Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Tudo o que tenho a dizer é: peguem seus lenços :)



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Eu não registrei nenhuma parte do caminho até chegar à porta do pronto socorro do hospital. Minha mente estava desconectada dos acontecimentos à minha volta, se focando apenas em me convencer de que tudo daria certo, tinha que dar certo! Porém, as tentativas estavam falhando uma atrás da outra, o medo e a ansiedade me envolvendo numa bolha que só deixava transparecer desespero. A essa altura da gravidez, eu já sabia todas as recomendações e informações sobre bebês, nascimento, desenvolvimento, não perdi tempo em ler o máximo que pude. Mesmo não chegando nem perto de ser uma expert, eu tinha em mente tudo que podia dar errado em um parto assim tão prematuro, e a impotência de não ter como mudar o que estava acontecendo apertava o meu peito, ajudando a dor e a culpa que já dificultavam a minha respiração.

Assim que o Ron estacionou, o Ced correu para abrir a porta do meu lado do carro, enquanto o meu marido entrou apressado pedindo ajuda. Em poucos segundos, uma enfermeira veio com uma cadeira de rodas onde, por algum passe de mágica, eu consegui sentar para ser levada para dentro. Olhei para trás e vi o Ron voltando para a porta, provavelmente para tirar o carro do caminho, mas eu não me sentia capaz de fazer aquilo sozinha, então chamei por ele.

—Ron! - estiquei a mão em sua direção, que acabou desistindo na hora de ir para longe.

—Estou aqui, amor - ele olhou para o Ced que estava do meu outro lado e deu a chave do carro na mão dele, que não precisou nem de explicação para saber o que deveria fazer.

Eu fui levada por vários corredores, a enfermeira andando o mais rápido possível e o Ron nos acompanhando ainda segurando a minha mão, que eu esmagava cada vez que uma contração me atingia. Ao chegar na sala onde eu ficaria, a enfermeira me fez trocar de roupa para o avental tradicional de hospitais e deitar na maca. Ela mediu minha pressão, fez os outros procedimentos necessários e saiu dizendo que o médico chegaria em breve para averiguar o caso. O problema é que eu não queria ninguém em breve, eu queria naquele exato momento.

—Respira, Mione, o médico já vem - o Ron passava a mão na minha testa tentando me acalmar, mas ao olhar para o rosto dele, eu consegui ver o quão nervoso ele também estava.

A porta se abriu de supetão, confirmando que a notícia da minha chegada ao hospital devia ter se espalhado, pois a minha cunhada entrou rapidamente.

—O que aconteceu? - ela se colocou ao lado do irmão, os olhos arregalados, naquele momento ela não era uma médica que via acidentes diariamente, era apenas uma tia preocupada.

—Ela começou a passar mal, a bolsa estourou - o Ron explicou.

A Ginny assentiu e foi checar o monitor que apitava do meu lado, provavelmente um reflexo.

—Estou totalmente fora da minha área, Mione, mas nosso melhor obstetra está de plantão hoje, vai dar tudo certo - ela me assegurou dando um meio sorriso.

—Mas é muito cedo… - eu consegui colocar para fora um dos meus medos.

—A equipe de neonatal vai cuidar direitinho da Rose, você vai ver.

O médico chegou poucos minutos depois, e após um exame, declarou que realmente a bolsa tinha estourado e não havia alternativa a não ser ter o bebê. Como seria um parto prematuro, a pediatra especializado já estava de prontidão para cuidar da Rose assim que ela nascesse. Ele disse que eu estava indo bem, mas teria que esperar mais um pouco até chegar realmente a hora e não descartou a possibilidade de fazer uma cesárea, caso levasse muito tempo.

Foram duas horas intermináveis de dor e apreensão. O Ron permaneceu ao meu lado, aguentando meus gritos, gemidos e lamúrias. A Ginny teve que sair para cuidar de uma emergência, mas prometeu voltar assim que desse e o Ced permaneceu do lado de fora, provavelmente andando de um lado para o outro se eu bem o conhecia. Quando o médico voltou dizendo que não havia mais espera, eu senti um misto de alívio hesitação, por um lado eu não via a hora de tudo aquilo terminar, por outro, eu sabia que o meu bebê não devia chegar ao mundo ainda.

Tudo aconteceu rápido demais, eu tive apenas um vislumbre de um bebê pequenininho antes que ela fosse levada pela pediatra para o centro neonatal. A dor tinha passado, mas o que ficou foi muito pior. O medo, desespero, de pensar que eu poderia nem conseguir segurar a minha Rose no colo por alguns instantes. Assim que as enfermeiras terminaram com tudo, o médico me falou que estava tudo bem comigo e que em breve receberíamos notícias do bebê. Eu e o Ron ficamos sozinhos no quarto, sem palavras apropriadas para o momento.

—Ela não chorou, Ron… nem um pouquinho.. eu não escutei nada - as lágrimas estavam novamente molhando o meu rosto.

—Foi muito rápido, amor, não deu tempo. Mas os médicos estão cuidando dela - ele soava tão confiante, que eu me deixei tranquilizar um pouco.

—Eu queria poder vê-la e… - aí que me dei conta de que ninguém mais sabia do nascimento repentino - meus pais, Ron! Eles não sabem..

—Vou ligar para eles agora e avisar - ele se afastou para pegar o celular, saindo do quarto para fazer a ligação, dando lugar ao Ced que entrou ficando ao meu lado.

—Oi, Mi - ele passou a mão pelos meus cabelos, e eu podia dizer com toda certeza de que nunca tinha visto o meu amigo tão sério.

