Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

OEEEE lindas do meu coração
Voltei depois de um mês
E confesso que foi por pura preguiça
Desculpa, mas é a verdade :(
O capítulo está grandinho, e eu espero de verdade que vocês aproveitem!!!
Beijocas



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Ludmila

 

A voz é de Gery.

Sabia que ela não ia me deixar muito tempo com o meu primo. Mas ela sabe, também, que não vai me calar para sempre.

— Amor, sua mãe tá te chamando na cozinha. – ela disse de braços cruzados. – Pediu para você ir pra lá agora.

— To indo. – meu primo murmurou. – Essa conversa está acabada. – disse ao se virar para mim.

— Mas... – ele me interrompeu.

— Sem “mas”. – disse ríspido.

Ele me deu as costas e saiu em direção à cozinha. Passou por Gery e deu um beijo em sua testa antes de sumir da minha vista. Gery olhou para mim com um sorrisinho de vitória, e então veio em minha direção. Caramba, isso não acaba nunca?

— Não se mete no meu caminho. – ela murmurou parando na minha frente.

— Você devia ter pedido isso antes de se meter no meu. – murmurei de volta.

— Eu não sabia que ele era seu primo. – sussurrou. – Deus me ajude, mas se eu soubesse nunca que teria ficado com ele.

— Então agora que sabe, pode ir embora, ele não merece uma megera como você.

— Megera – gargalhou. – Francamente, essa palavra me lembra um passado não tão distante. – me olhou desafiadoramente e meus olhos se arregalaram em alarme. – Vai querer relembrar os velhos tempos em Belmont?

— Com certeza, A Megera Domada é uma mulher muito melhor do que você se tornou. – cruzei os braços. – Se você acha que eu vou abaixar a cabeça por estar aqui na sua frente de novo... – ri. –... Está muito enganada.

— Shakespeare devia estar vivo para ver o quanto eu arrasei naquela peça. – ela disse sorrindo. – Pena que você não pôde participar não é? – suspirou. – Mas a vida é assim... Uns nasceram para vencer, e outros simplesmente para serem losers, como você.

— Eu to com uma vontade imensa de voar com a minha unha na sua cara. – murmurei cerrando os meus punhos. – Mas eu não vou sujar minhas mãos com gentinha da pior espécie. – suspirei contando até dez. – E fique sabendo, que eu só não voltei para Belmont, porque eu e mamãe entramos em um consenso, aquela não era escola para mim.

“Mamãe”. — fez uma péssima imitação de minha voz. – Você fala como se tivesse dez aninhos. – apertou minhas bochechas. – Estou vendo que essa temporada aqui em Buenos Aires vai ser... Animada.

— Fica longe do meu primo. – pedi sincera.

— Não vai dar. – deu um longo suspiro e um sorriso cínico. – Acredite se quiser, mas eu o amo. Nós estamos juntos há dois anos, e terminar com ele está na lista de coisas que eu nunca irei fazer.

— Se você não terminar com ele, eu conto tudo que você fez comigo na Itália. – ameacei.

— Veja só, a loirinha está mostrando as asinhas. – balançou a cabeça. – Se você contar, eu juro que acabo com a sua vida, e não vai ser colocando garrafas de cerveja em baixo da sua cama, pode apostar.

— Você me dá nojo. – olhei incrédula para ela. – Tenho pena do León por estar com alguém tão doente.

— Gery, minha mãe não estava... – Fomos interrompidas pelo León, que literalmente brotou na sala, me dando um baita susto. – O que está fazendo aqui ainda Ludmila?

— Eu... – Gery se intrometeu respondendo por mim.

— Estávamos nos entendendo, meu amor. – me abraçou pelos ombros, e tudo que eu senti foi mais nojo. – Sua prima é adorável.

— Fico feliz. – León me olhou desconfiado, e eu forcei um sorrisinho.

— Agora ela está de saída, não é Ludmila? – Gery disse e me olhou como se dissesse: “Vaza daqui, e de preferência não volte nunca mais”.

