Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 9
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Olá galera, mais um capítulo para vocês :)
No anterior, nós vimos que o Ron não gostou nem um pouco de saber que a Mione estava por ai com outra pessoa, e quem leu o cap de DV sabe que ele andou tentando conseguir umas informações com a Ginny, mas o que será que ele decidiu fazer? Vamos esperar que ele não tenha ficado de braços cruzados quando a garota dele pode estar se afastando, né!
Espero que gostem :)



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A minha mente não era mais um local aprazível para se viver, eram tantas coisas com as quais eu tentava lidar que eu estava quase pedindo férias de mim mesma. Se já não bastassem todas as atitudes contraditórias do Ron e as minhas vontades mais incoerentes ainda, o meu trabalho estava consumindo cada segundo que eu tinha acordada e reduzindo a uma porcentagem alarmantemente pequena os meus momentos de descanso. No final das contas a minha chefe tinha sido bem sutil ao me avisar sobre o acúmulo de funções que eu enfrentaria, pois parecia que ela tinha decidido que eu teria que trabalhar por dez pessoas e não duas.

A segunda feira inteira foi tomada por problemas que, de acordo com a decisão da Sra vaca, deviam ser resolvidos por mim. Minha sorte é que o Ced nunca me deixaria na mão e ficou comigo até depois das nove da noite no escritório. Quando eu enviei o último e-mail que precisava da minha atenção naquele dia, eu quase gritei de felicidade, mas acabei optando apenas por uma exclamação satisfeita.

—Terminei! – estiquei os braços para cima, alongando a minha coluna que não aguentava mais se manter sentada. Com um pulo eu levantei da minha cadeira e antes que eu pudesse avisá-lo, o Ced já estava na minha frente.

—Tudo certo por hoje? – perguntou ansioso pela minha afirmação.

—Sim! Não quero olhar para essas paredes pelas próximas... – olhei o relógio no meu pulso e fiz as contas – nove horas.

—Mi, isso seria engraçado se não fosse tão trágico – ele me olhava tão desiludido que caímos os dois na gargalhada, era isso eu chorar de cansaço, eu preferia rir a qualquer hora.

—Eventualmente as nossas horas voltarão ao normal, Ced – eu apertei o ombro dele.

—Nem fala chefinha, só que podia ser logo, parece que eu nem conheço a minha casa mais, você então... Não sei nem pra que se dá ao trabalho de ir até lá, daqui a pouco já tem que voltar mesmo – ele deu de ombros.

—Digamos que eu ainda prefiro dormir no meu colchão macio, mesmo que sejam vinte minutos.

—Depois de um dia apagando incêndios, espero que você seja sensata o bastante para dormir mais do que isso – ele apontou o dedo em minha direção.

O meu cérebro trabalhou bem rápido e quase automaticamente associou a palavra incêndio ao ruivo que não deixava de ser um problema para a ordem do meu mundo, consequentemente as últimas palavras que trocamos começaram a tocar como uma gravação nos meus ouvidos e eu me irritei por um comentário idiota me fazer pensar nele.

—Cala a boca, Ced! – acabei descontando um pouco da minha raiva auto direcionada no meu amigo, respondendo de maneira mais rude do que o habitual, claro que isso não passaria despercebido por ele.

—Credo, Mi! Estou só zelando pelo seu bem estar, não precisa ficar tão... – ele pareceu me olhar direito e a cara de vítima injustiçada foi substituída por um sorriso muito presunçoso, tanto que só conseguiu aumentar a minha cara feia – toda essa acidez não tem nada a ver com seu maravilhoso amigo aqui, não é mesmo?

—Não sei do que você está falando – peguei as minhas coisas e saí da minha sala sem esperar, ele me alcançou em alguns passos e apoiou o braço nos meus ombros.

—Sabe o que eu acho? – ele perguntou em tom conspiratório sem realmente esperar por uma resposta, pois logo continuou - que essa cara feia passaria rapidinho se você fosse para casa e ligasse para o seu incêndio particular.

Abri a boca para negar, mas ele me parou levantando a mão em sinal de advertência.

—Mi, não adianta nem você gastar desculpas comigo, deixa para os mais desatentos, eu sei que você estava pensando nele – a voz dele constatava o que ele tinha como um fato na sua cabeça - sabe, se você seguisse os meus conselhos espetaculares, eu estaria enjoado de ouvir histórias açucaradas de como vocês estão felizes.

—Ah, claro você só tem ótimas ideias – revirei os olhos, tentando desviar o assunto.

—Tenho mesmo, quando eu te dei uma que não deu certo? – ele levantou o dedo indicador – e pode me absolver da culpa pelo fiasco da nossa última saída porque esse crime é todo seu.

Conte com o Ced para sempre dizer a verdade, mesmo quando ela não é nem um pouco agradável.

—Claro que não vou te culpar por aquilo, você só escolheu o lugar e era ótimo – não adiantava negar que a noite não tinha sido das melhores.

—Pois então, tá vendo só? Meu placar é 100% de acerto até hoje.

—Tudo bem senhor “estou sempre certo” o que eu devo fazer então? – cruzei os braços desafiando-o com o olhar, mas no fundo eu queria saber qual era a tal ideia que ele tinha.