—Você a viu, Ced? Viu quando ela saiu? - eu me sentia tão cansada, mas qualquer informação seria ótimo.

—Só por alguns segundos, eles passaram correndo por mim, mas pode ficar feliz que eu vi que a Rose tem os cabelos bem clarinhos, acho que vai puxar a ruivice do pai - ele tentou me animar.

—E se ela não ficar bem, Ced? - eu não tinha coragem de fazer essa pergunta para o Ron, não era nem justo com ele.

—Vamos esperar e ver o que os médicos dizem primeiro, nada de pânico ainda. Tudo o que você sabe, é que agora você tem uma menininha linda e perfeita para cuidar e se ela tiver metade da teimosia da mãe, não vai se render a nada.

—Espero que ela seja mais teimosa ainda, então…

O Ron voltou dizendo que meus pais pegariam o primeiro avião possível, chegavam provavelmente na madrugada do próximo dia. Não demorou muito mais para a porta se abrir novamente revelando a minha cunhada.

—Eu acabei de falar com a médica da Rose, de acordo com ela tudo está se encaminhando bem, temos só que aguardar.

Eu não sabia o que fazer com essas palavras. Aguardar? Como eu ia conseguir ficar apenas esperando sem enlouquecer de preocupação? O relatório da pediatra nos falou que ela tinha nascido bem pequenininha, não chegava a dois quilos, e por conta dos pulmões ainda não maduros, teria que ficar algum tempo no hospital. No entanto, de acordo com ela, a Rose não apresentava nenhum quadro grave, ou que necessitasse de intervenção, seria apenas uma corrida contra o tempo para que ela conseguisse se desenvolver aqui fora, o que ela deveria ter se desenvolvido ainda dentro da minha barriga.

—Quanto tempo ela vai ter que ficar aqui? - perguntei.

—Não tenho como prever isso, Sra Weasley, vai depender do desenvolvimento dela - a médica respondeu com gentileza.

—Eu posso vê-la?

—Infelizmente ela está numa área isolada no momento, e a Sra tem que ficar de repouso até amanhã, mas assim que der eu venho avisar - eu fiz mais algumas perguntas e ela se despediu antes de sair.

—Ela diz que a Rose está bem, mas… - eu nem tinha conseguido vê-la.

—Mas você queria olhar pra ela um pouquinho - a Ginny completou - espera aí que eu já resolvo isso - ela saiu sem dizer mais nada, nos deixando na expectativa.

—O que ela foi fazer? - o Ced perguntou.

—Provavelmente arrumar briga com alguém para ver a Rose - o Ron explicou com uma risada fraca.

Ele estava certo, e nem demorou muito para a minha cunhada voltar com notícias.

—Tive que dar uns gritos, mas consegui ver a Rose - ela se aproximou com um sorriso me estendendo o celular - e trouxe uma foto, foi o melhor que pude fazer.

—Obrigada, Gin - meu peito se encheu de gratidão pelo gesto, antes dos meus olhos se grudarem na tela.

O display mostrava um bebê tão pequenininho que a fralda, mesmo minúscula, ainda parecia grande. Ela realmente tinha os cabelos clarinhos, a pele vermelhinha, mãozinhas e pézinhos que pareciam pertencer a uma bonequinha. Era o meu bebê, a Rose, que estava ali, tentei ignorar os fios e tubos que a circulavam na encubadora, e me foquei em cada pedacinho dela.

—Ela é perfeita - sussurrei passando o dedo pela tela, como se ela pudesse de alguma forma sentir.

—É - o Ron concordou.

Eu não consegui pregar os olhos durante a noite, a preocupação era grande demais. O Ron ficou comigo, igualmente sem dormir. Assim que o dia amanheceu, não demorou muito para o médico aparecer e dizer que depois do almoço eu estava liberada para ir para casa.

—Eu não quero ir embora sem ela! - falei assim que ele saiu.

—Não dá pra ficar aqui, amor, mas você pode visitar todos os dias - ele tentou me acalmar.

Antes que eu fosse embora, tive algumas visitas, primeiro do Harry - que deu uma escapada do trabalho - e depois do Nick e da Alex, todos desejando votos de saúde para a Rose, e com a certeza de que ela logo estaria bem em casa. Quando chegou a hora de ir embora, eu recebi a notícia de que poderia vê-la por alguns minutos. A visita no centro neonatal era permitia apenas para uma pessoa, e o Ron nem discutiu, apenas disse para que eu fosse logo e falasse para a nossa filha que ele estava aguardando ansioso para conhecê-la.

É engraçado como achamos que sabemos o que é o amor, mas nada me preparou para o sentimento que me atingiu ao finalmente ver a Rose a poucos centímetros de mim. Por mais que eu não pudesse tocá-la, eu conseguia ver o subir e descer do peito dela, em cada esforço que ela fazia para respirar. Os olhinhos dela ainda permaneciam fechados, e eu me peguei imaginando de que cor seriam.

—Oi, meu amor, a mamãe está aqui - falei baixinho - eu e o seu pai te amamos muito e queremos você em casa conosco logo, então você tem que ser forte e ficar bem - eu pedi, sem conseguir impedir as lágrimas.

Claro que ela não ia me responder, mas eu a vi fazer um movimento mínimo, virando o rosto na direção em que eu estava. Por mim, eu não sairia mais dali até que a Rose pudesse vir comigo, mas não era permitido. As enfermeiras me disseram que o tempo tinha acabado, na tarde seguinte eu poderia voltar por alguns minutos.

—Tchau, querida, a mamãe volta amanhã. Durma bem.

