Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Bom, depois de exatos setenta dias, tenho a audácia de dar as caras novamente.
Desculpinha por demorar tanto dessa vez gente, dessa vez foi preguiça minha, eu juro, e também tem todo aquele stress de fim de bimestre, é um saco.
Mas agora já estou de volta e espero que vocês não tenham me abandonado
Obrigada aos comentários do capítulo passado, vocês são as melhores leitoras que alguém poder ter.
Boa Leitura!!



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León

 

Acordei escutando algo caindo no chão, e assim que abri os olhos, dei de cara com Gery resmungando algo como “sapatos inúteis”. Esfreguei os olhos e me espreguicei. Pelo mau humor dela, o dia de hoje não seria tão agradável, e sei disso só de ver como ela está tratando os próprios sapatos. Sentei-me na cama, me encostando a cabeceira, e esperei que ela me notasse, já que parecia muito entretida enquanto vestia o seu vestido florido. Acho que ela estava mais uma vez experimentando todas as roupas do armário para ver se ainda as serviam. Ela fez isso no mês passado, no mês retrasado também, acho que todos os meses para falar a verdade.

— Gery? – a chamei já que parecia que ela não me notaria nunca.

— Bom dia namorado mentiroso. – ela disse com um sorriso falso nos lábios.

— Por que o sarcasmo a essa hora da manhã?

— A essa hora da manhã? – riu irônica. – É quase meio dia, meu amor.

— O que eu fiz dessa vez? 

— León, onde você estava ontem à noite, depois que saiu da festa sem ao menos se despedir de mim? – perguntou arrumando a alça do vestido – E nem adianta dizer que veio direto para o apartamento, porque eu não vou acreditar.

Contei até dez mentalmente pensando na forma em que eu ia contar a verdade. Na verdade, eu contei até seis, porque ela me interrompeu surtando, literalmente.

— Pare de pensar em qual desculpa você vai usar! – gritou vindo em minha direção, e eu tive que segurar os seus braços e mãos para que suas unhas não atingissem a região do meu rosto e causassem um estrago muito grande.

— Gery! Para! – gritei em meio a suas tentativas de me bater.

— Eu vi! Eu vi tudo! Você é um mentiroso León! Um mentiroso! Eu te odeio! – dizia vermelha de raiva, embora as lágrimas que saiam de seus olhos molhassem completamente as suas bochechas, deixando-a com uma expressão bem dramática.

— Eu posso saber o que é que você viu?! – gritei empurrando-a com força para o outro lado da cama.

Gery se levantou determinada indo até a sala e voltando segundos depois com um jornal na mão. Ela o atirou em meu rosto e cruzou os braços impacientemente enquanto me assistia desdobrar as folhas do jornal que era distribuído para toda a cidade. 

— O que isso significa? – perguntei tentando me manter indiferente.

— O que isso significa?! O que significa?! Você está realmente me pergunto o que isso significa?! – gritou com as bochechas vermelhas de raiva.

— Estou. – respondi o mais passivo que eu pude.

— Significa que você está me traindo, seu idiota! – e veio para me bater de novo, mas eu segurei os seus pulsos.

— Não se pode mais dividir um taxi? – perguntei segurando seus pulsos e olhando fundo nos seus olhos que estavam tão próximos dos meus. – Prefere acreditar em uma fofoqueira a minha dignidade? Eu esperava mais de você. 

Tudo bem que a minha dignidade não merecia tanto, porque eu dividi o taxi com a pessoa que eu acreditei que fosse o amor da minha vida, mas também eu não fiz nada de errado, apenas compartilhei uma viagem de taxi.

— Mas León, aqui está dizendo... – a interrompi soltando os seus pulsos.

— Aqui está dizendo que eu fui visto na companhia de um amigo e mais duas garotas. – revirei os olhos. – Essa notícia não me incrimina tanto assim Gery.

— Mas me incrimina! – se irritou. – Essa notícia já deve estar em milhões de jornais e revistas de fofocas, sem contar os sites, e você sabe muito bem o quanto a mídia pode ser mentirosa e acabar com a minha fama e a sua também.

