Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Oi gente
Primeiramente, eu não queria começar assim, mas é sempre bom pedir desculpas por demorar tanto, e vocês que são sempre boazinhas com os meus atrasos, tem o direito de ficarem chateadas, mas tudo tem uma razão não é mesmo?
Bom, eu perdi uns arquivos, e sabe quando você faz um trabalho magnifico, mas seu computador decide "bugar"? Pois bem, isso aconteceu, e desde então não tive vontade de escrever, essas coisas sempre desanimam sabe? Odeio deixar vocês na mão, mas eu não estava mesmo em condições de escrever o tanto que eu tinha escrito, não tinha condições de fazer o mesmo trabalho e sair tão magnifico quanto o primeiro.
Então eu recriei o capítulo 11, e eu achei até melhor. Não espero que me perdoem por isso, mas não é fácil perder um pedaço da obra que eu tanto tento fazer dar certo para agradar vocês.
Neste capítulo vocês verão dois personagens se estranhando, não verão duas pessoas apaixonadas, muito menos um romance se aflorando. Irão ver o que restou de um relacionamento que terminou de forma misteriosa para um e devastadora para outro. Irão ver dois personagens "quebrados", que mais para frente se reconstruirão juntos ou pelo menos tentarão.
Esse é realmente o começo, aquele "clique" sabe?
Alguns podem não achar interessante, e outros não darem a mínima, mas eu espero que entendam. Ele é um capítulo grande, bastante extenso. Ludmila está de volta, e ela é o que chamamos de "cupido".
Se você leu tudo que escrevi aqui, muito obriga, e espero que me compreenda, e se não leu, muito obrigada também haha.
Boa leitura meus amores, meus rascunhos estão feitos, e eu prometo voltar em breve!



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— Eu adorei. – murmurei encantada.

— Aposto que sim. – o amigo de Clement falou animado. – Se aceitar a oferta, os móveis serão retirados imediatamente, e você pode adiantar sua mudança o quanto antes, para não atrasar, se quiser é claro.

Olhei em volta e senti o meu coração apertar. A vida adulta que eu tanto esperei não parecia lá essas coisas agora. Eu vou morar sozinha, não vou ver mais os brinquedos da Julietta espalhados pela casa, ou ter os abraços carinhosos de Angie pela manhã, e acima de tudo, não vou ter a preocupação constante do meu pai, e por mais que às vezes eu o ache controlador, simplesmente a ideia de não tê-lo perto para me proteger, me apavora.

— Onde eu assino? – perguntei e vi o homem a minha frente abrir um sorriso satisfeito.

Ele me levou até a sala novamente, e nós nos sentamos. O contrato era extenso, e me deu preguiça ao ler, mas sei que era importante, ainda mais na compra de um apartamento. Sei que assim que eu assinar eu vou precisar de um emprego. Todo o dinheiro que eu investi nesse imóvel, foi decorrente de uns aninhos de apresentações de ballet, mas agora que eles não estão ocorrendo com tanta frequência, preciso imediatamente de um emprego. Tenho bolsa na faculdade, e tudo que eu menos quero é mexer com o dinheiro do meu pai, porque é óbvio, é dele e da família que ele está construindo.

— Foi um prazer fazer negócios com você, senhorita Castillo. – o homem que eu nem lembrava o nome se posicionou de pé e me estendeu a mão.

— Igualmente. – sorri o cumprimentando.

— A chave é sua. – me estendeu a pequena chave prata. – Quando achar melhor entre em contato comigo que providenciarei imediatamente a retirada dos móveis.

— Obrigada.

E então ele se foi.

Olhei para o lado, e vi Clement entretido com o celular em uma poltrona. Ele ficou quieto a negociação inteira, não interviu em nada, nem opinou também. Claro que ele confia no ex. dono, mas eu queria que ele palpitasse um pouco para eu ter certeza absoluta.

— Vamos? – perguntei fazendo um coque no meu cabelo, esperando que ele se levantasse.

— Você precisa contar ao Germán que comprou um apartamento. – enfim disse alguma coisa. – Não acho certo esconder uma coisa tão significativa.

— Irei contar no jantar de hoje à noite. Ele vai surtar. – suspirei prevendo a reação dele.

— Sim, irá. – riu. – Está com fome? Tem um restaurante muito bom aqui por perto.

— Estou morrendo.

 

 

León

 

Baby, eu vou demorar a chegar, está um transito terrível e eu estou presa dentro de um taxi, não me espere para almoçar, já tomei um café pela rua.

— Um café não alimenta ninguém Gery. – murmurei enquanto escrevia em meu caderno de canções.