—Vai pra casa, pega o celular, desbloqueia, seleciona o aplicativo de chamadas e aperta onde está escrito “Ron” – ele detalhou passo a passo como se estivesse ensinando alguém a usar um telefone pela primeira vez, o que me fez morder os lábios para não rir - aí você pode usar sua licença poética porque eu tenho bastante certeza de que qualquer frase que você use pra convidar, ele vai aceitar.

—Primeiro você me diz para descansar e agora quer que eu chame o Ron para ir até a minha casa? – ri do absurdo da sugestão.

—Para conversar, Mi! O que é que já está passando nessa sua cabecinha safadinha? – ele me olhou com uma cara de quem sabia exatamente para onde a minha mente tinha ido.

—Conversar? E o que eu deveria dizer? – resolvi ver até onde aquela palhaçada iria.

—Ah, eu posso escrever as falas para você, começa assim – ele limpou a garganta – Ron, já faz cinco anos que nos conhecemos e por mais que eu não quisesse mais antes, eu quero agora, adoro quando você tem ciúmes de mim e acho que temos que ficar juntos de vez. Ele vai ficar morto de feliz e tudo se resolve. Fim.

—O que? Você está doido? Primeiro, quem foi que te disse que eu quero mais do que o que nós temos? – ele me lançou um olhar de lado totalmente descrente – e segundo de que planeta você tirou esse final de roteiro?

—Aaaaah, cheguei finalmente no problema! – ele parecia um cientista que descobriu a solução de alguma equação muito difícil que ele vinha tentando desvendar há muito tempo.

—O que você quer dizer com isso?

—Assim não tem graça, chefinha eu não posso te dar as respostas prontas, você tem todas as peças do quebra cabeça, que tal tentar completar a figura com mais afinco? Você é tão brilhante, mas parece que quando o assunto se refere ao que tem aqui – ele apontou ao local onde estava o meu coração – até os conceitos básicos você esquece.

—Ced, eu vou fingir que essa conversa não existiu porque não estou inclinada a ficar brava com você – ele revirou os olhos exasperado.

—Olha, eu lavo as minhas mãos, você é teimosa viu? Quando estiver a fim de prestar atenção nas coisas mais óbvias, pode me procurar. Sou um amigo tão bom que nem vou dizer “não falei?” – ele não esperou nem a minha resposta, me deu um beijo apressado foi embora me deixando sozinha no meio do corredor.

As palavras dele ainda rondavam a minha mente quando eu cheguei em casa, todas as minhas perguntas eram respondidas com dúvidas e mais dúvidas. Por que as coisas pareciam tão claras para o Ced e não para mim? Ele achava que uma simples conversa resolveria os meus problemas, mas o x da questão era definir o tal problema. Eu queria ou não o Ron por perto? Simplesmente não tinha como eu saber, de que maneira eu determinaria se eu desejava algo que eu na verdade nunca tive? Me lembrei das palavras da minha mãe dizendo que eu devia perguntar a ele para descobrir o que ele sentia, mas novamente o pensamento me aterrorizou. Eu não tinha certeza o suficiente nem dos meus sentimentos, quem dirá dos dele, não era o bastante para me expor dessa maneira.

A verdade era que eu não tinha tempo nem para ficar avaliando as questões que embolavam os meus pensamentos, em poucas horas eu teria que estar de volta ao escritório e precisava descansar. Rolei mais um pouco na cama, tentando com todo afinco me focar em dormir, mas a minha imaginação fez o favor de começar a conjecturar como teria acabado a noite se eu tivesse seguido ao menos a primeira parte da ideia ridícula do Ced.

Quando o meu assistente chegou ao trabalho no dia seguinte, eu fiz questão de agir como se nada tivesse acontecido. Ele foi ao menos cordial o suficiente para não fazer nenhum tipo de comentário. Nem mesmo quando almoçamos juntos o assunto surgiu, fato esse que eu não cansaria de agradecer mentalmente, eu precisava de toda paz que eu pudesse conseguir. No meio da tarde, o telefone da minha sala tocou e eu atendi escutando a voz do Ced do outro lado da linha.

—Tem um homem na recepção procurando por você – ele comentou curioso

—Quem é? – eu não tinha nenhuma reunião marcada para aquela tarde e a minha agenda estava lotada o suficiente para não poder encaixar alguém de última hora.

—Não sei, nunca vi.

—Como ele é? – só o fato do Ced não saber quem era foi o suficiente para aguçar a minha curiosidade, porque ele conhecia todo mundo, principalmente as pessoas que estavam na minha lista de reuniões.

—Alto, ombros largos, cabelos maravilhosamente vermelhos, será que são naturais?  Devem ser, não vejo um centímetro de raiz daqui. Não consigo enxergar a cor dos olhos, quer que eu vá lá ver? – a descrição fez o meu coração acelerar incontrolavelmente.

—NÃO! Manda ele entrar – acabei soando mais afetada do que era a minha intenção, mas só de imaginar o Ced indo falar com ele eu já sentia calafrios, ele podia acabar falando mais do que devia.

—Esse não foi muito desesperado, chefinha... ai meu Deus é o senhor Incêndio não é? Vou ter que olhar direitinho quando ele passar por mim – ele estava muito animado com a perspectiva de finalmente conhecer o Ron.

