210 dias, 14 horas e 5 minutos desde que ela havia partido.

Tal como um prisioneiro, eu contava as horas e os dias que estava longe dela. Como descobri depois, Hinata sempre estivera atrás de mim, me acompanhando de longe, de modo que mesmo sendo uma criança solitária eu sempre tive a sensação de estar acompanhado.

Agora a sensação de não a ter por perto ficava ainda mais evidente. Perguntava-me se ela estava bem ou se estava sendo bem tratada ou se sentia dor. A simples ideia de estar sofrendo me machucava físico e emocionalmente.

Sei que nunca fui muito equilibrado quando se trata de ir atrás de alguma coisa e que por vezes isso quase me matou. Mas agora era diferente. Não era um amor platônico como o que eu nutria por Sakura quando adolescente, nem aquele apego infantil que sentia por Sasuke. Enquanto o amor por Sasuke e Sakura me prendiam, o amor que eu sentia por Hinata me libertava. Era real dessa vez.

Joguei água no rosto para refrescar minhas ideias. Eu precisava traçar um plano, não dava mais para continuar procurando-a a esmo. Ninguém sabia nem tinha visto a menina de olhos pérolas. Como alguém como ela podia passar despercebida?

Senti uma pontada no peito, como se meu subconsciente jogasse na minha cara que eu mesmo nunca havia prestado atenção na menina, as outras pessoas também não a notariam.

Lembrei de mim mesmo quando era criança e invisível. As pessoas só me notavam porque eu gritava e fazia pegadinhas as deixando zangadas. Foi somente esse tipo de sentimento que recebia, mas eu aguentava. Já Hinata era o oposto. Ela passava quieta, quase invisível para que não incomodasse ninguém, como se tivesse medo demais de rejeição.

Agarrei o tecido da camisa na altura do coração. Eu não entendia como de uma hora para outra, meus olhos se abriram e todo aquele amor me inundara.

Amar era como estar perdido em um oceano cheio de emoções conflitantes sem boia salva vidas nem barco à vista. Eu estava perdido. O que faria se nunca mais a encontrasse?

O simples pensamento me fez ficar amuado. Recolhi-me no canto de meu quarto. Era a quarta vez que eu voltava para Konoha na esperança que os outros times de busca a tivessem encontrado.

— Naruto, as buscas serão suspensas – Shikamaru um dia me disse – fora uma ordem de Tsunade-sama.

— Mas o que? A vovó está louca? Não podemos deixar Hinata perdida por aí!

— Naruto – Shikamaru usou aquele tom que ele só usava quando precisava ter muita cautela – Hinata saiu da vila da folha porque quis e pelo visto, não quer ser encontrada. Devemos respeitar essa decisão até que ela queira voltar.

— Que porra é essa, Shikamaru? Você tá querendo arranjar confusão ou o que? – Fui para cima dele, pegando-o pela gola da camisa.

— São ordens da Hokage, Naruto.

— Não me interessa de quem seja a ordem. Eu vou procurar eu mesmo por ela. Ela pode estar precisando de ajuda.

— Ela não precisa da sua ajuda.

— Como você sabe?

— Porque Tsunade-sama tem uma informação que você não tem. Segundo ela, Hinata pediu afastamento da vila para ficar longe de você.

Aquilo não podia ser verdade.

— Sendo assim, as buscas estão suspensas. Não podemos procurá-la para sempre, Naruto. Temos muito trabalho a fazer aqui na vila e você é um shinobi. E um shinobi é aquele que aguenta toda a dor e continua. Recomponha-se.

Naruto passou as mãos pelos cabelos, perplexo demais para responder alguma coisa.

— Ei, dobe, o que pega? – Alguém lhe tirou das lembranças da conversa com Shikamaru.

Olhou para a janela do quarto e viu Sasuke entrando sem pedir licença.