Comi um muffin também. Estava uma delícia.

— Vou cozinhar algo por aqui, acho que você chega a tempo de comer comigo.

Ok, eu acho que tem massa italiana no armário. Precisamos de uma empregada León. Eu não sei cozinhar, e a casa está virando uma bagunça.

— Eu sei cozinhar, e vou dar um jeito por aqui, pegar a vassoura, passar um pano, lavar uma louça. Isso eu consigo fácil. – ri.

É claro que consegue, mas você é um star. Não quero que fique fazendo deveres de casa. Vou fazer o possível para achar uma empregada até o final da semana.

— Você quem sabe. Aliás, chegou um envelope para você e para mim também.

Não abra. Espere-me chegar.

— Eu nem sonharia. – revirei os olhos.

Tenho que desligar, te vejo logo. Beijo.

Larguei o violão sobre a cama e fechei meu caderno de músicas. Há mais de um ano eu venho sentido dificuldade em escrever minhas próprias músicas, e isso faz com que eu use mais do trabalho de compositores desconhecidos que conhecem o tipo de música que eu faço. Isso é péssimo, porque não são músicas que eu escrevo ou sinto. Não são minhas músicas, e eu não sei por que me deixam levar crédito por algo tão bom, sendo que a pessoa em si poderia ganhar muito mais.

Fui até o armário da cozinha e o encontrei abastecido. Gery pelo menos tinha feito a compra. Peguei a massa italiana e coloquei sobre o balcão. Olhei em volta e me senti estranho. Aquele apartamento que parecia pequeno e aconchegante, agora parecia grande e solitário comigo sozinho ali dentro. Sempre morei em lugares grandes, mas sempre estive na companhia dos meus pais, da minha irmã, da minha prima e dos meus amigos. Estar sozinho é perturbador.

Peguei uma das panelas novas e coloquei a água para ferver. Talvez essa massa italiana seja a mesma coisa que fazer um macarrão normal, ou até mais fácil.

Porém, antes que eu conseguisse abrir o saquinho, o interfone tocou.

Está esperando visita, senhor?

— Não. – murmurei confuso.

Tem uma loira aqui em baixo que diz ser Ludmila Ferro, sua prima, devo deixar subir? — perguntou e eu imaginei que Ludmila devia estar brava por ter sido anunciada como se fosse uma completa estranha.

— Por favor. – segurei o riso.

Enquanto ela não chegava, coloquei a massa dentro da água e coloquei o fogo no médio. Talvez saia um almoço agradável. E antes que eu pudesse separar os temperos, a campainha tocou.

— Dá próxima vez que eu precisar ser anunciada, eu mato o porteiro. – falou entrando assim que eu abri a porta. – Como assim você não colocou o meu nome na lista de visitas frequentes?! Ficou maluco?!

Então eu sorri. A presença dela fez com que a sensação de solidão passasse quase que instantaneamente. Os cabelos loiros estavam curtos agora, e ela usava um pouco menos de rosa, mas ainda era a minha prima, um pouco menos patricinha, mas ainda assim minha prima. E quando menos percebi a estava abraçando. Não tinha dado tanta importância a ela na minha recepção de boas-vindas, mas agora vejo que não posso viver sem essa garota na minha vida.

— O que foi? – perguntou quando nos afastamos. – Está tudo bem?

— Sim, só senti falta da sua histeria. – falei rindo e ela estreitou os olhos para mim.

— Cretino. – revirou os olhos segurando o riso. – Espero que a vaca da sua namorada não esteja aqui. – disse largando a bolsa sobre o sofá. – Amei esse lugar, mas precisa de uma corzinha, é tudo tão... Preto e branco.

— Gery não está aqui, e não se refira a minha namorada como vaca. – adverti. – Está presa no trânsito, e eu gosto do apartamento como ele está, mas obrigada pela opinião. Agora o que faz aqui? – cruzei os braços, um pouco rude confesso, mas eu não gosto quando desrespeitam Gery, tenho uma conexão com ela, e isso faz com que eu me sinta obrigado a protegê-la.

Ludmila abriu a boca, e em seguida fechou de novo. Olhou em volta e parecia estranhamente incomodada com alguma coisa.

— Ludmila? O que faz aqui? – repeti a pergunta.

— É – ela olhou uma última vez para o teto. – Sua mãe.

— O que tem a minha mãe?

— Quer que você jante conosco hoje. – ela parecia nervosa. – Quer dizer, Melanie quer que você se junte a nós hoje à noite na casa dela, não sua mãe.

