Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 30
Capítulo 30 – Citações




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Pensando na cena de dias antes no Salão Comunal, Lílian se lembrou de alguns versos e aproveitou aquela aula de Defesa Contra as Artes das Trevas em uma sexta-feira para mandá-los para a carteira de Tiago por intermédio de Safira.

Ao abrir o bilhete, o rapaz não teve qualquer dificuldade em reconhecer a caligrafia fina da namorada:

“Chega mais perto e contempla as palavras.
 Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra”
Carlos Drummond de Andrade

Com amor, Lily

Em resposta, Tiago pegou um pergaminho e escreveu versos que lera recentemente e achava que lembravam muito a ruiva e seu enorme gosto por escrever.

Pouco depois, Saf, rindo por se sentir um correio elegante, colocou o papel sobre a carteira da amiga.

Lily esperou o professor virar de costas para escrever na lousa para ler:

“A palavra é o seu castelo,
 sua árvore encantada,
abracadabra construindo o universo”
Roseana Murray

Achei a sua cara.
Com amor, Tiago.

Lily sorriu ao terminar de ler e virou meio para trás, meio para a esquerda para olhar Tiago, que também sorria para ela. Em seguida, anexou o pergaminho com um clipe naquele seu caderninho que andava com ela para todos os lugares.

… … … … … … … … … 

No dormitório feminino, Maia arrumava seu malão, enquanto Ana terminava de se trocar depois de um banho. As duas conversavam através da porta fechada do banheiro.

—Vi alguém na biblioteca hoje. – Ana comentou meio sem graça

—Não precisa chamar o Guilherme de “alguém” quando falar comigo. Nem precisa ficar sem graça de dizer que encontrou com ele – Maia falou ajoelhada no chão usando sua cama de apoio para dobrar as camisas

—Eu o vi engasgado à mesa da Lufa-Lifa anteontem.

—Nem precisa falar todas as vezes que o vir – Maia acrescentou – Conte fatos importantes.

—Como o quê?

—Se ele cuspir em você, quero ficar sabendo.

—Permissão para cuspir de volta!!

—Ana!

—O quê? – a amiga perguntou com voz inocente

—Aaah!

Distraída com a conversa, Maia demorou a notar um gato sentado na frente da porta aberta do quarto como se a estivesse observando

—Maia, o que foi? – Ana perguntou preocupada ainda do outro lado da porta do banheiro

—A porta do dormitório está aberta e tem um gato ali sentado olhando pra mim! – disse numa voz que lembrava o início de um pânico cômico

—E daí?

—E daí? Ele fica ali parado me encarando.

—Só deve estar procurando a dona. – Ana tentava acalmar a amiga não sabendo nem a respeito do quê

—Não, Ana, ele sabe que terminei com Guilherme e agora quer me transformar numa velhinha maluca que só cuida de gatos.

—Maia…

—Não, ele sabe que não deu certo. De novo. Que eu escolhi o cara errado. De novo.

—Pára com…

—Ah!! Agora são dois gatos!

Não entendendo mais nada, Ana saiu do banheiro rápido com os cabelos ainda pingando água. De fato havia dois gatos parados à porta do dormitório. Não que isso fosse comum, mas as palavras de Maia faziam ainda menos sentido do que essa cena. Ana fez a coisa mais sensata que pôde pensar na hora: fechou a porta.

—Melhor? – perguntou

—Eles continuam lá.

—Você não sabe, eles já podem ter isso embora. E se você não parar com isso já, vou te levar até Madame Pomfrey.

—‘Tá…

—Afinal o que aconteceu? Você encontrou com ele hoje também?

—Eu o vi na hora do almoço conversando com uma menina da Lufa-Lufa. – ela respondeu com a voz murcha

—E você ficou com ciúmes? – Ana perguntou incrédula

—Não foi bem ciúmes… Esses sentimentos não vão embora tão rápido.

—Maia, - Ana falou hesitante – você não está pensando em voltar com ele, está?

—Não. – ela respondeu – Por mais que tenha doído e esteja doendo, parece que saiu um peso de cima de mim.