Os segundos que se passaram, foram gastos imaginando o que o Ron estaria fazendo ali, aquilo não tinha lógica alguma. Por que razão ele me procuraria no meu local de trabalho? Eu sempre podia ter me precipitado em assumir que se tratava do Ron, mas quantos outros ruivos eu conhecia? Ou vi uma leve batida na porta e incentivei o visitante a entrar.

—Oi, Mione – eu não estava errada, era o único ruivo da minha vida que me encarava ao passar pela porta e fechá-la.

Oi, Ron – meu cumprimento saiu mais parecendo uma pergunta.

Seguiu-se um silêncio um tanto constrangedor em que nenhum de nós sabia como prosseguir com esse cenário tão inusitado. Ele parecia meio confuso com a situação e eu não podia dizer que estava diferente. Convidei-o a sentar na cadeira a frente da mesa onde eu estava acomodada como forma de quebrar o gelo.

—Aquele ali fora é o Ced? – foi a pergunta que eu menos esperava ouvir.

—Sim, não me diz que ele falou alguma coisa inapropriada – levei as mãos ao rosto, já sofrendo por antecedência.

—Não, eu só não sabia que o seu assistente era um modelo de capa de revista – o tom rabugento da observação me deixou levemente irritada, lembrando a nossa última ligação.

—Cuidado com os comentários, Ron podem até achar que você está com ciúmes – rebati sem esconder o sarcasmo.

—Claro que não! Só apreciaria saber que a concorrência aqui por perto é tão acirrada – a negativa dele fez o meu estômago afundar, sem que eu percebesse o meu desejo era de que ele realmente sentisse nem que fosse um pouco de ciúmes.

—Tenho quase certeza que não foi para falar do meu assistente lindo que você veio – coloquei de propósito o adjetivo só para provocar.

—Não mesmo – ele respirou fundo tentando desfazer a cara nada bem humorada que tinha antes de continuar.

—Do que se trata essa visita então? – eu estava genuinamente curiosa.

—Eu tentei te ligar e não consegui e eu tinha que falar com você hoje por causa das datas e aí pensei que seria melhor vir aqui caso não desse para nos vermos de noite e... – ele continuou falando sem parar numa atitude nada típica dele, o que estava acontecendo ali?

—Ron, devagar não estou entendendo nada – ele se calou, me olhando meio assustado – que tal você começar do começo? – sugeri.

—Certo... desculpe – ele passou as mãos pelos cabelos e eu percebi que ele estava nervoso, cada vez mais eu precisava saber o que ele estava fazendo ali – eu vim te fazer um convite.

—Convite? – perguntei o incentivando a continuar

—Isso um convite... para uma viagem – ele ficou em silencio após a declaração.

—Viajar? Com você? – minha voz saiu esganiçada dando uma ideia muito mais negativa dos meus sentimentos do que a verdade, pois eu vi o semblante dele endurecendo na hora.

—Se for uma ideia tão ruim assim, pode esquecer que eu convidei – ele fez menção de se levantar, mas eu me inclinei sobre a mesa para segurá-lo.

—Não, não é isso, você me pegou de surpresa é só – ele voltou a se sentar, um sorriso aparecendo no canto dos seus lábios.

—Isso quer dizer que você aceita? – perguntou animado.

—Eu... – minha cabeça não sabia o que achar daquele convite, muito menos como proceder. Eu ainda me via as voltas com meus sentimentos, tentando entender se o queria por perto ou não e ele me aparecia com essa ideia...

Foi quando me ocorreu que ali estava a minha chance perfeita de chegar à conclusão final que eu precisava. Viajar junto significaria passar um tempo muito maior do que eu estava acostumada com ele, e sem dúvida fazer coisas que nunca fizemos antes. Era a minha oportunidade de saber se o que eu desejava era aquele tipo de proximidade.

—Aceito – respondi por fim.

—Ótimo! – o sorriso dele passou a ocupar o seu rosto todo e provou ser contagiante, pois em questão de segundos eu estava sorrindo também.

—Quantos dias seriam? Preciso saber se tenho o tempo disponível – a realidade veio me incomodar, me lembrando que eu podia até querer ir, mas na atual conjuntura podia ser que não desse.

—Pensei em quatro ou cinco dias, é o máximo que eu posso tirar de folga, mas podemos incluir um final de semana se ficar melhor para você.

—Eu tenho alguns dias sobrando das minhas férias, mas preciso conversar com a minha chefe primeiro.

—A vaca? – ele perguntou rindo.

—Ela mesmo – torci o nariz só de pensar em como essa conversa seria.

—Tem como você me avisar o mais rápido possível? Preciso fazer as reservas.

—Claro, assim que eu tiver uma resposta eu te aviso – concordei.

—Era só isso, vou te deixar trabalhar então, acertamos os detalhes quando você me der a resposta – ele levantou e eu o imitei, não sabendo como me despedir, era um lugar tão estranho para estarmos juntos que eu não fazia ideia dos protocolos.

—Tudo bem – respondi e ele se virou indo em direção a porta.

Quando a mão dele, tocou a maçaneta ele pareceu mudar de ideia. Ele se virou novamente em minha direção e caminhou até o local onde eu ainda permanecia parada.

—Na verdade tem mais uma coisa que eu vim fazer – antes que eu pudesse perguntar o que era, uma das mãos dele enlaçou a minha cintura enquanto a outra se moldou ao meu rosto, trazendo a minha boca para junto da dele num beijo do qual eu percebi, não muito contente, estar com saudade.

