Assim que terminei com Toneri, tive de arrebentar centenas de marionetes que apareceram no caminho, tentando me impedir de chegar aonde eu queria. Parece que elas eram animadas pela engenhoca maluca de Toneri, a qual ele carinhosamente chamava de Tenseigan. Aquele farsante... roubara os olhos de alguém para obter artificialmente o poder que agora eu tinha.

Tão logo usei meu Punho Gentil de Leões Gêmeos destruí o Tenseigan falso em pedaços. Qual não foi minha surpresa e pavor ao notar que aquela arma era feita de vários olhos Byakugan? Será que ele planejava roubar meus olhos assim que nos casássemos? Muito provavelmente, visto, seu histórico.

Toneri não era nenhum coitadinho. Era um vilão lunático e perigoso. Queria destruir o planeta Terra com uma arma de destruição em massa. Eu fiz o que tinha de ser feito. Salvei o planeta, mas ninguém nunca saberia.

Estava bem para mim que vivia nas sombras agora.

Logo a Lua estava no mais completo silêncio. Não havia mais perigo e eu experimentava uma espécie de solidão diferente. Ela não machucava, apenas completava o oco no meu peito, como se me subtraísse de mim mesma e por pouco eu não deixei de existir.

Será que só existíamos como indivíduos pelos nossos feitos aos olhos dos outros? Seria o amor tão importante assim? Bem, talvez fosse. Afinal, foi dele que obtive todo o poder que tinha agora. 

Agora eu era completa e me bastava. Havia sol e lua dentro de mim. Não precisaria de mais ninguém. Eu até poderia morar no castelo de Toneri, visto que lá era muito bonito e luxuoso, mas seria imoral de minha parte morar na casa do homem que eu acabara de matar, então decidi voltar à Terra.

Encontrei um lago feito de genjutsu que estava se deteriorando. Esse lago era o canal que Toneri usava para ir à Terra, uma espécie de portal.

Apressando-me antes que aquilo ruísse de uma vez, nadei por suas águas esquisitas que não molhavam meu corpo. E, conforme nadava até chegar à superfície fui tendo visões das minhas memórias. Via a mim mesma criança na academia brincando com meus amigos e fitando um menino loiro de olhos azuis. Não senti nada, nem raiva, nem amor. A visão continuou e dessa vez estávamos maiores, no exame chunnin. Naruto havia se machucado e eu lhe oferecia unguento para cicatrizar suas feridas. De novo, não senti nada ao ver aquilo. Mais uma memória aparecia agora, era quando Naruto enfrentava Pain e somente eu tive a coragem de ajudá-lo. Vi o momento que eu me declarei a ele que nada disse. E, de novo, nada senti. Por último, vi as cenas da 4ª grande guerra e apenas me causaram desconforto pois havia muito sangue e destruição, no resto, não senti nada. Vi Neji morrer e Naruto quase morrer, mas não me abalei com a lembrança. Tampouco festejei. Não era como se eu visse as coisas ruins do passado e risse para elas. Agora eu podia ver e lembrar delas sem sofrer tanto, na verdade, sem sofrer nada. Era um alívio.

Por isso, acredito eu, o Genjutsu do lago das memórias foi inútil contra mim. Eu era imune a sentimentos e não havia razão para ficar presa no passado, de modo que segui à frente, rumo ao meu futuro.

Finalmente. Pisei em terra firme outra vez.

O cheiro do planeta Terra era diferente. Tinha praticamente me esquecido desse detalhe. Era um cheio bom, mas com detalhes ruins, tipo merda de cavalo, mijo de gente e essas coisas. O vento, no entanto, era muito agradável e a sensação do sol na pele era diferente do que era na Lua. Fechei os olhos para absorver mais daquilo, mas mal cheguei à Terra, senti-me observada.

Ativei meu Byakugan e sem mexer um músculo se quer, tive a visão de 360º de onde eu estava. Cerca de 500m um homem se esgueirava entre as moitas em minha direção.

