Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 8
Capítulo 08


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera!
No capítulo passado nós vimos que a Mione não se saiu muito bem na primeira estratégia dela para esquecer o Ron, vamos ver como ela decide prosseguir.... Será que dessa vez ela acerta?
Espero que gostem :)



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Comecei a semana seguinte determinada a manter o Ron o mais afastado possível dos meus pensamentos, se tentar fazer alguma coisa sobre o assunto não tinha se mostrado eficaz, por razões as quais eu nem queria entender, minha estratégia seria não fazer nada. Se eu mantivesse distância por tempo considerável, as coisas entre nós se dissolveriam naturalmente, sem nem um tipo de esforço da minha parte, seria muito mais tranquilo. Eu só teria que repetir aquilo várias vezes por dia, para que em algum dado momento a ideia realmente fosse internalizada, pois a vontade que eu tinha de vê-lo ainda não tinha desaparecido, para o meu completo desgosto.

Eu havia começado um projeto referente ao desenvolvimento de uma linha de roupas masculinas, que era previsto para o final do ano. Os primeiros esboços a lápis estavam se acumulando na minha mesa quando o Ced chegou.

—Bom dia, Mi – estranhei o tom cauteloso com o qual ele me cumprimentou – tudo bem?

—Tudo ótimo – peguei uma folha em branco para começar mais um esboço.

—Tudo certo no final de semana? – ele tinha uma postura muito mais comedida do que de costume, e sem levantar os olhos do que eu estava fazendo, falei:

—Pergunta logo o que você quer saber, Ced, enrolação não combina contigo – ele deu um riso sem graça, o que era inédito, e se sentou a minha frente.

—Você está bem? Ligou pra ele? – apenas o barulho do meu lápis arranhando o papel quebrava o silêncio que se seguiu, sem parar o que eu estava fazendo, o encarei.

—Sim para a primeira pergunta e não para a segunda – tentei soar o mais despreocupada possível, eu não queria o meu amigo elaborando uma novela na cabeça dele que tivesse eu e o Ron como protagonistas e ele como o escritor, eu sabia muito bem que ele tentaria ajudar, mas não era o que eu queria.

—E por que não? Não vejo como você vai sair dessa situação sozinha.

—Não liguei porque não quis e só – a leve inclinação das sobrancelhas dele denunciou que ele tinha percebido a minha mentira descarada, mas eu optei por fingir que não notei e rezar para ele não apontar isso na minha cara – decidi que não vou fazer nada, mantenho distância e está tudo acabado.

—Ai ai, chefinha, se as coisas fossem tão fáceis assim.... – não gostei do tom engraçadinho da sua declaração, eu já estava abrindo a boca para reclamar, quando meus olhos computaram o que eu tinha desenhado.

Ali no papel em branco me encarando, estava um modelo que parecia alarmantemente com o Ron. O contorno do rosto e dos olhos, as linhas da boca, até o ondulado do cabelo que só precisava ser pintado de vermelho para ser uma cópia exata. Onde estava a minha cabeça? Notei o Ced seguindo com o olhar o local que eu fitava, mas sem me importar com a reação dele, arranquei a folha do bloco e fui com toda a intenção de amassá-la e jogá-la fora, mais uma evidência do meu pouco juízo mental ultimamente, porém segundos antes das minhas mãos fazerem contado com a folha, ela foi arrancada dos meus dedos. Eu arregalei os olhos e vi um Ced muito curioso examinando o meu desenho.

—Me devolve isso, Ced! Esse vai para o lixo – estiquei a mão em sua direção.

—Lixo? Está ótimo, viu como as coisas não são tão simples – ele sorriu, me provocando abertamente, eu não cairia no jogo dele.

—Não sei do que você está falando, agora me dá isso. – ele levantou da cadeira antes que eu pudesse arrancar o papel das mãos dele.

—Tenho uma ideia muito boa de quem é a inspiração desse desenho, vou guardar. Você pode precisar reavivar a memória no futuro – ele chacoalhou a folha e saiu sem nem olhar para trás, eu ainda tentei argumentar indo atrás dele, mas o meu assistente era eficiente inclusive em esconder as coisas, se ele não quisesse, eu jamais saberia onde aquele desenho estava.

Voltei para a minha sala sem ter conseguido reaver o que eu já enxergava como uma prova contra mim e dei continuidade aos meus esboços, dessa vez me concentrando em manter os desenhos dos modelos bem genéricos. Meu estômago avisou pela segunda vez que a hora do almoço se aproximava, avaliei mentalmente as opções que eu tinha para a refeição. Acabei decidindo almoçar por ali mesmo e já estava quase de saída quando a minha chefe apareceu na minha sala, entrando sem bater como sempre.

—Granger, temos uma reunião urgente, vou almoçar e quero você na minha sala dentro de uma hora, entendido? – disse no seu habitual tom de comando.

—Entendido – eu ia perguntar sobre o que se tratava a tal reunião, mas ela virou e foi embora sem me dar tempo para nenhuma reação.

—O que a senhora simpatia queria? – o Ced perguntou quase que se materializando na minha sala.

—Veio com toda a delicadeza me dizer que temos uma reunião urgente em uma hora – passei as mãos pelo rosto, exasperada só de pensar nos momentos agradáveis que eu passaria na sala da Dolores.

—Minha previsão estava correta! Teremos novas salas – seu olhar triunfante me fez rir.

—Quando eu voltar de lá, nós pensamos no assunto – ele se recusou a tirar o sorriso convencido do rosto.