— Só isso? – perguntei e ela assentiu. – Precisava vir aqui? Podia ter me enviado uma mensagem, pouparia o seu tempo.

— Eu sei.

Olhei para ela mais uma vez e ela não parecia normal. A histeria havia passado, e ela não estava dando respostas sensatas e inteligentes o suficiente, não parecia tão Ludmila agora. Então notei que seu pulso avermelhado e suas unhas fincadas na pele no mesmo lugar avermelhado. Franzi a testa.

— O que é isso? – perguntei olhando fixamente para a vermelhidão em seu pulso. Ludmila é branca demais, qualquer coisinha em sua pele se nota facilmente.

— O que? – perguntou arregalando seus olhos.

— Isso. – peguei seu pulso com certa hostilidade.

Ela olhou para o pulso e soltou um suspiro trêmulo. Olhou para o chão e parecia não ter ideia do que responder, ou inventar. E quando seus olhos voltaram para os meus novamente, achei que ela fosse chorar a qualquer momento.

— Ludmila... – soltei seu pulso e ela ergueu o queixo, não deixando que o brilho estranho em seus olhos se transformasse em lágrimas, mas seu nariz e bochecha estavam vermelhos. – Não vou perguntar uma terceira vez, o que é isso?

Ela entrelaçou as mãos atrás das costas e me olhou de queixo erguido.

— Tenho sofrido ataques de ansiedade há um tempo. – falou baixo. – Agora eles estão constantes, e quando eu fico nervosa, ou estressada, eu não sei o que acontece... – ela parou um pouco e respirou fundo. – As minhas unhas vão direto para o meu pulso, como se eu precisasse... Como se eu precisasse me segurar a algo... Toda vez que sinto os meus pulmões faltarem ar... Ou o meu coração acelerar demais, sei que vai acontecer... Sei que... – ela respirou fundo mais uma vez e fechou os olhos brevemente.

— Está acontecendo agora não está? – perguntei baixo.

Ela assentiu e quando eu tentei abraçá-la, a mesma deu um passo para trás.

— Eu não quero chorar, melhor não me abraçar, posso borrar a maquiagem. – sorriu triste e percebi que suas unhas estavam em seu pulso novamente, mas ela não parecia notar. – Estou bem, daqui a pouco passa.

Fiz ela se sentar na poltrona e fui pegar um pouco de água. Ansiosa com o quê? Estressada com o quê? É horrível a sensação de não saber o que tem acontecido com ela esse tempo todo. Enquanto eu estava curtindo os meus momentos de glória, ela estava inquieta tentando se acalmar e ferindo o pulso com as próprias unhas? Não faz sentido. Por quê?

— Está trabalhando ultimamente? – perguntei tentando achar causas para a sua ansiedade, então ela abriu um sorriso gigantesco, e suas unhas saíram de seu pulso quando ela gesticulou ao falar.

— Sim, e meu emprego é maravilhoso. – me olhou empolgada. – Não sabe ainda? Sua prima aqui é dona de uma das lojas mais caras de Buenos Aires. – sorriu. – Vendo coleções importadas e criações minhas que são invejadas em muitos países.

Então percebi que falar de trabalho a distraia.

— Viajei para França, estudei um pouco na Inglaterra, observei a moda parisiense, e amei a diversidade de roupas e cores no Brasil. – ela parecia feliz demais. – Conheci um espanhol que morava na África, e ajuda uma organização de crianças carentes. – ela sorriu, mas de repente parecia não tão empolgada. – O nome dele é Miguel, ainda temos contato, ele me mostrou a diversidade da África, mas também me mostrou a miséria, e até onde um ser humano pode chegar para sobreviver. – ela abaixou a cabeça. – Metade do dinheiro que eu ganho, vai para aquela organização que não é nem um pouco valorizada por outras pessoas. Hoje eu faço parte, mas ainda me sinto inútil. São tantas crianças León, tantas... – ela ergueu a cabeça de novo e seus olhos estavam vermelhos, ela ia chorar a qualquer instante. – São tão novas para sofrerem, me fez ter vontade de trazê-los comigo, mas não tenho estrutura financeira para todos. E nem sou casada para adotar um, ou alguns. – riu quando a primeira lágrima escorreu. – Eu queria uma família, mas o sonho ainda está muito distante. – desviou seu olhar do meu e eu soube onde morava o problema.

— Você e esse Miguel... – cocei a nuca constrangido ao perguntar.

— Sim, quer dizer, não. – ela riu nervosa. – Nós nos beijamos antes de eu deixar o continente, mas foi só uma vez, juro. Ele é uma boa pessoa, de coração imenso, mas eu não poderia morar lá com ele, por mais que o mesmo tenha insistido, eu sou de Buenos Aires, meu lugar é aqui, meu coração é daqui.