— Nesse caso ligue para o seu empresário e peça para ele publicar uma nota sobre nós dois, avisando de que está tudo bem e que tudo não passou de um mal entendido, ou você pode publicar algo em uma rede social, pronto, estamos livres. – dei a solução mais rápido do que eu esperava.

— Pra você é simples né? – se levantou me dando as costas. – Essa história tá muito mal contada León. – suspirou. – Vou ligar para o papai, ele vai saber o que fazer, e mais tarde nós vamos conversar, porque se você acha que eu acreditei nessa sua historinha, você está muito enganado.

E assim ela saiu do quarto e eu me joguei para trás voltando a me deitar. Mais difícil do que o ciúme irracional que a Gery sente, é ter que aguentar as crises dela quando ela tem toda a razão. Mas eu não fiz nada de errado, não tenho porque temer.

 

Violetta

 

Acordei no dia seguinte, sentindo um pouco de dor de cabeça, o que eu achei normal, já que eu não consegui pregar os olhos a noite inteira, ainda mais com Francesca levantando de quinze em quinze minutos para ir ao banheiro, já que ainda estava passando mal pelo tanto que bebeu na noite anterior. Acho que ela nunca havia tomado um porre, e eu não a culpo, também nunca bebi tanto para passar mal, mas sempre tem uma primeira vez.

Olhei para o lado e percebi que a cama onde Francesca havia dormido estava arrumada, ou seja, ela já tinha saído. Peguei meu celular em baixo no travesseiro para ver as horas e percebi que tinha uma ligação perdida e uma mensagem de Francesca, sem contar outras três mensagens de Clement.

“Vilu, saí mais cedo, preciso de roupas limpas. Encontro você na faculdade. Não se atrase. Beijo.” Fran.

Respirei fundo e logo abri as mensagens de Clement.

“Oi. Posso falar com você? Acho que precisamos conversar.” — Clement.

“Sei que as coisas ficaram estranhas desde aquela loucura em frente a sua faculdade, mas não falar com você está me deixando muito agoniado, precisamos conversar, nem que seja para eu te pedir desculpas, por favor.” — Clement.

“Ah, quase me esqueci de te avisar que o meu amigo já tem o preço total do apartamento para você, acho que você vai gostar, ficou dentro do seu orçamento. Entre em contato comigo, por favor.” — Clement.

Contei até três. Ainda eram seis e meia da manhã, tina meia hora para estar na faculdade. Eu precisava mesmo ver o apartamento, preciso comunicar logo o meu pai que irei sair de casa, sei que ele vai ficar triste, mas pelo menos ele vai ter a casa só pra ele, para a Angie e para a Jú. E pensando nisso, mandei uma mensagem para Clement.

“Encontro você as duas, depois da faculdade, você sabe onde é.”

Talvez eu tenha sido um pouco grossa, ou seca demais, mas ainda não sabia como conversar com ele depois daquilo tudo que aconteceu em frente à faculdade.

 

***

 

Cheguei a minha faculdade e Francesca estava sentada em um dos bancos mexendo no celular. Achei estranho, porque já estávamos atrasadas, e ela normalmente não me espera fora do horário.

— Vai perder mesmo a primeira aula? – perguntei prevendo que já tinha começado.

— Estava te esperando. – sorriu de lado.

— Por que você está com essa carinha? – perguntei não entendendo aquela cara de desanimo.

— Marco disse que não poderá me ver no sábado. – murmurou de cabeça baixa, olhando fixamente o celular em suas mãos. – Ele vai ter uma reunião importante e não vai poder deixar de ir.

Pensei um pouco e isso não era motivo para estar assim, porque não é a primeira vez que ele a troca por uma reunião de trabalho, Francesca já devia estar um pouco mais acostumada com a falta de afeto dele.

— Isso não é a primeira vez que acontece... – resmunguei. – Acho que vocês têm que ver o que é prioridade no momento... O namoro de vocês ou o trabalho dele.

— É nosso aniversário de namoro no sábado. – ela me olhou sombriamente e eu me calei. – Não é todo dia que casais fazem oito anos de namoro e não saem para comemorar.

— Fran... – tentei dizer alguma coisa, mas ela me interrompeu.

— Nós tínhamos combinado semana passada, que iríamos ao cinema, e depois a um restaurante, como sempre fazemos em todos os nossos aniversários. – explicou com a voz irritada. – E hoje ele simplesmente manda uma mensagem falando que talvez não vá dar para ele ir.