Suspirei alto.

Estava destinada a não ter paz na vida. Só podia. Mas que inferno!

Sem paciência, fui em direção ao homem. Ativei energeticamente um escudo por todo o meu corpo para me proteger de eventuais ataques e mirei bem o corpo do homem à minha frente. Visualizei seus pontos de chackra e foi nítida a intenção dele em me pegar. Sem perder tempo, ativei o Teiseigan e paralisei o inimigo. Senti quando ele emanou ondas de choque e surpresa pelo meu ataque à longa distância. Ao aproximar-me dele foi com total surpresa que o reconheci.

— Uchiha – eu disse, a voz impassível.

O que aquele bosta queria comigo? E por que ele iria me atacar? Nunca fiz nada para esse idiota, mas se bem que Naruto e Sakura só fizeram tentar ajudar ele que por sua vez retribuiu com traição.

— Hyuuga – ele respondeu com o mesmo tom esnobe de sempre.

Empinei bem o queixo e me aproximei mais dele, encarando-o diretamente nos olhos.

— Não tem medo de olhar para esses olhos? – Ele se referia aos dele.

— Não porque tenho esses – respondi sarcástica e foi aí que ele realmente me viu.

— Seus olhos... estão diferentes – ele pareceu atordoado por um instante, mas recompôs-se rapidamente. - O Byakugan não é páreo para o Rinnegan.

Sorri fria. Como ele era arrogante. Bem podia ter morrido na guerra. Não faria falta.

— Você é um prepotente de merda, Uchiha. Estes olhos que carrego são a evolução do Byakugan, eu tenho o Tenseigan.

Sasuke abriu a boca em um “o” perfeito. Ficou chocado com o que eu disse e tive de rir de sua cara de espanto.

— Hinata... você está diferente – ele constatou o óbvio.

— Vejo que seus olhinhos de coelho podem ver algumas coisas evidentes – respondi, seca.

— Eu não me refiro à aparência – nesse momento notei que Sasuke me encarou de cima embaixo, demorando-se mais do que o necessário em meus seios – refiro-me a tua postura. Você era tão insegura e fraca.

Apertei seu pescoço em minhas mãos.

— De fato, algumas coisas mudaram, Uchiha Sasuke. Para começar, você não é o único com olhos poderosos. Eu mudei e muito. Mas agora o que quero saber mesmo é porque estava me espionando e porque pretendia me atacar.

Sasuke arqueou a sobrancelha em surpresa.

— Como você conseguiu ver além do meu Genjetsu?

Eu sorri antes de responder.

— Sou imune a ele, benzinho.

— Não pode ser.

— Pode ser sim. Você não é o fodão da parada toda. Sinto lhe informar. Mas para te falar a verdade, você meio que já sabe disso, não é? Naruto sempre foi mais forte que você... – joguei a provocação no ar. Fazia tempo que queria jogar aquilo na cara de Sasuke.

Ele tentou se desvencilhar do meu poder, mas sem sucesso.

— Você é um idiota, Sasuke. Arrisco dizer tanto quanto Naruto. Você está tentando fugir do meu poder, mas não pode. Sabe por que?

Como ele não disse nada, eu disse.

— Porque você não pode fugir de você mesmo, Sasuke. Estou usando o seu próprio chackra para te aprisionar. Você nunca vai sair daí a menos que eu queira que saia. Eu não vou cair em nenhum truque barato desses olhinhos vermelhos e nem vou correr risco algum com o rinnegan, simplesmente porque você não pode usar seu chackra no momento. Como vê, você está completamente a minha mercê. Então, me responda. Por que estava me espionando?

Sasuke se remexeu com ódio nos olhos. Típico dos Uchiha... Eu continuei o encarando até que ele me dissesse o que eu queria ouvir.

— Você parece aquela maldita deusa coelha, Kaguya.

