Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

História postada no Wattpad:
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Emma era como as belas mulheres com quem Damien estivera acostumado a andar há dez anos atrás. Uma loira alta, de pernas longas e um sorriso intelectual parecia ser quase impossível se interessar por alguém como ele agora que as fotos da sua condição tinham vazado. Não que as pessoas já não soubessem a razão pela qual tinha-se confinado a solidão dentro dos muros da sua mansão, mas ter o seu rosto espalhado pelas redes sociais e as notícias de todo mundo, tinha sido doloroso. Sua última assistente particular o traíra, vendendo a própria dignidade em troca de milhões. Milhões que ele poderia dar.

— Não te parece sinistro que depois daquelas fotografias, simplesmente apareça alguém disposto a ter uma relação contigo? Todas aquelas mulheres que viram o teu rosto e se foram embora no minuto a seguir? — Christian coçou o queixo, alguns pontos negros picavam pela barba por fazer.

— Quando te diriges a um restaurante perguntas ao camarão se gosta de ti, ou simplesmente o degustas? — Indagou, o tom amargo patente em cada palavra. — Não procuro amor, Chris. Quero uma companheira, uma mãe para um possível filho e se alguém está disposto a isso em troca de dinheiro, eu realmente não me importo.

— Bem, pelo menos se já viu o pior e mesmo assim se dignou a vir, não terá uma surpresa como todas as outras. — Engoliu em seco com a situação. Não era a primeira e mesmo assim nunca se habituava. Não conseguia convencer o amigo de estar a oferecer muito mais para o que poderia ter. — Vou fazer as honras.

Apesar de ter a mesma idade, Christian era mais baixo e com um cabelo muito preto e desalinhado, tinham crescido praticamente juntos. Nunca se afastara do amigo, nem quando este o tinha exigido que assim o fizesse.

Emma viu a porta da sala abrir, estivera tão absorta em seus pensamentos que quase se esquecera a razão de estar ali. Se levantou num salto, o rosto singelo poderia ser comparado a uma flor de primavera.

— Prazer, sou Christian Dash. Falamos por telefone e Emails. — Deu dois beijos no rosto da jovem Charlton a fim de deixa-la mais sossegada. — Espero que tenha lido e compreendido cada termo, ainda assim traremos o nosso advogado e ele a poderá explicar algo caso tenha alguma dúvida?

— Eu compreendi tudo, senhor Dash. Fiz advocacia. 

— Ah… certo! Por favor, apenas Chris.

— Se me tratar só por Emma.

Ele se aproximou mais perto da jovem bonita, mordendo os lábios pelos nervos do que viria a seguir. Era sempre aquela parte em que se iam embora.

— Viu as fotos?

— Vi.

Christian engoliu em seco e confirmou com a cabeça, o ar de malandro não combinava com o sério ao qual tentava transmitir. Como explicar para ela o facto de não ser apenas a aparência exterior o mau?

— Damien é um homem difícil. Acredito que com o tempo possa ser mais agradável. — Não iria se estender mais. Não era pago para fazer aquilo, e nem que fosse! Era contra os casamentos arranjados que o amigo insistia em fazer como se fosse a mesma praticidade para comer um camarão. Suspirou.

— Eu percebo… Chris. Sei que devo viver aqui por três meses até vermos se nos adaptamos e nos conhecemos. Estou ciente de ter de lidar com alguém habituado a solidão. — Não ia mencionar a palavra desprezo e muito menos deformação. — Estou aqui para tentar.

— Certo. Certo. — Achava que ia gostar de Emma, quantos anos teria? Vinte e seis? Parecia estar bem decidida pois em nenhum momento pestanejou. — Tome a liberdade de contratar uma Assistente pessoal que faça de tudo um pouco. O senhor Beauchamp não gosta da casa cheia e também não a quer atarefada com certos afazeres.

A porta abriu-se de forma impaciente, e Damien se apresentou com uma máscara a cobrir metade do rosto. Não suportava o olhar de pena e horror quando o viam pela primeira vez. Não queria passar por aquilo naquele dia.

A parte boa do rosto era saudável, mostrava os olhos azuis intensos e o cabelo loiro bem cortado. A roupa era formal, diferente da casual usada pelo melhor amigo.

— Damien. — Emma se levantou com delicadeza, o sorriso ensaiado bem estampado no seu rosto. Não fora ali para falhar.

— Senhor Beauchamp — Repetiram os dois homens, Chris estava ciente da formalidade exigida pelo dono da casa, e se sentiu mal por ver o rosto pálido da jovem corar.

— Perdão, senhor Beauchamp. Sou Emma Charlton.

Damien demorou a receber o aperto de mão feminino, analisando se era tal como nas fotografias. Encontrou os olhos dela.

— O senhor Dash lhe falou de três meses, mas antes terá três semanas para me convencer de que vale a pena e não é apenas um corpo fútil. Se passar as primeiras três, então veremos se chegará aos meses necessários. — O modo como falava era calmo, sem mover muitos os lábios. Viu a possível noiva engolir em seco.