— Um talvez não significa um não. – tentei não ser tão pessimista.

— Acredite, quando se trata do Marco, significa sim.

Suspirei, odiava vê-la triste. Francesca é uma pessoa muito frágil quando se trata de Marco, e os seus sentimentos sobre ele. Sei que os dois não estão mais funcionando juntos, mas ela não consegue enxergar isso, e não sou eu que vou dizer a minha melhor amiga que o relacionamento dela está desmoronando. E a culpa não é da Francesca, ela não merece tudo o que está passando, e sei que se eu disser que tudo está desmoronando, ela vai se culpar pelo resto da vida.

— Olha, não vou fazer nada no sábado. – peguei sua mão. – A gente pode ir ao shopping, naquela lojinha que nós adoramos e comprar um montão de sapatos e bolsas.

Ela deu um sorriso de lado e eu soube que não ia aceitar minha proposta. Francesca gosta de lidar com as coisas sozinhas, e isso me preocupa demais.

— Não amiga, eu vou ficar bem. – sorriu. – Qualquer coisa eu vou a sua casa com um monte de chocolate pra a gente comer enquanto assiste a um filme.

— E aí a gente conversa.

— Prefiro só assistir e comer. – riu. – Vamos comprar um café ali? Já perdemos o primeiro tempo mesmo.

— Ok. – sorri com o seu entusiasmo repentino.

E assim nós fomos buscar o café do outro lado da rua.

 

 León

 

Diga a Gery para parar de surtar, já enviei uma nota para os jornais, divulgando o seu arrependimento de não ter esperado a sua namorada ao sair daquela festa de cretinos e dividir o taxi com duas garotas desconhecidas que eu espero que não tenham sido prostitutas. Tome cuidado, não serei tão pacífico na próxima fofoca de traição a minha filha, entendidos? – George.

Uma mensagem super bem humorado do meu sogro e empresário. Respirei fundo e joguei o celular sobre a cama indo até o armário pegar uma camisa para vestir. Gery tinha que abrir a boca mais uma vez.

— Vou sair. – Gery disse entrando no quarto.

— Para onde? – murmurei vestindo minha camisa.

— Faculdade. – resmungou tirando o vestido e colocando a calça jeans e camiseta vermelha que estavam separadas em cima da cama. – Meu pai já falou com você? – perguntou curiosa.

— Ele praticamente me ameaçou. – resmunguei. – Mas ele disse pra você ficar tranquila.

— Ótimo, me encontra em frente à faculdade às três? – perguntou calçando as sapatilhas. – Preciso passar no banco mais tarde, e não posso fazer isso sem você.

— Ok.

Ela deu um longo suspiro o que me fez encará-la.

— Olha... Desculpa pelo meu jeito tá? Eu sou assim e você sabe disso. Essa explosão que eu tive, é porque eu não suportaria a ideia de você estar me trocando por alguém que talvez seja muito melhor do que eu. – respirou antes de continuar. – Eu não quero acabar como os meus pais, León. Não quero ser cabeça oca como a minha mãe, nem ser tão vazio quanto o meu pai, muito menos ter um relacionamento tão conturbado quanto os meus pais tiveram, quero um amor de verdade, e eu quero isso com você.

Seus olhos brilharam intensamente para mim e eu engoli o seco.

— Gery...

— Não precisa falar nada. – ela deu um sorriso triste. – Só quero que saiba que o meu amor é verdadeiro, eu nunca te trocaria por nada desse mundo. Eu amo você de verdade.

E então ela saiu do quarto. Sentei na beirada da cama e abaixei a cabeça. Ela nunca havia falado desse jeito. Gery tem inúmeros defeitos, mas sei que gosta de mim, que me ama. Ela diz isso muitas vezes, eu por outro lado nunca disse. Mas ela sabe que eu gosto dela, que sinto algo muito especial em relação a nós e tudo o que construímos juntos... Mas amar? Talvez seja demais para mim. Talvez eu nem mereça esse amor que ela sente por mim.