Almocei mais rápido do que era de costume, a comida não estava muito atrativa, eu queria logo saber a razão da minha convocação e não conseguia esconder o desejo de que o Ced estivesse certo. La no fundo, o que eu queria era a concretização da promoção que tinha sido acenada para mim. Cheguei na sala da minha chefe com cinco minutos de antecedência e não me surpreendi quando a secretária dela disse que ela ainda não havia retornado do almoço. Optei por esperar ali mesmo, me acomodando em uma das cadeiras que ficavam na porta do aposento. Mais de meia hora depois, a Dolores chegou, andando tranquilamente como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. Quando me viu sentada a sua espera ela estreitou os olhos e falou:

—Ainda bem que está aqui, ande temos coisas sérias a discutir.

Eu tive que me controlar ao extremo para não dar uma resposta torta, como ela tinha a coragem de falar comigo como se eu fosse a pessoa atrasada? Respirei fundo e a segui sala a dentro. Eu já havia estado ali diversas vezes, mas nunca deixava de me impressionar em como uma pessoa que trabalhava com moda pudesse ter um escritório de tão mal gosto. Os quadros em cores berrante, todos retratando gatos, era quase uma ofensa aos meus olhos. Ela deu a volta na mesa dela, que seguia o mesmo padrão de ornamentos, se sentou e acenou para que eu fizesse o mesmo.

—Bom Srta. Granger, como eu tenho certeza que já chegou aos seus ouvidos através dos maravilhosos fofoqueiros que empregamos, a responsável pelo setor de organização se demitiu e embora eu não seja inteiramente de acordo, você foi a escolhida pela diretoria da empresa para assumir o lugar dela – ela tinha uma enorme habilidade de fazer uma boa notícia parecer algo ruim, mas eu não a deixaria estragar a minha animação.

—Muito obriga... – ela me cortou levantando a mão para que eu me calasse.

—Ainda não terminei. Essa promoção vem com vários benefícios, claro: salário, autoridade, nova sala. Contudo – ela deu tanta ênfase na última palavra que eu acabei me encolhendo ligeiramente na cadeira – não temos ninguém para te substituir na sua atual função no momento, então você vai ter muito mais trabalho, principalmente enquanto tiver esse acúmulo de cargos.

Eu já esperava por aquilo, imaginei a loucura que seria a carga de trabalho a partir daquele momento, mas eu daria um jeito, não tinha nada a ver comigo desistir de um desafio.

—Entendo perfeitamente Sra Umbridge, fico muito feliz de terem me selecionado para o cargo e pode ficar sossegada que eu darei conta de todas as minhas funções – eu não devia ter falado a última parte, porém eu tinha que devolver um pouco da ironia, nem que fosse de uma maneira bem sutil e educada.

—Perfeito. Amanhã você já pode se mudar para a sua sala, imagino que você vá levar aquele seu assistente junto – ela fez uma pausa e eu assenti com a cabeça – você pode pegar todas as informações que precisará com a Lia que era uma das pessoas que trabalhava mais de perto com a Adna. – ela se inclinou em minha direção e olhou bem no fundo dos meus olhos – a organização não é brincadeira, Granger muitas coisas dependerão de decisões tomadas por você então não erre, se não as consequências não serão leves.

Ela não estava esperando por nenhuma resposta de minha parte, pois logo depois me dispensou. Se eu tivesse uma chefe realmente boa, ela passaria ainda mais algum tempo me inteirando de tudo o que seria requisitado de mim, mas nesse caso, eu teria que descobrir sozinha.

Voltei correndo para a minha sala, quase dando pulinhos de felicidade e fui interceptada pelo meu amigo que já tinha um sorriso enorme no rosto.

—Só de ver a sua cara eu já sei que posso começar os preparativos para a sala nova! – eu confirmei com um aceno de cabeça e ele me prendeu em um abraço – você merece, chefinha! Temos que comemorar! Pode se preparar para sair hoje.

—Você está maluco, Ced? Hoje é segunda feira, estou muito feliz com a notícia, mas mesmo assim...

—E lá existe dia certo para comemoração? Prometo não te deixar encher a cara – ele levantou os dedos fazendo o sinal de juramento dos escoteiros o que me fez rir.

—Tudo bem, mas a noite tem que terminar cedo, temos um dia longo amanhã.

—Claro, vai ser rapidinho.

Sentei de volta naquela que seria a minha cadeira por apenas mais uma tarde e me peguei querendo dividir a notícia com o Ron, eu sabia que ele me daria um dos seus sorrisos mais radiantes e me parabenizaria com beijos e abraços, mas me contive. Não seria ligando para contar novidades que eu separaria a minha vida da dele. Eu tinha que me lembrar do meu plano, mas estava cada vez mais difícil, pois meu cérebro não conseguia achar ninguém com quem eu quisesse comemorar mais. Me forcei a esquecer o assunto e continuei meus afazeres.

O resto da tarde passou voando, a minha animação com as novidades do dia não me deixaram sentir nenhuma das horas até eu sair da empresa com o Ced. Ele, numa atitude muito magnânima, de acordo com ele próprio, me deixou escolher onde iriamos alocar a nossa pequena celebração e eu escolhi um barzinho não muito longe dali onde eu já tinha ido algumas vezes, principalmente aproveitar o happy hour.

Por ser uma segunda feira, não foi difícil encontrar uma mesa, o salão era grande, mas decidimos nos sentar em uma dos primeiros lugares vagos que ficava bem perto da porta, não tinha necessidade de nos embrenharmos até o fundo do ambiente. O Ced quase não parava quieto na cadeira de tanta animação.

—Eu já planejei tudo, Mi! Sei até o que vou pendurar nas paredes da minha sala – eu engasguei com o gole da minha caipirinha, como não rir de tanta empolgação?

—Toneladas de trabalho pela frente e você está pensando em decoração, Ced? – perguntei irônica.

—Mas é claro, minha sala é basicamente meu cartão de visitas, vai me dizer que você não perde alguns anos de vida toda vez que tem que olhar pra decoração pavorosa da sala da nossa chefe maravilha?

