Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Bem, muito obrigada a todas. Nem sei expressar tamanha gratidão pela atenção dada. Estou muito feliz,

Amanhã é meu aniversário, e este é o último capítulo a postar até na segunda.
Espero que gostem.

Boa leitura,



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Normalmente a reunião semanal sobre o balanço das empresas, e os relatórios e atas entre mais, eram apresentadas por Christian ao amigo, todas as sextas feiras. Pela primeira vez, naquela manhã nublada, Damien parecia distante.

— Que bicho te mordeu? — Quis saber, afastou as pastas de trabalho para o lado e passou a tamborilar os dedos na mesa de mogno. Estava impaciente, com um curativo na testa e os lábios arroxeados.

— A Emma parece uma garota interessante, nestes últimos quatro meses não pareceu se quebrar ao todo. Está a ser diferente de todas outras que puseram cá os pés... ela sabe lidar comigo — confessou com os olhos irrequietos nas órbitas. Tinha remoído as palavras da assistente pessoal, não que não tivesse ouvido coisas iguais antes, mas não daquela forma.

— E o que pretendes? Fazer um jantar maravilhoso a luz de velas para relembrar o amor perdido no inferno negro que é o teu coração? — Chris tinha a cabeça inclinada para o lado, numa forma direta de mostrar a sua incredulidade.

— Talvez. — Damien soergueu ligeiramente os ombros. E sentiu sua face corar quando ouviu o amigo rir as gargalhadas. Respirou fundo. — Não entendi a piada, Dash.

— Esquece. — Levantou-se da confortável cadeira de napa e se espreguiçou na frente do amigo, arrancando uma expressão de desaprovação. — Tenho que ir jantar com os meus pais hoje. A mesma ladainha de sempre! Perguntas sobre eu administrar a Beauchamp ao invés da Dash & Dash Percebes?

— E é só isso que te deixa assim? — Com as mãos pousadas sobre a mesa e os dedos entrelaçados, o herdeiro Beauchamp parecia um aristocrata devido a postura.

— O facto de quererem que me case e que tenha uma namorada. Christian! Tens trinta e um anos, devias arranjar alguém! — Imitou a voz da própria mãe e girou os olhos dentro dos orbes. Isso, sem contar ter de explicar sobre o acidente.

O Monstro du Camp queria dizer que sentia existir algo mais para além disso, só não sabia bem o quê. Limitou-se a assinar os documentos com a mão esquerda.

****

Joanne estacionou o Jaguar em frente a uma pastelaria no alto da cidade. O carro tinha sido presente de Beauchamp para a irmã mais nova, Emma tinha reclamado da última vez em que Christian Dash a abandonara na Gala Beneficente e tivera que esperar o motorista ir até ao subúrbio deixar a empregada, e só depois ir buscar a futura senhora Beauchamp.

As primeiras gotas de chuva começaram a cair quando deixara o filho na creche. O rapaz sempre chorava como se fosse a primeira vez, deveria agradecer por já não terem de subir o transporte público desde que Emma passara pelos critérios de Damien.

A mais nova aparecera logo cedo na casa, e logo a seguir William entrou no quarto onde se trancaram entre gemidos e gritos desconfortáveis. Joanne sempre pedia para a irmã ter cuidado, ou podiam deitar tudo a perder!

— Olá, Jo. — A porta do carro se abriu e uma figura entrou, comia um pastel de nata e sorria de ponta a ponta tal como o gato de Cheschire. — Servido?

— Não. Não pretendo demorar. — Tirou um envelope do porta-luvas, e de lá um cheque ao portador assinado.

Beauchamp, uau! Isso eleva a fasquia.

— Esse vai ser o último como combinado. Pelo menos até ao casamento de Emma.

— Não se preocupem. O vosso segredo está bem guardado comigo. — Riu com muito divertimento e saiu do carro, deixando um pastel de natas para trás.

 

****

Jamie se sentia deslumbrante naquela noite, a saia de cintura alta e a blusa de mangas compridas escondiam as imperfeições e realçavam todo o resto, como as pernas longas e o busto saliente. Não podia acreditar que Lorenzo a tinha chamado para jantar num restaurante caro, e nem mesmo os olhares duvidosos na receção a desmotivaram.