Sei exatamente o que ela quer dizer, porque todos esses anos que eu passei fora me fez sentir saudade desse lugar.

— Entendo. – sorri.

— León... – ela fez uma careta. – Que cheiro ruim é esse?

— Droga, a massa italiana... – murmurei correndo até a cozinha.

Quando cheguei à cozinha, desliguei o fogo imediatamente, mas não tinha mais solução. A massa havia queimado, e pior ainda, a panela nova estava com o fundo queimado, parecia carvão.

— Droga. – resmunguei.

— Acho que alguém vai ter que almoçar em um restaurante hoje. – Ludmila disse atrás de mim. – Sorte sua que eu conheço um bem próximo daqui.

 

Violetta

 

— Eu vou querer a salada número 4 e o prato número 8, mas sem queijo ralado, por favor. – falei ao garçom que assentiu ao anotar meu pedido.

Clement havia pedido um champanhe de marca que eu desconheço, não sou muito boa em nome de bebidas. Ela já tinha feito o pedido, e não parava de me olhar.

— Sua dieta é bem regrada né? – perguntou.

— Sim, inclusive, só poderei tomar uma taça. – respondi com um sorriso. – Não tive a oportunidade de agradecer, mas muito obrigada, sério. Esse apartamento foi a melhor coisa que aconteceu em semanas.

— Eu faria qualquer coisa por você, o que me preocupa mesmo é como o seu pai vai reagir. Conheço o Germán suficiente para saber que ele vai querer te esganar.

— Ele vai entender. – suspirei. – Eu preciso construir a minha vida, e ele precisa construir a dele com a Jú e a Angie.

— Você também faz parte da vida dele.

— Sim, mas eu estou crescida e criada, não posso ficar na aba do meu pai o resto dos meus dias – dei um gole no me champanhe.

— Quando nos conhecemos na França, você disse que queria construir uma família, que queria casar, ter sua casa e seus filhos, mas agora... – o interrompi.

— Agora eu tenho consciência e francamente? Eu estava bêbeda quando nos conhecemos. – revirei os olhos. – Posso ter dito qualquer bobeira.

— Você estava machucada, por isso estava bêbeda.

— Eu estava curtindo, por isso eu estava bêbeda.

Ele me olhou e por um momento eu achei que ele estivesse irritado e no momento seguinte em que suas mãos se fecharam eu soube que ele estava irado.

— As pessoas dizem o que está no subconsciente quando estão bêbedas. – murmurou. – Você queria uma família, e eu sinto que até hoje você quer, o problema, é que você não está disposta de jeito algum, a enxergar as pessoas a sua volta, a se abrir, a se relacionar, e tudo isso por causa de um imbecil.

— Não quero falar do meu passado. – desviei nossos olhares. – E eu ainda sou nova, tenho tempo de sobra para conhecer alguém que se apaixone por mim, que queira as mesmas coisas que eu quero.

— Será que você não enxerga também que eu sou essa pessoa? – perguntou irritado. – Eu estou na sua vida há quase quatro anos, deixei bem clara as minhas intenções com você, mas até agora você não me permitiu.

— Isso está parecendo um ultimato.

— E talvez seja. – rebateu em seguida. – Se você não quer, tem quem queira. Essa é a ordem natural da vida. E eu sou homem, não posso ficar esperando por você a vida inteira.

— Então você está insinuando que por eu ser mulher, posso ficar esperando a vida inteira por um príncipe encantado?

— Me diz você, já que está há quatro anos sem ninguém, esperando que alguém como o seu ex. apareça a sua vida, sendo que você sabe que ele nunca vai aparecer nunca vai te salvar da sua carência de amor, mas tem uma pessoa bem na sua frente, que estaria disposta a te dar o mundo se você estralasse os dedos.

— Eu não estou pronta. – murmurei e ele deu uma risada sarcástica.

— Você nunca está. – sorriu sarcasticamente. – E se continuar assim, você vai ficar sozinha para sempre, sem ser amada por ninguém. – murmurou secamente. – Vai assistir seus amigos casando, construindo famílias, sua irmã crescendo, seu pai feliz, mas você estará à margem de tudo isso.

— Pare. – senti meu estômago revirando.

— Agora que eu só comecei? – perguntou. – Não quer que eu termine a história da bailarina mais solitária de Buenos Aires.

— Você está sendo cruel. – murmurei com um nó na garganta.

— Estou sendo realista. – ele fez um gesto chamando o garçom. – Experimente um pouco da solidão por hoje, e imagine que será assim a vida inteira.

