Voltava de uma missão Rank-A bem-sucedida com Sakura e Sai, já pensando em como dar uma desculpa qualquer para me afastar e continuar procurando por Hinata, quando senti Sasuke se aproximando.

— Teme! – Cumprimentei antes que ele chegasse.

A cara azeda de Sasuke não mudava nunca.

— Sasuke-kun! – Sakura o cumprimentou melosa. Tive de conter a vontade de revirar os olhos. Ela mudava da água para o vinho quando encontrava com Sasuke. Ficava toda menininha, a voz aguda, o pezinho levantado.

Sasuke por sua vez a ignorou e nem se deu ao trabalho de olhar Sai que não se importou nem um pouco.

— Naruto – ele me chamou. Olhei para ele – Encontrei Hinata.

Senti a esperança jorrar do meu peito. Não podia conter a felicidade.

— Onde ela está? Está bem? Está com você? Onde?

— Naruto – ele chamou minha atenção mais uma vez – Ela não vem.

Vi minhas esperanças murcharem.

— Como assim?

— Encontrei-a por acaso em uma pequena vila. Ela está bem e não quer voltar para Konoha. Ela também me pediu que te dissesse para não a procurar mais, para seguir com sua vida ao lado de – ele parou e olhou para Sakura antes de continuar- ao lado de Sakura – ele terminou a sentença com um olhar matador.

Eu engoli em seco. Ter Hinata brava por causa daquele erro já era ruim suficiente. Eu não precisava ter Sasuke puto comigo. Tentei aliviar a situação:

— Viu, só, Sakura-chan? Sasuke ama você. Está cheio de ciúmes do nosso beijo.

— Cala a boca, dobe! – Sasuke resmungou.

Seus olhos vermelhos estavam cheios de fúria quando ele me acertou com uma direita bem na bochecha. Cai para o lado, mas logo me coloquei de pé e fui para cima dele, acertando-o em cheio no queixo, debaixo para cima. Ele caiu de costas e aproveitou estar no chão para me dar uma rasteira.

— Típico de você, Sasuke – provoquei.

Ele ficou ainda mais puto e invocou um monte de cobras médias para me amarrarem.

— Kage Bushin no Jutsu! – Fiz vinte clones em um piscar de olhos e já acertava as malditas cobras.

Deixei meus clones cuidando dos animais, enquanto eu me ocupava em cuidar da besta chamada Sasuke.

— Onde ela está, ttebayo??? – Dei um chute em sua barriga. Ele se esquivou.

— Não te interessa, baka!!! – Ele tentou me dar uma joelhada, mas me afastei.

— Por que você não quer me falar, seu cretino? – Soquei o ar tentando socar a cara dele.

— Por que ela não te quer – Sasuke disse e em seguida senti seu punho acertando meu rosto.

Cai de costas no chão, sentindo muita dor, mas nenhuma dos golpes de Sasuke se equipararia com aquilo que ele havia acabado de dizer.

— Até que enfim pararam – Sakura disse – deixe eu curar vocês dois.

— Eu não preciso da sua ajuda – Sasuke respondeu ríspido.

— Não faz a Sakura chorar, seu baka! A menina gosta de você, dattebayo!

— Não foi o que Hinata disse.

— Aquilo foi um erro, Sasuke-kun. E eu estou cansada de pagar por ele, que droga! – Sakura gritava enquanto chorava – Eu te amo, Sasuke-kun! Te amei minha vida inteira. Eu sempre corri atrás de você. Me humilhei, me arrisquei e você nunca, nunca deu sequer uma menção de que me correspondia. Então um dia decidi tentar a felicidade com Naruto, mas vi que era um erro. Ele também viu. Ele ama Hinata e eu amo você.

Sasuke foi pego de surpresa. Dava para notar pela expressão na cara dele. Mas ele era orgulhoso demais. Com certeza faria Sakura se rastejar e implorar por ele.

Dito e feito. Ele a olhou feio e depois olhou para mim.

— Tô indo nessa. Eu só vim te dar o recado que ela pediu.

— Não tão rápido. Você vai me dizer onde ela está.

— Nem morto – ele me provocou.

— Quer apanhar de novo, Sasuke?

— Chega vocês dois! – Sakura se intrometeu. – Diz logo onde essa garota está. Não aguento mais ouvir ele falar dela.

— Como se você não falasse o tempo inteiro do todo-maravilhoso-Uchiha-Sasuke, né, Sakura? Se toca! – Disse Sai.

Sakura ficou vermelha como um pimentão, enquanto Sasuke preferiu pisar mais um pouco em mim.

— Ela está muito bem sem você, Naruto.

Fechei os olhos, sentindo o peso daquelas palavras afundarem meu coração.

Eu já não tinha motivos para fingir alegria, de modo que a sinceridade era tudo o que me restava:

— Promete que vai cuidar dela por mim, Sasuke? Já que ela não me quer por perto, preciso ter certeza de que ela está bem.

Sasuke desativou o Sharingan, fechou os olhos e respirou fundo, assentindo. Em seguida, se despediu:

— Até logo, menos para Sakura – acrescentou maldoso e birrento.

Sakura ficou boquiaberta. Sai ficou rindo e eu, fiquei no chão, me sentindo um bosta.

Tsunade-sama, Shikamaru e agora Sasuke, todos me diziam para esquecê-la, pois era o que Hinata queria.

Eu aprendi a duras penas que amar era ser altruísta. Se era isso que Hinata queria; isso é, ficar longe de mim, assim eu faria. Por mais que machucasse minha alma, eu faria.

— Sinto muito, Narutoiô – Kurama disse com aquela voz de trovão.

Não respondi. Precisava ficar sozinho com meus pensamentos, me reacostumar com a solidão que sempre fizera parte da minha vida.