—Muito bem observado – não existiam argumentos quanto aquilo.

Continuamos conversando animadamente, planejando e conjecturando como seria nossas vidas profissionais daquele momento e diante. O Ced já estava no terceiro chop e cada vez ficava mais engraçado, as besteiras que ele dizia me faziam rir incontrolavelmente.

—Porque você sabe, chefinha esse foi só o começo, escuta o que eu estou te dizendo só descanso quando você estiver sentada na cadeira daquela bruxa e tiver expulsado todos aqueles quadros de gato da face da Terra – ele apontava o dedo indicador, dando mais ênfase ainda ao discurso absurdo.

—Come e fica quieto, Ced você já está viajando demais até para os seus padrões – espetei um dos pedaços de frios da porção que tínhamos pedido e enfiei sem cerimonia na boca dele.

—Só estou pensando no bem da humanidade – sua voz saiu engraçada por estar de boca cheia.

Ele pegou uma facas para cortar um dos pãezinhos que compunha nosso pedido, mas acabou deixando o talher cair no chão entre nós e se abaixou rapidamente para pegá-lo

—Olha só, chefinha sua bota está desamarrada – observou enquanto voltava com o corpo a posição normal, eu fiz menção de abaixar para resolver o problema, mas ele me interrompeu – pode deixar, eu estou tão feliz que amarro pra você, hoje você merece.

Antes que eu pudesse protestar mais essa bobeira do meu amigo, ele se inclinou e puxou o meu pé até colocá-lo sobre os seus joelhos e se pôs a amarrar o cadarço com uma atenção digna de quem estava criando o laço mais complicado do mundo. Coloquei a mão na boca para abafar uma gargalhada, eu estava tão distraída no momento que pensei que meus ouvidos estivessem me pregando uma peça quando escutei:

—Hermione – não era mentira, meu nome foi dito em um tom altamente formal por ninguém menos do que o Ron que passou por trás do Ced me fuzilando com o olhar.

Meu riso morreu no mesmo instante, e eu senti o meu coração errando o compasso. Abri a boca para dizer alguma coisa, mas era tarde demais e ele já tinha ido, não tendo parado nem por um segundo. Desde quando ele estava lá? Será que ele tinha visto toda a minha conversa com o Ced? Eu não sabia se tinha sido o choque de vê-lo de maneira tão inesperada ou se tinha sido a reação tão fria, mas eu senti vontade de correr atrás dele e explicar a minha razão de estar ali, o que me deixou com raiva de mim mesma, eu não devia nenhum tipo de explicação a ele até porque ele também não me disse o que estava fazendo no local. Percebi que eu não tinha visto quem o acompanhava, e apesar do meu esforço para não me importar, aquilo me incomodou, eu ainda tinha uma expressão perturbada no rosto quando o meu amigo pousou meu pé no chão e olhou para mim.

—Nossa, Mi, você viu um fantasma? Que cara é essa? – ele colocou a mão no meu ombro.

—Nada, foi só o... -  não consegui terminar a frase.

—“O” o que, ou melhor, quem? – ele esperou minha resposta sem desviar o olhar e só encontrou o meu silêncio – nem precisa dizer mais, pra te deixar assim só podemos estar falando do Sr. Weasley... – meu sorriso amarelo terminou de confirmar a observação dele.

—Merda! – o palavrão veio de maneira tão pouco típica do meu amigo que eu acabei o repreendendo.

—Ced!

—Desculpa, chefinha, mas eu não acredito que o Sr. Incêndio estava a poucos metros de mim e eu não vi! – a cara de desolado dele quase foi o suficiente para restaurar o meu humor.

—Graças a Deus, eu não preciso de mais isso na minha vida – levantei as mãos em um agradecimento exagerado.

—Por que você não falou com ele, ele não te viu?

—Ah, ele viu e muito bem, só não me deu chance de dizer nada, passou voando por aqui com cara de poucos amigos – respondi meio contrariada, porém eu sabia que ele não pararia de perguntar se eu não desse nenhuma informação.

—Olha, acho que ele não gostou de te ver aqui, ainda mais com esse ser lindo que sou eu, acho que ele está com ciúmes – o sorriso sugestivo que ele me deu não fez nada para aplacar a semente da dúvida que ele tinha plantado na minha cabeça.

Será que ele estava certo? Mas o Ron não sentiria ciúmes de mim, não tinha nada a ver com a configuração da nossa relação. “Você também não gostou de vê-lo ali” uma vozinha no fundo da minha mente sussurrou. Eu não podia nem mais escutar a minha própria consciência, até ela se mostrava determinada a me deixar mais confusa.

—Não seja bobo, Ced, sua imaginação está pintando um quadro que não existe, ele provavelmente estava apressado e só – dei de ombros, torcendo que a minha aparente falta de interesse o fizesse desistir do assunto.

—Eu posso até ter a maior imaginação aqui, mas é impressionante como você sempre tenta racionalizar tudo – ele balançou a cabeça, me olhando como se eu fosse um caso digno de pena.

—O que você quer dizer com isso? – rebati, eu não gostava de ser olhada assim por ninguém.

—Você é inteligente o suficiente para saber, chefinha – ele piscou um olho em minha direção e se apressou a pedir a conta.

—Ótimo, essa noite já deu o que tinha que dar – resmunguei cruzando os braços, subitamente mal humorada.

—A noite não tem nada a ver com essa sua cara feia de agora, Mi, a culpa disso infelizmente é só sua – me endireitei pronta para dar uma bela resposta, ele colocou a mão na minha boca tolhendo minha ação – vou te impedir de dizer algo muito deselegante que nem combina com você e nem condiz com a verdade, mas só porque eu te amo e sou um ótimo amigo. – a expressão dele e as últimas palavras me desarmaram, a irritação direcionada a ele evaporou e eu me encostei novamente na cadeira.