Automaticamente os meus dedos se enroscaram no cabelo dele, puxando-o para mais perto. Aquele beijo não teve nada de delicado, parecíamos dois famintos que tinham sido presenteados com um belo prato de comida, e como tais, recusávamos a nos desgrudar. Nossas bocas se separaram em busca de ar e eu me afastei subitamente me lembrando de que ali era o meu local de trabalho e não um lugar para esse tipo de atividade, se a minha chefe sequer sonhasse com o que tinha acabado de acontecer, ela iria querer a minha cabeça.

—Como eu pensei – ele murmurou mais pra si do que para mim enquanto me encarava atentamente, os braços ainda me prendendo a ele.

—O que? – indaguei.

Ele pareceu notar apenas com a minha pergunta que tinha falado em voz alta e desviando o olhar respondeu.

—O gosto ainda é o mesmo – ele me deu um selinho e foi embora num piscar de olhos, me deixando com a pergunta que esclareceria aquela resposta entalada na garganta.

O comentário me trouxe a mente a minha tentativa nada bem sucedida de me desvencilhar dele procurando outras pessoas. Aquele beijo não teve o mesmo gosto do que o de hoje, aliás, não teve gosto nenhum. A ideia de que o Ron podia ter feito o mesmo que eu me incomodou e não foi pouco. Eu não me sentia satisfeita, nem de longe, em imaginar que ele tinha saído por aí beijando qualquer uma. Esse pensamento me deixou meio alarmada, desde quando eu era dominada por sentimentos de posse? “Ciúme” minha consciência me acusava. Eu estava sentada travando uma luta comigo mesma para me certificar de que ciúmes não tinha nada a ver com a situação quando o Ced entrou na minha sala, fechando a porta logo atrás de si.

—Vejo que a visitinha deixou alguém…  eu ia dizer feliz, mas agora já tá com cara de confusa - ele coçou a cabeça parecendo estar meio confuso também.

—Não tem confusão nenhuma aqui - mascarei tudo com um sorriso confiante.

—Ah então me diz logo, o que ele queria? Esse sorriso combina mais com aquele beijo nem um pouco inocente - ele me olhou maldoso.

—Como você sabe disso? - perguntei envergonhada.

—Não sabia, mas agora já sei - a cara de triunfante dele me deixou mais constrangida, com certeza as minhas bochechas estavam vermelhas.

—Você é impossível…

—Ah deixa disso, porque ele veio? - ele parecia tão ansioso pela resposta que eu acabei rindo.

—Veio me fazer um convite - respondi propositalmente sem dar todas as informações.

—Para? - ele literalmente nem piscava esperando a continuação.

—Viajar com ele.

—Olha só o Sr Incêndio! - ele bateu palmas em aprovação - pelo amor de Deus me diz que você aceitou.

—Aceitei - aparentemente ele não esperava essa resposta, pois ficou me olhando admirado - o que foi?

—Nada, só estou meio orgulhoso - revirei os olhos com a ironia - agora entendi menos ainda a sua cara de “o que acabou de acontecer?” ele até voltou pra te dar um beijo e tudo...

—Ei! Espera aí, eu não falei nada dele ter voltado - olhei para a cara falsamente inocente dele - não acredito, você ficou xeretando mesmo!

—Você queria o que, Mi? Você escondeu aquele espécime maravilhoso só pra você por tanto tempo que eu fiquei curioso, e eu não tenho culpa se a sua persiana não é mais eficiente que os meus olhos - ele deu de ombros assumindo a cara de quem não devia nada a ninguém.

—Eu não acredito nisso! - escondi meu rosto com as mãos tentando mascarar a vergonha que eu sentia só de pensar em mais alguém nos vendo - me diz que ninguém mais te imitou.

—Claro que não, chefinha eu nunca deixaria isso acontecer - ele se empertigou todo, o próprio defensor da minha imagem - afinal o show era particular - toda a boa intenção se desmanchou em uma expressão atrevida.

—Seu abusado! – peguei a primeira coisa ao alcance da minha mão, que era minha agenda, e joguei nele acertando em cheio no ombro.

—Credo! Que violência é essa? – ele pegou a agenda antes que ela caísse no chão e incorporou sua melhor interpretação de vítima.

—Alguém precisa te dar educação – respondi sem remorso algum.

—Pois a partir de agora eu proíbo visitas do Sr Weasley nesse escritório, não faz bem para sua sanidade – como eu podia levar o Ced a sério por mais de dez segundos? – vou ter que bolar um plano para isso ficar bem claro – ele se sentou a minha frente e apoiou o pé sobre o joelho, uma posição descontraída demais para quem tinha acabado de levar uma bronca.

—Não sei porque eu ainda tento – chacoalhei a cabeça.

—Ah depois eu penso nisso, alguma ideia vai aparecer – ele balançou a mão dispensando aquela linha de pensamento - mas não ache que eu esqueci do que estávamos falando, o que foi que ele te disse pra você ficar com a cara que tinha quando eu entrei aqui?

—Nada... - murmurei

—Ai chefinha me poup – ele começou a reclamar, porém eu o interrompi

—Que te interesse! – completei torcendo o nariz.