—Ótimo, agora eu posso voltar a secar meu cabelo sem ouvir chiliques por causa de gatos?

—Pode. – Maia sorriu

… … … … … … … … … 

Mais tarde, no Salão Principal, o jantar era servido.

—Achei um ótimo feitiço. – Ana comentou enquanto fazia seu prato

—Eh? Qual? – Maia perguntou

—Um que mostra as calorias do que você está comendo.

—Quê?

—É, assim: - ela agitou a varinha com duas sacudidas dizendo – Calorium.

E números em vermelho surgiram no ar sobre seu prato.

—Uma pena que os números apareçam sempre em vermelho. – Ana lamentou – Em amarelo ficariam bem mais simpáticos…

Maia limitou-se a olhar para o alto balançando a cabeça.

Mais para a esquerda da mesa, Lily perguntava:

—Não andei acompanhando o Profeta, alguma nova notícia da votação?

—Não, - Remo respondeu – ou não aconteceu mais nada, ou o Ministério conseguiu esconder bem.

—Acho que nessa altura seria mais difícil conseguirem esconder alguma coisa. – Saf comentou

—E o ataque a Hogsmeade? – Lily perguntou

—Teve uma repercussão grande, mas foi o último evento noticiado. – Tiago respondeu

—Espero que no fim dê tudo certo… - a ruiva falou com a voz baixa

—Vai dar. – Safira afirmou

Um pouco depois, Sirius olhava o relógio.

—Droga, já são sete e meia, tenho de encontrar Filch às oito.

—Por quê? – Ana perguntou

—Num lapso de concentração, ele me viu enfeitiçando as vassouras dele. – Sirius respondeu displicente – Agora vou ter de limpar os armários de vassouras do terceiro e quarto andares. – ele então mudou a voz para imitar o zelador – “Sem magia”. – e voltando à voz normal – Como se eu já não soubesse.

—Limpar os armários de vassouras? – disse Maia – Ainda bem que não sou eu. Com a quantidade de pó que deve ter neles, amanhã eu não estaria nem falando. No máximo, espirrando em código Morse.

—Com licença, - uma segundoanista da Lufa-Lufa os interrompeu – Safira Knight?

—Sou eu. – falou Saf

—Pediram para entregar a você. – a menina estendeu um envelope

—Obrigada. – Saf agradeceu e a menina foi embora

Sirius não gostou muito. Será que era de algum cara da Lufa-Lufa…?

—É da minha mãe. – Saf disse tão baixo que apenas quem estava ao lado dela pôde ouvir

Sirius voltou a respirar normalmente depois disso.

“Olá, querida, estamos bem, não se preocupe conosco.

[…]

Entendemos sua decisão de voltar à Itália e a apoiamos. Poderá ficar em nossa casa, e temos certeza de que será muito bem recebida na casa de suas amigas.

Nós dois ficaremos na Inglaterra por algum tempo. Ainda está para ser discutido se seu pai será transferido ou não.

Um grande abraço,
Mama”

Ao ler a parte final da carta, Saf passou a mão pela base do pescoço. Como fizesse um dia um pouco mais quente, ela usava uma blusa de gola mais baixa. Foi só nesse momento que Sirius percebeu a ausência da gargantilha que ela geralmente usava.

—Saf, não está usando sua corrente? – ele perguntou

—Não, eu… a perdi no dia do ataque a Hogsmeade.

—A que seu avô tinha te dado?

—Eh.

—Que pena. – e batendo o olho no relógio – Droga, cinco para as oito, tenho de ir. – disse apressado se levantando – Filch me faz limpar os armários do quinto e sexto andares também se eu chegar atrasado. Até mais.

—Até mais. – ela respondeu e voltou a dar atenção ao seu jantar.

Mais ao lado, Lílian já havia terminado de comer e folheava seu caderno a esmo.

