Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Primeiro agradecer a todos pelos comentários e pela recepção. Agora até estou com receio de não exceder as expectativas. Rsrsrssrsrrs. Fiquei muito feliz mesmo, li e respondi todos reviews com muito carinho e felicidade.

A Suellen (Obrigada) sugeriu um nome para o casal Damien e Darcelle:
Damielle, Darmien ou Damelle? Digam as vossas sugestões!

Boa leitura,



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Damien se encostou a janela observando a limusina se afastar para lá dos portões da mansão. Christian e Emma iam a uma gala beneficente da mais alta sociedade para representar os Beauchamp. Seu pai tinha morrido há dois anos, mesma altura em que a mãe voltara para França, sem se dignar a conversar com o filho a não ser o necessário e isso incluía um cheque gordo mensalmente, para além da parte a qual recebera do marido.

A noite não era das melhores, o céu estava nublado e o vento frio trazia a mensagem da chuva. O solitário andou até ao enorme bar da sala de estar e se serviu de uma dose de uísque, voltando para perto da janela.

— O senhor alguma vez já experimentou sair?

Ele saltou ao ouvir a voz da assistente, e se lembrou de não estar a usar a máscara por isso encobriu o rosto mais entre as longas cortinas vermelhas, sem se virar.

— Isso não é da sua conta.

Darcelle já trabalhava na mansão há um mês, seu trabalho era fazer de tudo um pouco. Não nas limpezas ou cozinhas, para isso tinham profissionais. Antes cuidava de coisas pessoais dos noivos, e tratava daquilo que lhe era pedido. E nesse mês, nunca antes se atrevera a dirigir a palavra ao patrão, exceto aquela noite fria.

— Já pensou que o estranho é aquilo que não estamos habituados a ver? Se parasse de se esconder, todos já estariam familiarizados com o seu rosto. — Às vezes a boca era mais rápida que a razão. Várias vezes fora alertada para não se dirigir ao patrão, mas ao passar da sala para ir para casa e vê-lo ali sozinho, a vontade lhe concedeu outra coisa.

— Não tenho conversas com estranhos e muito menos com os empregados. — Bebeu o gole no escuro, o ardor da bebida lhe queimava a garganta. Para receber dinheiro da sua empresa já não se incomodavam, mas para passar um convite em seu nome, se transformava no Monstro Beauchamp.

— Desculpe a intromissão, senhor. Só pensei que…

— Não és paga para pensar coisas a meu respeito. — Interrompeu sem hesitar, a mão apertava o copo de uísque com força. Quem aquela jovem pensava que era? Damien tinha visitado os melhores cirurgiões e psicólogos, já tinha escutado toda a ladainha possível naqueles dez anos. Isolar-se fora a melhor solução pois poupava a si e aos outros. — A língua estirada deve ser problema de família, bem que Chris me avisou — murmurou.

— Como?

— Nada. Pode ir!

Darcelle ia dar um passo para se ir embora, contudo, a figura triste de Damien junto a janela a olhar para o nada e a beber, apertou-lhe o coração. Quando a mãe de Jamie morrera, muitas vezes tinha visto o tio naquela situação. Um ser vivo com a alma morta.

— Quer que lhe faça algo antes? Uma sanduíche ou coloco uma música?

Damien não respondeu, manteve-se quieto e agradeceu quando ouviu passos da assistente se afastarem para longe da sala de estar. Terminou o seu copo e voltou para o bar para reabastecer, quando de repente a luz do lugar foi acesa.

Darcelle trazia uma bolsa de pano pendurada no ombro esquerdo, e um prato de sanduíche de queijo e tomate na mão. O coração bateu ao encontrar o monstro de Beauchamp encará-la sem máscara, o lado direito completamente obstruído por cicatrizes. Houve um silêncio ensurdecedor na sala onde apenas se ouviu o barulho do trovão e logo a seguir o som da chuva.

Uma vez, Jamie vasculhara na internet as fotografias do famoso patrão da prima, tendo encontrado apenas as antigas, um jovem belo e com tudo para ser o que quisesse. As outras que revelavam o rosto atual tinham sido compradas na totalidade e proibidas de circulação na internet. A curiosidade das primas era grandes, mas agora, a assistente preferia nunca ter visto.