— Não me compare com aquela louca varrida. Eu estava aqui na minha, quando você veio me atacar, seu cretino! – Cuspi as palavras. Era como se eu não tivesse mais filtro para nada. Vergonha zero.

— Uau! Você realmente está mudada. Por onde esteve esse quase um ano?

Apertei minha mão em seu pescoço.

— Como sabe que estive ausente da vila por este período se você não estava lá quando fui embora?

— Na-naruto – ele disse num sussurro. Afrouxei o aperto.

— O que tem ele?

— Ele está te procurando desde que partiu. Está desesperado para falar a verdade. Estive na vila há algumas semanas atrás e me contaram da ceninha de vocês dois. Resolvi ajudar o idiota a te encontrar para te levar até ele.

— Como se eu fosse a porra de um prêmio ou algo assim? Você é idiota ou que? Eu saí da vila para viajar e é isso que estou fazendo. Me deixe em paz vocês todos!

Sasuke riu.

— Do que você está rindo, bakaerô? O aperto está muito folgado para você? Posso apertar mais. – Ameacei com a mão ainda no seu pescoço.

Ele continuou rindo com dificuldade e por fim disse:

— Naruto nunca vai desistir de ir atrás de você. Vai por mim, estive na mesma situação.

Revirei os olhos. Aquilo estava começando a me tirar a paciência.

— Diz para o seu amiguinho que estou bem, para ele não entrar no meu caminho. Falou?

— Acho que isso vai ser impossível.

Arqueie uma sobrancelha.

— Ele não desiste de quem ama.

“Tum, tum, tum, tum” meu Tenseigan falhou e me senti tonta de repente. Aquelas palavras evocaram algo no meu peito, como se tivessem provocado o amor que tinha trancafiado no selo. Segundos depois, me recuperei.

— É tarde demais para isso – disse.

— Você não o ama mais?

— Não.

Sasuke nada disse, apenas me olhava, curioso.

— Não acho que está mentindo, mas também não acho que esteja falando a verdade.

— Você não poderia estar mais certo.

— O que quer dizer com isso?

Mas não tive tempo de responder, pois um monstro do lago atacava uma vila pequena próxima dali. A terra tremia sob nossos pés e os gritos dos cidadãos era ouvido de longe.

Soltei sasuke do aperto e disse para ele que precisávamos ajudar aquelas pessoas. Ele concordou e juntos fomos enfrentar o monstro que aterrorizava os cidadãos.

Chegando ao pequeno vilarejo, o monstro tinha cerca de 10m de altura e de largura era tipo uns 20m. era muito grande e devia pesar toneladas. Ele pisoteava no mesmo local como se tentasse se livrar de algo, mas ao fazer isso, ele destruía tudo ao redor. Logo percebi o que ninguém mais via. Ele estava com um pedaço de madeira enfiado no tornozelo e gritava de dor. Assim que percebi isso, pedi ao Sasuke que parasse de atacá-lo e fosse ajudar os civis.

Ele fez o Suzano em volta dos civis que não eram muitos. Eu fui para o lago e dancei sobre as águas. Fiz cordas ao redor do bicho para contê-lo e quando ele estava imobilizado, usei chackra como uma mão maior e puxei a madeira de seu tornozelo. O bicho parou de se contorcer de dor. Aproveitei e fiz um ninjutsu médico básico e o curei. Usando o poder da lua, carreguei o bicho de volta ao lago e por lá ele ficou.

Dissipei o poder e senti a influência da Lua me deixando para dar lugar ao meu chackra normal.

Os cidadãos me agradeceram muito e disseram que eu era uma anja de olhos perolados. Ri com o elogio e agradeci.

Sasuke me olhava, intrigado. Analisava-me da cabeça aos pés como se estivesse me vendo pela primeira vez. E talvez estivesse mesmo. Eu costumava ser invisível em Konoha.

— O que você se tornou, Hyuuga?