O Ron me esperava na saída para me levar embora para casa. Ele me fez várias perguntas sobre a nossa filha durante o caminho, e eu respondi a todas. Nada mais natural do que estarmos com os ânimos baixos, então permanecemos o resto do caminho em silêncio. A recomendação do médico tinha sido de repouso por mais alguns dias, então o Ron foi comigo até o nosso quarto, me acomodando antes de sair dizendo que ia fazer algo para o nosso jantar, mesmo com os meus protestos dizendo que eu não tinha fome.

Eu tentei com afinco descansar, mas os meus pensamentos estavam numa pequena caixinha transparente no hospital. Não consegui permanecer na cama, e fui em busca do lugar que me colocava o mais perto possível dela. Sem fazer barulho, eu abri a porta do quarto que preparamos com todo o cuidado. Os móveis e os objetos, cada um em seu devido lugar. Me aproximei do berço, prendendo as minhas mãos na lateral, constatando que realmente estava vazio, apenas o pequeno travesseiro e os lençóis cor de rosa o ocupavam. Mais uma vez as lágrimas voltaram, será que algum dia eu pararia de chorar se a Rose não viesse para casa?

Escutei ao longe o Ron chamando por mim, até que a porta do quarto em que eu estava se abriu e ele se aproximou em silêncio, me envolvendo com seus braços, apoiando minhas costas em seu peito.

—Ela não está aqui, Ron... ela tinha que estar aqui - falei entre os soluços.

—Ela vai vir pra casa, amor, nossa menininha é forte.

—Mas ela é tão pequenininha…

—Ela só precisa de um tempinho para crescer, você vai ver - ele disse determinado, afagando os meus cabelos.

—Desculpa, amor - eu me virei para encará-lo, de algum modo eu tinha que dizer a ele o quanto eu sentia, a culpa ficava cada vez mais pesada.

—Pra que isso? - ele frisou as sobrancelhas confuso.

—É sua filha também, e eu estou aqui chorando e dando trabalho e… e a culpa é minha - levei a mão ao rosto, tentando enxugar as lágrimas.

—Pode parar com isso, Mione! Primeiro, não foi culpa sua, não estava ao seu controle, a médica explicou que isso acontece.

—Mas eu devia ter maneirado no trabalho e comido melhor e eu fiquei nervosa e...

—Amor, não é sua culpa - ele me abraçou me apertando contra seu peito - e quanto a chorar e dar trabalho, não se preocupe. eu enxugo todas as lágrimas e te abraço o quanto for preciso.

No dia seguinte, os meus pais chegaram e foi um conforto a mais tè-los ao meu lado, principalmente a minha mãe, que sentou na minha cama comigo e deitou a minha cabeça em seu colo me dizendo para chorar tudo o que eu precisasse.

—Pode chorar, querida, eu não vou sair daqui - eu me senti novamente uma menininha que só precisava do colo da mãe para saber que tudo ia dar certo e fiz como ela disse, esgotei o reservatório quase infinito de lágrimas, decidida a encarar os próximos dias com uma postura mais confiante, mesmo que eu soubesse que cada dia fosse ser uma batalha por si só.

Todas as tardes o Ron me levava ao hospital, e todos os dias eu passava alguns minutos com a Rose. Eu conversava com ela, sempre lembrando de que ela estava indo bem, e que todos a esperavam em casa. Ir embora era sempre a pior parte, e não adiantava o quanto as pessoas a minha volta dissessem que tudo se resolveria, eu sentia uma solidão que não dava para explicar. Era a falta daquele serzinho que dividiu cada minuto da minha vida pelos últimos meses, e que só passaria quando eu a tivesse comigo definitivamente.

As noites sempre terminavam com a esperança de que no próximo dia ela teria engordado mais, de que os sinais vitais estivessem mais fortes, um passo a mais em direção a nossa casa. Eu consegui evitar as lágrimas por uma boa parte daquela primeira semana, e o Ron se mantinha otimista, sempre ao meu lado. Ele cancelou a maior parte dos compromissos da empresa, e passava a maior parte do tempo tentando me distrair. Entretanto, nenhum poço de determinação ou esperança que eu tivesse, foi suficiente para segurar a desolação que foi chegar ao hospital e ouvir das enfermeiras que ao invés de ganhar peso, a minha menininha agora estava mais perto de pesar um quilo, do que os quase dois com os quais ela tinha nascido.

—Você quer segurá-la um pouco? - a enfermeira me perguntou.

Eu ainda estava anestesiada pelo choque da notícia ruim, porém as palavras lentamente foram sendo resgistradas no meu cérebro e eu acordei para a pergunta que me tinha sido feita.

—Não será um problema? - eu não arriscaria algo de ruim acontecer a Rose só porque eu estava morrendo de vontade de tê-la em meus braços há dias.

—Não, vai ser até bom para ela, vem sente aqui que eu vou pegá-la - a enfermeira me direcionou a uma poltrona que ficava no canto da sala.

Em poucos minutos ela voltou com o pequeno embrulho nas mãos, estendendo o meu bebê para que eu a pegasse em meus braços. Ela era tão leve, parecia quase feita de algodão em sua delicadeza e fragilidade. Acabei me emocionando ao sentir o calor do corpinho dela em meu peito, minhas mãos estavam trêmulas, e eu lutava ao máximo para não começar a chorar. O meu bebê estava finalmente em meus braços, mas as notícias do dia me deram - pela primeira vez - a real noção de que ela poderia não conseguir sobreviver. Aquilo estava me matando por dentro, ainda mais ao ver todo o esforço dela para conseguir colocar para dentro o pouquinho de ar que seus pulmões aguentavam, Ela estava sofrendo e isso conseguia ser o pior de tudo.