—Você sabe que eu só quero o melhor pra você, né?

—Eu sei, Ced – um sorriso desanimado surgindo em meus lábios – só entenda que nem sempre o que você acha que é o melhor condiz com a realidade.

—Teremos que concordar em discordar nesse ponto, mas eu deixo você se retratar um dia quando estivermos rindo dessa situação - A conta finalmente chegou e partimos dali, cada um em direção a sua casa.

Meu humor ainda não tinha voltado totalmente ao normal no dia seguinte, mesmo com a agitação da mudança de cargo, alguma coisa insistia em trazer o meu ânimo para baixo. Por sorte o Ced resolveu não fazer comentários sobre o assunto, pois eu me sentia capaz de morder quem resolvesse fazer qualquer tipo de graça comigo. Não existiram comentários engraçadinhos ou dramáticos nem mesmo quando eu tive que dar a triste notícia ao meu amigo, de que ele teria que permanecer sendo meu assistente por mais algum tempo antes de poder usufruir da nova sala e função que ele tinha conquistado. Passei várias horas em reunião com a equipe de organização até estar suficientemente inteirada do que eu precisaria fazer de agora em diante, o resultado não foi bom. A minha antecessora tinha falhado em resolver várias coisas que já deviriam estar decididas a esta altura dos acontecimentos, o desfile não estava tão distante assim e a irresponsável não tinha nem contratado o local ainda.

—Como isso não está definido ainda? – bati a mão na pasta aberta na minha frente, os três supervisores presentes na reunião arregalaram os olhos com a minha reação mais acalorada do que o comum, nós já nos conhecíamos por alto devido aos vários anos de empresa, e eu não tinha a fama de ser tão nervosa.

—Eu sei, srta Granger, a Adna acabou se atrasando com várias partes do evento e... – disse baixinho a Julia, a supervisora mais nova do grupo e claramente a que mostrava mais potencial, mesmo intimidada ela foi a única a tentar me dar uma explicação.

—Primeiro, já falei que podem me chamar de Hermione – respirei fundo tentando fazê-los entender que a minha irritação não era direcionada a eles – segundo, vou precisar de uma lista de tudo o que já foi feito para que nós possamos contornar essa situação, eu não cheguei aqui para deixar o nosso nome ser arrastado na lama fazendo um evento de quinta categoria. Sei que vocês são competentes, vamos trabalhar em prol disso, certo?

Três cabeças acenaram afirmativamente, suas feições já mostravam sorrisos tímidos e expressões de alívio, não sei como era o ritmo de trabalho da Adna, mas eles chegaram na minha sala esperando que eu arrancasse a cabeça deles, o que eu não faria de maneira alguma, ao menos que fosse realmente necessário. Eles saíram da minha sala no momento em que o Ced entrou, ele não pode participar da reunião, pois tinha que cuidar de outros assuntos urgentes, mas assim que terminou foi se inteirar da nossa nova situação.

—Pelo jeito as notícias não são das melhores – observou.

—São ainda piores do que você pensa, não temos lugar reservado para o desfile, nem a decoração está definida ainda – pousei a cabeça entre as minhas mãos, tentando entender como alguém podia levar o trabalho tão pouco a sério.

—Como assim? Aquela mulher fazia o que aqui então, as unhas? – o espanto dele mimetizava exatamente os meus sentimentos.

—Acho que nem isso, Ced. A situação está complicada, mas daremos um jeito.

—Claro que sim, não é nem de longe nossa primeira missão impossível – ele fez um gesto de dispensa fazendo parecer que estava falando de uma banalidade qualquer e eu acabei rindo do descaso.

—Pode começar a missão fazendo uma relação dos melhores lugares disponíveis para alocar o nosso evento, não vou deixar isso na mão dos outros supervisores – o sorriso presunçoso dele logo apareceu com o elogio, eu tinha que me lembrar de mantê-los no nível mínimo.

—É pra já, chefinha – ele levantou e saiu em busca do que eu tinha acabado de pedir.

As próximas duas semanas passaram tão rápido que a memória delas me parecia um borrão. Foram horas intermináveis de reuniões, decisões a serem tomadas e problemas, muitos problemas a serem contornados. Eu chegava em casa tarde e esgotada todos os dias, minha esperança era de que as horas de trabalho diminuíssem um pouco assim que eu conseguisse dar uma forma mais definida ao projeto que eu encabeçava.

Por mais que eu não quisesse admitir, eu ainda vasculhava a tela do meu celular antes de dormir, só para me certificar de que não havia nenhuma ligação perdida, durante o dia eu não tinha nenhum segundo sequer para deixar minha mente vagar para perto do par de olhos azuis que tinham me encarado tão friamente da última vez que os vi, mas ao chegar em casa era inevitável. O silêncio dele foi completo durante esse tempo, e eu me convenci de que tinha finalmente conseguido o que eu desejava, nossa relação minguou e se desfez, por mais que já tivéssemos passado muito mais tempo sem nos encontrarmos, eu sentia que dessa vez era diferente. Tudo o que eu precisava fazer era parar de esperar que talvez eu estivesse errada sobre isso, e fazer o meu coração parar de acelerar cada vez que eu escutava o toque de mensagens no meu telefone. Em resumo: eu precisava deixar de ser idiota e aceitar que eu tinha exatamente o que queria.

Mais uma semana passou sem grandes acontecimentos, apenas a rotina de trabalho excessivo com o qual eu já estava praticamente habituada. Na sexta feira, quase no final do expediente eu já me encontrava pronta para sair do escritório e passar um longo final de semana fazendo muito nada em casa para que o meu cérebro pudesse ter uma parcela do descanso que ele andava merecendo. Como as coisas tem a mania irritante de sair do planejamento bem quando você menos espera, um imprevisto me fez ficar até bem depois do meu horário de saída.