—Ai é que você se engana, interessa e demais, anda logo eu sei que você quer falar – ele sorriu encorajador se inclinando para frente e pousando a cabeça nas mãos que ele apoiou na minha mesa.

Respirei fundo, eu sabia que ele ia ficar me encarando até eu responder, e não era como se fosse o maior segredo do universo, mas ainda assim a minha voz pareceu mais um sussurro.

—Ele disse que o gosto ainda é o mesmo.

—Hum... além de lindo ainda é galanteador – com a cara que ele fez, parecia que tinham falado aquilo para ele – agora eu entendi menos ainda a cara.

—Eu só fiquei pensando que outros gostos ele pode ter provado por ai – completei meio sem querer.

—Nada mais justo né, Mi? Você fez a mesma coisa pra testar a sua teoria maluca – ele abanou uma das mãos.

—Justiça não tem nada a ver aqui! – minha resposta saiu mais rápida e afoita do que eu pretendia

—Entendo... – ele bateu o com o dedo indicador na boca, dava quase para ver as engrenagens do cérebro dele funcionando - me diz uma coisa, você me falou que quando estavam namorando paravam de se ver.

—Sim, claro – afirmei agradecendo por ele não ter implicado com a minha declaração um tanto acalorada sobre a minha opinião acerca do tema igualdade.

—E quantas vezes você parou nesses cinco anos? Teve o modelo bobalhão, aquele advogado que até dava pro gasto... – ele começou a contar nos dedos.

—Três vezes! – ele estava achando que essa conta ia parar aonde?

—E o digníssimo Ronald?

Na hora que ele fez a pergunta, a verdade me atingiu, foi algo tão inesperado que eu senti meu fôlego falhando.

—Só pela sua cara já vi que o número gira entre zero e zero mesmo – eu não tive presença de espirito nem para confirmar.

—É chefinha, pelo jeito justiça não tem nada a ver aqui mesmo – frisei as sobrancelhas, remexendo a memória, porque não era possível que não tivesse havido alguém, eu só não me lembrava - que cara é essa, você nunca notou?

Balancei a cabeça em negativa

—Só eu que... – nem terminei de dar voz ao meu pensamento.

—Exato foi só você pra ele, lindo isso, né? – ele bateu os cílios suspirando de uma maneira bem debochada.

—Obrigada por me deixar mais confusa, Ced tinha uns 5% da minha mente que ainda tinha certeza sobre algumas coisas – me joguei no encosto da cadeira levantando os olhos em direção ao teto e cobrindo a testa com a mão.

—Disponha. Sabe o que eu acho? – resisti a vontade de dizer que eu não queria saber mais nada das opiniões dele - Que você adorou essa realização e está doidinha pra essa viagem chegar logo.

A porcentagem de vezes que ele acertava era irritante, e essa contava como mais uma. Perceber depois de tanto tempo que o Ron não tinha se envolvido seriamente com ninguém, me trouxe uma sensação de alegria e pior ainda, de esperança. Esperança de que talvez se eu quisesse mais, ele também quisesse. A única sombra que ameaçava escurecer o sol radiante que era a minha mente, era o fato de que muitas vezes expectativas não passarem disso, apenas promessas que não se cumpriam.

—Será que eu posso ficar? – abaixei os olhos para encará-lo, dessa vez interessada no que ele teria a dizer.

—Ansiosa? – concordei – claro, você aceitou ir como prova final, não foi?

—Sim, não posso voltar mais perdida do que já estou, tenho que dar um rumo as minhas ideias – conclui e o Ced riu com gosto – para que a risada?

—Se eu disser você não vai gostar – ele não me enganava nem um segundo, estava doido para falar.

—Fala logo, a agenda está na minha mão de novo – levantei o objeto ameaçando lança-lo novamente se ele não se apressasse a abrir a boca.

—Ok, mas não diga que eu não avisei – ele levantou as mãos em defesa - só achei graça de você presumir que vai voltar menos perdida, da perspectiva que eu tenho você vai retornar dessa viagem perdida de vez.

—Você estava certo, eu não gostei – cruzei os braços de cara feia com a previsão que ele tinha sobre a minha viagem – você já se demorou muito aqui, temos mil coisas a fazer pode voltar para a sua mesa – fiz um sinal de dispensa com a mão e ele saiu rindo mais ainda.

O restante do dia não ficou nem registrado na minha memória, apenas duas coisas ficariam guardadas quando eu me lembrasse daquela a visita do Ron e a sensação inebriante de se descobrir única. Ao chegar em casa a noite gastei um tempo considerável avaliando a minha decisão de aceitar aquele convite. Parecia que eu não conseguia mais manter a mesma atitude por muito tempo, pois passei de tentar evitar o Ron, para sair numa viagem com ele. Mas eu tinha que ser sincera, evitá-lo não adiantou nada, eu continuava na mesma, minha esperança agora seria que a viagem pudesse me fazer compreender de vez o que eu queria da minha vida, eu não conseguiria melhor chance de ter uma prévia do que significaria querer mais do Ron. Com essa conclusão definida, me permiti ficar feliz sem culpa. Nós passaríamos cinco dias juntos e eu estava ansiosa, o sono veio rápido nessa noite.