— Sim, estou de saída. – suspirei me desvencilhando do abraço falso da mesma. – Aliás, eu nem devia ter vindo. – resmunguei e Gery sorriu. – Volto à noite.

Não falei mais nada e me dirigi até a porta. Aquilo estava me sufocando.

Conheci Gery em um colégio francês na Itália, pois é estranho. Nós estudávamos em uma escola de artes juntas, mas bem... Isso não durou muito tempo. Dividíamos o quarto e éramos muito amigas, porém, andávamos tendo uns conflitos, porque ela gostava de beber com um pessoal da pesada, e quando eu ameacei, pro bem dela, contar para a diretora que ela bebia escondido no colégio, ela foi mais rápida e escondeu algumas garrafas de cerveja em baixo da minha cama e chamou a diretora, e bem... Eu fui expulsa. Claro que depois, da minha mãe insistir muito, eles descobriram que foi a Gery, e quiseram que eu me matriculasse novamente no colégio, mas minha mãezinha é muito orgulhosa e não me deixou voltar. Ainda bem, porque eu não pisaria meus pés lá de novo nem a pau.

Mas agora é tudo diferente. Gery está de volta. E que Deus proteja o León, ele realmente não sabe com quem está se relacionando.

 

***

 

Violetta

 

— Obrigada pelo cinema. – falei quando chegamos a minha porta. Clement insistiu que me deixaria dentro de casa, em segurança. – Eu adoro sua companhia. – continuei, vendo um largo sorriso brotar de seus lábios.

— Foi um prazer para mim também. – respondeu pegando em minhas mãos. – Ainda bem que você insistiu em sair. Deixou minha noite ainda melhor.

— Tá vendo. – ri. – E olha só, não são nem onze horas ainda. Temos tempo de sobra. Quer entrar? – perguntei educadamente.

— Não, não. – negou prontamente. – Seria muito incomodo para sua família. – riu. – Mas podemos marcar um almoço qualquer dia desses. Gosto de conversar com seu pai. Ele é um homem muito inteligente.

— Ele fala a mesma coisa de você. – sorri. – Vocês são muito semelhantes.

— Um pouco.

— Então já vou entrar. – anunciei. – Boa noite Clement. – me aproximei mais do mesmo para beijar sua bochecha, mas fui surpreendida quando o mesmo virou-se, fazendo com que meus lábios tocassem os seus.

Um beijo roubado.

Assustei-me e logo me afastei. Acho que nunca tivemos um contato assim, tão íntimo. Ele me pegou de surpresa.

— Me desculpe... Eu não sei o que estava pensando, eu... – o interrompi colando nossos lábios novamente.

Sua mão foi até a minha nuca enquanto a outra agarrava a minha cintura, me puxando para perto. Uau Clement. Eu não esperava que ele tivesse essa pegada, na verdade eu não esperava nada disso. Seus lábios se entreabriram e eu me entreguei. Oh meu Deus. Depois de quatro anos... Quatro anos, eu estou beijando alguém novamente. Isso parece... Novo. Eu até pensei que tinha desaprendido a beijar, mas vejo que não estou tão ruim assim, ou pelo menos acho. O oxigênio fez falta e nossos lábios se repeliram. Abri meus olhos encontrando um Clement sorridente e ofegante. Sorri também.

— Você é incrível. – me deu um selinho.

— Acho que essa noite não poderia acabar de outro jeito, né? – não sei o que está dando em mim, de verdade.

— Sim, mas eu espero que isso não mude as coisas entre a gente. Eu gosto muito de você Violetta, mas gosto muito da nossa amizade também. – ele disse fofo, e eu tomei isso como uma declaração.

— Tá tudo bem.

— Queria que a gente desse certo. – ele acariciou minhas bochechas. – Você é a garota perfeita, eu gosto de absolutamente tudo em você, e amo sua companhia.

— Não vamos apressar nada. – pedi tirando sua mão do meu rosto, um beijo já foi mais do que o suficiente. – Esse foi um grande passo pra mim. Eu te adoro Clement, mas preciso ir calma.

— Eu esperei tanto por esse beijo, que eu posso esperar um pouco mais. – colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.