— Ainda acha que devo sair? — Era suposto Damien gritar e mandá-la embora no segundo a seguir, irritado pela teimosia e intromissão. Mas o choque e a vergonha o tinham feito se proteger de outra forma. Ainda se lembrava de como Emma não conseguira desfrutar do jantar quando o noivo se dignara a retirar a máscara. — É fácil dar lições moralistas e discursos encorajadores. Olhe para mim, as pessoas torcem o rosto quando encontram a verdade por trás da máscara. Para onde vou sair se os convites pararam de chegar?

Darcelle ainda se encontrava calada, o coração palpitava como nunca e a mão com o prato estremeceu. Tudo naquele homem parecia certo e perfeito, mas aquela parte do rosto era aterradora. Ainda assim, em nenhum momento baixou os olhos.

Ele riu ironicamente, a respiração acelerada por ter estado exposto diante de uma estranha.

— O que vais dizer agora? Ah, deixa adivinhar: Sentes muito — declarou num tom cheio de aspereza e zombaria. — Eu não quero a sua pena.

— Mas eu não sinto muito e nem tenho pena do senhor, Beauchamp. — Finalmente colocou o prato sobre a mesa de centro entre os sofás e ganhou coragem para caminhar até junto da janela, onde agora se encontrava o patrão a apreciar a chuva.— Acho que a sua cara coincide com a sua alma.

Pela primeira vez, Damien encarou melhor o rosto de Darcelle: Viu como era fino e delicado, com o cabelo entrançado em longas tranças todo apanhado num elástico para baixo, e um batom claro e suave.

— Quando a pessoa é má, por muito bonita que seja, se torna desagradável a presença. E quando é feia, se for muito boa, passamos a aprecia-la. O senhor se escondeu por trás da sua máscara, temendo a pena das pessoas e fechando os muros para não sofrer.

Ele tinha o rosto novamente escondido entre as cortinas, deixando a parte boa do lado da empregada. Levou o copo a boca, estalando a língua ao ingerir o líquido.

— Pensas que eu não tentei de tudo?

— Penso que sempre foi arrogante e que passou a odiar a si mesmo, deixando de aceitar conviver com os outros e a sua nova condição. Por essa razão os convites pararam de chegar e as pessoas se afastaram. Deve ter estado tão concentrado na sua própria dor, que não terás enxergado a dos outros. — Estava a falar de mais, sabia disso, mas sentia necessidade de lhe dizer o que pensava. Num único mês conseguira observar a relação dos noivos e lhe parecia tão fria e sem vida.

— E qual seria o seu conselho, senhora Johnson? — O sarcasmo estava carregado na voz, e os olhos azuis não a encaravam de todo.

Até há bem pouco tempo não parecia se importar com o que tinha para dizer. Darcelle tossicou.

— Que tente ser feliz, senhor Beauchamp. Saia para o seu jardim, vá até a sua empresa, chame os seus amigos, leve a senhorita Charlton para sair. Deixe que se habituem a vê-lo para além da máscara.

Damien riu de desgosto quando se lembrou das crianças que gritaram ao vê-lo certa vez no centro comercial, e de quando foi convidado a se retirar de um restaurante Gourmet por causa dos outros clientes. Tinha tentado se habituar.

— Sempre vai ter quem não goste. — Pareceu ler seus pensamentos. Deu de ombros com todo o descaso. — Não é preciso ser bonito ou feio para isso acontecer, basta estar vivo. Então para quê se privar?

Não esperou se despedir para se afastar de perto do patrão, apagando a luz no percurso.

— Senhora Johnson. Peça ao Étienne que te leve a casa.

— Obrigada.

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“Gala beneficente!”

A irritação de Christian era patente, não se lembrava de quando é que se transformou na imagem de Damien Beauchamp, mas a verdade é que já não sabia fazer outra coisa senão representá-lo em todos lados. Enquanto Emma Charlton parecia muito bem preparada para entreter as senhoras ricas e pomposas, por sua vez, o administrador das empresas Beauchamp, estava aborrecido e emborcava uma taça atrás da outra.

O discurso foi feito com precisão embora as imagens começavam a ficar borradas, e foi nessa altura em que ele decidiu ir embora. Ligou para Étienne para que fosse levar a senhora Charlton, e seguiu no seu carro para fora daquele lugar aborrecido. Não entendia por que Damien se ressentia pela falta de convites, estar ali era uma seca!