Eu estava concentrada terminando de resolver o que eu esperava ser o último dos problemas da semana, escutei o meu celular tocando e alcancei-o automaticamente, fui apertar o botão para atender a chamada, porém meus olhos se prenderam de relance no nome que indicava quem eu deveria esperar do outro lado da linha. Meu dedo parou no meio do caminho ao registrar a palavra “Ron”. Sem que eu pudesse fazer nada para impedir, meu coração acelerou chegando a um ritmo absurdamente descompassado. Por que ele estava me ligando? Eu ansiava pela reposta quase tanto quanto eu tinha medo de atender. Depois de tantas semanas, eu já tinha quase me convencido de que nossa relação finalmente tinha se reduzido a nada, aquela ligação abalou toda a minha estrutura. Ponderei por mais alguns segundos se eu deveria atender ou não, mas acabei decidindo escutá-lo nem que fosse para afirmar que eu não estava mais disponível.

—Oi, Ron – atendi encenado o melhor que eu podia uma versão minha que não estava nem um pouco perturbada com aquele contato.

—Oi, Mione – a voz dele saiu baixa e muito mais desanimada do que o normal – Podemos nos ver hoje? – a pergunta chegou aos meus ouvidos carregando uma tristeza tão mal disfarçada que me pareceu mais um pedido, com algumas palavra, minha intenção de negar qualquer convite foi comprometida, como eu podia recusar vê-lo quando ele me pedia assim?

—Aconteceu alguma coisa? – a preocupação me fez perguntar de uma vez e tirar qualquer uma das possibilidades alarmantes da minha cabeça.

—Não, só queria te ver... – aquilo não me convenceu nem por um segundo, o que não impediu o meu coração muito desobediente de se alegrar com as palavras, e eu tinha certeza de que o que quer que tivesse acontecido seria elucidado antes do fim da noite.

—Tudo bem, eu chego ai daqui a uma hora, ainda tenho uns detalhes para terminar na empresa – eu tive que me conter para não sair correndo naquele exato momento para descobrir a razão daquela voz tão melancólica, eu não faria isso, terminaria minhas obrigações antes de sair, afinal de contas eu só estava indo cuidar do bem estar de um amigo, nada mais do que isso.

—Estarei esperando – ele desligou.

Não me orgulho em dizer que o restante do meu trabalho foi feito com uma pressa impressionante, sem que isso afetasse o meu desempenho, claro. Parecia que o meu subconsciente estava mais do que disposto a me ver fora dali o mais rápido possível. Terminei tudo e saí do escritório em direção ao meu carro, quando eu já estava acomodada no banco do condutor, me ocorreu que eu não estava sendo nem um pouco sensata. Precisei de três semanas para deixar de olhar meu celular todos os dias em busca de notícias dele, quando eu finalmente tinha conseguido quebrar o meu “hábito” eu simplesmente me jogaria sem pensar de volta?

—Isso não tem lógica nenhuma! – levei minha mão até a testa, um suspiro escapando pelos meus lábios.

Não tinha como voltar atrás agora, e ele parecia tão triste... Eu ficaria apenas alguns minutos, pronto, solução perfeita! Assim eu descobriria o que tinha acontecido, tentaria ajudar da forma que eu pudesse, sem que isso resultasse a voltar ao nosso velho padrão, e retornaria para minha casa com a minha resolução intacta. Decidida a cumprir a minha brilhante estratégia, dei partida no carro e saí do estacionamento percorrendo o caminho conhecido que levava a casa dele.

Empurrei a porta ao chegar, ela se encontrava destrancada como na maioria das vezes, a luz da sala estava apagada, apenas o abajur que ficava perto da televisão estava aceso. Entrei sem fazer barulho e chamei por ele, me sobressaltando quando sua voz me respondeu vindo do sofá que ficava de costas para a entrada.

—Oi, Mione – ele se endireitou e eu me aproximei.

—Oi, Ron – nessa hora já teríamos nos cumprimentado com um beijo, mas eu me recusei terminantemente a fazer isso, me senti um pouco constrangida, não sabendo bem como agir dessa nova forma com ele.

Ele se levantou, foi até o interruptor acender a luz do ambiente e se virou em minha direção. Nesse momento eu pude vê-lo direito pela primeira vez e meu coração afundou ao ver que os tons tristes que eu tinha captado ao telefone estavam todos presentes nos olhos dele, compondo uma imagem que eu não gostei nem um pouco de ver. Aquele não era o Ron que eu conhecia, o meu Ron era animado e divertido, subitamente eu senti a necessidade de trazer o costumeiro brilho daqueles olhos azuis de volta.

—O que foi, Ron, tudo bem? – ele estava ao meu alcance, coloquei minha mão em seu ombro em sinal de simpatia.

—Está tudo bem sim – os braços dele me envolveram em um abraço apertado, ele afundou a cabeça na curva do meu pescoço e quando percebi eu já tinha correspondido, passando os meus próprios braços pela cintura dele e me aproximando ainda mais - Eu já tinha jantado quando te liguei, mas tem comida pra você na cozinha – ele disse sem se mover do lugar onde tinha se acomodado.

—Ah, não se preocupe, eu como em casa, tenho que ir em bora logo – eu não podia me arriscar demorando muito ali, só aquele abraço já era o suficiente para me fazer não querer ir tão cedo.

—Ah... – ele levantou a cabeça, e eu vi que ele estava meio decepcionado com a minha resposta.