— Você é o melhor. – confessei o abraçando. – Obrigada por me entender.

— Além de qualquer coisa que possa acontecer entre a gente, eu sou seu amigo Violetta. E estou aqui para você. – murmurou perto do meu ouvido, e eu sorri aliviada. Não tinha o que temer com Clement ao meu lado. – Agora entre, não quero ser o culpado caso você se atrase amanhã para ir à faculdade.

— Boa noite Clement. – falei me separando de seu abraço.

— Boa noite. – beijou minha testa.

Entrei em casa com um sorriso bobo. Talvez eu devesse me permitir tentar algo com o Clement, ele me parece ser uma pessoa que vale a pena. Apesar de que eu também achava que o León valia à pena, mas na verdade me enganei feio.

— Que sorriso é esse meu amor? – Angie perguntou me dando um susto. Ela está sentada no sofá, acariciando os cabelos curtos de Julietta, enquanto a mesma dorme em suas pernas agarrada a um ursinho de pelúcia rosa.

— Uma coisa muito boa me aconteceu hoje, só isso. – respondi baixo para não acordar minha irmã, e sentei na poltrona de frente para Angie. – A Jú tá desmaiada. – ri.

— Ela se cansou muito hoje. – Angie riu também. – Essa menina gasta energia demais, uma hora tinha que se esgotar. – alisou as bochechas rosadas de Julietta. – Crianças podiam vir com um botão de ligar e desligar.

— Sim, seria legal. – dei risada. – Francesca está aqui não é? – mudei de assunto.

— Está sim. Ela desceu agora a pouco atrás de uma garrafa de água, e acabamos tomando um chá juntas. – Angie respondeu alegre. – Ela me parece um pouco... Como posso dizer... Frustrada, acho. Aconteceu alguma coisa?

— Acho que não, por quê? O que ela te disse? – perguntei, já que eu sabia que ela andava estranha por causa do Marco, mas não sei se ela comentou algo com a Angie, então não vou falar nada se ela não sabe né?

— Disse que estava cansada de tudo e que queria um tempo só pra ela. – me contou. – Não entendi muito bem, e achei muito estranho, porque ela adora conviver com as pessoas, ajudando nas situações difíceis. – Angie parecia pensar. – Ah! E me disse algo superficialmente sobre Marco. Disse que ele anda um pouco menos atencioso, e que ela está mais do que cansada. Também não entendi isso, o Marco me pareceu sempre tão apaixonado por ela.

— As coisas mudam Angie. – sorri triste por minha amiga. – Vou subir, ela deve estar precisando de mim.

— Com certeza. – sorriu.

— Boa noite Angie. – murmurei e ela me deu um beijo de boa noite, como sempre fazia. – Boa noite anjinha. – sussurrei próximo ao ouvido de Julietta e lhe dei um beijo no topo da cabeça.

Subi as escadas com um sorriso no rosto. A noite foi perfeita, com certeza, e acho que nada poderá estragá-la. Andei pelos corredores com a mente avoada, e percebi que as luzes do escritório do meu pai estavam acesas. Ele deve estar trabalhando, não vou incomodá-lo. Entrei no meu quarto e encontrei uma cena engraçadinha. Francesca está com o seu pijama de ovelhinhas comendo uma barra de chocolate no tapete fofinho do meu quarto, enquanto assiste a uma comédia romântica. Seus cabelos estão soltos e desgrenhados, parece até uma adolescente rebelde, exceto pelo pijama rosa de ovelhinhas.

— Amiga. – roubei sua atenção e ela me olhou surpresa.

— Já voltou? Pensei que iam esticar um pouco a noite. – ela disse maliciosa e eu joguei a primeira almofada que vi pela frente nela.

— Boba. – insultei-a. – Vou te contar tudo o que aconteceu hoje com o Clement, não se preocupe. – falei vendo a cara de Francesca de ansiedade, me juntando a ela no tapete fofinho. – E a propósito, eu quero um pedaço de chocolate. – pedi e ela deu risada, partindo a barra no meio e me entregando uma parte.

