Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 31
Capítulo 31 – Rosas Azuis




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Maio chegou fazendo a temperatura subir um pouco mais, anunciando o verão cada vez mais próximo. Anunciava também a proximidade cada vez mais evidente da Votação no Ministério, dos N.I.E.M.s e do fim do ano letivo. O clima convidava para um passeio nos Jardins, porém a quantidade de trabalho dada pelos professores não deixava isso ser realmente uma opção.

Maio era particularmente especial para Safira. Mais especificamente um dia próximo do meio do mês…

Naquele domingo, Saf estava no dormitório um pouco depois do jantar. Tinha acabado de soltar o rabo de cavalo e sentara em frente ao espelho para ajeitar o cabelo solto… Pronto. Castanho, liso, pesado e levemente repicado na frente como sempre.

Ficou então um tempo encarando sua imagem. Vestia uma blusa branca, as mangas chegavam mais largas até os cotovelos, deixando os ombros à mostra. A perda da corrente que seu avô lhe dera era absolutamente notória.

Fazia quase um ano que ele tinha ido. A dor aguda da notícia tinha passado; a ausência dele, contudo, seria sempre presente. Levou a mão ao pescoço em um gesto tão repetido.

Pequenas batidas na janela interromperam seus pensamentos. Ela virou-se para ver sua coruja pedindo para entrar.

—Mirra? – disse se levantando para abrir o vidro – Que carta é essa? – estranhou ao soltar o papel da pata da coruja

“Saf, me encontra no Salão Comunal à meia-noite.

Sirius”

A moça ficou dois ou três minutos distraída olhando para nada específico até que Mirra piou.

—Ah, eu sei que faz um tempo que não te visito, mas as provas estão chegando. – disse acariciando a cabeça da ave – Logo as coisas vão melhorar… eu espero.

Alguns minutos antes do horário combinado, ela desceu. O Salão Comunal estava vazio, todos já dormiam. Dirigiu-se para a frente da lareira e esperou ali de pé observando o fogo.

À meia-noite em ponto, ouvindo passos atrás de si, virou-se e viu Sirius vindo em sua direção com um sorriso. Ele se adiantou e a abraçou. Saf ficou por instantes sem ação, já se tinham ido os dias em que o perfume de Sirius não a inebriava.

—Feliz Aniversário. – disse ao se afastar dela

—Então foi por isso que quis falar comigo à meia-noite? – ela falou sorrindo

—Foi, queria ter certeza de que ia ser o primeiro a dar os parabéns.

Saf apenas riu.

—Como sabia qual era a minha coruja? – ela perguntou

—Você está falando com um Maroto, lembra?

—Claro, - ela olhou de relance para o alto – eu tinha esquecido. Então também não devo perguntar como fez para convencê-la a entregar uma carta sua?

—Isso foi fácil. Foi só dizer que a carta era pra você. Ela pareceu ansiosa por exercício.

—Deve estar. Há meses não entrega cartas.

—Imagino. Ah, quase ia me esquecendo…

Sirius fez um floreio com a varinha conjurando um buquê de rosas azuis.

—São pra você. – ele entregou o presente

—Obrigada. – ela sorriu – São lindas. Nunca tinha visto essa cor.

—Achei que combinavam com seus olhos…

Saf ficou um tanto sem-jeito com o comentário.

—Tem mais uma coisa. – ele mexeu no bolso direito – Aqui. – disse entendendo a ela um saquinho de veludo azul-marinho

Ela apoiou o ramalhete sobre a poltrona mais próxima, pegou o pequeno embrulho e espalhou o conteúdo em sua mão… Não conteve uma exclamação de surpresa. Não era possível. Uma corrente… A corrente. Olhou a plaquinha ao lado do fecho, e de fato ali estava gravado em letras minúsculas Safira. Não havia dúvida, era a corrente que ganhara de Vinícius Knight, seu avô.

—Onde encontrou? – perguntou surpresamente encantada

—Estava na orla do bosque de Hogsmeade.

—Você saiu do castelo? – ela levantou as sobrancelhas

—Não conte a McGonagall, mas fazemos isso com alguma frequência. – Sirius sorriu maroto

—Eu não sei o que dizer… Muito obrigada. – Saf o abraçou

Quando se separaram, Sirius estendeu a mão perguntando:

—Posso?