Aquilo não ia dar certo, eu precisava fazer alguma coisa para trazê-lo de volta ao normal, meu coração não ia aguentar bater tão apertado por muito mais tempo, então me afastei e puxei-o pela mão em direção ao sofá para nos acomodarmos.

—Ron, você vai sentar aqui do meu lado e me contar exatamente porque eu estou te vendo assim tão triste, não gosto disso! - eu acabei fazendo a última declaração sem querer e podia ser a minha imaginação mas eu vi um lampejo de alguma coisa no olhar dele ao escutar as minhas palavras.

Estávamos sentados virados de frente um para o outro, eu vi o peito dele levantar lentamente em um suspiro profundo antes dele finalmente continuar.

—Lembra do Nick, meu amigo que trabalha comigo?

—Claro, você me falou dele diversas vezes – assenti com a cabeça, indicando que ele podia continuar

—Pois é, os pais dele faleceram num acidente de carro hoje cedo – a voz dele vacilou e eu senti vontade de abraçá-lo de novo.

—Ah, Ron – ele podia nunca ter me contado com todas as letras, mas eu sabia que os pais dele já não estavam presentes e eu suspeitava de que a situação tivesse sido ainda pior do que o esperado, estava explicada a razão da melancolia dele.

O olhar que ele me lançou foi o suficiente para que eu desse carta branca para as minhas vontades e me inclinasse para abraçá-lo, desejando poder expulsar toda a dor que eu via no seu rosto, eu nunca o tinha visto nesse estado, então sabia que aquela situação estava realmente sendo difícil para ele. Eu o puxei para mim, de forma que ele pudesse deitar no sofá com a cabeça apoiada no meu colo, minhas mãos naturalmente assumiram para si a tarefa de acariciar os cabelos macios dele, ele fechou os olhos e ficamos um bom tempo em silêncio.

—Eles sempre me convidavam para as festas de família, os almoços de domingo eram bem animados, fui várias vezes e a mãe dele sempre reclamava de não me ver mais – ele riu, provavelmente se lembrando dos momentos engraçados e uma lágrima solitária escorreu pela bochecha dele. Sequei a lágrima com os dedos, deixando a minha mão apoiada no ombro dele, enquanto a outra ainda deslizava pelas mechas ruivas.

—Você vai ao enterro? – perguntei - Quer que eu vá junto ou a Ginny vai?

—O enterro já foi – notei pela primeira vez o paletó preto no encosto da poltrona - Eu nem contei pra Ginny, ela não lida muito bem com esse tipo de coisa.

—Como assim? Ela é médica - ele deu de ombros não querendo entrar nesse assunto, que por mais que eu tivesse perguntado, eu imaginava que também tivesse a ver com os pais deles.

—Eu sei que você tem que ir embora, só queria desanuviar a cabeça – ele abriu os olhos, me encarando pela primeira vez desde que estávamos naquela posição que estranhamente eu estava achando muito confortável.

—Não se preocupa com isso – eu não iria embora dali até me certificar de que ele estava realmente bem - só um segundo, não se mexa – me levantei, deixando a cabeça dele apoiada em uma almofada.

Fui até a cozinha com a intenção de procurar alguma coisa para beliscar, mas encontrei um belo sanduiche me esperando em um prato sobre a pia. Peguei o prato e um copo com água e voltei para o lugar exato em que estava.

—Fica mais confortável assim – ele disse ao se acomodar de novo no meu colo, eu ri com o comentário e agradeci o lanche.

Ele ficou calado enquanto eu mastigava até terminar a refeição, passei aqueles minutos procurando algo para falar, eu queria distraí-lo e tentar animá-lo um pouco, de repente uma ideia surgiu na minha cabeça, ele podia até não ficar muito animado com o assunto, mas certamente desviaria a atenção dele dos pensamentos tristes.

—Ah! Eu conheci o Harry, você estava tão curioso sobre ele, agora tenho uma opinião para dar – ele me fitou com atenção.

—E? – ele pareceu querer saber e tentar se animar um pouco.

—Gostei bastante dele, e vi que a Ginny gosta mais ainda. Ele é lindo, moreno, mais alto do que ela, olhos verdes... – comecei a listar tudo o que eu me lembrava, mas ele me interrompeu

—Não preciso da descrição física completa! – ele resmungou levantando a mão para me fazer parar – só quero saber se não é um psicopata saindo com a minha irmã

—Definitivamente não! – ri com o absurdo da possibilidade - ele é uma simpatia, tem ótimo gosto para livros e está sempre alegre e sorrindo

—Não vejo a Ginny ficando muito tempo com uma pessoa tão “radiante” do lado – me controlei para não dar uma gargalhada da expressão tão infantil de contrariedade que ele apresentava.

—Pois eu acho que isso vai longe, você precisa ver como eles se olham – sorri, lembrando da cena que os dois formavam.

—Como?

—Como se não tivesse ninguém no mundo além deles.

—Hum... – ele revirou os olhos claramente tomando meu comentário por uma bobeira.

—Eu acho que ele é mais novo que ela – continuei, definitivamente o assunto estava funcionando em mantê-lo longe dos acontecimentos do dia – porque a Ginny parece mais nova do que é, e ele parece ter a mesma idade.

—Mais novo? – ele pareceu incomodado.

—Algum problema? Tem gente que gosta de estar com pessoas mais novas – olhei pra ele levantando a sobrancelha.

—Ok, chega desse moleque, vamos mudar de assunto – ele chegou ao ponto de cruzar os braços.

—Adoro esse seu lado irmão ciumento – falei no meio de uma gargalhada.

—Isso não é ciúme, é só excesso de proteção com a minha irmã, além de um direito, é o meu dever.

—Tudo bem, o que for melhor para te ajudar a dormir a noite – bati com o dedo no nariz dele.