— Pelo seu sorriso enorme, tenho absoluta certeza que a noite foi maravilhosa. – sorriu de canto. – Mas me conta tudo.

Naninanão— neguei prontamente. – Primeiro você vai me contar por que você está assim. E nem adiantar se fazer de tonta que eu não vou cair. Angie me contou que você está frustrada. Conta pra mim o que tá acontecendo, por favor.

— Estamos invertendo os papéis? Que eu saiba sou eu quem está estudando para ser psicóloga, não você. – respondeu risonha.

Francesca estuda psicologia. Depois de anos tentando se decidir, ela finalmente se encontrou, e para mim ela escolheu a coisa certa, porque a mesma é cheia dos bons conselhos e das boas atitudes, sempre ajudando os outros, porém se esquecendo de ajudar a si própria. Sei que ela está passando por momentos complicados, mas parece que ela se importa mais com qualquer coisa do que com ela mesma.

— Não é nada. – respondeu depois de um tempo e eu fiz uma cara tipo: sério? – Na verdade não é nada que você já não saiba, quer dizer... Você sabe que eu não sou muito de falar de mim Vilu. – ela disse sem jeito.

— Ai amiga... Você vai ser a melhor psicóloga, mas antes precisa aprender a se abrir também. – passei meu braço pelos seus ombros. – Eu sua amiga, pode contar comigo sempre. – beijei o topo de sua cabeça.

— Eu sei. – sorriu. – Mas não quero falar disso agora, quero que me conte como foi à noite com o Clement, só isso. – falou se afastando e me olhando atenciosa.

— Foi interessante. – respondi reprimindo o sorriso. – E nos beijamos. – Ela estreitou os olhos e me olhou como se estivesse vendo uma aberração. Qual é, foi tão ruim assim?

— Só isso? – perguntou desconfiada.

— Como assim só isso? – rebati. – Foi um grande passo pra mim, Fran.

— Eu sei que foi. – riu. – Mas até que enfim né? Pensei que vocês não iriam se assumir nunca. – resmungou.

— Não temos nada para assumir Francesca. – murmurei.

— Ainda. – disse rindo.

— Ainda. – confirmei.

Eu ia dizer algo, mas o celular dela começou a tocar escandalosamente e ela foi atender. Revirou os olhos quando viu quem a ligava e me mostrou. Era o Marco, falei para ela atender, mas ela negou, insisti, e ela suspirou atendendo contragosto.

— O que foi agora? – perguntou grossa e eu quis rir, minha amiga não tinha jeito. – Mudança de plano? – perguntou novamente. – Como assim adiantado? – franziu a testa e eu fiz o mesmo. – Jura? Que péssimo. – fez biquinho. – Mas e agora? Eu não posso... Marco... – ela parecia lamentar algo. – Como ela não vai ficar sabendo? É eu to na casa da Violetta. – olhou para mim e parecia irritada. – Tá. Vou dar meu jeito. – suspirou. – Você vem me pegar? – perguntou tristonha. – Ok. Estou esperando. – e então desligou com uma cara não muito boa.

— O que aconteceu dessa vez? – perguntei prevendo que algo ruim tinha acontecido.

— É... – ela olhou para os lados. – É a mãe do Marco, ela tá mal, preciso ir até lá.

— Mas tá tarde Fran, e amanhã nós temos faculdade. – desconfiei.

— É a minha sogra Vilu, Marco precisa de mim. – falou baixinho. – Você entende né?

— Tudo bem. – suspirei. – Se você precisa ir...

— Preciso. – disse cética. – E a propósito... Meu vestido de bolinha branca está aqui? Não posso sair de pijama.

— Segunda porta do guarda-roupa à esquerda. – ri.

Em menos de meia hora Marco estava esperando de carro em frente a minha casa. Francesca se despediu e foi. Achei estranho, mas eu espero que pelo menos eles se resolvam. Odeio ver a Francesca triste, ainda mais por causa do Marco, ele anda a decepcionando muito ultimamente.

 

***

 

Francesca

 

 

— León chegou mais cedo mesmo? – perguntei depois de vários minutos em silêncio no carro de Marco.

