Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão a acompanhar, espero que gostem.

Boa leitura,



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— [...] E sabe o que ele disse? Rua! Rua da minha casa. — Darcelle tinha os olhos bem abertos enquanto contava o que acontecera à sua prima, Jamie.

Estavam sentadas na mesa da sala, era um espaço aberto com sala de estar, de jantar e a cozinha tudo junto. Dois quartos e uma casa de banho.

— Não podias dar-te ao luxo de perder este emprego, pagava melhor que o de babá e o trabalho extra no jornal Tempo nos deixou um pouco apertadas aqui. — A sua prima era mais alta e não era magra de todo, ainda assim a sua beleza era única, com os olhos escuros tal como a pele e uns lábios sensuais. Usava o cabelo curto, com caracóis no alto e raspado de lado.

— Ele me insultou, Jamie. O que quis dizer com uma pessoa como eu? — Ainda estava indignada, o café tinha esfriado em cima da mesa, e os olhos brilhavam cheios de raiva. — Ainda me dei ao luxo de ser educada, deveria ter dito umas poucas e boas.

— O Lorenzo vai ficar dececionado. Eu implorei para te dar algo para fazer no jornal e por sorte esse amigo dele, outro jornalista, te arranjou um emprego fixo com contrato, horas extras, subsídios, assistência médica. Sua tonta! Sabe o quanto isso é difícil? — Agora vasculhava as inúmeras faturas de contas e sem esquecer da hipoteca do apartamento. Não escondeu o desapontamento.

— Eu vou conseguir outro emprego. Nem que tenha que trabalhar em três sítios diferentes, sabes que o farei — afirmou Darcelle. Tinha o sobrolho unido e levou a mão a cabeça.

Eram primas de primeiro grau, seus pais eram irmãos. Tinham saído de um bairro suburbano para fazer faculdade na cidade grande, juntas, pois assim foram criadas. Darcelle não terminara os estudos no curso de Literatura pois o trabalho como babá dos Wright ocupava muito tempo. Passava dias e noites, sem esquecer das viagens feitas. Foram 5 longos anos a trabalhar para aquela família. Sentia saudades. Por sua vez, Jamie estava na batalha no curso de medicina, era uma das mais inteligentes e ainda assim, todos os dias era obrigada a provar a todos o seu lugar.

— Desculpa. Tens razão, o homem não deveria ter ofendido. Não te preocupes, estamos juntas em tudo. Sempre...

— ... E agora. — Darcelle completou com um sorriso sincero, embora os olhos refletissem a culpa por ter sido orgulhosa diante do monstro du Camp. — E tu e o Lorenzo?

Os olhos da prima perderam um certo brilho, e deu de ombros fingindo um falso descaso. Jamie se levantou até a cozinha.

— Muito trabalho no jornal e eu na residência. Alguns desencontros — A voz soou triste enquanto servia mais café nas chávenas. — E nós temos esse mundo tão diferente.

— Já passam dois anos, Jamie. Esse namoro só se resume a estas quatro paredes, nada de família e nem de amigos.

— Nós conhecemos a família dele, Darcelle. Como pode dizer isso? E... o Lorenzo me leva para sair as vezes, e como nos vemos pouco é normal que queiramos estar a sós!

— Conhecemos a família porque eu era babá dos irmãos dele. Como podes ser tão inteligente e tão burra ao mesmo tempo? Eu gosto do Lorenzo mas está claro que nunca assumirá a vossa relação — respondeu sem hesitação. As duas tinham muito em comum, o temperamento forte.

— Isso diz a senhorita que nunca teve um namorado! — A resposta de Jamie foi  suficiente para fazer Darcelle se levantar da mesa e se trancar no quarto.

As duas estavam furiosas quando a campainha do apartamento tocou.

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Emma recebera a fúria do amante, William, quando o contara sobre a expulsão da nova assistente da mansão Beauchamp. Os dois estavam na casa das irmãs Charlton, fumavam um cigarro na varanda coberta por trepadeiras e viam o filho de Joanne brincar no jardim da pequena casa.

— É prima da amiga do filho do chefe. Penso que tem um caso, mas Lorenzo não admite. Ele vai ficar dececionado comigo, e bem sabes que preciso de uma promoção no jornal Tempo. — Tragou o cigarro com força, não escondendo a irritação. — Resolve isso, Emma. Pelo amor de Deus.

— Não é como se tivesses fé suficiente para isso. A petulante afrontou Damien! Ninguém o afronta — justificou a deitar a cinza para um grande cinzeiro junto a um vaso de barro. Viu William se levantar chateado e sair da varanda. Um truque baixo!

 

Naquela tarde as discussões foram ouvidas pela primeira vez na mansão, Emma insistia com o futuro noivo que aquela era a pessoa certa e qualificada para o trabalho.

— Têm melhores nas agências — garantiu Damien, de forma impaciente e com uma mão pousada junto da mesa do escritório e a outra a massajar a têmpora livre da máscara. Se sentia irritado por ser abordado por algo irrelevante.