—Tem algum outro texto que eu posso ler? – Tiago perguntou próximo ao ouvido dela

—Bom… tem um que gostei muito, mas não é meu. – ela voltou algumas páginas – Esse. – apontou na folha

Tiago pegou o caderno e começou a ler:

“Em meu entender, a vida consiste em três partes: o presente, absorvente e habitualmente agradável, que corre minuto a minuto com velocidade fatal; o futuro, obscuro e incerto, para o qual podemos fazer inúmeros planos, e tanto melhor se forem insólitos e improváveis – afinal, nada virá a ser como esperávamos que fosse, e ao menos nos divertimos enquanto planejávamos; e a terceira parte, o passado, as recordações e as realidades que são os alicerces da vida presente e que nos surgem de repente, trazidas por um perfume, pela forma de uma colina, qualquer canção antiga, trivialidades que nos fazem de súbito murmurar: ‘Eu me lembro… ’, com um peculiar e quase inexplicável prazer.”

Autobiografia de Agatha Christie

—Bonito texto, você tem bom gosto.

Lily apenas sorriu.

… … … … … … … … … 

Nos Jardins, Alice e Frank estavam sentados sob a copa de um carvalho próximo ao Lago com as mãos entrelaçadas. Fazia uma noite amena, sem vento e com uma lua em quarto crescente parcialmente encoberta pelas nuvens.

—Lice, você está quietinha, está tudo bem?

—Está. – ela respondeu vagamente olhando para a água – Só um pouco preocupada.

—Com o quê? – ele franziu as sobrancelhas

—Os N.I.E.N.s estão chegando.

—Lice, você vai se sair bem.

—Você não tem como saber isso.

—Tenho. Você é inteligente e se esforça muito. Para dizer o mínimo.

—Você é suspeito para falar isso.

—Eu vejo você há sete anos. Não sou suspeito, eu conheço você. Apesar das notas que a gente precisa, vai dar tudo certo, você vai ver.

—Eu queria ter essa certeza. – ela virou-se para Frank – Quando não estou estudando tenho a impressão de que estou perdendo tempo.

—Você não está perdendo tempo, está investindo tempo em descansar um pouco para o estudo render mais. Como agora, está só se distraindo um pouco. Aliás, em ótima companhia.

Lice deu um meio riso soltando o ar pela boca e olhando para lado.

—Merlin, o que a convivência com o Sirius faz.

Frank riu.

—Pelo menos, você riu um pouquinho.

Lice sorriu e encostou a cabeça no ombro dele.

—Eu te amo. – ela falou baixinho.

Gentilmente, Frank a fez levantar o rosto de novo. Ficou por um instante passando a mão pelos cabelos dela, até que se inclinou e a beijou.

—Eu te amo. – falou com o rosto próximo ao dela

Os dois sorriram…

… … … … … … … … …

Passava das onze e meia da noite quando Sirius chegou ao Salão Comunal espirrando. Havia apenas duas ou três pessoas ali, entre elas Remo, que estava sentado a uma mesa próxima à janela estudando Defesa Contra as Artes das Trevas.

—Não sabia que você era alérgico a pó. – Remo falou quando o amigo sentou na cadeira à sua frente

—Eu não era. – Sirius respondeu – Até essa droga de detenção. Atchim! Aliás, as vassouras de Filch te mandaram lembranças.

—Obrigado. – fez Remo

—Se eu não soubesse que Filch não consegue usar magia, diria que ele tinha multiplicado o número de armários no terceiro e do quarto andares. Tenho certeza de que não tinham tantos quando fizemos o Mapa.

—Certamente é mais um dos mistérios de Hogwarts. – amigo fingiu seriedade

—Falando em Mapa, - Sirius se debruçou sobre a mesa para evitar que as outras pessoas no Salão ouvissem – no dia do ataque a Hogsmeade, Atchim! Por onde você e Saf passaram?

—O quê? Por que quer saber isso, Almofadinhas?

—Porque ela disse que perdeu aquela corrente que o avô deu pra ela. Queria tentar procurar.

Aluado escondeu um sorriso.

—Bom, quando eu a vi, ela estava sendo petrificada na esquina do quarteirão do Três Vassouras. Depois…

Remo foi forçando a memória e descrevendo o caminho que fizera até a orla do bosque, de onde aparatara com a amiga para a Casa dos Gritos.