— Claro, eu não mentiria. – disse frio.

— Sei. – disse mais para mim do que para ele.

— O que você inventou para sair da casa de Violetta? Sei que não teve coragem de dizer a verdade para ela.

— Falei que sua mãe estava doente. – suspirei. 

— Você sabe que eu não sou a favor de mentiras.

— Sei.

— Vai ficar dizendo "sei" pra cada afirmação que eu disser? – perguntou claramente impaciente.

— Não quero discutir com você no exato momento, por isso me limito ao meu "sei". Satisfeito?

Ele não me respondeu, e seguimos o caminho todo em silêncio. Isso já está ficando insuportável.

 

***

 

León

 

Até que a festinha de boas-vindas está animada. Meus pais estão animados, os meus amigos parecem satisfeitos e Gery parece enturmada. Sorri, e ela achando que a minha família não a aceitaria. Até Ludmila estava menos emburrada, ela estava conversando com a minha irmã sobre alguma coisa de cabelo.

Estava tudo ótimo, até que uma coisa me chamou atenção. Uma coisa não, duas pessoas. Marco estava no telefone e Francesca estava emburrada e aparentemente discutindo com ele, enquanto o mesmo pedia para ela fazer silêncio. Quis rir. Esses dois continuam a mesma coisa, parece até que ainda estou no ensino médio, e isso é bom. Vi Francesca perder a paciência e sair em direção aos fundos de minha casa, enquanto Marco continuava no telefone, ouvindo atentamente a ligação. Dei de ombros, ela deve ter ido ao banheiro.

— Meu amor. – Gery veio até mim. – Sua família é espetacular. – disse com graça e eu sorri. – Eles são uns amores.

— É, pelo visto eles te adoraram. – dei um breve beijo em seus lábios. – Precisa de alguma coisa? – perguntei vendo ela se enrolar em torno de mim, em um abraço.

— Preciso do meu namorado só pra mim um pouquinho. – murmurou no meu ouvido e eu ri. – Será que a gente já pode ir?

— Não sei, acho que... – fomos interrompidos pela voz do Marco afoito.

— León, você viu a Fran? – perguntou segurando o celular na mão.

— Acho que ela foi ao banheiro. – respondi. – Por quê?

— Acho que ela tá um pouco chateada, não sei, preciso levá-la daqui. – ele disse e parecia cansado. – Você não se importaria se fôssemos embora, não é? – perguntou um pouco sem graça.

— Não tudo bem, eu e Gery já estamos de saída também, está ficando tarde, e nós tivemos uma longa viagem.

— Valeu. – sorriu.

Marco foi em direção ao banheiro e mais uma vez eu estranhei. Gery me olhou desconfiada, mas lhe dei um sorriso indicando que estava tudo bem, e ela pareceu acreditar em mim, já que me abraçou novamente.

 

Francesca

 

— Qual o problema agora? – Marco me abordou assim que eu abri a porta do banheiro, me dando um susto. Nunca o vi usar aquele tom de voz antes comigo. Eu fiquei muda, ele me pegou de surpresa. – Qual é Francesca? Você vai ficar assim toda vez que eu atender uma ligação do meu trabalho? Sério?

— Então você percebeu. – murmurei olhando em seus olhos.

— Só um idiota não perceberia. – nossa, ele estava irritado. – Pensei que você apoiasse e gostasse de ver o seu namorado se dando bem e crescendo naquilo que ele realmente gosta.

— Eu apoio é que... – ele queria mesmo discutir isso em uma festa? Pois bem, vamos lá. – Você se tornou outra pessoa desde que começou a trabalhar naquela porcaria. Aquela empresa se tornou tudo pra você de uma hora para outra, isso se tornou irritante, você não vê? Marco, você está vivendo e respirando trabalho. Isso já está virando obsessão.

— Eu só estou tentando garantir o meu futuro.

— O seu futuro? – perguntei com uma pontinha de tristeza. – Antes era o nosso futuro, e agora é só o seu? O que tá aconteceu com aquele garoto que pensava em todo mundo, inclusive em nós dois?

