De Outro Mundo escrita por S Q
Arck, assustado com a queda deles, berrou que preferia aparatar; mesmo que parasse muito longe deles, e do coração da floresta pelos desníveis entre os dois lados do abismo. Justin e Alex se levantaram, e sem-graça concordaram com a cabeça. Já estava ficando muito tarde de qualquer forma. Resolveram acender uma fogueira na clareira mais próxima e esperar. Para onde deviam seguir a partir dali, ou o que fazer, era um grande mistério.
Pegando dois gravetos e criando fogo com magia neles, os dois se sentaram e ficaram em silêncio, olhando algumas folhas caídas no chão. Aos poucos, foi escurecendo e esfriando. Depois de quase uma meia hora ali sentados, Justin disse:
— Você quer meu casaco?
— Não, obrigada.
Voltaram a olhar para o mato. Aos poucos, o brilho das estrelas foi chamando a atenção de Justin, desviando o olhar dele para cima. Seu rosto foi ficando sereno enquanto ia identificando mentalmente as constelações. Na floresta era muito fácil vê-las de um lugar com poucas árvores. Mesmo com alguns ruídos de animais ao longe, mantinha-se calmo, pois sabia pelas aulas de biologia que os bichos daquela região onde estavam eram inofensivos. Alex, mais tensa, soltou de repente:
— O que você tá olhando pra conseguir ficar tão calminho?!
O outro deu uma sonora gargalhada:
— “Calminho”? Desde quando você fala assim, Alex?
— Eu tô numa droga de situação perigosa, sentada aguardando um milagre. Minha cabeça não tá legal!
Ele riu de novo, dessa vez, mais suavemente.
— Eu estava olhando as estrelas. Tá vendo aquelas quatro ali, agrupadas, cada uma de um lado e outra entre elas, um pouco pra nossa direita? É o Cruzeiro do Sul.
Alex fez uma cara de quem não estava ligando para a informação.
— Pela posição dessa constelação a gente consegue se localizar. Aqui deve ser uma zona de fauna inofensiva, que estava pesquisando outro dia, se meus cálculos estiverem certos.
— Desde quando tem que fazer conta para ver as estrelas?
— Desde que você não queira se perder, ou não tenha vontade de ser devorado por uma onça.
Alex lhe devolveu uma careta.
— Por que no final você sempre tem que fazer a coisa certa? Isso é irritante, sabia?
Justin riu fraco
— Quem dera. Eu bem queria ter feito a coisa certa.. quando ainda podia.
Isso fez a garota se virar na direção dele, arqueando as sobrancelhas:
— Como assim?
Bufando um pouco, Justin tornou a olhar para baixo para formar as palavras certas:
— Eu acho que sempre fui muito… complacente. Aceitava o que me pediam, engolia o que falavam de mim… por medo do quê? Broncas? O fato é que sempre fui muito fechado também até que um dia, lembrei de pedir um abraço da minha mãe… e… ela tinha falecido. Ela se foi e eu simplesmente não vi, nem pude fazer nada!
—Justin… você não teve culpa. Essas coisas, a gente… não pode controlar.
Apesar do clima ruim entre eles nos últimos dias, Alex relutantemente passou o braço ao redor dos ombros do outro. Isso fez ele voltar o olhar para seu rosto.
— Você é uma das pessoas mais responsáveis que já conheci. Tenho certeza que se tivesse nas suas mãos, isso não teria acontecido. Quer dizer… olha onde você está! Sem ter a menor culpa, ainda me ajuda a tentar corrigir a burrada mais épica ever! Que se a gente conseguir desfazer, vai entrar em todos os livros de história da magia! E se não…
Nesse momento o olhar de Alex vacilou, e Justin percebeu que precisava devolver a ela a força que acabara de perceber. Pegou firme na mão dela.
— Ei, vamos conseguir! Você concorda quando me chamam de nerd, não é? Pois o “sabichão” aqui vê uma chance muita alta disso dar certo. Porque nós estamos juntos nessa. A feiticeira alfa e o cara com magia beta. Os dois maiores poderes mortais juntos. Formamos uma boa dupla. Vamos conseguir achar a pedra. A gente tem que acreditar.
Dando um sorriso de canto, Alex suspirou:
— Espero que esteja certo.
Depois, com um clima mais ameno entre eles, os dois passaram a noite observando as estrelas, e tentando formar desenhos com as que viam, até pegarem no sono.
Acordaram somente quando o Sol jogava seus primeiros raios de Sol sobre os galhos. Arck os chamava:
— Finalmente achei vocês! Eer.. desculpa, atrapalhei algo?
Alex e Justin achavam se dormindo abraçados na relva. Assim que abriram os olhos lentamente e deram com a cara um do outro tão próximas deram pulo gritando, e se levantando na mesma hora. Arck observou a reação dos dois com um risinho no rosto.
— Bom que não tinha “nada” aqui. Enquanto caminhava de noite, encontrei um vilarejo aqui perto, rodeado de grutas, talvez os nativos saibam de algo.
Justin puxou o mapa na mesma hora.
— É uma boa! Conseguiria localizar aqui onde encontrou eles?
Arck mostrou, e logo, os três estavam seguindo a trilha indicada pelo mapa. Não demorou até se depararem com um achado: era uma clareira, cheia de cabanas bem simples. Em volta delas havia realmente uma formação rochosa bastante peculiar. Alex apertou o passo ao ver a paisagem.
— Eu chutaria que a pedra está por aqui.
Justin assentiu.
— É melhor perguntarmos logo direto para as pessoas. Não temos muito a perder na nossa condição.
Assim, o jovem saiu logo correndo na direção de alguns dos moradores. Arck ficou fazendo cálculos olhando seu mapa, enquanto consultava o relógio. Alex foi observar as rochas ao redor deles, impressionada. Eram todas bastante pontiagudas, com várias reentrâncias. A pedra poderia estar dentro de qualquer uma. Ela cruzou os braços e ficou observando. Mesmo que não descobrissem nada, a paisagem era bonita e peculiar. Foi se aproximando aos poucos, despretensiosamente, quase como que atraída. Ouvia ao longe, Justin exasperado tentando se comunicar com os nativos em espanhol. Se sentiu mal por não estar ajudando, e estava prestes a voltar quando aconteceu. Toda a vegetação da encosta se abriu aos seus pés, por encanto puro, abrindo uma trilha que levava à caverna mais escondidinha da cordilheira.
—Gente! Eu não entendi bem o que houve… Mas acho que encontrei.
Os outros dois pararam o que estavam fazendo e correram na direção de Alex imediatamente.
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