—A mamãe quer tanto que você fique boa, meu amor, e o papai também, que está doido para te conhecer - eu falei bem baixinho - você tem sido tão forte, todos esses dias… mas se estiver sendo muito difícil você pode ir - eu já nem tentava mais conter os meu soluços, só queria que ela soubesse que estava tudo bem, acontecesse o que acontecesse - a mamãe não quer te ver sofrendo, você pode descansar se precisar, mas saiba que eu e o papai te amamos muito.

A tendência do ser humano sempre seria ser egoísta, sempre iríamos querer para nós aquilo que desejávamos, e o que eu desejava era a minha filha comigo. Porém, mesmo tendo ganhado o título há poucos dias, era claro para mim, que as mães não se encaixavam nesse espectro. O sentimento de fazer o que fosse melhor para o meu bebê, sobrepujava qualquer necessidade que eu mesma tivesse, e por isso eu a tranquilizei dizendo que se a batalha estivesse impossível, ela podia ir. Porque eu aguentaria toda a dor do vazio que ela deixaria, antes de prolongar a dor dela por um minuto a mais do que o necessário.

A enfermeira veio buscá-la, e eu entreguei a Rose bem relutante, ainda mais com a ameaça de que a primeira vez que eu a segurei pudesse ser a última. Ela voltou para dentro da incubadora, e eu me aproximei.

—Eu não posso ficar mais um pouco? - eu vi a empatia nos olhos da mulher, que devia estar cansada de ver mães chorando, mas mesmo assim conseguia se sensibilizar - só mais uns minutinhos…

—Tudo bem, Sra Weasley, mais um minutinhos.

Eu agradeci em silêncio, e me coloquei a memorizar cada um dos traços da minha bonequinha. Ela permanecia imóvel, olhos fechados para o mundo que ela nem conhecia. Nem percebi o tempo passando, porém fui avisada que realmente precisava sair.

—Agora a Sra precisa ir mesmo - a enfermeira falou.

—Tudo bem - olhei de novo para a Rose - tchau, meu amor.

O Ron me encontrou aos prantos quando eu cheguei na área de espera onde ele me aguardava.

—O que foi, Mione? - ele pulou da cadeira e veio correndo ao meu encontro.

—Ai, Ron… ela não vai conseguir… - eu afundei o rosto no peito dele, que não se importou de ter a camiseta molhada pelas minhas lágrimas.

—Não fala assim, amor, ela vai ficar boa - ele me apertou contra si, a voz saindo num conforto frágil.

—Ela perdeu peso… está tão fraquinha, se você visse o tanto que ela se esforça só pra respirar - nessa hora eu escutei um soluço que não foi meu, o Ron se juntou a mim nas lágrimas - você devia ir vê-la amanhã.

—Não, amor… - eu sabia que ele insistia só por mim.

—Vai, Ron ela quer te conhecer também - eu insisti e ele acabou concordando.

Aquela noite, nós nem fizemos o teatro de ir para a cama, permanecemos no sofá, com medo de que o telefone tocasse a qualquer minuto para nos dar a pior notícia possível. Meus pais tiveram que voltar para a Austrália, e eu preferi não contar a eles como estava a situação, não precisava deixá-los agoniados quando, de tão longe, não havia nada que pudesse ser feito. Cada minuto que passava, sem que nada me dissesse que a Rose não respirava mais, eu via como uma pequena vitória. E no dia seguinte, foi a minha vez de esperar do lado de fora enquanto o Ron ia conhecer a filha.

Eu ansiava para que ele viesse me encontrar com um sorriso nos olhos, portador de boas notícias, mas foi com os ombros caídos e os olhos baixos que ele veio me abraçar.

—O quadro continua o mesmo, mas ela ainda está lutando, amor - pelo menos não era uma piora - ela é linda, não é?

—Sim, você a pegou no colo?

—Peguei, tão pequena… ela cabe nas minhas mãos, fiquei com medo de fazer alguma coisa errado.

—Claro que não ia fazer nada errado - eu o tranquilizei, e tomamos novamente o caminho conhecido para casa.

Eu sabia que a Ginny visitava a Rose todos os dias, e diariamente ela ligava para saber de nós e dar qualquer informação que ela tivesse. A tristeza e medo dos dias em que a Rose não apresentou nenhuma melhora foram sendo gradualmente substituídos por pequenos avanços que foram o suficiente para me encher novamente de esperanças. Na próxima semana, ela tinha conseguido recuperar todo o peso e de acordo com a médica e as enfermeiras, se continuasse assim, não demoraria muito tempo para que ela pudesse ir para casa.

Foi mais de um mês em idas e vindas diárias do hospital, até que eu finalmente escutei as palavras mágicas de que no dia seguinte, a Rose teria alta.

—Ouviu, Rose? Você vai para casa amanhã! - eu falei empolgada, com ela ainda nos meus braços.

—Vocês tem uma menina muito forte, agora podem preparar tudo que a Rose quer o quarto dela arrumado para amanhã - a enfermeira falou se despedindo de mim.

O sorriso imenso que eu tinha ao encontrar o Ron, foi indício o suficiente para que ele soubesse que dessa vez, eu trazia notícias boas.

—Ela vem pra casa amanhã! - falei animada pulando nos braços dele - a Ginny está aqui? Temos que avisar.

—Finalmente ela vai sair daqui - ele estava tão aliviado quanto eu.

