Eu preciso dizer que te amo escrita por Miss Ann


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/693879/chapter/5

2015

Eva pensou que rolar do sofá para ser obrigada a ficar em pé até poderia ser uma ideia inteligente se estivesse sóbria, mas de ressaca (e provavelmente ainda com vinho circulando no seu corpo), a única coisa que conseguiu foi cair por cima do corpo inanimado de Aidan que dormia (ou num coma profundo, o que parecia mais apropriado). Duas garrafas de vinho repousavam vazias sobre a mesa, além de copos que sugeriam que eles tinham bebido alguns coquetéis.
— Pela amor de Deus, a gente tem mais de trinta anos. A gente já tinha que ter aprendido a beber. - resmungou, rolando para o lado do corpo do amigo, cuja dificuldade maior parecia ser respirar e piscar os olhos ao mesmo tempo.
— A gente tem é que colocar uma cortina mais grossa na sala porque esse sol está de cegar. - ele enfiou o rosto nas costas e abraçou a cintura dela, o que fez Eva expirar lentamente e sorrir, fechando os olhos. Se ele soubesse como era tão gostoso conviver com ele... Aidan mal tinha ideia da felicidade que ela sentira quando ele voltou com suas malas para o apartamento uma semana depois daquele dia fatídico.
Aidan aspirou o cheiro de cerejas frescas entranhado na pele da amiga e se perguntou como podia se sentir tão confortável com um cheiro como quando sentia o dela. Era estranho que quando voltara ao apartamento, nada parecia ter mudado na forma como se tratavam. Em compensação, a sua relação com Allie, na época, tinha entrado em declínio numa velocidade impressionante. Brigaram de cara, quando ele disse que voltaria a morar com Eva porque ela precisava dele (e, porque, secretamente, ele precisava daquilo). Depois de algumas semanas, reataram a relação, mas ambos sentiam o estremecimento entre eles. Continuaram tentando por mais alguns meses, até que alguns fatos levaram ao término final e necessário.
— Aidan... - ronronou Eva.
— Fale, Ace.
— 'Cê pode me soltar para eu tomar um banho porque minha aula começa daqui a pouco, igual a sua? - ele apertou o abraço.
— Tenho uma ideia melhor. Que tal irmos dormir por doze horas e acordar sem sono e ressaca?
— Parece bom... Mas prefiro ir agarrar Miguel e dar um golpe que eu possa enrolar minhas pernas naquele quadril delicioso dele. - Aidan a largou, escutando a gargalhada divertida dela ecoar. Miguel era o professor de Jiu-Jitsu dela e, por mais que tentasse disfarçar, Aidan sentia um puta ciúme daquele latino de sorriso torto maldito. — Vou tomar banho. Vai querer uma carona?
— No banho? - Eva apenas arqueou a sobrancelha.
— Não brinque com o que não pode aguentar, Carter. - ambos se olharam seriamente por um instante, antes de começarem a rir e ela ir para sua suíte, enquanto ele aproveitava mais alguns minutos de sono.

*

Aidan voltou a se alongar mais uma vez diante do espelho que ocupava a largura de toda uma parede. Observou algumas mulheres atrás deles secarem suas costas e seu reflexo sem qualquer pudor e expirou profundamente. É o preço por querer aprender certas coisas, pensou com certa amargura, antes de se virar. Faltavam alguns minutos para acabar e o professor deixara para o ensaio livre, mas nenhuma das garotas ali estava sendo convidativa o suficiente para que ele quisesse tirá-las para dançar. Tinha dançado com todas elas hoje e ainda assim faltava...
— Já acabou, Aidan? - a voz penetrou seus pensamentos e ele olhou para a porta, avistando Eva em sua calça de moletom e regata, com a bolsa transpassada pelo corpo. Então ele sorriu: faltava química.
— Vem aqui por um instante, por favor. - o local onde estavam era uma academia que oferecia, além dos pacotes normais, aulas de dança e artes marciais. — Preciso revisar algumas coisas. - ele mesmo foi atrás dela e a puxou para dentro do salão, percebendo a vergonha da mesma. Tirou a bolsa dela, jogando-a num canto qualquer e a levou para perto da caixa de som, para colocar uma música que lhe apetecesse.
— Por qual motivo você está me obrigando a isso? - resmungou ela. Eva estava cônscia que metade das mulheres ali a odiava apenas por trocar palavras com Aidan. Oras, imagine se soubessem como conviviam e... — Perdão?! - Aidan a segurou forte pela cintura e ela sentia cada parte do corpo dele.
— Esqueceu que isso é aula de zouk, Ace? Ainda acho que estamos afastados... - sussurrou ao pé do ouvido dela e ela soltou um rosnado que apenas o fez rir e abraçá-la mais forte. — Apenas imagine que estamos sozinhos, meu bem, como fazemos em casa. - ele começou a mexer os quadris, induzindo-a a fazer o mesmo apenas para conhecer o tempo da música. Ele ensinava os passos que aprendia em casa aEva porque esta tinha vergonha de fazer as aulas por... Bem, por ter que ficar rebolando e sensualizando durante a dança com caras desconhecidos. Não era a vibe dela.