Voltar para Buenos Aires talvez não tenha sido uma boa opção, cada canto daqui me lembra dos momentos que passei com Violetta, e sei que vou encontrá-la inúmeras vezes aqui, mesmo que eu não queria, e o meu passado vai voltar com força suficiente para derrubar meu relacionamento com Gery, e sei que não posso deixar isso acontecer. Gery não merece que eu deixo isso acontecer.

 

Violetta

 

— Estou exausta. – murmurei sentando no chão frio da sala de dança.

— Adorei nossa coreografia. – Gisele disse com um sorriso. – Acho que vamos conseguir impressionar a professora.

— E garantir 40% da nota do semestre. – ri.

Estávamos trabalhando em uma coreografia em dupla, onde tínhamos que explorar os movimentos do corpo e sincronia. Gisele é uma boa parceira, nossas ideias funcionam bem juntas, acho que vai dar tudo certo, a coreografia está fluindo muito mais do que eu pensei que fosse fluir.

— Vai ao balé? – perguntou calçando os tênis.

— Não, vou ver o meu novo apartamento hoje. – murmurei alongando as minhas costas que estavam doloridas.

— Ok. Vou avisar a Miriam que você não vai hoje. – deu uma piscadinha. – Te vejo amanhã, certo?

— Sim. – sorri.

— Ok, então. Vê se não atrasa, amanhã temos muito ensaio. – pegou a mochila. – Tchau Vilu.

Acenei de volta para ela, e voltei a me concentrar no meu alongamento. Esse semestre está um pouquinho complicado para mim, ainda mais com as aulas de balé extras durante a tarde, mas não posso abrir mão, porque estar nas aulas de balé com a Miriam é tudo o que eu sempre quis, ela é a melhor professora que eu já tive em toda a vida.

Miriam é uma ex. bailarina que hoje tem uma companhia de balé. Eu participo de suas aulas que são uma espécie de audição. São trinta bailarinos, onde apenas dois entraram para a companhia. É a minha chance de entrar na carreira que eu quero, sei que é mínima, mas tenho que confiar no meu talento.

— Ora, eu não sabia que você ainda estava aqui, querida.

Assustei-me e rapidamente olhei para trás. Minha professora na faculdade havia entrado novamente na sala. Dei um sorrisinho de desculpas, sei que ela não gostava que usássemos a sala para ficar até mais tarde, mas eu precisava ensaiar um pouco mais com a Gisele.

— Bom. Você vai ser a primeira a conhecer a nova aluna. – ela riu e eu mal tinha reconhecido a garota que estava ao seu lado, com um lenço envolvido na cabeça e óculos escuros.

A garota tirou os óculos e o lenço e eu pude reconhecer quem era.

Ótimo.

Ela é mais bonita pessoalmente do que em revistas.

— Esta é a incrível Gery.

É claro que é. Quem é que não conhece?

As batidas do meu coração aceleraram, e eu pude constatar uma coisa: León e Gery estão aqui para ficar, senão ela não teria se matriculado na faculdade.

— Prazer. – murmurei um pouco chocada com chegada repentina da atual do meu ex que eu não sonhava nem um pouco em conhecer.

— O prazer é todo meu. – ela disse com um sorriso simpático.

Tenho certeza que ela não sabe quem eu sou. Muito menos que se lembre do que me disse quatro anos atrás quando liguei para o León. Engoli o nó crescente em minha garganta e devolvi o sorriso. Céus. Acho que estou com vontade de vomitar.

— Tenho que ir. – me levantei e corri para pegar a mochila.

— Pensei que você podia explicar o que estamos vendo nesse semestre para a Gery. – minha professora disse empolgada.

— Desculpa, mas não vai rolar, tenho um compromisso. – mordi o canto da bochecha controlando o meu nervosismo.

— Ah tudo bem, amanhã nós conversamos. – Gery disse meiga. – Adorei te conhecer.

Forcei mais um sorriso e saí o mais rápido que eu pude daquela sala. Ela é assim tão... Simpática? Nem parecia a mesma pessoa de quatro anos atrás que atendeu a minha ligação...

— Vim te buscar.

E lá estava Clement.

O dia não estava sendo nem um pouco agradável.


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Notas finais do capítulo

DESCULPEM MINHA DEMORA E, POR FAVOR, NÃO DESISTAM DE MIM
Até breve amoras!



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