Eu tinha um cronograma muito bem elaborado de reuniões e afazeres para a quarta feira, tudo estava indo muito bem até a hora em que fui almoçar. Voltei tranquila depois de desfrutar uma boa comida, porém a calmaria nunca dura tempo demais. Assim que eu sentei na minha cadeira para começar o turno da tarde, uma das minhas funcionárias veio me dizer que a Dolores tinha simplesmente esquecido de comparecer a uma reunião de extrema importância com a empresa que realizaria a recepção do desfile. Como ela queria que as coisas desses certo assim? Eu tinha acertado tudo, conseguido o melhor lugar que parecia quase impossível com a pouca antecedência e na hora em que ela tem que fazer a parte dela a dondoca não se lembrava?

Respirei fundo para não começar a gritar na mesma hora, e com a coitada que não tinha nada a ver com a situação. Mais do que depressa peguei o telefone e comecei a barganha infinita para conseguir remarcar a tal reunião, naquele dia eu merecia um prêmio, qualquer um menos determinado não teria conseguido convencer a representante da empresa a ceder, porém eu não desisto fácil e um novo encontro estava marcado para o dia seguinte, só que dessa vez eu estaria presente também, eu não permitiria que o sucesso do meu trabalho dependesse apenas da competência da minha chefe, nunca mais.

O fiasco não ia passar em branco, marchei até a sala da Dolores e avisei a secretária dela que era melhor ela estar disponível.  Em alguns minutos eu entrei no templo pavoroso que ela chamava de sala, minha cara mais séria em exposição.

—No que posso ajudá-la, Granger? – ela levantou os olhos da papelada que estava lendo.

—Vim só avisar que mesmo com a falta na reunião de hoje, nem tudo está perdido – cruzei os braços sem nem me importar se aquilo constituía insolência.

—Reunião? – ela perguntou aérea.

—Sim, aquela que a senhora deveria ter comparecido para fechar o contrato com o local do desfile – nem me dei ao trabalho de disfarçar a acusação.

Os olhos dela dobraram de tamanho com a informação e ela ficou claramente furiosa.

—Como você não me avisou disso? – muito típico, colocar a culpa nos outros.

—Ah, mas eu avisei sim, e mais de uma vez pode checar a sua caixa de entrada, e se os e-mails estiverem apagados é só me avisar que eu reencaminho todos – dessa vez ela não ia falar o que quisesse sem escutar, eu estava sem paciência.

—Mas... então foi um problema com a minha agenda, a minha secretária não deve ter incluído – ela tentou argumentar.

—Não sei o que aconteceu, só sei que culpa minha não foi e eu agradeceria se amanhã o incidente não se repetisse, porque não sei se a senhora sabe, mas o desfile já está quase aí e não vamos arrumar outro lugar tão bom a tempo – ela ficou calada, pela primeira vez na vida eu tinha conseguido falar tudo o que eu queria para ela, era uma sensação ótima.

—Não se preocupe, Srta. Granger estarei lá, se isso for tudo, eu estou ocupada.

—Na verdade não é tudo – não ia ter melhor momento do que esse para tratar de um assunto que não saía da minha cabeça desde o dia anterior – quero marcar os dias de folga que me restam já que eu tive que trabalhar durante o meu período de férias.

—O que? Você quer folga agora? Com a quantidade de coisas a serem resolvidas antes do desfile? – ela pareceu horrorizada com a minha ideia.

—Eu sei muito bem o trabalho que tenho que fazer Sra. Umbridge, pode ter certeza. Daqui a duas semanas tenho certeza que tudo estará pronto e são só três dias, sair na quarta está perfeito para mim.  – não desviei o olhar nem por um segundo com medo de que se eu mostrasse qualquer tipo de hesitação, ela viesse com todas as pedras para cima de mim. Eu tinha o trunfo de tê-la pego fazendo algo errado, e não tinha vergonha de usar no momento.

—Se o trabalho estiver adiantado até lá, não vejo problema – ela deu de ombros, mas o desdém não estava muito longe.

—Vai estar – eu me virei e saí da sala dela sem nem dar tchau.

—O que foi que te deixou tão feliz assim? Ainda mais saindo da sala da dona bruxa... – o Ced perguntou quando eu passei pela mesa dele, ele se levantou rapidamente e me seguiu até a minha sala, onde fechou a porta e se sentou para escutar as fofocas.

—Finalmente eu dei umas boas respostas na cara dela, e consegui minha folga, aliás estou te dando a sua no mesmo período – a vaca que viesse reclamar, o assistente era meu e eu dava folga quando quisesse.

—Opa! Viagem para nós dois!! Eu queria tanto te levar comigo, mas sei que dessa vez não tenho chances... – ele fez um bico, mas rapidamente se animou – Ah! Isso me lembra que eu tenho um presentinho pra você.

Ele foi até a mesa dele e voltou todo satisfeito com o que parecia ser um quadro do tamanho de uma folha sulfite. Ele colocou o objeto em minhas mãos e ficou observando atentamente enquanto eu tentava achar o sentido naquilo.

—Mas o que é isso? – a moldura elegante envolvia a figura de uma chama estampada com um sinal de proibido que se via tipicamente em placas de trânsito.

—Eu não falei que ia bolar uma maneira de não te fazer esquecer que o Ron não podia mais visitar? Então – ele pegou a placa da minha mão e pendurou na porta, de frente para a minha mesa – a partir de hoje todos os incêndios são proibidos aqui, você pode olhar diariamente para não esquecer – ele bateu com a mão no vidro que recobria o desenho, enfatizando a nova regra.