Ele pegou a minha mão e levou aos lábios, me dando um beijo que me causou um arrepio.

—Você conseguiu melhorar esse dia péssimo, obrigado por vir – ele manteve a minha mão colada ao rosto dele e eu reconheci a sensação das batidas do meu coração se acelerando, naquele momento eu senti falta do beijo que eu não ganhei ao chegar. Ficamos paralisados naquela posição, ele tinhas os olhos fechados e eu não conseguia desviar a atenção do semblante dele e do local onde ele ainda prendia a minha mão. A respiração dele assumiu um ritmo lento e profundo e eu compreendi que ele tinha sido vencido pelo cansaço do dia e dormido.

Aquele era o momento ideal para eu me retirar e voltar para a segurança do meu apartamento, contudo eu não me mexi. Me senti quase hipnotizada pelo sorriso tranquilo que surgiu em seus lábios, agradecendo mentalmente por ter conseguido, ao menos um pouco, aplacar os sentimentos ruins com os quais ele estava lidando. Ele parecia muito mais jovem, dormindo tranquilamente no meu colo, o rosto que eu sempre achei tão bonito, não apresentava as costumeiras linhas de preocupação. Me dei ao luxo de ficar mais algum tempo a observá-lo, não era sempre que eu podia fazer isso sem testemunhas. Ele se mexeu ligeiramente, se acomodando de modo a ficar mais confortável e acabou quebrando o encanto sobre o qual eu me encontrava.

Balancei a cabeça, tentando ordenar as minhas ideias novamente e decidi que já havia passado da hora de ir embora. Com o maior cuidado possível para não acordá-lo, eu saí do sofá, apoiando-o na almofada que tinha ficado esquecida, ele, porém ainda permanecia com a mão firmemente presa a minha. Afastei os dedos dele de leve com os meus, mas no momento em que consegui me desvencilhar do contato, as sobrancelhas dele se curvaram e ele se remexeu. Não querendo interromper o sono dele, eu me abaixei ao seu lado, passando a mão sobre o rosto dele.

—Shhh... dorme, Ron – falei do mesmo jeito que se nina as crianças, o resultado foi eficiente pois ele parou de se mexer e pareceu voltar ao sono profundo.

Meu rosto estava tão próximo ao dele, sem parar para pensar, me inclinei e toquei meus lábios de leve nos dele, roubando um beijo ao qual eu sabia não ter nenhum direito. Me afastei com  a boca ainda formigando pelo contato antes que eu ficasse muito tentada a acordá-lo só para que ele pudesse participar ativamente também. Procurei na gaveta do móvel onde ficava o telefone dele e encontrei o que eu queria, rabisquei no papel algumas palavras.

“Espero que você esteja melhor, qualquer coisa me liga”

Será que eu daria a ideia errada com aquele bilhete? Descartei o pensamento, eu estava sendo exagerada, e era claro que ele tinha que saber que eu viria se ele tivesse algum problema, apena isso. Peguei uma coberta no quarto e joguei sobre ele, juntei as minhas coisas, apaguei a luz e me dirigi a saída, antes de fechar a porta, olhei uma vez em sua direção, divisando apenas a silhueta adormecida dele. Cheguei em casa com uma sensação estranha na boca, efeito colateral da minha ultima ação impensada. Eu não tinha nada que ter me despedido daquela forma, o que me restava era a vontade de terminar o que eu comecei, aparentemente hábitos eram mais fáceis de serem readquiridos do que esquecidos.

Durante a próxima semana o Ced me lembrou, pouco sutilmente, que o aniversário dele era no sábado e que eu estava devendo um belo de um jantar em qualquer lugar que ele escolhesse. Como promessa é dívida, não pude fazer nada além do que concordar e rezar para que ele escolhesse um lugar agradável. Na quinta feira ele disse que as reservas já estavam feitas e que eu devia comparecer no endereço que ele me entregou, muito bem vestida. Essas foram todas as recomendações que ele deu. Procurei na internet pelo nome do restaurante e descobri que de fato era um lugar maravilhoso, recém aberto e que eu não tinha a menor ideia de como ele tinha conseguido reservas quando a fila de espera parecia infinita. Era bom eu caprichar nas roupas mesmo, eu não tinha dúvidas de que o meu amigo estaria impecável.

Cheguei no horário combinado no restaurante, eu usava um elegante vestido azul marinho que por coincidência combinava com os detalhes da roupa do Ced, que já me esperava sentado na mesa reservada para nós.

—Pra esse tipo de coisa você não se atrasa, né? – ele riu e se levantou para me dar um beijo e um abraço – Parabéns, Ced.

—Obrigado, Mi, seu presente vai ser maravilhoso – voltamos a nos sentar.

Iniciamos uma conversa animada, era impossível um momento sequer de tédio ao lado do meu amigo, na hora que a nossa comida chegou, eu já estava tendo que conter o nível das risadas para não arrancar olhares de desdém das mesas a nossa volta. O Ced nunca dispensaria um segundo de pensamento a esse tipo de coisa e continuou a me fazer rir como se fossemos apenas os dois naquela sala. Meu prato delicioso se encontrava pela metade quando eu escutei o meu celular tocando e, ao encontrá-lo, vi que era o Ron me ligando. Eu não ia atender, aquele não era nem a hora nem o lugar, mas e se tivesse acontecido alguma coisa de novo?

—Quem é, Mi? – ele percebeu a minha hesitação e eu só virei o viso para ele ver – Ah, o Sr. Incêndio! Atende logo, se você não quiser, eu falo – ele esticou a mão em minha direção.

—Claro que não! – puxei o telefone para longe e atendi – oi, Ron – o Ced nem se preocupou em disfarçar que ele tinha direcionado toda a atenção dele para a minha conversa.