—Claro. – Safira entregou a ele a gargantilha

Ela levantou o cabelo puxando-o para o lado e observou os braços dele brevemente a envolverem enquanto ele passava o colar em volta de seu pescoço. Logo percebeu o frio do metal em sua pele e, como tantas vezes, apertou o pingente contra si.

Porém, quando sentiu a mão de Sirius encostar sem querer logo abaixo de seu pescoço, seu coração disparou.

 O rapaz a virou de frente para ele.

—Linda… - ele falou – como sempre.

Saf apenas abaixou os olhos colocando o cabelo atrás da orelha. Quando voltou a levantá-los… Sirius tinha uma expressão… ela não ousava concluir o pensamento. Apaixonada…

Sem dar tempo para ela pensar, ele se inclinou e a beijou, dando em seguida um passo à frente para poder abraçá-la pela cintura. Completamente envolvida pelo momento, ela correspondeu.

Até que o bom-senso de Safira aliado à preocupação que a norteava desde o início do ano letivo fizeram com que ela caísse em si e afastasse o rosto abaixando a cabeça. Deu um passo atrás e demorou um momento até conseguir articular:

—Está tarde… Acho melhor voltar para o dormitório…

Saf chegou a se virar, mas Sirius a segurou pela mão e se colocou na frente dela.

—Sirius… - disse com a voz apertada

Fazer isso não estava sendo fácil para Safira, era, porém, o que julgava mais sensato.

—Desculpe… - Sirius falou próximo a ela – mas não foge de mim. – pediu

—Não estou exatamente fugindo. – ela piscava muito e não olhava para nada específico

—Não estou exatamente acreditando. – ele falou

—O quê? Por quê?

—Porque pela primeira vez não consegue falar olhando pra mim.

Saf desviou os olhos para o lado. Droga, por que ele tinha de conhecê-la melhor do que ela esperava…? Ele a tinha desarmado.

—Fala comigo. – ele disse em voz baixa segurando em sua mão

Depois de respirar fundo, ela pôde mais uma vez levantar os olhos para ele.

—Alguém pode nos ouvir. – respondeu também com a voz baixa

Sirius deu uma olhada em volta.

—Não tem ninguém aqui.

—Pode aparecer.

Após pensar um instante, ele falou:

—Me espera aqui, eu já volto. – e saiu em direção ao dormitório masculino

Não podendo mais se aguentar em pé, Safira sentou-se no chão. A parte racional do seu cérebro que ainda funcionava pedia com certa urgência que ela saísse logo dali. Mas não dava, simplesmente não podia.

Sirius logo estava de volta com um pergaminho na mão e sentou-se ao lado dela.

—Olha, - disse ele – não tem ninguém vigiando a gente. E se alguém estiver vindo pra cá, nós vamos ver.

A moça viu novamente o Mapa do Maroto e seus pontinhos nomeados. Tirando os dois, todos os pontinhos grifinórios estavam em seus respectivos quartos.

—Então…

Safira expirou com algum peso.

—Sirius, eu não sei o quanto as pessoas à minha volta podem estar em perigo ou não.

—Como assim? – ele franziu as sobrancelhas

—Eu fui transferida para minha segurança. Só que pra me atingir, eu não sei quem mais pode sair atingido.

O rapaz continuava com a expressão de quem não estava entendendo direito.

—Hogsmeade foi atacada exatamente no único dia que saí do castelo, no mesmo dia em que tentaram me sequestrar. Naquele dia, quando acordei e vi Remo, meu coração parou. Quero acreditar que ele não tenha se arriscado pra me ajudar. – ela continuou – Quando cheguei ao castelo, fiquei sabendo que havia alguém desacordado por causa de dois feitiços, fora as outras pessoas que tiveram de passar na Ala Hospitalar. E pensar que tudo isso pode ter sido por minha causa. Tem idéia do que é essa sensação?

—Foi por isso que ficou tão mal nos dias seguintes?

—Pelo risco que todo mundo passou, inclusive eu. Entende agora? Não posso ficar com ninguém. Tenho medo de colocar alguém em perigo… de colocar você em perigo.

—Eu não me importo.