Lorenzo estava lá no fundo, num canto reservado e com altos sofás a cobrir tudo. Acenou para a namorada com o sorriso largo e os caracóis dos cabelos cobriam sua testa. Ainda assim, passou a maior parte do jantar desconfortável.

Conversaram sobre o hospital e o quanto Jamie estava magoada pelos pacientes ora preferirem ser atendidos por médicos mais velhos ou com a tez mais clara. A forma como a escalavam para atendimentos supérfluos e as poucas vezes a qual fazia parte de uma equipe de cirurgia. O jovem Wright também lhe falava do jornal, o único momento onde parecia relaxado, e também sobre os irmãos no internato e a ideia de criar um noticiário televisivo.

Eram amigos e se davam muito bem não fosse o facto de se verem pouco e em locais discretos. Quanto mais, melhor.

— Obrigada por me trazer aqui, é importante provar que não tens receio de estar comigo em outros lugares — disse Jamie logo após pedir a sobremesa, ignorando o olhar reprovador do namorado por ingerir doces.

— Isso é um absurdo. Deves deixar de ouvir as pessoas, Jamie. — Aconselhou, a voz perdida entre os olhares atentos pelas mesas.

Uma discussão mais acesa rolava três mesas depois da deles, e foi fácil reconhecer os Dash e o casal de filhos. Christian resmungava qualquer coisa, quando a irmã por sua vez estava atenta ao telefone de última geração. Os pais pareciam impávidos.

Os Dash. Entrevistei o casal de médicos, são especialistas há mais de quarenta anos. O velho então tem vários livros de medicina que são usados nas universidades. — Lorenzo tinha o Menu a cobrir o rosto, embora já tivesse dito que não ia comer mais nada. — Olha, volto já.

Jamie reconheceu Christian Dash, afinal não era mal criado só com ela. Concordou com um aceno quando Lorenzo saiu de cabeça virada e passou pelas mesas sem olhar para os lados. Aguardou.

Trinta minutos depois de comer a sobremesa e de ter feito chamadas e enviado mensagens, finalmente Lorenzo respondeu:

Desculpa, tive um imprevisto no jornal e não consigo voltar. A conta está paga.

Os olhos da Johnson se encheram de lágrimas e se levantou no mesmo momento deixando o restaurante com pressa. Assim que alcançou o pátio, lágrimas escorreram uma atrás da outra, e abriu a carteira para encontrar o passe do autocarro. Estava frio e a chuva fustigava tudo. Jamie apenas descalçou os sapatos e caminhou pela estrada, sequer tinha dinheiro para um táxi.

 

Christian se levantou da mesa com as mãos para o alto. O habitual jantar mensal dava cabo de seus nervos! Atirou notas para cima da mesa, não que fosse preciso e ouviu a mãe pedir para que se sentasse, mas já era tarde. Abandonou o restaurante e correu para o carro de luxo, com a ajuda de seguranças e guarda-chuvas do recinto.

Conduziu irritado, murmurando blasfémias contra o pai. O tratavam como criança, e sendo dono do próprio nariz, não podia admitir. Ao passar pela rua, a figura a andar no meio da chuva chamou sua atenção! Não iria reparar não fosse o corte de cabelo e a estatura física. Que diabo estava aquela louca ali a fazer?

Para uma médica devia saber que andar no meio da chuva não é uma boa ideia. — Reduziu a velocidade e desceu o vidro. Johnson o encarou, o olhar molhado não certificava se era pela chuva ou por outra razão, mas de alguma forma inquietou Chris.

— Por favor, não estou para isso. Não hoje! — Recomeçou a caminhar, ignorando o amigo do patrão de Darcelle. Fosse por orgulho ou por vergonha.

— Entra, eu te levo para casa. — Dash acelerou um pouco até alcançar a jovem que estava toda molhada. Viu a dúvida percorrer os olhos escuros da médica.

— Por que farias isso? — Perguntou. Era óbvio que os dois se detestavam.

— Eu não sei — respondeu com sinceridade. Ainda mais por saber que ia molhar os bancos de veludo do seu maravilhoso carro. Talvez não fosse boa ideia. — Entra!