— Francesca eu não sou mais um garoto. – disse dando uma risadinha sarcástica, fazendo o meu sangue arder em raiva. – Se eu garantir o meu futuro, e nosso já está mais do que feito, será que você não entende? Nós vamos ter tudo Fran, nada vai faltar, e se bobear, você nem vai precisar trabalhar.

— Ok. Você tá pirando. – falei controlando o meu tom de voz para não gritar com ele. – Você acha mesmo que eu vou aceitar o seu dinheiro a vida inteira? De repente eu estou te achando um idiota machista. – cruzei os braços. – Se dinheiro fosse tudo, com certeza esse mundo estaria em ruínas.

— O dinheiro faz o mundo girar Francesca, eu vivo nesse meio, sei como as coisas funcionam. – ele disse ficando sério.

— Pouco me importa esse mundo de translações e corrupções que você está vivendo. – a raiva começou a borbulhar dentro de mim. – O amor que faz o mundo girar Marco. Desde quando o dinheiro se tornou tudo pra você? Francamente, nunca pensei que fosse me decepcionar tanto com você.

— Eu só estou querendo o meu conforto mais pra frente Francesca.

— Conforto? – ri enquanto sentia uma enorme vontade de chorar. – A gente tem conforto. A gente tem tudo. Você quer o excesso Marco, você quer toda aquela bagagem desnecessária de riquezas só pra falar que tem bens, dinheiro e toda essa estupidez.

— Não é excesso. É o que eu quero. Você não pode, sei lá, só aceitar?

— Aceitar? Você acha mesmo que eu quero aceitar o meu namorado me trocando por uma porcaria de empresa que gasta todo o seu tempo útil com trabalho desnecessário? Que eu vou aceitar você sendo corrompido pelo dinheiro na minha frente sem fazer nada? Então você não me conhece.

— Você tá sendo infantil e ridícula. – disse frio. – E pare de dizer que meu trabalho é desnecessário e inútil. Eu estou no mundo dos negócios Francesca, com os melhores empresários do mundo inteiro, foi tudo o que eu sempre quis. E não vou desistir só porque tenho uma namorada que contradiz tudo o que eu faço ou deixo de fazer.

— Você não tá me entendendo, M... – me interrompeu.

— Você que não está compreendendo. – me acusou. – Percebeu que apenas eu penso no futuro? – perguntou e eu quase joguei na cara dele que os meus planos eram bem diferentes que os dele, mas ele foi mais rápido e me interrompeu. – Você está estudando ainda, e parece nem se importar com o trabalho. Sinceramente Francesca, você é tão inteligente, deveria ter escolhido uma profissão que explorasse esse seu lado calculista, que explorasse seu intelecto e não psicologia que... – o interrompi com os nervos a flor da pele, dessa vez seria impossível não gritar com ele, isso já foi longe demais.

— É a minha escolha, não a sua! Eu escolhi psicologia, por que eu gosto de me envolver com as pessoas, porque eu me sinto bem ajudando os outros. – as lágrimas brotaram de meus olhos, ninguém nunca desmereceu a profissão que eu escolhi antes como ele desmereceu agora. – Você é tão insensível. Se o meu intelecto fosse à coisa mais importante da minha vida, eu com certeza me internaria, porque você tá doente! – e mais lágrimas saiam de meus olhos. – Burro. É isso que você é, um burro. É tão inteligente, e de repente se deixa levar por essa ganância ridícula de sempre querer mais. Você poderia me dar tudo, comprar tudo, que nada supriria a falta de amor que eu estou sentindo agora.

— Se é pra ficar me insultando eu vou embora! – ele disse alterado.

— Tá fazendo o que aqui ainda então?! – gritei de volta.

Ele me olhou duro e frio, enquanto eu me acabava em lágrimas silenciosas e uma dor horrível dilacerava dentro do meu coração. Então ele se virou de costas e saiu, sem dizer uma palavra, me deixando para trás, e aí sim, eu senti o mundo inteiro desabando em cima da minha cabeça. Por que eu fui tão idiota?