Aquilo era tão infantil e meu humor estava tão positivo que eu caí na gargalhada com a brincadeira.

—Sabe que é até bonito? Vou deixar ai enfeitando. Hoje nada que você faça vai me deixar brava, Ced – ele se juntou sorrindo.

—Agora só falta contar para o boy que a viagem está certa – ele mudou completamente o assunto em alguns segundos.

—Sim – eu esperava que a notícia o deixasse tão feliz quanto eu estava.

—Anda liga logo! – ele pegou o meu celular da mesa e empurrou para mim.

—Ced, a sua placa ali, me proíbe disso e eu ainda tenho muito o que fazer, quando eu terminar o trabalho eu ligo – repreendi.

—Droga, essa placa já está me atrapalhando – revirou os olhos – mas isso não conta! Ele não vai estar aqui.

—Não importa! Além do mais eu não te quero na plateia mais uma vez, você não é um espectador discreto – observei sem dó da cara de desiludido dele.

—Você só me maltrata, chefinha, vou voltar para a minha mesa – ele saiu exagerando no tom de derrota o que só me arrancou mais gargalhadas.

Fiz exatamente o que eu disse ao Ced que faria, completei todos os itens pendentes do dia e quando o relógio me avisou que o expediente tinha chegado ao fim, arrumei minhas coisas para partir. Não era um dia que me prenderia horas a mais no escritório, eu tinha coisas mais importantes a fazer. Peguei meu celular para ligar para o Ron, mas num impulso desisti, eu queria dar a notícia ao vivo.

—Alguém já fez uma ligaçãozinha – o comentário veio sem restringir os significados duplos que a mente do meu amigo conjurava.

—Não, sem ligação – parei rapidamente na frente da mesa dele.

—Você não vai falar pra ele?

—Eu não disse isso – ele abriu um sorriso sugestivo e eu saí antes que ele pudesse fazer mais alguma pergunta.

Entrei no carro, e percorri o caminho até a casa dele ansiosamente. Assim que passei pela entrada do condomínio e estacionei em uma das vagas, me ocorreu que eu nunca tinha vindo sem avisar antes. “O que eu estava fazendo ali?” perguntei para mim mesma, sem chegar a nenhuma conclusão. Ele podia estar ocupado trabalhando ou com visitas. A curiosidade para saber o que ele estava fazendo num dia em que a minha chegada não fosse anunciada foi o suficiente para me tirar do carro e me impulsionar até a porta onde eu apertei a campainha e aguardei. Não recebi nenhuma resposta então afundei o meu dedo no interruptor mais uma vez, o carro dele estava ali, então com certeza ele estava em casa. Quando eu já estava prestes a tocar uma terceira vez, eu escutei passos e respirei aliviada, pois eu já estava começando a me preocupar.

—Pra que eu te dei uma chave se você sempre esquece, Ginny – escutei-o resmungando enquanto destrancava a porta - você não é a Ginny... – ele ficou me olhando como se não conseguisse entender a informação que os olhos dele estavam enxergando.

Eu levantei as sobrancelhas indicando claramente que não era a irmã dele e parei alguns segundos para absorver a condição na qual ele havia me atendido: os cabelos molhados com água ainda escorrendo pelos ombros nus e a mão esquerda segurando no lugar a toalha que era a única coisa o cobrindo.

—É assim que você costuma abrir a porta para quem não avisa que vem? – perguntei irônica pousando as mãos na cintura.

—Não, eu só... – ele parecia não saber o que dizer, acabei rindo e tirando-o da situação embaraçosa.

—Brincadeira, até gostei da recepção – dei um passo para dentro e o cumprimentei com um beijo que ele não demorou nem cinco segundos para corresponder.

Escutei a porta batendo e me aproximei mais para continuar o que eu tinha começado. Meus dedos deslizaram pelos ombros dele, encontrando a pela ainda úmida do banho.

—Hoje você deixou as coisas muito fáceis pra mim, Ronald – sussurrei ao chegar com as mãos onde a toalha dele estava.

—É, isso não está justo, espera aí que eu vou colocar uma roupa – ele se afastou, mas antes de ir completou com um sorriso maldoso - a não ser que você queira tirar as suas para equilibrar as coisas.

—Seu atrevido! – bati com o dedo na testa dele, mas eu estava com vontade de provocá-lo mais um pouco. Me aproximei novamente, minhas mãos espalmadas em seu peito e beijei o pescoço dele até escutá-lo respirando mais rápido - vim aqui só para te dar um aviso – declarei junto ao ouvido dele como quem não tem interesse nenhum no assunto.

—Ah é? Que pena... então para um aviso é melhor eu estar vestido, longe de mim te desconcentrar – ele segurou meu queixo me dando um selinho antes de se desvencilhar dos meus braços e ir em direção ao quarto – eu já ia pedir comida, pode escolher o que quer comer – gritou lá de dentro.

—Quem falou que eu vou ficar para comer? – eu o segui até o quarto parando encostada no batente da porta, ele já tinha colocado um shorts e estava a procura de uma camiseta.