O garçom chegou a nossa mesa e perguntou se queríamos alguma coisa.

— Cancele o meu pedido, deixe só o da senhorita, tenho um compromisso.

— Sim, senhor.

E se retirou.

— Por que está fazendo isso? – perguntei sentindo as minhas mãos ficarem frias.

— Uma pequena amostra grátis do que será sua vida, solitária e amargurada, se você não se permitir.

E então ele se levantou e saiu em direção às portas do restaurante. Senti minha cabeça doer e uma rápida tontura me atingir e quando me dei conta, estava chorando. O restaurante não estava lotado, mas pude perceber um olhar ou dois me espiando. O garçom veio até onde eu estava perguntar se estava tudo bem, e eu fui obrigada a dizer que sim. Cancelei o meu almoço, e falei para deixar apenas a garrafa de champanhe e uma taça. Um brinde a minha vida solitária e amargurada que começou tão cedo.

 

 

León

 

— Conheço esse restaurante. – murmurei ao estacionar a minha moto. – Já comi aqui uns anos atrás.

— Bem, é o melhor restaurante da redondeza. – Ludmila desceu da moto e tirou o capacete. – Vários famosos almoçam aqui hoje em dia, então você não será perturbado por fãs histéricas.

Sorri e entramos no estabelecimento. Ele é grande, exatamente como eu me lembrava, porém agora tinha uma parede na cor vinho que antes era salmão, única diferença que eu notei. É aconchegante e sofisticado o lugar, e me fez lembrar os vários aniversários da Melanie que passamos almoçando aqui.

— Vamos pegar a mesa do canto? Gosto de olhar o movimento dos carros. – Ludmila disse com os olhos brilhando, não tive como dizer não, ela parecia uma criança pedindo doce.

O recepcionista nos direcionou a mesa que Ludmila queria, e como o restaurante estava parcialmente vazio, nós ficamos em um cantinho sossegado. O garçom veio em seguida, e por nostalgia, pedia sempre o que eu comia quando vinha para cá com a minha família.

— Eles estão com uma sobremesa divina. – Ludmila disse lendo o cardápio de sobremesas. – se chama la mode brésilienne é um doce de coco com chocolate derretido e amêndoas, vindo do Brasil, eles estão incrementando outras culturas no cardápio, estou achando isso ótimo.

— Quando é que você ficou tão interessada em outras culturas? – perguntei achando graça do seu conhecimento que é tão novo para mim.

— Passei anos viajando, e Miguel me fez ver que existe muito mais do que simplesmente moda, existe história, cultura, gostos e hábitos, é tudo um conjunto. E depois que eu voltei, minhas criações ficaram muito mais autenticas e... – ela parou do nada e franziu a testa.

— O que foi? – perguntei.

— Aquela não é a... – ela parou novamente. – Esquece. – sorriu automaticamente.

— Ludmila, quem é que... – ela me interrompeu.

— Acho que a Violetta está sentada na mesa lá no fundo. – me olhou nervosa.

— Ah – não consegui expressar nada.

— Faz um tempo que não a vejo, um longo tempo. – murmurou. – Ela parece estar chorando. – franziu a testa novamente e eu me segurei para na olhar para trás. – Está falando ao telefone e está segurando um lenço próximo ao nariz. – ela fez um sinal e olhou para o garçom que veio imediatamente até nós. – Aquela moça está bem? – perguntou.

— Não sei exatamente, senhora.

— É senhorita. – repreendeu irritada.

— Perdão, senhorita. – o homem uniformizado falou encabulado, e eu teria rido se eu não estivesse tão tenso. – Perguntei a ela, mas ela disse que estava tudo bem.

— Ela só disse isso? – Ludmila perguntou invasiva e garçom estranhou.

— Não costumo dizer o que outros clientes dizem para mim. – o homem disse irritado.

— Você não é psicólogo e nem padre, então não tem dever nenhum de guardar para si o que os outros falam, a não ser que peçam para você não falar, além do mais, aquela moça é uma velha amiga, e eu estou preocupada com ela. – disse indignada e o homem se calou. Ponto para Ludmila. – Portanto, me diz o que aconteceu. Agora. – ordenou.

Olhei a cena, estranhamente satisfeito com a competência dela.

— Ela só disse que estava bem, senhorita. – murmurou o garçom a contragosto. – E ela e o acompanhante cancelaram os pedidos.

— Acompanhante? – Ludmila perguntou confusa.

— Foi embora mais cedo, se me permitir dizer, ele não parecia muito pacífico quando saiu. – contou agarrado a uma bandeja.