— Foda.

— Hahaha – o riso dele foi agradável, não era de escárnio. Acabei rindo junto.

— Bom, e o que pretende fazer agora? O Naruto está te procurando.

— Avise a ele que não o faça. Estou bem como pode ver. Só quero, na verdade, preciso encontrar o meu caminho.

Sasuke me olhou nos olhos essa hora como se me dissesse que entendia de verdade o que eu estava sentindo.

— Não há nada que eu diga que te fará voltar?

— Infelizmente não, Sasuke.

Ele suspirou pesadamente.

— Se Naruto estivesse aqui tenho certeza que ele te convenceria a voltar.

— Mas ele não está.

— Por que você não quer. Ele passou esses meses todos procurando por você. Por onde esteve?

— Longe.

— Muito, por sinal. Nem eu, nem ele, te localizamos. Era como se você não existisse mais. Tenho que te falar que ele ficou desesperado. Realmente desesperado. Nunca o vi daquele jeito.

Engoli em seco. Por mais que não sentisse mais nada por Naruto, não queria ver ninguém sofrendo por mim. O amor só trazia sofrimento. Era hora de parar com aquilo.

— Você precisa impedi-lo, Sasuke. Eu segui com minha vida. Ele deveria fazer o mesmo.

— Você realmente não o ama mais, Hyuuga? – Ele me olhava frio agora.

— É difícil de explicar, Sasuke. Eu não sinto mais o amor, mas ele ainda está dentro de mim.

Ele me olhou como se eu fosse retardada porque não fazia muito sentido o que eu havia acabado de dizer.

— Eu selei meu amor por Naruto, Sasuke. Eu não sinto mais nada porque eu reprimi esse amor dentro de mim em um selo que não pode ser desfeito. É uma técnica exclusiva do Byakugan e com isso, eu me tornei forte. Dona de mim mesma e senhora da minha razão. Não sou mais refém dos meus sentimentos. É como se eu...

— Fosse o sol da meia noite – ele me interrompeu para dizer aquilo e me pegou inteiramente de surpresa.

Sasuke me olhava com curiosidade agora.

— Você costumava ter o mesmo tipo de energia do Naruto. Mas agora, o que vejo é mais parecido com o que eu sou, escuridão. É como se você fosse um sol da meia noite, Hinata.

Assenti. Podia ser colado dessa forma. De fato, eu havia me bandeado para o lado B da vida. Era uma loba solitária à procura do próprio destino, tal como Sasuke.

Quem diria que nossos caminhos se cruzariam a essa altura de nossas vidas.

— Bom, devo voltar à Konoha. Direi a Naruto e a todos os demais que você está bem, mas que não quer voltar.

— Obrigada, Sasuke.

— Não me agradeça. Faço isso por Naruto. Ele foi o único que continuou te procurando depois de todos esses meses.

Assenti.

— Honestamente, não acho que Naruto mereça sofrer mais.

— Ele não merece e não vai. É por isso que você o dirá para seguir com sua vida ao lado de Sakura.

Sasuke pigarreou.

— Como assim ao lado de Sakura? Você quer dizer como colega de time?

Xiii... pelo jeito, Sasuke não sabia do caso deles.

— Naruto e Sakura se beijaram. Sempre soube que Naruto nutria fortes sentimentos por ela, mas ver aquilo me quebrou em pedaços. Eu tinha que me afastar para me refazer. Entende?

Sasuke não me olhava nos olhos. Tinha a mão fechada em punho tão forte que temi que ele tivesse um ataque de fúria ou coisa do tipo. Mas ele apenas engoliu o que quer que estivesse sentindo e assentiu para mim sem dizer mais uma palavra.

Eu sabia o que ele estava sentido. Dor. Amor doía e ele ainda tinha muito amor dentro dele, pena que usava para coisas erradas. Esperava que ele não tomasse nenhuma decisão que fosse se arrepender depois.