Ele me olhou enviesado, passando os braços pelos buracos da camiseta, dando a entender que ele sabia muito bem que eu ficaria e não só para o jantar e eu ri da certeza dele, qualquer outro dia eu podia até ter rebatido dizendo que eu já estava de saída, mas no final das contas, eu tinha uma viagem marcada com ele, que mal tinha em aproveitar até lá? Não era como se eu fosse quebrar alguma regra, nem mesmo as minhas. E se eu fosse um pouquinho mais honesta, aceitaria o fato de que eu estava com saudades de vê-lo e que a visita no dia anterior não a tinha curado.

Ele penteou os cabelos para trás terminando de se arrumar e me seguiu até a sala. Nos sentamos no sofá para olhar as opções de comida e eu não aguentei, tive que dar um jeito no que estava me incomodando. Me inclinei sobre ele e passei minha mão pelos cabelos dele bagunçando os fios. Ele me olhou confuso e eu me apressei em explicar.

—Gosto mais assim – voltei a me encostar no sofá – acho que quero comer pizza hoje – declarei, como se nada tivesse acontecido.

Ele me olhou ainda sem dizer nada, apenas assentiu e pegou o telefone ao seu lado para fazer o pedido. A comida não demorou muito para chegar, ficamos conversando sobre nada importante até a hora de ir para a cozinha jantar.

—Pode deixar tudo aí, eu arrumo depois – ele falou assim que me viu juntando toda a bagunça que havíamos feito. – se eu me lembro bem, você veio aqui me dar um aviso.

Ele passou os braços pela minha cintura me abraçando pelas costas e apoiando o queixo no meu ombro.

—Só um detalhezinho, quase sem importância – dei de ombros.

—O que é? – ele soou curioso.

—Consegui três dias de férias para daqui a duas semanas, de quarta até o domingo estou livre – eu senti o sorriso em seus lábios quando ele me beijou no pescoço.

—Esse detalhezinho me deixou muito feliz – ele me virou de modo que pudesse me beijar de novo, dessa vez nos lábios – eu pensei seriamente que a sua chefe simpática fosse dar problema.

—Ah, mas dessa vez ela ficou bem caladinha porque ela fez merda e eu consertei – expliquei sem esconder a satisfação que eu estava sentindo – você precisava ver a cara dela!

—Você tem que me contar essa história direito! Parece que foi um momento marcante – ele me puxou pela mão de volta para a sala onde se sentou no sofá para escutar o meu relato. Eu estava tão empolgada de novo com os acontecimentos que não consegui ficar sentada para contar.

—Então, eu não te disse, mas eu fui promovida! – ele me parabenizou sorridente antes de eu continuar a história – ai hoje de tarde tinha uma reunião...

Continuei falando sem parar, encenando e gesticulando nos momentos cabíveis até chegar ao fim da história que explicava como eu tinha obtido a conquista dos meus dias de folga.

—Estou vendo que a senhorita pode ser muito brava quando provocada – ele pegou minha mão e me puxou para si, eu subi no sofá sentando no colo que me era oferecido com as coxas ladeando o quadril dele.

—Sim – me inclinei para beijá-lo e ele apertou a minha cintura – mas não se preocupe com a sua segurança porque hoje eu estou só feliz, nada de brava – eu o assegurei encarando o brilho nos olhos dele.

—A Hermione nervosa parece assustadora – ele falou brincando – mas e a Hermione feliz? – a brincadeira deu lugar à provocação.

—Ah, a Hermione feliz é muito generosa – falei mordendo o lábio e o sorriso que ele me deu indicou que ele gostou bastante do que ouviu.

—Ótimo, porque agora eu quero um pouquinho do seu tempo só pra mim – respondeu levando os dedos ao botão na minha nuca que segurava o decote da minha blusa frente única.

—Só do meu tempo? – indaguei inocente.

—Quero umas outras coisinhas também – o tecido se abriu e ele não demorou a puxá-lo para baixo e revelar a renda do sutiã sem alças que eu usava.

—Se o que você quer é a minha blusa, eu sinto dizer que não combina com seus olhos – brinquei, mas a gracinha não foi longe, pois os lábios dele já deslizavam pelo meu decote, numa tortura deliciosa.

—A blusa pode ficar pra você o que eu quero está por baixo.

Parece que algumas semanas sem nos vermos foi o suficiente para deixar ambos apressados, as peças de roupa sumiram com uma rapidez impressionante e nem levamos a nossa pequena comemoração para o quarto. Eu tinha colocado todas as minhas ponderações num limbo, permitidas a voltar à tona apenas depois da nossa viagem, então não me torturei pensando no que nada daquilo significava. Só importava que naquela noite, eu tinha uma boa notícia e estava comemorando justamente com a pessoa que eu queria.


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Notas finais do capítulo

Aaaaah ele vão viajar juntos! Cinco dias de Ron e Mione. Até que ele foi bem esperto para não ficar pra trás, não é mesmo? E a Mione conseguiu fantasiar de "essa é minha chance de entender tudo" a vontade doida que ela já estava sentindo de dizer sim.
E aí, o que vocês acharam do capítulo? Como os dois vão voltar dessa viagem?
Se fosse pela vontade do Ced, os dois já estavam até casados huahuah
Comentem, me façam feliz :)
Bjus

Crossover: esse capítulo não tem ligações diretas com DV, apenas mostra as consequencias da conversa entre Ginny e Ron, mas não deixem de acompanhar porque em breve as histórias se misturam de novo :) (https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/)