Proibida Pra Mim escrita por GabriellySantana


Capítulo 39
38º Capítulo – “Não quero ouvir.”


Notas iniciais do capítulo

Bom, boa leitura a todos e nos vemos lá embaixo.



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O galpão é sujo, mas é seguro. Paloma está deitada com a cabeça no meu colo, coberta com um pano sujo que já estava aqui quando chegamos.

— Prima... __ Ela acorda de novo. — Você não vai embora, vai?

— Eu já te disse. __ Passo a mão pelos fios do cabelo dela. — Não vou sair de perto de você, nunca.

Ela sorri fraco e fecha os olhos, pegando no sono em seguida.

A luz familiar invade meus olhos assim que acordo e de alguma forma sei que estou em casa. A sensação de estar segura é tranquilizadora. Quando minhas pupilas se adaptam à luz, corro o olhar por cada centímetro do meu quarto.

Tudo está... normal.

Me mexo um pouco na cama e sinto meu corpo reclamar, dando sentido as minhas lembranças. Respiro fundo e fecho os olhos durante alguns segundos enquanto revivo os últimos dias e sei que tudo foi real, dolorosamente real. A última coisa de que me lembro é da dor me consumindo de uma forma violenta e da expressão assustada do Gustavo, segurando meu rosto entre as mãos. Lembrar da expressão dele faz um calafrio subir pela minha espinha e uma sensação horrível se estala no meu peito.

Preciso vê-lo.

Faço um pequeno esforço para me levantar e uma dor leve desperta no meu tórax e em outros lugares no meu corpo. A ignoro e levanto. Caminho até o espelho na parede oposta e fico paralisada quando vejo meu reflexo nele.

Meu tórax está envolto por uma bandagem que parece estabilizar e controlar a dor, o punho direito também está enfaixado, de forma que está imobilizado. Existem hematomas e arranhões por todo meu corpo e rosto, além de pequenos curativos espalhados pelos braços e pernas. Passo algum tempo olhando o reflexo na minha frente e avaliando a gravidade de tudo. Sei que a bandagem em torno do tórax significa que quebrei uma ou duas costelas, o punho não deve estar quebrado, já que consigo mexer e não está engessado. O resto das lesões parecem ser superficiais e sem grandes danos. Respiro fundo e imagino a reação do Gustavo quando me viu assim.

Ele deve ter surtado.

Sorrio quando me lembro de como ele era controlador quando éramos crianças. Prendo meu cabelo, caminho até o guarda-roupas e apesar da bandagem cobrir meus seios, resolvo pegar uma regata e vestir antes de sair do quarto. Ando devagar pelo corredor até chegar na escada e começo a ouvir algumas vozes vindo da cozinha. Desço lentamente um degrau por vez, sentindo pequenas pontadas no tórax à medida que avanço. Assim que chego no fim da escada estou ofegante e as pontadas de dor se transformaram em uma dor leve e constante. Espero um tempo até minha respiração se acalmar e me dirijo até lá. Quando chego na porta vejo a Paloma e o Felipe sentados na mesa, conversando. Assim que a Paloma me vê pula da cadeira e vem na minha direção.

Você tá bem? __ Ela me olha dos pés à cabeça. Por que você não chamou? Você é maluca de descer essa escada sozinha? Tá sentindo dor?

Deixa ela pensar Paloma. __ Felipe intervém, vindo até mim também. Tudo bem? __ A voz dele é doce e calma.

Tudo. __ É o que consigo dizer. — Cadê o Gustavo?

Os dois me olham e aos poucos sinto o clima ficar denso.

Não tá sentindo nada? __ Paloma pergunta, como se não tivesse me ouvido.

— Paloma...

— Vou buscar os remédios e você...

— Não quero remédio. __ A interrompo e sei exatamente por que está fugindo do assunto. — Ele foi embora, não é?

Minha voz sai mais baixa do que gostaria. Os dois se olham e apesar de ainda não terem dito nada, sei o que vão dizer.

— Prima... __ ela começa.

— Ele foi embora. __ Afirmo. — De novo.

— Alice, ele não podia ficar. __ Felipe diz baixo.

— Ele disse...

Viro de costas e saiu da cozinha, deixado eles falando sozinhos.