Ele ligou no celular da irmã, que não demorou nem cinco minutos para veio ao nosso encontro.

—Qual é a notícia? Pelos sorrisos tem que ser boa!

—A Rose vai ter alta amanhã, Ginny! - contei, vendo um sorriso brotar nos lábios dela também,

—Que notícia ótima! Faço questão de acompanhar a saída dela, me chamem quando vocês estiverem aqui, por favor - nós concordamos - agora eu preciso ir, estão me chamando, e vou aproveitar para contar para o Harry.

Aquela foi a melhor noite que eu passei em semanas, não que eu tenha dormido, mas o meu sono foi impedido por animação e ansiedade, dessa vez. Ficamos horas nos assegurando de que o quarto da Rose estava perfeito. O Ced veio jantar conosco após o trabalho, tão feliz quanto nós ao saber que a afilhadinha dele estaria em casa em breve.

Foi um momento que mais parecia um sonho quando eu cruzei a porta do hospital com a minha filha nos braços. Ela continuava sendo um embrulho pequenininho, mas já tinha forças para seus ocasionais choros, e os olhos azuis já exploravam o mundo a sua volta. O quarto dela pareceu realmente perfeito pela primeira vez, pois agora, quando eu me aproximava do berço, não era um espaço vazio que eu encontrava.

Aqueles primeiros meses não foram fáceis. Ela precisava de mais cuidados do que os bebês maiores, e eu ainda lutava com o pouco leite que eu tinha, por mais que estivesse melhorando com o tempo. No entanto, nada me abalava, ela estava junto comigo e com o Ron, e nenhum tipo de dificuldade seria pior do que a espera interminável do hospital. Não era raro receber visitas da tia Ginny com o tio Harry - como ele já se intitulava - ou do tio Ced.

Aos poucos, o medo de iniciante foi passando, todas as minhas dúvidas foram tiradas pela minha mãe que, mesmo distante, estavam sempre disponível para me aconselhar e ajudar. O Ron voltou a ir regularmente para o escritório, e eu sabia que o tempo que me restava em casa não era grande. Contudo, quatro meses não seriam o suficiente para que eu tivesse coragem de me separar dela. Mesmo tendo crescido um bocado, depois de ir para casa, ainda mais depois de achar o apetite dela, a Rose ainda era delicada, e só de pensar em deixá-la nas mãos de outra pessoa, me dava calafrios.

Meus pais vieram nos visitar no natal, e passamos as festas do final de ano juntos, agradecendo principalmente que a Rose estava presente nas comemorações. Percebi durante esses dias, o avós corujas que meus pais eram. Assim como o Ron, e mesmo a Ginny, não podiam ouvir a menina nem gemer para tirá-la do carrinho onde ela estava. Eu só ria e balançava a cabeça com tanto mimo

Faltava apenas uma semana para que a minha licença maternidade original terminasse e eu decidi que - mesmo contra todas as possibilidades - eu ia tentar estender o prazo para mais dois meses, como eu sabia ser possível. Era o primeiro dia que eu deixaria a Rose em casa, ela ficaria com o Ron, mas mesmo assim foi um pequeno trauma.

—Pode ir amor, ela vai ficar bem, o papai vai ficar de olho nela, não é florzinha? - ele disse olhando em direção ao berço onde ela brincava com a chupeta.

—Eu sei que você vai cuidar bem dela, é só…

—Ficar longe, né? - eu assenti - vai ser rapidinho, e ela já prefere o papai mesmo… - ele brincou, e ganhou um tapa - brincadeira, brincadeira - ele levantou as mãos em defesa.

—Seu bobo - ri da cara levada dele, e finalmente tomei coragem de me despedir e ir ao escritório onde eu não botava o pé há meses.

—Oi, chefinha! Não é meio cedo para você aparecer por aqui? - o Ced me cumprimentou assim que eu parei na frente da mesa dele.

—A licença só acaba na semana que vem, mas eu vim tentar aumentar mais dois meses - expliquei.

—Vixe, só posso dizer: boa sorte com a bruxa - ele fez uma cara de desgosto - mas mudando para assuntos infinitamente mais agradáveis, como está a minha afilhadinha?

—Linda - eu respondi, tendo total consciência do sorriso bobo que eu esboçava.

—Claro que sim, ela puxou o tio! - eu revirei os olhos para o absurdo, mas ele continuou - ah, ela já usou o macacão lindo que eu comprei?

—Qual deles, Ced? - não eram poucas as peças de roupa que ele já tinha presenteado a Rose.

—O da semana passada.

—Ainda não deu tempo, mas prometo que na sua próxima visita ela estará lindinha com ele - prometi, fazendo-o feliz.

—Claro que ela fica uma gracinha com qualquer coisa, mas é melhor ser uma gracinha estilosa, certo? - de acordo com o Ron, a Rose era o bebê mais fashion que existia, mas como podia ser diferente?

—Completamente certo! Bom, deixa eu me apressar que tenho uma batalha pela frente, e não posso atrasar o horário da Rose de mamar.

—Boa sorte de novo, nunca é demais - eu agradeci e segui o caminho em direção a sala da Dolores.

Dei sorte dela não estar ocupada em nenhuma reunião, assim não tive que esperar para ser anunciada e entrar.

—Ah, olha quem resolveu dar o ar da graça - ela já começou com o tom ácido que nunca falhava em me tirar do sério.

—Bom dia, Dolores - eu seria o mais civilizada possível - eu ainda não voltei, minha licença é até a semana que vem, e é sobre isso que eu vim falar.

