O fim da noite de Alex foi mais descontraído do que tinha previsto: conversando com Justin e desabafando sobre o péssimo desenvolvimento das lições com Jerry. Quando encontrou o rapaz ao chegar em casa, jurava que iria ouvir algum sermão da parte dele; afinal, era super certinho; vê-la chegar emburrada em casa quando devia estar na aula de voo era o motivo perfeito para implicâncias recíprocas. Contudo, ele se mostrou preocupado e foi bem compreensivo quando ela, depois de hesitar um pouco, acabou lhe falando porque chegara mais cedo.

— Olha, na verdade eu já imaginava que isso fosse acontecer. Quando estava ainda me ensinando, Jerry ficava bem tenso e brigava comigo por qualquer motivo. É verdade que eu peguei o jeito mais rápido, mas... eu costumo aprender as coisas depressa mesmo. O que interessa é que eu sei o que você está passando. Devemos é entender que Jerry acabou de assumir uma responsabilidade muito grande como nosso instrutor e ainda está se adequando a isso. Acho que a preocupação que tem conosco, sendo eu afilhado dele e você sobrinha, contribui para deixa-lo mais tenso. Aliás, eu até penso que no seu caso a situação seja pior.

— Ué, por quê?

— Ora, vocês acabaram de estabelecer um laço maior! E, não sei exatamente quais são os seus problemas pessoais, mas vejo que o dindo tem uma preocupação absurda em compensar eles.  Isso deve fazer ele criar uma expectativa sobre a aula muito maior do que deveria. E quando vê que na prática os resultados não são como foram idealizados, acaba ficando frustrado, e sem querer, desconta o estresse em você.

Alex ficou um tempo encarando o colega, sem saber o que falar. Depois de alguns minutos, disse por fim:

— Nunca tinha pensado nisso. Caramba, faz realmente todo o sentido... como não tinha me ocorrido antes que era esse o motivo para ele andar tão mal-humorado? Como fui ser tão impaciente com meu tio?

Justin deu um risinho e olhando para frente, lhe respondeu:

— É normal não entender. Nenhuma pessoa comum pára pra observar esse tipo de coisa. Só que eu gosto de... estudar. O que quer que seja.

— Ok, isso já é um pouco bizarro! Gostar de estudar? E qualquer coisa? Fala sério!

O rapaz já estava pronto para dar uma resposta, mas Alex interrompeu-o, se dando conta de uma coisa:

— Espera, falando em coisas bizarras... O que você está fazendo acordado essa hora, se tem aula amanhã? Vindo de um cara tão nerd, isso é esquisitérrimo! E como sabia que normalmente eu chego mais tarde?

— Ah, é que eu tenho insônia! Demoro muito para conseguir dormir, então, normalmente eu fico aqui na sala até de madrugada. E mesmo assim, nunca tinha te visto retornar, pelo menos até hoje. Por isso, já desconfiava que havia alguma coisa errada nas suas aulas.

— Como assim?

— Eu conheço meu padrinho muito bem. Ele nunca deixaria que você ficasse acordada até tarde, tendo escola no dia seguinte. Para estar te dando aulas até de madrugada é porque ele está REALMENTE atordoado. Mas repito, posso lhe garantir que tudo isso é só porque está preocupado contigo.

— E essa preocupação toda só serviu para agora deixar a gente brigado! Grande coisa!

Nesse momento Max gritou do quarto dele:

—Escola é lindamente bagunçada, como te rasgo!

Alex, assustada, ia já subir para o quarto dele e ver o que estava acontecendo, quando Justin segurou seu braço e lhe deteu.

— Relaxa, ele fala coisas sem-sentido enquanto dorme mesmo. – E fitando o chão, rindo, Justin emendou — Já desisti de tentar entender esse garoto.

Ouvindo aquilo, a garota não conseguiu perder a piada:

— Nossa, então o caso é sério mesmo! Justin, o nerdão de Waverly Place, não conseguiu entender! Acho que vou ligar para os jornais, eles precisam saber dessa notícia bombástica!

Justin tacou um travesseiro nela em resposta. Sem conseguir conter o riso, ele retrucou:

— De nada pelos conselhos, viu? Eu fico aqui tentando te ajudar e tenho que aguentar piadinhas como essa.

— Ah, você bem que está precisando melhorar seu senso de humor, hein?

E a parti daí foram só brincadeiras, risos, e conversas sobre assuntos que eles jamais imaginaram (como as pessoas tão diferentes que eram) ter em comum. Acabaram descobrindo que ambos gostavam da mesma banda e amavam ver série. No meio das zoeiras, também acabaram inventando um cumprimento com socos rápidos, misturando movimentos de brincadeiras infantis. Enfim, se divertiram à beça, um com o outro. Apenas quando já se aproximava de uma da manhã, Justin convenceu Alex a ir dormir, dizendo que já estava ficando com um pouco de sono. Porém, antes do “boa noite”, ele resolveu arriscar contar à ela uma ideia que veio em sua cabeça:

— Olha, eu acho que sei como posso te ajudar a ficar de bem com Jerry novamente...

A menina franziu o cenho, e Justin interpretou isso como curiosidade. Então foi direto ao ponto:

— Eu posso te dar aulas de voo, sem que Jerry saiba. Assim, você aprende de uma vez por todas como pilotar um tapete mágico e com isso pode conseguir deixa-lo aliviado e mais confiante em relação a você e à própria capacidade de ensinar. Além de que poderemos começar logo o treinamento mágico, tô doido para aprender alguns feitiços!

Alex, um pouco incrédula, perguntou:

— Você faria isso por mim? Mesmo? Mas não estaríamos enganando meu tio, de certa forma, se não contássemos a ele? É muito estranho ouvir você dando uma ideia dessas.

— Eu contaria depois, quando ele estivesse menos estressado. E de qualquer forma não consigo bolar um plano melhor. E então, aceita? Eu estou muito a fim de te ajudar! – Falou ele sorrindo para Alex e estendo sua mão na direção da dela. Com um aperto longo e carinhoso eles selaram o plano. Quando as palmas das mãos se encostaram, novamente sentiram aquela onda de energia, porém ainda mais intensa agora. Contudo como já estavam acostumados com a presença constante um do outro e por isso, também com acontecimentos do tipo, apenas se fitaram por um tempo; ambos com um sorriso no canto dos lábios, demorando um pouco mais que o normal para soltarem as mãos.

Em seguida, deram-se um breve ”boa noite”, se encarando com afeição e foram para os quartos com uma leveza e alegria inexplicável. Justin tentava realmente conter isso, mas a sensação de estar perto de Alex era tão boa que em vezes como essa; ele simplesmente não conseguia controlar essas sensações.

No dia seguinte, num momento em que ficaram à sós na sala do apartamento, eles marcaram a primeira aula para aquele mesmo dia à noite. Tanto Alex, quanto Justin nunca aguardaram tão ansiosos, cada um à sua maneira, pelo fim do pôr-do-Sol... 

Harper e Max tinham combinado pelo celular, há alguns dias, de sair para encontrar uns amigos do tempo de espetáculos. Iriam aproveitar para saber por meio deles, se já seria prudente conversar pessoalmente com seus pais. Por isso, o apartamento estaria vazio àquela noite, perfeito para que não dessem falta de Alex e Justin, enquanto eles estivessem voando no tapete mágico pela cidade.