— O que quer dizer com não pacífico? – perguntei me intrometendo.

— Parecia zangado, senhor. – se virou para mim.

— Toma – Ludmila tirou cem pesos da carteira e entregou ao homem. – Ainda bem que você me contou, se não ao invés do dinheiro, eu teria escrito a sua carta de demissão por ter sido grosseiro.

— Obrigado, senhorita, mas não acho que seja necessário. – negou prontamente.

— Ora, por favor, aceite, você me fez um favor.

Ele pegou o dinheiro e agradeceu se retirando em seguida.

— O pobre homem pode ter se sentido ofendido. – comentei.

— Pode até ser, mas eu daria uma gorjeta de um jeito ou de outro. – deu de ombros. – Agora vamos falar com a Violetta, ela ainda não parou de chorar, mas pelo menos saiu do celular. – disse se levantando.

— Não, acho melhor não nos envolvermos.

— Que bobeira, eu... – ela me olhou e de repente seu rosto se encheu de arrependimento. – Ainda precisamos conversar sobre como a história de vocês terminou.

— É um mistério até para mim. – resmunguei.

— Eu vou sozinha, volto quando nossos pedidos chegarem.

 

Ludmila

 

Aproximei-me da mesa que estava bem no fundo do restaurante, e encontrei a garota que costumava ser minha amiga e nas horas vagas uma irmã, mas agora parecia muito distante dessas duas coisas. Seus cabelos estavam curtos, como os meus, e ela tinha o cabelo um pouco mais claro nas pontas do que na raiz. Eu gostei. Violetta estava de cabeça baixa, o lenço estava sobre os olhos e a garrafa de champanhe Bohème estava pela metade.

— Ei – chamei.

Ela ergueu a cabeça e seus olhos estavam vermelhos assim com seu nariz e bochechas. Por um momento ela parecia perdida, mas em seguida me olhou perplexa, como se estivesse vendo um fantasma na frente dela. Será que eu exagerei no pó e na base?

— Oi – ela disse dando uma risada nervosa, secando os olhos rapidamente com o pequeno lenço. – Quanto tempo.

— Sim, faz muito tempo. – sorri. – Posso me sentar com você? – perguntei puxando a cadeira de frente para ela.

— Na verdade eu já estava indo embora. – fungou. – Francesca está a caminho para me buscar. – falou.

— Ah tudo bem, só queria saber se está tudo bem. – me sentei mesmo assim. – Eu vim com León, ele está me esperando em outra mesa.

Ela arregalou os olhos momentamente e depois tossiu.

— León está aqui? – perguntou meio engasgada e eu assenti me divertindo internamente com o desconforto dela. – Estou bem, pode voltar para sua mesa.

— É claro que não está. – revirei os olhos. – Pode ter passado muito tempo, mas eu ainda te conheço como a palma de minha mão, então não tente...

Antes que eu pudesse terminar o meu sermão o celular dela tocou.

— Oi Fran... – atendeu com um sorriso. – Imprevisto? – franziu a testa. – Tudo bem, eu me viro... Não precisa se preocupar sério... Estou bem melhor... ...Vou chamar um taxi... ...Eu tenho o aplicativo... ... Beijos. – e então desligou.

— Ela não vem né? – perguntei e a mesma negou.

— Vou de taxi. – resmungou enchendo a taça de champanhe mais uma vez e virando em um gole só. – Preciso urgentemente de um carro. – encheu a taça mais uma vez. – Foi um prazer de rever. – e virou novamente o líquido alcoólico mais caro do restaurante.

— Acho que nunca vi você virar uma garrafa de champanhe sozinha antes. – murmurei pegando a garrafa vazia e colocando de lado. – Acho que nunca vi você beber qualquer outra coisa, a não ser em Paris, mas era outra ocasião, e nós queríamos ficar bêbedas. E foi só uma vez também. – franzi a testa ao olhar para ela novamente. – O que é que você está tentando esquecer? – perguntei sacando imediatamente.

— O que? – perguntou e parecia meio tonta.

— Quando você ficou bêbada em Paris, você queria esquecer o meu primo, e agora? Quer esquecer o quê ou quem?

Ela parecia estar refletindo e analisando a pergunta. Havia me esquecido o quanto ela fica lerda quando está assim.

— Um francês que parece ter jogado a praga da solidão em mim. – falou com uma clareza impressionante.

— Clement? – perguntei e ela assentiu encarando a garrafa. – Então estavam juntos aqui? – perguntei jogando verde e ela assentiu.