—O que você quer? Não tenho o dia todo - essa mulher tinha excelência na arte de ser desagradável.

—Eu vim pedir para aumentar a minha licença por mais dois meses, eu sei que é possível, e como você sabe, a Rose…

—Negativo! - ela nem me deixou terminar, batendo a mão na mesa - você ganha um salário bom demais para ficar em casa brincando de boneca enquanto tem uma montanha de obrigações te esperando aqui.

—O que? Brincando? É a minha filha! - pronto, eu já estava alterada.

—Que você pode muito bem colocar numa escola, contratar uma babá, isso não me interessa.

—Ela ainda precisa de cuidados especiais! E que eu saiba não vou poder trazê-la para cá - rebati. Como eu faria para alimentá-la nos vários horários que ela ainda precisava, se eu estivesse longe?

—Claro que não, que absurdo! - a cara horrorizada dela me deu mais raiva, mas eu ainda estava disposta a fazer isso funcionar.

—Então eu quero adiantar o meu mês de férias - sugeri.

—Fora de questão, você volta na semana que vem.

—Isso é um direito meu! - argumentei levantando a voz.

—Apenas se eu autorizar, e eu não autorizo. Tem muita coisa que já esperou tempo demais pela senhora aqui - eu abri a boca para argumentar mais uma vez, porém ela foi mais rápida - você vai estar na sua sala trabalhando na semana que vem, Sra Weasley, isso não está em debate.

Eu sabia que não seria fácil conseguir o que quer que fosse dessa mulher, mas não imaginei uma pessoa que conseguisse ser tão sem coração. Aquilo me irritou tanto, que eu não me importei mais com nada, a minha filha era muito mais importante do que aquela empresa.

—Pois faça o favor de engolir todo esse trabalho que está me esperando, porque se depender de mim ele vai continuar assim!

—O que? - ela arregalou os olhos com o insulto.

—Você ouviu muito bem! Se o meu salário é grande demais para eu poder ter mais dois meses de licença, pode ficar com ele, e boa sorte contratando outra pessoa, meu cargo está oficialmente a disposição.

—Você não pode fazer isso! - ela se levantou nervosa.

—Esse é um assunto que eu tenho certeza de que você não pode opinar, e quer saber? Eu deveria ter feito isso muito antes! Porque só loucos para quererem trabalhar com uma pessoa como você, que não consegue entender um conceito tão simples quanto gentileza.

—Você não pode sair sem deixar alguém no seu lugar, isso é um absurdo!

—Não só posso, como vou! E como eu disse antes, boa sorte, se depender de mim, todo mundo do ramo vai saber a bruxa que você é, com certeza o número de interessados no cargo vai diminuir bastante - a loucura da minha ação ainda se transmitia como adrenalina nas minhas veias.

—Volte aqui! - ela gritou quando eu estava quase na porta.

—Para minha sorte, você não é mais minha chefe, pode gritar o quanto quiser.

Eu saí sem esperar por uma resposta, exultante por deixar aquela vaca com cara de desespero para trás. O Ced me olhou com uma cara desconfiada quando eu cheguei perto da mesa dele. Eu não sabia se estava brava ou feliz com o que aconteceu, mas minha cara com certeza era determinada.

—Conseguiu, chefinha? Seus dois meses? - ele perguntei.

—Oh se consegui, consegui inclusive muito mais do que isso! Vou no Rh assinar a minha carta de alforria e já volto - deixei um Ced boquiaberto me esperando e fui a passos largos para o departamento que tratava dos recursos humanos.

Não perdi tempo nenhum com enrolações, fui direto ao ponto dizendo que estava me demitindo. A primeira reação por parte do responsável foi de surpresa, mas assim que eu confirmei mais uma vez o meu desejo, ele se conformou, e se colocou a fazer o seu trabalho. Fiquei muito satisfeita ao sair de lá pouco mais de meia hora depois, com os papéis devidamente assinados. Claro que eu ainda precisaria comparecer ao escritório para tratar de alguns procedimentos administrativos pendentes, porém o mais importante já estava feito. Eu não trabalhava mais para aquela descompensada.

Ao sair da sala do Rh, parecia que o simples ato de andar saia mais facilmente, tamanho era o meu alívio. Era bem provável que, assim que a euforia passasse, a loucura da decisão impensada viesse me assombrar, mas no momento nada apagaria o meu sorriso. Voltei até chegar de novo na mesa do Ced, que veio quase pulando ao  meu encontro.

—Agora me explica direito isso! - ele exigiu.

—A vaca disse não e eu disse tchau - simples assim, não precisava de mais explicação do que isso.

—Mi! Vitória! Deixou a bruxonilda no chão, queria ter visto a cara de desesperada dela - ele estava triunfante, parecia que tinha sido ele a ganhar um prêmio disputado.

—Posso te dizer em primeira mão que foi ótimo de ver.

—E você vai fazer o que agora?

—Não sei, Ced… alguma coisa - era melhor não pensar muito nisso naquele instante, eu não queria que a sensação de realização me deixasse tão cedo.

—Ei, pera aí! E eu? - de repente ele me olhou horrorizado.

—O que tem você, Ced?

—Como eu vou ficar aqui sozinho?

—Você conhece todo mundo aqui, nunca vai estar sozinho - eu o tranquilizei, e era a verdade, a empresa era cheia de pessoas competentes, ele não teria problema em ser realocado.

—Ah, não! Nem vem com essa! - ele sacudiu a cabeça.

—Se você quiser, eu te levo junto, só não sei pra onde… - eu tinha alguns planos pouco delineados em mente, e se qualquer um desse certo, eu não desejaria nada mais do que trabalhar com o meu melhor amigo.