Enviou mensagens de voz para cinco de suas amigas, na espera da primeira que respondesse e lhe quisesse aquecer a cama naquela noite chuvosa.

A ideia até era boa, se não visse uns faróis contramão na sua direção e girasse o volante com toda força para o lado oposto, batendo com a cabeça e tudo ficou negro.

 

— Paciente na sala dois! Acidente na esquina Central, motorista sem lesões graves. — A médica do plantão lhe passou a ficha do paciente e correu com outro grupo para um caso de incêndio que acabava de chegar a entrada das urgências.

Jamie suspirou com a mão a tremer, mesmo estando no Top 3 dos melhores alunos e no quinto ano, ainda a tratavam como incapaz, dando lugar a filhos de pessoas com algum nome valioso.

Quando fora aceite na residência do Hospital Central, não imaginava ser tratada daquela maneira. Mesmo tendo passado a residente, o desprezo pela sua pessoa era camuflado mas notável. Bateu a porta no quarto antes de entrar e estacou ao ver o petulante do mês passado sentado na cama com a testa aberta e o lábio a sangrar.

— Ora, ora se o mundo não é redondo! — Não resistiu a espicaçar enquanto abria a ficha e se apressava para ler o relatório da médica chefe.

— Oh, não! Tens cara de tudo menos de médica! — Exclamou e reclamou da dor no lábio. — Quero ser atendido por outra pessoa.

— Vieste parar no hospital público, não é como se tivesses muitas escolhas — Vociferou Jamie, a segurar-se por estar no local de trabalho. — Nenhuma fratura ou lesão, nem ameaças de sangramento interno. Preciso lhe suturar a ferida e lhe dar analgésicos.

— Em que ano estás, primeiro? — ironizou ao ver a mesma lhe ditar os procedimentos a serem feitos. — Não é uma profissão a condizer com tua postura.

— Quinto. A segunda melhor da residência — Virou o corpo com o peito erguido cheio de orgulho. A garganta ardeu pelo esforço de engolir a saliva. — Infelizmente pessoas como eu, não têm muita sorte quando existem pessoas como você que dizem que a medicina não é uma profissão condizente comigo.

Chris sentiu a anestesia ser aplicada e fechou os olhos. Por alguma razão se enveredara pelo campo organizacional da coisa.

— Não gosto de hospitais públicos. Ninguém viu o meu cartão de saúde? Eu deveria ter sido transferido — Trocou de assunto, levemente desconcertado pela indireta anterior de Jamie.

— Para onde? A Dash & Dash Private Pratice? — Jamie estava a brincar quando disse aquilo, e aceitou o silêncio estranho como resposta. Terminou de suturar a ferida e pela primeira vez viu os olhos verdes no rosto angular, quando se aproximou para limpar os lábios e os agrafar.

Ela foi até a mesa passar uma receita e quando abriu novamente a ficha para copiar o nome do paciente é que abriu a boca. Christian imitou um olhar irónico, com um sorriso vitorioso nos seus lábios. Dash & Dash era a maior clínica médica do país, com sucursais em vários locais. Respirou fundo.

— Eu ia aconselhar algum descanso, senhor Dash. Mas deve preferir ir para a sua clínica privada — murmurou, sua postura se transformara em séria e se levantou para lhe entregar os papéis. Lembrava de Darcelle ter pronunciado aquele nome, contudo, não o associara ao famoso nome médico. — E a próxima que beber não dirija!

— Não sou nenhuma criança para que me diga o que devo ou não fazer — resmungou a levantar-se. Parecia que tinha uma abóbora em cima da cabeça.

— Não parece.

— Nem tudo o que parece é. Veja, julguei que fosse uma barraqueira das festas e me aparece aqui de bata branca!

— Ah, mas também sou uma barraqueira das festas. Nisso, acertaste!

— Quero ir embora, senhora Johnson! Não acidentei de propósito só para lhe ver.

— Faça-me o favor!

Onde tinha ficado toda sua ética médica?

Enfiada no… dele! Pensou Jamie.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? As primas Johnson são realmente atrevidas, não haja dúvidas. Tenho a certeza que a vida delas e dos melhores amigos vai dar uma volta de 360 graus!

O que pensam da conversa de Darcelle e Damien? Foi interessante?
Volto amanhã com mais um capítulo.

Qualquer ideia, sugestão, crítica, elogio? Por favor não hesitem.