—Oi, Mione, você está ocupada hoje? Eu tava pensando em ir jantar em algum lugar.

—Ah, Ron, não vai dar já estou jantando, o Ced está aqui comigo – não sei o que me fez dizer com quem eu estava, aquilo não era da conta dele. Percebi o meu amigo balançando a cabeça para os lados, como se eu tivesse falado besteira, enquanto um pequeno silêncio se seguiu do outro lado da linha.

—Ron? – indaguei, não sabendo se a ligação ainda continuava.

—Você quer que eu pare de ligar? – a pergunta foi feita em um tom tão frio que eu me sobressaltei.

—O que? Não! – só depois que as palavra saíram da minha boca é que eu percebi que eram as erradas, mas já era tarde para voltar atrás e eu queria saber a razão daquela declaração – por que você diz isso?

—Você já tem o “Ced” pra levar pra jantar – a ênfase irônica no nome do meu amigo não passou despercebida.

—É aniversário dele, eu prometi e ele é meu amigo – rebati, me defendendo de algo que eu não sabia nem o que era

—Primeiro ele era seu assistente, agora é seu amigo...

—O que você quer dizer com isso? – essa linha de conversa tinha finalmente conseguido me irritar, não teve nada de sutil na minha pergunta.

—Nada.

—Se você tem alguma coisa para me falar, não fique enrolando – agora eu queria que ele fosse até o fim e dissesse exatamente o que estava pensando.

—Desculpa, eu falei demais, só.... – ele pareceu subitamente arrependido – aproveita o jantar de vocês, outra hora eu ligo.

Ele desligou sem me dar a chance de dizer nada em resposta, encarei a tela do celular fuzilando o pobre objeto, como se daquela forma os meus pensamentos pudessem ser transmitidos até ele. A verdade era que eu não tinha entendido nada do que tinha acabado de acontecer.

—Acabei de presenciar uma briga, chefinha? – ao escutar a voz do Ced, eu fui trazida de volta para o ambiente em que eu me encontrava, aquele diálogo tão incomum tinha conseguido me fazer esquecer até que eu tinha um espectador muito atento a minha frente.

—Não seja bobo – passei a mão na testa que até então se encontrava franzida – era só o Ron me convidando para jantar.

—Pois daqui me pareceu que ele não gostou nem um pouco de saber que você já estava ocupada com outra pessoa – o sorriso maldoso que ele me lançou ia de uma ponta a outra do rosto dele.

—Ced, olha lá a sua imaginação de novo faz o favor de deixá-la sobre controle para o bem de todos – tentei desconversar fazendo graça.

—Olha lá o seu cérebro trabalhando demais de novo, faça você o favor de deixá-lo se libertar um pouco – os olhos dele não se desviavam de  mim, me assegurando de que ele sabia ser a pessoa certa naquela conversa, mas eu não queria pensar sobre o assunto – não foi a primeira vez, e isso que eu tenha visto. O nome disso é ci-ú-me aprende logo comigo – ele levantou o dedo indicador, balançando no ritmo das sílabas.

—Tudo bem, e se você estiver certo, eu faço o que com isso? – respondi exasperada, porque eu realmente não sabia a resposta, não sabia no que a confirmação daquilo poderia me ajudar.

—Fazer? Que tal ligar de volta e ir atrás do que é seu?

—Ele não é meu... – minha voz era apenas um fiapo.

—Não? E você não quer que seja? – aquela conversa estava tomando rumos que não me agradavam nem um pouco, eu tinha conseguido finalmente me afastar o suficiente dele e em alguns segundos eu me sentia retrocedendo a mesma posição de antes.

—Não, não quero e pronto, vamos mudar de assunto. A comida está esfriando e viemos aqui para comemorar o seu aniversário e não falar de mim – o tom final, felizmente convenceu meu amigo de que não ia adiantar insistir.

Cheguei em casa após o término do nosso jantar cheia de dúvidas na minha cabeça. O turbilhão de sentimentos que eu tão inocentemente achava ter conseguido extinguir, retornou me mostrando que nada é assim tão fácil de esquecer. A ligação dele ainda reprisava na minha mente, será que o Ced estava realmente certo? Eu tinha um medo profundo de criar falsas expectativas, mas e se fosse verdade? Se fosse ciúme... mas a pergunta principal continuava, o que eu faço com isso?

As pessoas sentem ciúmes das coisas mais diversas, não necessariamente queria dizer que ele estava tendo as mesmas dúvidas que eu, e só o pensamento de perguntar isso a ele me aterrorizava de um modo que eu não me lembrava de nada mais conseguir, pois a resposta sempre poderia sem um sonoro não. A pior parte foi a crescente vontade que eu sentia de que o Ced não estivesse errado, o último pensamento que rondava a minha cabeça antes de eu finalmente pegar no sono, era que eu gostaria e muito, de que tudo fosse verdade.


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Notas finais do capítulo

É Mione, ainda não foi dessa vez que você conseguir se livrar do boy, três semanas de separação mas como negar quando ele liga todo tristinho?
O que vocês acharam dos momentos ciúmes do Ron? Ele não deve ter assistido feliz a Mione se divertindo com um cara lindo do lado, ainda menos quando liga e ela está ocupada. Mas a Mione também não gostou de ver que ele estava no bar.... tá ficando tudo meio complicado, né?
O que será que o Ron vai fazer depois dessa ligação?

Deixem comentários lindinhos, me digam se vocês gostaram dos mais novos acontecimentos :)

Bjus

Crossover: será que o Ron vai ficar impassível com essa ligação ou vai tentar descobrir mais algima coisa sobre o Ced? Acho que a Ginny vai receber algumas perguntas que o farão prestar muita atenção nas respostas. Descubram no capítulo de amanhã de DV (https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/)