—Não tem problema, eu vou! - a confiança em seus olhos confirmou mais uma vez o bom amigo que eu tinha.

—Obrigada, Ced! Mas dá uma esperada antes de pedir as contas, vamos ver como ficam as coisas - eu pedi, não queria ser a responsável por deixá-lo sem emprego.

—Já vou comprar uma caneta super luxo só para assinar a minha demissão - ele zombou.

—Vai ser a demissão mais estilosa da história da empresa - brinquei  - nossa, me demorei mais do que devia, tenho que ir, está quase na hora do mama da Rose.

—Tá bom, voltamos a esse assunto mais tarde, dá uns beijinhos nela por mim - ele se despediu de mim com um sorriso contente no rosto.

O caminho para casa já foi acalmando a minha mente, que sai do escritório girando sem parar. Aquele tipo de coisa não combinava nem um pouco comigo, eu tinha gritado com a minha chefe, falado um monte de coisas e pedido demissão! Depois de anos e anos trabalhando, eu não tinha um emprego e essa noção me deixava assustada e animada em partes iguais. Abri a porta de casa e encontrei o Ron esticado no sofá assistindo a um filme de desenho, enquanto a Rose dormia tranquilamente deitada em seu peito. Era uma cena tão bonita de se ver, que o sorriso chegou antes que eu pudesse perceber.

—Oi, amor - ele falou baixinho - você demorou.

—Tive uns contratempos - expliquei, me abaixando até o rosto dele para lhe dar um beijo - inclusive fiz um loucura.

—Que tipo de loucura? - ele me olhou preocupado e ao notar o meu olhar fixado na nossa filha que dormia se apressou a dizer - ah, ela não estava muito contente no carrinho, quis um pouquinho de companhia.

A Rose estava muito acostumada a ficar no nosso colo, era a maneira na qual ela sempre dormia. Sabíamos que a tínhamos acostumado mal, porém foi impossível evitar querer o máximo de contato possível. Estávamos tentando quebrar esse hábito, mas se provou mais difícil do que parecia, tanto para ela quanto para nós.

—Foi a Rose ou o pai que queria companhia? - eu provoquei.

—Um pouquinho de cada - ele confessou com um olhar maroto, se sentando com cuidado para não acordá-la - vou colocá-la no berço pra você me contar essa história de locura direito.

—Tudo bem - enquanto ele foi acomodar a nossa filha no quarto dela, eu fui rapidinho no quarto trocar as minhas roupas para uma escolha mais confortável. Estava acabando de colocar a última peça quando o Ron entrou.

—Então, me conta que loucura a minha esposa fez? - ele me abraçou pelas costas, dando um beijo no meu ombro.

Me virei de frente para ele, querendo ver bem sua reação quando eu contasse, não tinha jeito sutil de fazê-lo.

—Eu me demiti! - com certeza não era o que ele esperava, dado o tamanho que seus olhos assumiram.

—Demitiu do tipo não trabalho mais para aquela vaca horrorosa?

—Exatamente - assenti com a cabeça.

—Nunca pensei que fosse dizer isso na vida numa situação dessas, mas parabéns, amor! - acabei rindo daquela reação - como você está se sentindo?

—Aliviada, feliz, assustada… não sei bem o que fazer agora...

—Você tirou um monte de estresse da cabeça, com a sua competência, não precisa ficar num trabalho assim.

—O pior é que eu amava o trabalho, mas a Dolores…

—Com uma chefe daquelas, não tem jeito. Acho melhor você virar sua chefe logo - ele disse animado.

—Você acha? - eu já tinha comentado com ele, o desejo que eu tinha de futuramente abrir um negócio próprio, o que me faltava era aquela última pontada de confiança de que daria certo.

—Claro, amor! Você vive recebendo ligações para trabalhos depois que fez aquele vestido no ano passado, só falta você aceitar.

—Não é só isso, Ron, envolve ter um lugar, e toda a burocracia e eu sozinha…

—Pensei que o Ced ia embarcar nessa com você - ele disse surpreso.

—Ah, disso eu não tenho dúvidas.

—Então já são dois, a princípio não precisa de mais. Quando eu abri a minha empresa, éramos só três - ele continuou a me incentivar - e para começar, você podia usar o seu apartamente como escritório, tem bastante espaço, é só reformular um pouco os ambientes que você tem um ateliê.

—Até que não é uma má idéia - pensando daquela maneira, as minhas ideias começaram a se encaixar.

Para começar a empresa que eu sempre sonhei, não precisaria ter um ponto num lugar comercial extremamente caro. Era uma empreitada por rumos desconhecidos, então fazia sentido iniciar aos poucos. Ainda teria a vantagem de poder arrumar o quarto de modo que eu pudesse levar a Rose comigo se precisasse. Fiquei animada bem depressa, já colocando a cabeça para funcionar.

—Esse sorriso me diz que você já está pensando em tudo - o Ron falou, passando os dedos pela minha bochecha.

—Estou empolgada!

—Ótimo, adoro te ver assim - ele estalou um beijo rápido nos meus lábios.

—Espera até eu contar a ideia para o Ced, aí você vai ver o que é empolgação.

—Eu acho que se sobrevivi ao planejamento inteiro do nosso casamento, não me surpreendo mais com nada - ele zombou, e eu ri ao lembrar da diversão que foi aquele período - vai lá ligar pra ele.

Corri para buscar o meu celular, e quase ri quando ele me atendeu no primeiro toque, o danado devia estar esperando com o celular na mão.