Damien se colocava a si mesmo como um troféu! Qualquer homem rico seria belo, lhe dissera o pai certa vez após o acidente. Muitas iguais àquela teriam aparecido na sua porta atrás de fortuna, e nenhuma teria aguentado o suficiente para se manter ali.

— São proibidos objetos eletrónicos diante de minha presença, a qual também não terás muito para desfrutar. Da minha parte é tudo… por ora. — Concluiu. A voz sem emoção nenhuma e o ar sério.

3 Meses depois

 

— Nem acredito que sobrevivi. O senhor Beauchamp é insuportável. — Emma não mencionou para a irmã o dia em que o viu sem a máscara pela primeira vez. A parte estragada da cara junto ao mau humor do mesmo tinha deixado o jantar intragável como nunca. Tendo a jovem feito um esforço exímio para se manter a mesa.

— Estás linda, isso é o que importa. Olha só esse vestido maravilhoso! — Joanne Charlton era a mais velha, solteira e tinha um filho de seis anos. — O casamento é daqui a bem pouco tempo.

— Maio, ele escolheu maio. — Girou diante do espelho e sentiu dor ao apreciar o belo vestido branco de seda cheio de brilhantes e renda. Não era com Damien que desejava se casar.

— É por um bem maior, não esqueças! Estamos juntas nisso… se eu estivesse no padrão requerido, teria ido lá em teu lugar. — A mais velha lhe deu um beijo no rosto e as duas se abraçaram. Eram muito diferentes, Joanne tinha cabelos castanhos e olhos escuros. Costumavam perguntar para os pais como é que tinham feito uma cria tão bela e a outra sem graça.

— O sexo com ele é robótico, como um iceberg a entrar na minha… — Não completou, pois ouviram o barulho das escadas. O coração de Emma palpitou. — É o William?

A resposta não demorou a chegar assim que o jornalista entrou e abraçou a sua amante, elogiando o quanto ficava bela naquele vestido e ia esperar o tempo de divórcio com o rico deformado para depois se casar com Emma.

— Que horror. Ainda nem se casaram e vocês já estão nos anos do divórcio. — Queixou Joanne que pareceu incomodada pela presença do jornalista. Virou o rosto para apreciar as caixas em cima da cama. — Encontraste alguém para trabalhar na mansão? Será a quarta em três meses.

— Sim. Trabalhava com os filhos do meu patrão mas agora eles foram para um internato e tem feito extras no Jornal. Sabe como são esses negrinhos, aposto que fará de tudo para segurar o trabalho. Suportam qualquer coisa para alimentar a família gigante. — Ironizou e enlaçou os braços na cintura da amante antes de a beijar ali mesmo, ignorando a presença da irmã.

Damien passava a maior parte do tempo no escritório o qual mais se parecia a uma biblioteca gigante, tinha até escadas para um primeiro andar. Dali com o seu computador de última geração, conseguia controlar todo o seu negócio de criação de Cavalos raças puras. Uma herança de família a qual conseguira triplicar com sua astúcia e determinação. Incluindo todos os mil e quinhentos cavalos pertencentes a família real, eram de criação Beauchamp.

Começara a ouvir uma voz já há alguns minutos, se sentindo incomodado. Emma sabia não dever se aproximar dali quando estava a trabalhar e a comandar os escritórios, fazendas e mais infindáveis funcionários.

Levantou-se num salto, abrindo a porta e se deparando com a nova assistente pessoal. Era negra como a noite, e estava curvada junto a um dos cantos da parede a falar ao telefone.

— O que vêm a ser isto? Emma? EMMA?

A jovem deu um grito e se assustou, escondendo o telefone nos bolsos do uniforme branco e virou-se para encarar o patrão. Tinha ouvido falar dele.

— Desculpe, eu sou a Darcelle. A senhora Charlton não está — respondeu com uma rapidez extrema, os lábios volumosos pareceram tremer. — Eu me confundi, recebei todas as instruções sobre os aparelhos eletrónicos e o seu escritório. Juro que pensei que fosse do outro lado, senhor Beauchamp.

— Então está despedida! — Damien deu meia volta ainda a murmurar. — Também não percebo o que uma pessoa como você está aqui a fazer.

Darcelle arqueou o sobrolho escuro e bem delineado e sem se dar conta caminhou atrás de Beauchamp.

— Como eu? Desculpe mas não percebi o que quis dizer com isso.

O homem se virou de rompante e os dois quase se chocaram. A assistente recuou ainda desconfortável.

— Não me leve a mal, mas nunca tive pessoas como você a trabalhar dentro de minha casa.

— Eu também nunca trabalhei para uma pessoa como você.

Ao ouvir a resposta, ele se estacou. Sabia que as pessoas falavam por trás sobre a sua aparência, sobre a máscara e tudo mais. Mas na sua presença todos tentavam ser os mais delicados possíveis, escolhendo as palavras e os momentos certos. Era a primeira vez em que alguém se referia a sua aparência tão diretamente.

Damien pigarreou.

— Eu não escolhi ser assim. — Pela primeira vez estava tenso.

— Pois nem eu!


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Notas finais do capítulo

Qualquer sugestão, crítica, elogio, por favor não hesite em usar a caixa abaixo.

Farão uma pequena autora feliz,

:)