—Mas ela pode ter perdido antes disso. – Remo ponderou – De qualquer jeito, na Casa dos Gritos eu já dei uma olhada e não vi nada. Pode ser que ainda esteja em Hogsmeade, isso se alguém já não encontrou e pegou.

—Eh… E você está fazendo o que aqui a essa hora, lobinho?

—Adiantando os estudos para a lua cheia. – ele respondeu em um tom de voz quase inaudível.

—Ah, sim, sempre Atchim! Dando o exemplo, certo, Monitor-chefe?

Remo apenas revirou os olhos.

—Bom, eu vou dormir. Até, Atchim! Amanhã, Aluado.

—Até amanhã, Atchim!, Almofadinhas. – Remo o imitou

Bai, ri da desgaça alheia. – Sirius se levantou falando com a voz nasalada por causa do nariz entupido

—Quanto drama. – fez Remo e voltou a dar atenção ao capítulo sobre criaturas dos pântanos

… … … … … … … … … 

Uma semana se passou e o tempo parecia ter se estabelecido em uma temperatura agradável, nem quente, nem fria. Saf, Lily e Lice estavam a uma mesa no Salão Comunal estudando a última aula de Transfiguração antes do jantar, quando Tiago se aproximou delas.

—Lily, posso falar com você?

—Claro.

A moça apoiou a pena sobre o livro e o acompanhou até o canto oposto do aposento, onde não havia mais ninguém.

—Lily, - ele começou com a voz muito baixa – não vou poder estudar com você hoje, porque…

—Eu sei. – ela respondeu no mesmo tom de voz – Lua cheia.

—É.

—E Remo?

—Já saiu do castelo depois do almoço.

Lily expirou com certo peso.

—Tem certeza de que não é perigoso?

—Tenho. – Tiago pegou nas mãos dela – Confia em mim.

—É, eu vi o quanto é seguro naquela noite em que você chegou aqui sangrando.

—Ah, aquilo foi só um acidente. – ele falou maroto

—Toma cuidado. – ela ficou na ponto dos pés para beijá-lo brevemente – E fala para o Remo que eu pego as matérias pra ele.

—Ele certamente agradece muito. Nesse ponto eu e Sirius nunca fomos de grande ajuda. Pedro também não.

—Imagino. – ela sorriu – Como você e Sirius tiram notas tão altas mesmo assim eu nunca vou entender.

—Eu tenho de ir jantar, queremos tentar sair mais cedo hoje.

—Certo.

Tiago beijou a mão dela.

—Te vejo amanhã.

—Até amanhã. – Lily respondeu

Ela o viu sair pelo Retrato da Mulher Gorda e voltou para sua mesa. Notando a ausência de alguém, ela perguntou:

—Saf, onde está Lice?

—Acabou de subir pra pegar um livro. – Saf desviou a atenção de seu resumo – Já deve ter ouvido isso, mas vocês formam um casal muito fofo.

—Obrigada.

A ruiva viu o olhar da amiga por um momento parecer seguir alguém. Lily se virou e viu Sirius saindo da escada do dormitório masculino e indo em direção também ao Quadro da Mulher Gorda.

—Você gosta mesmo dele, não gosta? – ela sorriu

—Isso não tem a menor importância.

—Claro que tem. – fez Lily doce – E como você acha que vai conseguir se esconder desse jeito por muito mais tempo?

—Tive de aprender a esconder muita coisa esse ano. – Saf falou com um toque de melancolia – Essa vai ser só mais uma.

Lice retornou nessa hora e elas encerraram a conversa. Saf voltou a se concentrar no seu resumo do capítulo de Transfiguração como se não tivessem dito nada mais interessante do que “dia bonito hoje, não?”.


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Notas finais do capítulo

N/A
Olá!
Espero que tenham gostado, aliás estamos chegando bem perto do final da história.
A cena da Maia com os gatos foi baseada em um episódio de Gilmore Girls, espero que não tenha ficado muito caricatural... ops!
Abraço, Palas



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