— Ele deixou paga a primeira garrafa, mas acabou rápido demais, e eu pedi outra. – ela suspirou olhando a taça vazia mais uma vez. – A segunda acabou também, e tudo que me resta é pedir mais uma.

— Não, tudo que te resta é ir para casa. – falei assustada. – Amiga desde quando você é uma alcoólatra nível um?

Ela deu de ombros e bocejou.

— Vou pedir para o León te levar para casa.

— O quê?! Não! Por favor, não... – ela disse se engasgando com as próprias palavras.

— Não adianta dizer não, você vai com ele e ponto, deixa só eu convencê-lo.

Levantei da cadeira e voltei para a mesa onde o León estava quase acabando o seu almoço e o meu estava intacto do outro lado da mesa, provavelmente frio. E antes que eu lhe disse para levar Violetta em casa, a mesma passou como um flash pela porta do restaurante.

— Droga. – murmurei.

— O que ela tem? – ele perguntou se virando rapidamente para olhá-la, a mesma estava atravessando o estacionamento.

— Ia pedir que você a levasse em casa.

— Ludmila... – me repreendeu.

— Ela está bêbeda León.

— E o que eu tenho haver com isso? – perguntou deliberadamente, mas em seguida seus olhos perderam o brilho. – Droga.

— Por que finge não se importar? Ela tem tantos problemas quanto você. – tentei convencê-lo antes que a louca da minha amiga se jogasse na rua e fosse atropelada por um carro. – Por que deixou de se preocupar?! – me irritei. – Eu pensei que você a amava.

— E amava. – ele inclinou a cabeça para o lado, encontrando-a parada esperando o farol fechar. – Mas ela deixou de se importar primeiro, eu só segui adiante.

— Você ama a Gery do mesmo jeito que a amava? – perguntei me segurando para não estapeá-lo.

— Eu gosto muito da Gery. – respondeu imediatamente.

— Mas você ama?! – perguntei mais uma vez sem paciência e ele parecia não estar disposto a responder tão cedo. – Céus León! De uma vez por todas, vai atrás daquela garota que pode não ser uma modelo famosa que veste Domenico Dolce e Stefano Gabbana, e sim que é extremamente louca e até problemática, mas que você já amou com toda a sua alma.

Ele me olhou, os olhos dublados de ódio e as mãos em punho apertando a toalha branca da mesa. E de repente, pegou as chaves da moto e saiu porta a fora do restaurante. Não sei se foi por instinto do ódio, ou se porque ele realmente percebeu que aquela louca não poderia ir embora sozinha, só sei que fiquei satisfeita quando vi pelo vidro ele ligando a moto e indo ao encontro dela do outro lado da rua.

 

 

León

 

Violetta estava andando lentamente pela calçada e parecia se distrair com qualquer pedrinha que encontrava pelo meio do caminha, chutando-as o mais longe que conseguia em seguida. Parei com a moto ao lado dela, e a mesma deu um pulo de susto.

— Sobe.

— Nunca. – revirou os olhos e seguiu caminhando o mais lento possível.

— Desse jeito você vai chegar a sua casa amanhã. Anda, sobe aqui.

— Prefiro chegar amanhã então. – ela deu de ombros.

— Não seja infantil. – revirei os olhos.

— Não seja ridículo. – rebateu. – Não subo aí nem morta.

— É só uma carona.

— Já disse não.

— Ludmila vai me esganar se eu não te deixar sã e salva em casa, então sobe nessa moto, por favor.

Ela parou um instante e em seguida se virou para mim. Suas bochechas e nariz estavam vermelhos como as maçãs mais doces de Buenos Aires. Ela caminhou até onde eu estava parado com a moto e olhou nos meus olhos.

— Não está ocupado? – ela perguntou e eu neguei. – Não irei atrapalhar nenhum compromisso seu? – perguntou e eu neguei novamente. – Então só vou aceitar por conta da Ludmila, porque por mais que eu adorasse ver você sendo esganado por ela, eu prezo muito pela nossa amizade. – ela deu um sorriso sínico.

— Toma. – entreguei o capacete para ela. – Antes que eu mesmo te esgane.

Ela revirou os olhos e eu a ajudei com o capacete. A mesma subiu na moto totalmente desastrada, mas não reclamou por quase ter caído do outro lado. Seus braços me enlaçaram e quando eu acelerei, percebi ela me apertar com um pouco mais de força e deitou sua cabeça em minhas costas. Provavelmente eu não deveria ter acelerado tanto aponto dela precisar se agarrar com tanta força em mim, e provavelmente eu não devia ter sentido as coisas que senti só por sentir seus braços em volta de mim.