Saf sorriu por um dos cantos da boca.

—Problema seu, eu me importo.

Observaram o Mapa… Continuava tudo igual.

Sirius pegou sua mão novamente e, após respirar fundo, falou:

—Sua beleza chamou minha atenção desde a primeira vez que a vi. Tinha um tom de reserva, de discrição. Com o tempo, sua personalidade passou a chamar atenção. Sua delicadeza é muito longe de ser frágil. Seus olhos… é impressionante como falam sozinhos. E ainda assim, você é sempre um enigma, é impossível supor o que está pensando. Sua companhia me faz bem, vou sempre ser grato por ter me ensinado a dançar.

Saf deu um meio riso sutil. Ele continuou:

—Admiro sua força, sua coragem. … Eu realmente gosto de você… - disse mais próximo – Queria que soubesse.

Safira abriu a boca, mas a voz demorou a sair.

—O que eu posso dizer que faça justiça ao que acabei de ouvir? – ela quase tremia – Me sinto… honrada. Não posso dizer o quanto. – e beijou as costas da mão dele

Estava ainda com a cabeça abaixada, quando ele perguntou em uma voz suave:

—Alguma chance de sentir alguma coisa por mim?

Ela piscou mais demoradamente e manteve o rosto para baixo. Com toda delicadeza, Sirius passou a mão pelo queixo dela e a fez olhar para ele. Os olhos se encontraram e ficaram assim por algum tempo. Mais uma vez, Saf abriu a boca, mas o som só veio depois.

—Eu podia dizer não, e talvez as coisas seriam um pouco mais fáceis. Mas não seria justo, não seria verdade… Não tem só uma chance, eu já gosto de você… muito. Seu ego provavelmente já sabe, - ela sorriu – mas você é muito bonito… Gosto de ouvir sua voz, sua risada. Seu sorriso é encantador; seu senso de humor, cativante. Seus olhos trazem segurança, são verdadeiros, não são esquivos… Perto de você meu coração dispara…

O rapaz Sirius encostou sua testa na dela.

—Sirius, por favor… - disse em um fio de voz

—Essa votação não vai durar para sempre.

—Eu sei. – ela abaixou a cabeça se afastando.

—E quando acabar? – ele perguntou

Ela hesitou.

—Três semanas depois da Votação as aulas acabam… e aí eu volto para a Itália. Já falei com meus pais e eles concordaram.

—Vai morar lá? – ele perguntou triste

—Ainda não sei. – ela respondeu

Vê-lo assim a machucava.

—Eu queria poder juntar o que ganhei na Inglaterra esse ano com o que perdi na Itália, mas eu não posso. E tem coisas que preciso fazer lá, pessoas que preciso ver. Pessoas pra quem eu simplesmente desapareci depois de anos de convivência.

Sirius não dizia nada, mas não conseguia esconder o que sentia.

Safira passou a mão por seu rosto e o beijou.

—Desculpa. – ela murmurou

Ele balançou a cabeça.

—Não tem porque se desculpar. – e a abraçou forte.

… … … … … … … … 

Saf foi acordada por Lily na manhã seguinte quase atrasada para a aula de Poções. As outras meninas já haviam descido para o café.

—A propósito, feliz aniversário. – a ruiva sorriu e a abraçou

—Obrigada.

—Que rosas são essas no seu criado-mudo?

—Presente de Sirius.

Lily estreitou os olhos.

—Longa história, depois eu conto. – disse Saf – Olha o que ele encontrou. – ela mostrou sua corrente

—Que bom! – fez Lily feliz – Agora anda, ou vamos chegar à sala depois de Slughorn.

Até sentar à mesa ao lado de deu caldeirão nas masmorras, Saf recebeu os parabéns dos outros setimanistas da Grifinória, inclusive de Sirius.

Não tinha sido fácil o que fizera na noite anterior e ficou preocupada que a convivência deles mudasse. Porém, saberem que eram correspondidos era um sentimento que os preenchia, e tudo continuou mais ou menos como antes.

… … … … … … … … 

Após uma cansativa dobradinha de História da Magia, tudo o que Ana e Maia queriam era sair da poeirenta sala de Binns e ir almoçar. Só que havia uma surpresa no corredor…

—Maia, posso falar com você?