Aidan apenas segurou a mão direita dela e a guiou a fazer os rebolados mais suaves durante a introdução lenta da música e Eva o encarou, vendo a segurança que ele transmitia. A batida mais forte da música começou e ele continuou-a guiando apenas com uma mão, mantendo-se afastado até sentir que ela estava o confortável o suficiente para que ele se aproximasse, o que não demorou muito. A fluidez que existia entre eles tornava o simples ato de dançar infinitamente mais prazeroso e único. A confiança entre eles era grande e a química e o tesão secreto era ainda maior. Então, não havia nada mais excitante do que quando os olhos se encontravam e ela tinha que rebolar sobre a coxa dele, ou voltava de um passo jogando seu cabelo e mordendo a boca apenas para vê-lo sorrir daquele jeito terrivelmente pervertido. O corpo de Eva era bastante flexível, por conta das aulas de ballet que tivera até os dezessete anos, e isso junto à vontade dela de agir como uma pessoa sexy tornava os passos ainda mais bonitos. Num momento, ele a girou e, retornando ao passo básico, enfiou a coxa entre as dela e a fez arquear as costas num movimento gracioso. Eva, por sua vez, reconhecendo as batidas finais e o abaixamento constante das notas, apenas retomou a sua posição inicial lentamente, sentindo os cabelos caírem pelo rosto úmido de suor, enquanto ela sorria. O rosto de Aidan estava tão próximo que ela sentia a respiração dele e essa proximidade não era incomum, mas sempre era dolorosa porque ela queria avançar um passo que não podia. Então continuou ali, olhando-o, os olhos verdes que se prenderam um segundo a mais na boca dela e agora fitavam os olhos castanhos. Se sentia invadida e isso gerava um paradoxo entre gostar e estar intimidada.
— É uma delícia dançar com você. - a voz dele estava rouca e, por um instante, ela relembrou um momento que não deveria e fechou os olhos. Conhecia aquele tom de voz: ele era perigoso demais para ela.
— Preciso ir para casa revisar alguns casos. - replicou tão baixo quanto e se desvencilhou do abraço com gentileza, antes de pegar a bolsa e sair a passos rápidos da sala. O corpo dela queimava por ele e, nesses momentos, tinha a impressão que Aidan apenas fazia isso para testar até que limites ela poderia chegar. Nem ela conhecia seus limites para saber.

Sentiu que apenas respirou quando se fechou dentro do carro e apertou o volante. Tentou respirar fundo, mas não conseguia, então levantou o olhar e contou cinco coisas que poderia enxergar. Respirou uma vez. Apertou mais uma vez o volante, o rádio, a marcha e seu próprio rosto. Mais uma vez respirou. Escutou o som dos carros ao redor, o apito do guarda de trânsitos e sua própria expiração. Outra vez inspirou. Sentiu o cheiro do carro recém-limpo e do perfume em seus pulsos. Uma penúltima incursão respiratória. Colocou uma bala na boca e sentiu o gosto refrescante do eucalipto. Por fim, sentiu que respirava como uma pessoa normal outra vez.
— Você está bem? - ouviu, assim que a porta do carro foi destrancada.
— Estou ótima, Aidan. - conseguiu até sorrir, ainda que fraco. — Coloque o cinto, por favor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu preciso dizer que te amo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.