—Já decidiu? - não ganhei nem um oi.

—Vamos abrir nosso ateliê, o que acha? - a pergunta foi mera formalidade, pois eu sabia que ele ficaria tão empolgado quanto eu.

—Acho ótimo! Poxa, só tem um problema…

—Qual? - perguntei preocupada.

—Não vai dar tempo de ir comprar a caneta linda para a minha demissão - ele zombou.

—Ced! E eu achando que era algo sério! Vai logo se livrar desse lugar que nós temos muito o que fazer - claro que ele não precisou de mais incentivo.

—Vou direto aí assim que terminar com tudo aqui.

Desliguei o telefone e fui avisar ao Ron que teríamos companhia para a refeição, o que ele respondeu já ter imaginado, tanto que contou mais uma pessoa para fazer a comida. Eu me derretia toda com esse tipo de atenção que ele tinha. Escutei o choro baixinho da Rose, ela provavelmente tinha acordado com fome. Entrei no quarto dela, pegando-a do berço.

—Oi, meu amor, está com fome, não é? - eu me sentei na poltrona e a ajeitei em meus braços, oferecendo-lhe o seio que ela capturou com ansiedade.

Eu acariciei seus cabelos, cada dia mais parecidos com os do pai, e deixei o sentimento de felicidade me invadir, ela estava bem e eu não tinha um trabalho exaustivo que me separaria dela para o qual voltar.

—A mamãe não vai precisar ficar longe de você - falei baixinho, enquanto a mãozinha dela brincava com os botões da minha blusa.

—O que os meus dois amores estão conversando? - o Ron entrou no quarto, se apoiando no braço da poltrona, a Rose era praticamente o nosso imã, onde ela estava, nós não demorávamos muito a aparecer.

—Só estava contando para a Rose as novidades - expliquei sorrindo.

Todos ficaram felizes com a notícia do novo negócio que eu e o Ced abriríamos. Foi uma bela correria para conseguir colocar tudo em ordem o mais rápido possível, mas no fim, adoramos o resultado. A Rose ia comigo todas as vezes que tinha algum horário marcado com clientes, e ficava tranquilamente no quarto que foi arrumado para ela. O que não acontecia nos dias que a Gin não estava trabalhando. Bastava saber que a sobrinha estava no apartamento ao lado, que a tia coruja ia buscá-la para passar o tarde com ela. Eu adorava o carinho que ela tinha pela Rose, e ficava tranquila sabendo que tinha alguém em que eu confiava olhando a minha pequena.

Meus pais anunciaram uma visita assim que abrimos o ateliê, além de tudo eles estavam morrendo de saudade da neta, que tinham visto apenas uma vez depois que ela saiu do hospital. Era uma cena comum, banal: colocar um bebê na cadeirinha do carro, e me acomodar ao lado do Ron para ir até o aeroporto buscar os meus pais, mas para mim era muito mais do que isso. Meus pais não estavam a cinco minutos de distância, então cada visita era um acontecimento. E toda vez que eu me lembrava o quanto tinha sido difícil encarar cada um dos dias em que a vida da Rose não era uma garantia, só tornava mais fácil ver a felicidade em cada detalhe simples, nem que fosse o de poder dar um passeio de carro escutando as risadinhas de bebê que vinham do banco de trás.

Quando eu parava para pensar que há meros cinco anos a minha vida era completamente diferente, todas as mudanças fantásticas e emocionantes apenas me deixavam ansiosas para os próximos cinco, ou dez, ou vinte. Pois eu tinha certeza de que com os  meus amigos, minha família, o Ron ao meu lado e o sorriso da nossa filha a fazer os nossos dias mais felizes, o futuro só poderia reservar coisas boas.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam do capítulo? Eu confesso que foi uma montanha russa emocional para mim, chorei escrevendo, depois chorei de novo revisando e se eu ler mais uma vez, é capaz de chorar de novo! E olha que eu nunca choro! ahuahauha
Não deixem de comentar com todas as suas opiniões :)

Eu nem acredito que Backstage chegou ao fim! É isso mesmo! Minha primeira história finalizada, e é com um misto de alegria, tristeza, choque e saudade que eu agradeço a todos que acompanharam cada momento do Ron e da Mione e chegaram até aqui. Foi uma experiência muito divertida e as palavras de incentivo, os comentários e recomendações me inspiraram muito a continuar.

Não podia deixar de dar um agradecimento especial para a Paulinha (Pauliha Almeida) que me presenteou com esses personagens maravilhosos, num mundo que eu amo, a Gi (LEvans) e a Cella (Cella Black) que aturaram todas as minhas dúvidas e perguntas, sempre me apoiando, sozinha eu com certeza não teria conseguido. Obrigada, meninas! Vocês são as melhores consultoras VIPs do mundo!

A história acabou mas eu ainda tenho mais uma surpresinha pra vocês programada para a semana que vem, um bônus que é muito amorzinho, escrevi há bastante tempo e quero compartilhar para que vocês conheçam um pouco mais de uma parte da história que não foi explorado com tanta profundidade durante o enredo principal, espero vocês lá!

Por último, a minha nova história chamada All of me (https://fanfiction.com.br/historia/715255/All_of_me/) já está com o primeiro capítulo postado. Já está quase terminada, então podem se tranquilizar que as postagens serão periódicas. Pra quem não sabe ainda, é uma história Scrose, minha primeira tentativa nesse casal. Deem uma chance para o lindo e apaixonante do Scorpius, prometo que ele vai tentar ao máximo conquistar o coração de vocês.

Bjus



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