Jamie hesitou, ponderava quanto tinha que andar até chegar ao próximo ponto de paragem e sentiu o frio lhe congelar a espinha. Entrou logo, fechando a porta e começou a tremer sem parar. Ele ligou o aquecedor.

— Vou mandar a fatura da limpeza dos bancos para tua casa — disse ao vê-la pousar os sapatos encharcados, a bolsa e agradeceu por não ter cabelos longos. — Do tapete também.

— Posso pagar em cem vezes, até lá os bancos terão mofado! — A voz estava chorosa, e recebeu os guardanapos de papel para limpar o rosto molhado. Parecia infeliz.

— Tua casa fica longe daqui, entretanto posso passar da minha para que te seques e depois seguimos. Não é boa ideia ficares molhada. — A ideia lhe escapou da boca, se arrependendo depois. A regra era não levar mulheres para casa, mas Jamie não era um de seus casos, apenas uma conhecida, então não se aplicava.

— Não quero incomodar.

— Ah, mas tu sempre me incomodas. Hoje que não o fazes, é quando dizes tal coisa. — Bufou, e acelerou o carro de dois lugares em direção a sua casa. Estavam no bairro nobre, até chegar as zonas periféricas - onde viviam as Johnson, era uma distância grande.

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Darcelle ouviu um estardalhaço vindo da sala de jantar, e correu para lá. Tinha terminado de organizar a lista de compras para casa, enviou os requisitos de Beauchamp para uma entrevista a dar e os convites do casamento para amigos e conhecidos. Era hora de ir para casa, a chuva era açoitada pelo vento e pensou que alguma coisa tivesse caído caso uma janela tivesse ficado aberta.

Encontrou Damien ofegante, tinha atirado um jarro de porcelana para o chão junto com tulipas vermelhas.

— Senhor Beauchamp? — chamou, e se agachou para recolher os cacos de vidro e reunir as flores. O olhar inquisidor no rosto da jovem assistente.

— Pode arrumar tudo, leve a comida, faça o que quiser... Mas tire tudo da minha frente! — Passou a mão pelos cabelos loiros, e a raiva parecia encher o peito do jovem herdeiro.

— A senhora Charlton não vem?

— Não respondo a suas questões. Faça o que lhe digo — ordenou. A voz falhou uma ou duas vezes, inconformado pela situação. Quis atribuir a culpa a negra por ter-lhe dito coisas nas quais não acreditava, quis também colocar a cabeça na pia e ficar por lá.

Darcelle saiu para deitar o lixo e regressou. O chefe estava sentado em silêncio e brincava com sua taça de vinho, o olhar tão distante que nem se apercebeu quando a assistente se sentou.

— Eu janto com o senhor.

Beauchamp levantou o rosto e uniu o sobrolho um quanto incrédulo. Riu da própria desgraça e meneou a cabeça.

— Não janto com os meus empregados.

— Meu horário de trabalho já acabou, neste momento sou apenas Darcelle.

Era atrevida a moça! Parecia firme e decidida no que fazer. Nunca antes nenhum empregado seu se dignara a chegar perto, quanto mais impor a presença diante dele.

— Eu não quero a tua pena! — Bravejou, a cabeça baixa fazia os cabelos cobrirem o rosto sem máscara.

— Mas eu não tenho pena — afirmou sem hesitar. — A chuva lá fora não está muito boa, e o senhor me deu toda esta comida mas minha prima foi jantar com o namorado. Somos dois solitários.

— Não me compare a si! — Damien se levantou da mesa, dando costas, habituado a se esconder de tudo e de todos. Se nem ele conseguia se olhar, imagina os outros.

— Por quê?

— Você tem escolha, senhora Johnson. Pode estar com uma companhia quando quiser. — Rosnou e virou-se de frente para a jovem. Os cabelos loiros sedosos ondularam com o movimento.

— O senhor também tem escolha. Estou a oferecer a minha companhia neste momento.

O Monstro du Camp engoliu em seco se questionando: Como podia Darcelle estar tão serena diante daquela situação.


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Notas finais do capítulo

Imagem tirada do google, créditos para o autor.

A relação "Jamian" vai desenvolver mais rápido que "Damielle" mas com tantas turbulências quanto.

Me digam o que acham de tudo, por favor.

aceitos comentários de presente! *baratinha*

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Mandem msg, perguntem.

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