Ana não gostou nem um pouco de ver Ashfield parado ali e olhou anormalmente séria para amiga.

—Tudo bem. – fez Maia para Ana – Vejo você no Salão Principal

A garota continuou seu caminho sem nem se dar ao trabalho de olhar para o ser plantado no meio do corredor.

—O que você quer? – Maia perguntou formal a Guilherme

—Sinto sua falta.

Ele começou a andar na direção dela, mas com um gesto ela o impediu.

—É tarde demais. – disse ela no mesmo tom supostamente calmo

—Já me esqueceu? – ele perguntou

—Não, mas o que eu vivi nos últimos meses não quero viver de novo. – ela respondeu

—Não acha que as pessoas podem mudar?

—Algumas vezes, algumas pessoas.

—Então não é tarde.

—É. Hoje você é um colega de escola pra mim, mais nada. Agora, se me der licença, eu preciso ir almoçar.

Dizendo isso, ela tentou sair, mas Guilherme a segurou pelo braço.

—Maia, por favor.

—Eu é que peço por favor. Solte o meu braço.

—Por favor. – ele pediu

—Por favor. – ela insistiu

Ashfield expirou com peso e soltou o braço dela.

—Desculpe. – falou ele – Por tudo.

Maia inclinou a cabeça assentindo e seguiu para o Salão Principal. Chegou à mesa da Grifinória discretamente nervosa e sentou ao lado de Lily.

—Maia? – Ana inquiriu ainda séria sentada à sua frente

—Já fiz o que tinha de fazer. – embora seus olhos estivessem rasos de água, sua voz saía firme

Nenhuma das amigas fez a ela qualquer pergunta sobre o assunto naquele momento, pelo que Maia ficou muito agradecida.

Logo em seguida, McGonagall apareceu para entregar a Saf uma carta de seus pais. Enquanto a moça lia, Lice anunciou:

—Agora à tarde não temos Transfiguração, temos Herbologia.

—Por que? – fez Ana

—Sprout vai precisar viajar essa semana e trocou de aula com McGonagall.

—Eu não estava preparada psicologicamente para as plantas bizarras da Sprout hoje. – falou Ana

—Prefere outra rodada com o Bins? – Alice perguntou

—Esquece o que eu falei sobre as plantas bizarras. Adoro plantas bizarras.

Mais tarde na Estufa 7, eles podavam bromélias-navalha da Pérsia. As plantas recebiam esse nome porque algumas de suas folhas eram extremamente afiadas, e, o melhor: essas folhas eram “animadas”. A tarefa exigia uma concentração razoável.

Alice trabalhava há uma boa meia hora em seu vaso quando notou uma flor particularmente bonita atrás dele. Essa distração de cinco segundos custou a ela um belo corte no braço.

—Ai!

—O que foi? – perguntou Lily ao lado dela

—Ai. – fez Ana batendo o olho no braço da amiga e virando de costas

Ana não podia ver sangue e já estava apoiando a mão em uma cadeira com medo de desmaiar.

—Ah, eu deixei Ana mal. – Alice gemeu enquanto Lily a puxava para longe das plantas

—Lice quando Ana for dar a luz, ela vai ficar na sala de espera andando de um lado para o outro esperando a enfermeira trazer o filho dela embalado.

Lílian segurou o braço da amiga e apontou a varinha fechando o corte.

—Pronto. Pode olhar agora, Ana.

—Ah, - Ana tornou a se virar – certo. Esquece o que eu falei sobre as plantas bizarras no almoço. Por que elas não podem simplesmente crescer imóveis como as plantas normais?

—Porque elas não são plantas normais.

—Ok, isso foi muito esclarecedor. Obrigada, Lily.

—Disponha.

Lice riu em silêncio, e as três voltaram a podar suas respectivas bromélias.


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Notas finais do capítulo

N/A
Oiê!
Sim, tem gente querendo bater na Safira depois dessa. Estou sabendo. rsrsrs Mas aguardem o que vem por aí.
Créditos: “quando Ana for dar a luz, ela vai ficar na sala de espera andando de um lado para o outro esperando a enfermeira trazer o filho dela embalado” – baseado em uma fala de Gilmore Girls.
Até o próximo capítulo!
Palas



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