Ele foi embora, e eu fiquei ali desolada. Eu não podia voltar para casa. Acho melhor ligar para a Violetta, preciso da minha melhor amiga, uma irmã, com certeza se eu desabafar com a minha mãe, ela vai me chamar de doida e inconsequente. Pensando nisso, peguei o meu celular.

Oi amiga.

— Violetta. – ouvir a voz dela foi reconfortante e eu senti vontade de chorar mais. – Eu posso voltar pra sua casa? Preciso conversar. – resmunguei tentando fazer com que as lágrimas parassem de sair dos meus olhos.

Claro que pode, não precisava nem pedir, né Fran?— a ouvi dizer. – Mas você tá me deixando preocupada. O que a mãe do Marco tem? É grave?

— Não, ela tá bem. – murmurei me sentindo um lixo, por ter brigado com o meu namorado e ainda por cima mentir para a minha melhor amiga. – É que eu e o Marco... A gente brigou feio, e eu to me sentindo muito mal e... – meus soluços me interromperam e eu me lembrei de como ela ficou destruída quando descobriu que o León a tinha traído. Acho que eu to sentindo a mesma coisa, só que o meu namorado me traiu por dinheiro.

Francesca, aonde você tá? Eu vou te buscar com o Ramalho.— ela disse desesperada.

— Não, não. – eu não podia dizer onde estava. – Eu vou para sua casa, pode ficar tranquila. – murmurei contendo o meu nervosismo.

Toma cuidado. Eu nunca te vi desse jeito, estou preocupada, e com muita vontade de estrangular o Marco. – ela disse irritada e um sorriso se formou nos meus lábios, era ótimo ter aliados.

— Estou indo para sua casa então.

Estou te esperando.

— Obrigada. – e assim desliguei.

 

León

 

Estava esperando a minha mãe voltar de uma conversa particular com a minha tia, mas elas estavam demorando demais, pelo visto o assunto era sério. Gery quer ir embora e eu também, estou cansado e tudo que quero fazer é dormir. Gery está abraçada a mim falando sobre as milhares de lojas que ela quer visitar enquanto estivermos aqui.

De repente vi Marco passando com uma rapidez fora do normal. Ele esbarrou na Ludmila, e quase que a minha prima caiu sobre o piano. Ele pediu desculpas, mas parecia transtornado.

— Só um segundo Gery. – murmurei me afastando dela, e indo o mais rápido que podia atrás de Marco, que já estava quase chegando à porta. – Ei! Marco! Espera!

Ele parou imediatamente e virou para me encarar, respirando fundo.

— Desculpa cara, eu nem me despedi. – ele disse assim que eu me aproximei.

— Tá tudo bem? Você tá com a cara péssima. – perguntei não me importando com seu pedido de desculpas, e sim me preocupando com a cara péssima que ele estava.

— Eu só preciso ir. – falou pegando o casaco. – Preciso mesmo ir.

— Alguma coisa do trabalho? Fiquei sabendo que você tá fazendo sucesso na empresa onde está trabalhando. – falei feliz por ele.

— Não é trabalho não, mas sim to chegando onde eu quero. – sorriu. – São uns problemas, que eu preciso resolver só isso.

— Tá. – estranhei. – Cadê a Fran? – perguntei olhando ao redor. – Ela não veio com você?

— León – ele me chamou. – Eu não devo explicações a ninguém, mas eu acabei de brigar com a Francesca e é por isso que estou indo embora. Não quero estragar sua festinha de boas-vindas.

— Não, tá tudo bem, entendo. – minha voz saiu confusa.

— Bom, então já vou indo. – forçou um sorriso. – Foi bom te ver de novo cara. Até mais. – acenou e abriu a porta.

Acenei de volta e ele fechou a porta. Ótimo. Cadê a Francesca? Sei que faz um bom tempo que não nos vemos, mas eu ainda sinto que ela é a minha amiga, ou pelo menos eu espero isso.

Fiz um sinal de espera com a mão para a Gery e ela me olhou confusa, murmurei um “depois eu te explico” e ela assentiu com um sorriso. Andei até os fundos da minha casa, e encontrei Francesca falando ao celular, não quis ouvir nem nada, mas ela parecia estar chorando. Parecia não. Ela estava chorando. Assim que e eu a ouvi falar “tchau”, me aproximei.

