Asmodeus conheceu Marie-Jeanne em 11 de julho de 1990, em Paris. Ele tinha conseguido (mesmo que por pouco tempo) retomar sua forma humana, graças a um feitiço de invocação falho de um feiticeiro de baixo nível. Parecia loucura, mas assim que ele viu aquela linda mulher tomando cappuccino no Le Café de Paris, queria tanto que ela fosse dele.

É claro, pensou, ele era o demônio que representava a luxúria, um dos maiores pecados, deveria querer tudo para ele. Mas era possível ficar nervoso só de ver alguém? Ele não experimentava emoções tão humanas desde que tinha se tornado demônio.

Asmodeus atravessou a rua e parou na frente dela, com as mãos nos bolsos do casaco. Marie-Jeanne levantou a cabeça para olha-lo, fazendo uma cara confusa, como se ele não fosse quem ela esperava encontrar.

Provavelmente tinha um encontro, pensou com amargura.

— Olá. – ele falou, sentindo sua voz raspando pela garganta. Há quanto tempo não ouvia a própria voz sem ser na língua demoníaca?

Ela deu um sorriso amigável. Asmodeus quis ser tão bom quanto pudesse, mas era mau. Talvez ela nunca mais pudesse sorrir com ele por perto. Ele não conseguiu sorrir de volta.

— Pardon?— ela disse em francês.

Asmodeus quis se jogar no fogo dos Condenados. É claro que ela fala francês, não inglês.

— Salut. - ele se corrigiu automaticamente, falando “oi”.

Ela sorriu.

— Salut. Comment puis-je aider? (Oi. Como posso ajudar?)

— Rien. Puis-je rester avec vous? Je me suis perdu. – fez uma breve pausa, o suficiente para pensar. – Je suis Américain. (Nada. Posso ficar com você? Eu me perdi. Eu sou americano.).

Ela arregalou os olhos e indicou a cadeira a sua frente.

— Mais bien sûr! S'il vous plaît sentir. (Mas é claro! Por favor, sente.).

Asmodeus fez como ela disse: se sentou, agora olhando mais de perto Marie-Jeanne. Ela era encantadora.

Seus cabelos castanhos eram lisos, com olhos castanhos tão claros que chegavam a parecer laranja. A pele branca, com leves sardas nas bochechas, e as maçãs do rosto, bem, fofas. Parecia não ser extravagante, como as garotas que iam para o Inferno, com corpos com curvas proeminentes e bem marcadas. Ao contrário, as de Marie-Jeanne eram quase ocultas. Asmodeus concluiu que Marie pertencia ao grupo médio[1].

Eles conversaram, e Asmodeus sentia que cada vez mais se apaixonava por aquela mulher.

E se encontraram mais vezes.

Apaixonaram-se cada vez mais.

E, em sete de fevereiro de 1997, nasceu Jade Müller. Asmodeus a amava tanto, mas sua natureza o fez quere-la somente para ele.

Marie-Jeanne morreu enquanto cuidava de sua filha. Suas últimas palavras foram “Je t'aime, ma fille. Toujours Je t'aime.”.

“Eu te amo, minha filha. Sempre vou amar.”

NOME: Marie-Jeanne Müller

Data de morte: 20 de Agosto de 1998.

Horário: 22h10min.

Causa da morte: incêndio no quarto do bebê (filha).

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[1] Médio: garotas nem “gostosas”, nem totalmente magras. Bem. Médias.