Não quero ouvir.

Ando até a escada e começo a subir os degraus, ignorando a dor e eles, que vem atrás de mim dizendo coisas a respeito de eu não poder fazer esforços. Assim que chego no meu quarto bato a porta atrás de mim e não consigo mais evitar as lágrimas. Não só por ele, mas por tudo que aconteceu nos últimos dias. Um turbilhão de sentimentos me invade e todo medo, dor, saudade e vazio que senti vem à tona de novo. Durante aqueles dias horríveis tudo o que eu queria era voltar pra casa e ficar nos braços dele, me sentindo segura. As lembranças da nossa primeira vez aqui, nesse quarto, parecem me sufocar agora, me impedindo de respirar. As mãos dele passeando pelo meu corpo, a voz dele sussurrando coisas no meu ouvido, a boca dele na minha pele...

— Chega. __ grito dando tapas fortes na minha cabeça.

Tudo que estou sentindo é substituído por uma raiva insana e descontrolada. Vou até a cama e arranco o forro, lençol, travesseiros e jogo tudo no chão.

Não quero sentir o cheiro dele.... Não posso.

Chuto o travesseiro pra longe e a dor leve no meu abdômen se torna agressiva, me fazendo curvar o corpo. Não consigo controlar meus soluços e lágrimas, e a dor me faz perder o último resquício de controle. Deixo meu corpo deslizar pelo criado mudo até chegar ao chão e me entrego as lágrimas.

— Ele foi embora, não você. Ele foi embora não você. Ele foi embora não você... ___ Repito pra mim mesma, várias e várias, tentando me convencer de que a culpa não é minha.

Ouço alguém abrir a porta e não preciso levantar a cabeça pra ver o Felipe sentar ao meu lado. Ele não fala nada durante muito tempo e tudo o que consigo ouvir são meus soluços. Ele se aproxima mais de mim e passa o braço atrás do meu pescoço, me puxando para um abraço.

— Lipe... __ soluço.

— Shii... __Ele me abraça mais forte e minha dor aumenta. — Você não pode ficar sentada aqui no chão, nessa posição, e já fez muito esforço desde que acordou.

Não consigo dizer nada. Ele se levanta rápido e coloca as mãos na minha cintura, me puxando pra cima junto com ele. A dor aumenta um pouco mais e eu só consigo observar calada enquanto o Felipe me guia para o quarto dele e me faz deitar na cama. Logo depois a Paloma aparece e me faz tomar alguns comprimidos. Em seguida ela deita ao meu lado na cama e faz carinho no meu cabelo.

— Eu sei que você não quer conversar. __ Ela diz baixinho. — Mas ele não queria ir embora, prima. Desde que vocês chegaram, ele não saiu do seu lado. Passou a madrugada e o dia inteiro ao lado da sua cama, não saiu nem um momento. __ Ela para e respira fundo. — O que eu sei, é que os homens que levaram você, estavam atrás dele e por esse motivo te pegaram. Quando o tempo começou a passar e não tivemos notícias de você, perdemos o controle. Todos nós, menos ele. O Gustavo passou todo o tempo parado em frente ao computador, com um amigo hacker, tentando te encontrar. Quando você conseguiu ligar, ele não parou de andar de um lado para o outro até saber onde você estava e poder ir te buscar. O Gustavo trabalha com coisas que eu ainda não sei e que sinceramente, não quero saber. Ele falou que não podia te proteger e que não é seguro ficar aqui, nem pra ele e nem pra gente. Então, não ache que ele simplesmente foi embora por que quis, não foi assim.

Me proteger.... Ele me deixou sozinha.... Ele quer me proteger.... Ele me deixou sozinha....

Imagens dos últimos dias passam como flashes pela minha mente... Nós dois na cama, os dias que passei presa naquele lugar imundo, da voz fria do Gustavo no telefone, a dor e o medo que senti quando estava sozinha e machucada na chuva.... Ele me trazendo de volta da escuridão... dá dor me rasgando ao meio e do rosto dele aflito me olhando. Fecho os meus olhos e todos os pensamentos são varridos para longe, quando o sono toma conta de mim e me leva para a escuridão.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, beijos da tia.



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