— León! – ela deu um pulo em surpresa. – Eu não te vi aí. – sorriu secando as bochechas com a manga na blusa, tentando mostrar que estava tudo bem.

— Nem tente que eu vi que você estava chorando. – fui direto. – E sei também que você e o Marco brigaram.

— Uau. Muitas coisas acontecendo na festa do seu retorno. – suspirou. – Me desculpe, eu já estou indo embora, to me sentindo péssima, e só quero conversar com alguém.

— Pode conversar comigo se quiser. – sorri. – Não na porta do banheiro, podemos ir até a cozinha, é com certeza mais privado lá.

— Ah obrigada, mas não acho que você entenderia. – ela disse encabulada. – Sabe como é né? Você ficou muito tempo fora.

— Entendo. – aquilo me afetou de forma estranha.

— Não quero que me entenda mal, você é meu amigo, ou eu espero que ainda seja, mas... – a interrompi.

— Eu sou seu amigo.

— Bom. – ela me deu um sorriso. – Porém, você, meu amigo, passou muito tempo fora, e não me entenderia de jeito algum. – suspirou. – Mas obrigada mesmo assim.

— Tudo bem, não vou forçar você a me dizer. – falei rindo e ela riu também. – Mas pode contar comigo.

— Obrigada, bom saber que o meu amigo está de volta. – veio até mim e me abraçou. – Eu ainda te amo apesar de tudo.

— Eu também te amo – ri. – Mas apesar de tudo o quê?

Ela ia começar a falar, mas escutamos uma voz.

— To interrompendo alguma coisa?

É a voz de Gery. Bem conhecível aos meus ouvidos. Francesca desmanchou o nosso abraço e olhou envergonhada para Gery.

— Não, estávamos apenas conversando. – respondi e ela me olhou com aquele olhar ciumento que significava um tal de “não brinca?”, para mim.

— Bom, eu já estou indo. – Francesca se pronunciou. – Desculpa por qualquer coisa. – cochichou no meu ouvido. – Tchau Gery.

— Tchau. – Gery forçou um sorriso simpático.

— Espera. – segurei seu braço e ela me olhou confusa. – Vai com quem?

— Não se preocupe, o lugar que eu vou não é muito longe daqui. – respondeu sorrindo nervosamente, talvez pelo olhar enciumado da Gery, não sei.

— Eu te levo. – ela abriu a boca para protestar. – Eu insisto Fran, é muito perigoso andar por aí sozinha.

— Mas... – Gery a interrompeu.

— Você está sem moto, esqueceu meu amor?

— Eu posso usar o carro dos meus pais, tenho certeza que eles não vão se importar.

— Ok, mas eu vou com vocês. – Gery disse convicta, e eu quis falar que a Fran é apenas minha amiga, mas fiquei calado, toda vez que a Gery está com ciúmes, e que eu quero explicar que não é nada do que ela está pensando, ela fica nervosa, e eu não quero deixá-la desse jeito.

— Tá. Me esperem lá na frente então. Vou buscar na garagem.

 

***

 

— Então Fran, pra onde você vai? – perguntei assim que Gery bateu que a Francesca entrou no carro.

— Hm... – ela olhou nervosamente para Gery, que estava emburrada no banco de trás, olhando para as unhas, e então se aproximou da minha orelha. – Casa da Vilu.

— O quê... – ela me interrompeu.

— Casa da Violetta. E nem vem querer falar nada, porque você nem me deu chance de recusar a carona. – ela sussurrou irritada e eu olhei para ela indignado.

— Algum problema, meu amor? – Gery perguntou me olhando desconfiado.

— Não, nenhum. – forcei um sorriso para Gery. – Vou te deixar lá. – sussurrei pra Francesca.

— Ótimo. – ela exclamou me dando um sorriso.

Aqui vamos nós.

 

***


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Notas finais do capítulo

O que acharam?????????
Beijocas amores!!!!!!!
Até a próxima!!!!!!



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