— É a quarta este mês, não posso aguentar. Darcelle e eu nos entendemos. Não podes ser sempre tão intolerante! — A jovem Charlton tinha o rosto vermelho como um tomate, nunca antes se dirigira ao futuro marido daquela forma. Aliás, poucas vezes se davam ao luxo de conversar. — Se vou ser a senhora desta casa, é hora de poder tomar algumas decisões. Quero Darcelle de volta.

— Devo criar uma hashtag? — ironizou e baixou os olhos azuis para o ecrã do seu computador. O maxilar estava retesado. — Fale com o senhor Dash.

 

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Christian sempre se manteve firme após o acidente do melhor amigo. Várias vezes teria insistido para Damien sair, o obrigava a conviver e a ser feliz, mas as pessoas não pareciam cooperar.

Logo nos primeiros meses visitaram vários especialistas, tentaram as reconstruções faciais, enxertos e todos métodos possíveis para lhe dar uma aparência menos grotesca. A esperança foi arrasada completamente pelos resultados e desilusões. O grupo de amigos deixou de enviar convites para Damien, os empregados engoliam em seco quando o encaravam, a própria mãe se mudou para França. Todos desistiram.

Dash trabalhava na área de Psicologia Organizacional, mas entendia bem da emocional e por isso sempre apoiou o amigo. Com os anos, o jovem Beauchamp deixou a única porta aberta para Chris e se tornou como um porta-voz de seus desejos.

"Isto não deveria fazer parte!" Concluiu a estacionar o luxuoso carro de dois lugares em frente a um dos vários prédios geminados e cor de tijolo. Era antigo e precisava de algumas reformas. Usou os óculos escuros e subiu para o endereço indicado. Tocou a campainha.

— Sim? — Uma Jamie com cara de poucos amigos lhe abriu a porta.

— Boa tarde, procuro pela senhora Johnson. Vive aqui? — Perguntou um quanto impaciente. Tinha outros assuntos a tratar, podiam ter telefonado apenas, mas Emma que agora começava a soltar as asinhas, insistiu que assim fosse.

— Depende. — Jamie perscrutou o homem de baixo para cima, isso sem abrir muito a porta. — Eu também sou senhora Johnson.

— Uma mais magra — declarou sem hesitar, e viu quando a jovem negra estreitou os olhos ao ouvir a resposta.

— Nem a mais magra e nem a mais gorda recebem idiotas! — Retorquiu em alto e bom-tom, a apontar o dedo no rosto de Christian.

— Calma. Se não gosta de verdades vá ao ginásio — sugeriu num tom zangado, como se o ofendido da vez fosse ele. Jamie revirou os olhos.

— Meu bem, estou de bem com o meu corpo. Se puderes fazer algo pela tua falta de tato, seria bom.

— Não sou teu bem e não vim aqui falar sobre o teu corpo. Preciso falar com a senhora Johnson. A outra. — A impaciência parecia ter chegado ao limite.

— Mas para além de mal criado, és abusado. Nenhuma Johnson lhe vai dirigir a palavra. Saia já daqui! — Jamie bateu com a porta, esquecendo toda a educação dada pelos tios que a criaram. Parecia expelir fogo pelas fendas, bufou de raiva!

A campainha tocou novamente, e a prima de Darcelle não quis acreditar no que ouvia. O som da campainha repetia sem cessar.

— Mas o que vem a ser isto? — Praguejou ao abrir a porta e encontrou o homem com o dedo no botão de chamar da porta. — Estás louco?

— Boa tarde, procuro pela senhora Johnson? A mais magra e mais educada. — Chris não sorria mas algumas rugas na testa mostrava o quão irritado estava, embora tentasse parecer calmo.

Jamie abriu a boca para o responder, só que a voz de Darcelle se sobrepôs à sua.

— O que está a acontecer? — Trazia uma camisola de lã grande e pantufas. O cabelo preso num elástico. — Senhor Dash?

— Boa tarde senhora Johnson, estava a sua procura. — Ele deitou um olhar para a outra, era incrivelmente mais bonita mas parecia uma pantera no cio. — Venho transmitir a vontade da senhora Charlton para que volte a trabalhar na mansão.

As duas primas se olharam em simultâneo.

— Moço dos recados? — Provocou Jamie com desdém, antes de se afastar para os deixar a sós. Não sem antes ver uma sobrancelha escura subir acima dos óculos escuros caros de Chris.

— Quer entrar? — Darcelle convidou abrindo mais a porta.

— Apenas me dê uma resposta. — Olhou para o relógio de pulso, enquanto tentava a todo custo não trespassar aquela porta e estrangular a outra Johnson.

— E o senhor Beauchamp?

Os olhos reviraram por trás dos óculos escuros.

— É só evitar se cruzar com ele no corredor.

— Ótimo! Então eu aceito.

Quando se despediram, Christian saiu dali, mas jurava que iria voltar para acertar as contas com aquela intrometida.


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Notas finais do capítulo

O que acharam de Chris?

Não tenho medo de fantasmas, apareçam! o/

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