 

***

 

— Você está bem? – perguntei quando estacionei na calçada em frente a sua casa e a ajudei a descer, ela parecia confusa e estranhamente deslocada.

— Sim. – sussurrou.

— Quer ajuda para ir até a porta?

— Não, estou bem. – fechou os olhos brevemente e logo os abriu parecendo não entender nada do que estava acontecendo. – Pensando bem, acho que vou precisar de uma mão – tentou sorrir, mas saiu como uma careta, o que me fez rir. – ou duas.

Coloquei minha mão em sua cintura e percebi o quanto a mesma havia emagrecido. Não que eu me lembre, exatamente, de como era o corpo dela quatro anos atrás, mas tenho certeza que não era desse jeito. E talvez por estar mais magra, ela parecia mais baixa e frágil, e acho que seus cabelos curtos também tiveram um efeito nisso tudo. Ela está muito diferente.

— Estou sem chaves. – ela disse tocando a campainha. – Olga vai brigar comigo pela milionésima vez. – revirou os olhos e eu ri mais uma vez. Violetta bêbeda é um tanto quanto divertida de se observar.

A porta se abriu, mas ao contrário de Olga, era o Germán, com uma garotinha loira nos braços segurando um potinho com morangos. Seu olhar foi para Violetta e em seguida para mim. Germán não havia mudado em nada, ainda tinha o mesmo olhar severo e bravo ao olhar para mim, porém agora parecia estar ainda mais irritado a me ver.

— Vilu! – a garotinha se agitou até Germán colocá-la no chão e a mesma abraçar as pernas de Violetta, que se não fosse por mim, teria se desequilibrado e caído ao chão.

— Papai? – Violetta pegou a menina no colo. – O que faz em casa esse horário?

— Julietta tinha pediatra. – Germán disse ainda com os olhos severos em mim. – Pode me explicar o que... O que está acontecendo? – pigarreou desconfortavelmente.

— Eu acho que nem eu posso explicar. – ela disse bocejando. – Preciso dormir.

— Mas você chegou agora... – a menininha disse pegando mais um morango do potinho. – Quero brincar com você.

— Hoje não Jú, eu estou um pouco tonta, preciso descansar. – beijou a testa da menina. – Obrigada pela carona.

— Não tem de quer, mas eu acho que precisamos conversar e... – ela me interrompeu.

— Eu posso não estar no meu juízo perfeito, mas conversar com você não cairia muito bem. – murmurou entregando a garota para seu pai. – Ironia o destino ter colocado você no meu caminho novamente, mas isso não vai mais se repetir.

— Eu só queria entender o que... – ela me interrompeu novamente.

— Estou com ânsia de vomito, falar sobre o que você quer entender apenas me faria vomitar e estragar sua camisa polo, então eu vou poupar nós dois disso. – suspirou.

Ela subiu o degrau que faltava para estar em sua casa, e antes de sumir para dentro da mesma, deu um sorriso e acenou, desaparecendo da minha vista. Sei que conversar sobre o que aconteceu há quatro anos não vai mudar o presente, mas se ela ao me explicasse o porquê de ter me deixado louco por meses sem notícia nenhuma, ou por terminar comigo no dia mais feliz da minha vida, tiraria um peso enorme das minhas costas, do meu coração. Odeio coisas más resolvidas.

— Não quero interromper seus pensamentos – escutei a voz de Germán e só então me dei conta que ainda estava parado em frente à porta dela. – Mas eu espero que não tenha voltado para cá por conta da minha filha.

— Eu... – suspirei. Pelo que eu havia voltado mesmo? – Estou de férias, só vim passar um tempo com a minha família.

— Ótimo. – ele sorriu e parecia muito satisfeito. – Não quero parecer rude, mas se afaste da minha filha, você já fez muito bem a ela, mas no presente momento, sei com toda a certeza que você é a fraqueza dela, e por Deus, eu não quero a minha filha na mesma situação de antes.

— Germán, eu não entendo o que... – ele me interrompeu.

Mas que mania chata essa família tem de me interromper.

— Pelo bem da Violetta, se afaste. – falou e em seguida olhou para a menina que havia derrubado todos os morangos no chão enquanto estava em seu colo. – Violetta e Julietta são meus únicos tesouros, e eu não suportaria vê-las feridas, então se você entende o meu sentimento de pai, se afaste.

E então ele fechou a porta.

E eu me perguntei que raios eu havia feito para essa família para todos me odiarem tanto assim.


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Notas finais do capítulo

Sentindo falta de vocês
Me deem um oizinho rs'
Beijos no coração amores, volto logo!!



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