Por mim se vai das dores à morada,

Por mim se vai ao padecer eterno,

Por mim se vai à gente condenada.

Moveu justiça o Autor meu sempiterno,

Formado fui por divinal possança,

Sabedoria suma e amor supremo.

No existir, ser nenhum a mim se avança,

Não sendo eterno, e eu eterno perduro:

Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!

Já haviam se passado várias horas desde que Seiya, Shun, Shiryu e Hyoga chegaram ao Inferno em seus trajes dourados e, em nem um momento, pararam de procurar arduamente. Sempre rugindo furioso, sempre dominado pela eterna escuridão, o lugar ainda era o mesmo, e assim como antes, os cavaleiros se apegavam apenas a esperança, pois jamais aceitariam deixá-la. Então, no alto de uma escarpa sob um rio de lava, eles pararam por um momento.

— O inferno está vazio – comentou Shiryu.

— Sim – disse Shun. – Até mesmo os mortos parecem estar diferentes.

— Vamos continuar procurando – disse Hyoga, pondo-se a caminhar. – Ainda temos o Castelo de Hades e o Muro das Lamentações para checar.

Os cavaleiros continuaram caminhando, procurando em todos os lugares que podiam, mas por mais que procurassem, por mais que tentassem, eles nem se quer conseguiam sentir o cosmo de Atena. Diferente das outras vezes, onde eles sempre conseguiram sentir o cosmo de Atena os guiando, dessa vez era como se Atena tivesse desaparecido por completo, como se tivesse ido parar em algum lugar além da própria morte.

Após um longo tempo de caminhada, eles começaram a escutar as explosões. Jorros de ectoplasma que o Inferno disparava para aliviar-se dessa energia que transbordava do seu interior. Porém, aqueles jorros não eram quentes, ainda que levassem para o interior do Inferno, e Hades, por pura vaidade, construíra o seu castelo em um deles.

Ao aproximarem-se das portas do castelo, os quatro cavaleiros tomaram um susto, pois constataram a presença de um cosmo poderoso.

— O que é isso? – Perguntou Seiya. – Que cosmo é esse?

— Vem de dentro do castelo – disse Shun.

As portas do Castelo de Hades se abriram, e dele surgiu um homem vestindo a Sápuris de Wyvern.

— Não pode ser! – Exclamou Shiryu.

— Espera ai, você não é Radamanthys – percebeu Seiya tomando à dianteira. – Quem é você?

O homem permaneceu em silêncio por um momento, enquanto observa altivamente os cavaleiros de ouro.

— Sou eu quem deve fazer essa pergunta – disse o homem. Sua voz era suave como uma lâmina. – Vocês estão invadindo o território dos mortos, saiam imediatamente.

— Não sairemos até que diga quem é você e onde está Atena! – Gritou Seiya.

— Atena? – Perguntou o homem. – Não sei do que vocês estão falando.

— Como assim não sabe?! – Disse Seiya já no limite da paciência. – Atena comeu uma Romã Infernal, não há dúvidas que ela veio parar aqui, nós somos seus cavaleiros e viemos buscá-la nem que seja a força!

O cosmo de Seiya explodiu muito mais intensamente do que na luta contra Jabu. Seu poder foi sentido por todo o Inferno, mas então, Hyoga se pôs diante do cavaleiro de Sagitário.

— Acalme-se Seiya, por favor – disse Hyoga. – Deixe-me tentar cuidar disso antes de usarmos a força, se não, perderemos a razão.

O cosmo de Seiya então se acalmou.

— Perdoe-me cavaleiro, – disse Hyoga se dirigindo ao homem diante deles. – Por favor, entenda-nos, estamos desesperados a procura da nossa deusa. Eu me chamo Hyoga, meus amigos são Shun, Shiryu e Seiya.

O homem então ergueu a cabeça, mantendo um olhar sério e desconfiado.

— Sim, é claro, eu os conheço – disse ele. – Vocês são aqueles que ajudaram Atena a derrotar Hades de uma vez por todas. Eu me chamo Catton, sou um dos responsáveis pelo Inferno desde que Hades se foi.

Shiryu então se aproximou.

— Catton de Wyvern, você realmente não tem como nos ajudar? – Perguntou o cavaleiro de Libra.

— Não – Respondeu de maneira a não deixar dúvidas. – Mas se quiserem, fiquem e procurem. Quando desistirem, vão embora. E fiquem longe do Castelo de Hades e do Muro das Lamentações. O Castelo é um lugar proibido, pois pode ser um portal para a Terra, e o furo que vocês fizeram no Muro das Lamentações tornaram aquele um lugar perigoso demais. É melhor só irem lá se desejarem morrer.

— Droga! Nos dê ao menos uma pista! – Gritou Seiya.

— Quem convocou você para ser um novo Juiz do Inferno? – Perguntou Shun.

Catton então deu as costas.

— Já dei uma pista. Disse que ela não está aqui. – Sua maneira de falar era sarcástica. – E quem me convocou foi o próprio Inferno.

As portas do Castelo de Hades então se fecham.

— Não. Não é possível – disse Seiya serrando o punho. – Ela tem que estar por aqui. Tem que estar! Eu vou até o Muro das Lamentações, atravessarei até os Elíseos mais uma vez se for preciso, mas eu vou encontrá-la!

Shiryu se aproximou de Seiya.

— Me arrependi uma vez de não ter de dado ouvidos Seiya – disse Shiryu. – Não vou cometer o mesmo erro mais uma vez. Estarei com você até o fim disso.

— O mesmo vale para mim – disse Shun. – Talvez o meu irmão esteja no mesmo lugar onde está Atena. Eu vou encontrá-lo também.

Hyoga continuou pensativo por um tempo.

— Como será que estão as coisas no Santuário? – Perguntou Hyoga preocupado. – Não consigo deixar de imaginar que talvez seja o objetivo do inimigo nos manter aqui.

— Não se preocupe, – disse Shiryu – os que ficaram também são cavaleiros de Atena.

Juntos, então, eles partiram rumo ao seu destino.

Enquanto isso, do alto do Castelo de Hades, Catton, com suas asas roxas esvoaçantes, observava os cavaleiros partirem em direção ao Muro das Lamentações. Ele retirou o capacete, revelando suas pintas Lemurianas, e sua mente então viajou até o Muro.

— Brake, Raiyam. Eles estão indo – falou Catton mentalmente para seus dois aliados.

— Então se teletransporte até aqui – disse Brake de Garuda.

— Impressionante – disse Raiyam de Grifo. – Eles estão mesmo fazendo tudo o que ela quer.