __ minhas mãos apertam a toalha da mesa e me proíbo de deixar sequer uma lágrima cair. — Como você pode...

— Você não me viu morrer. __ ele diz e se encosta na cadeira. — O que vocês ouviram foram alguns tiros e só.

— Mas o seu corpo estava... __ a voz da Paloma é quase um sussurro.

— Já chega dessa historinha ridícula. __ ele endireita a coluna e põe as mãos em cima da mesa. — Aquilo tudo fez parte de um plano. Plano malsucedido é claro... mas apenas um plano.

— Um plano? __ não consigo entender.

— Sim, um plano. __ o olhar tranquilo dele vagueia entre mim e minha prima. — O objetivo era largar toda aquela merda e irmos, todos nós, para um lugar calmo e tranquilo. Mas o plano não saiu como o planejado.

Não conseguimos dizer nada e ele continua.

— Pouco tempo antes da hora marcada, recebi uma informação de que uma pessoa próxima a mim teria me traído e a emboscada seria real. __ o maxilar dele fica tenso e sua voz assume um tom mais grave.  — Só tive de garantir que eu não morreria e claro, esconder vocês.

Fico paralisada. Ouvir da boca de um estranho não se compara em nada a ouvir da boca dele: meu pai. Olho inerte enquanto ele recosta-se na cadeira e volta a comer calmamente. Ouço a respiração falha da Paloma ao meu lado e pela primeira na vida quero me entregar ao desespero, puxar minha prima pelo braço e sair correndo para bem longe desse homem na minha frente. Mas não consigo sequer me mover. Todo meu corpo pesa como chumbo. Meus pulmões parecem colabarem e nem uma única lágrima sequer nasce em meus olhos.

— Você... como você....

Não consigo sequer falar. Ele ergue os olhos até os meus e o azul da sua íris que por tantas vezes foi meu refúgio, agora se torna a personificação do meu maior pesadelo.

— Há, claro. Vocês devem querer saber onde estive todos esses anos. __ ele passa as mãos pelo cabelo e afasta a cadeira. — Depois alguns meses, adotei um outro nome e contratei alguns advogados para reaver a guarda de vocês. Mas aquele velho rabugento do Ben dificultou as coisas e convenceu o juiz de que vocês estariam mais seguras com ele. Depois me procurou e disse que tinha provas de que eu estava vivo, e caso eu tentasse reaver vocês, ele me denunciaria.

Ele sabia. O tio Ben sabia.

— Então resolvi deixar o tempo passar e esperei pacientemente até que ele morresse. Depois disso passei um bom tempo procurando vocês e acreditem, não foi nada fácil..., mas cá estamos nós. Família reunida.


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