Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Olá, olha o capítulo chegando cedinho! Isso tudo é ansiedade para saber o que vocês vão achar hauhauahuah

Mas primeiro eu quero contar para vocês que eu postei o primeiro capítulo da minha nova fic, chamada All of me! Dessa vez é sobre o Scorpius e a Rose, pelos quais eu me apaixonei depois de ler A criança amaldiçoada. É a minha versão de como seria a história deles. Deem uma chance para esse casal, e me contem o que acharam.
https://fanfiction.com.br/historia/715255/All_of_me/

Espero que gostem :)



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Nem pensei muito em qual shopping eu iria, eu estava tão agitada e ansiosa que me dirigi ao mais perto. Atravessei os corredores procurando por alguma loja que vendesse coisas de bebê. Porém, eu não queria apenas uma roupinha para dar de presente, minha ideia era que fosse algo mais especial, então não foi na primeira loja que eu encontrei. No terceiro estabelecimento que eu entrei, uma atendente simpática veio me ajudar assim que eu comecei a bisbilhotar por entre os itens pendurados. Cada peça era mais bonitnha do que a outra, e eu tive que me segurar para não comprar várias delas, eu não estava li para isso.

—Posso ajudar? - ela sorriu em minha direção.

—Sim, estou procurando um presentinho - respondi sem conseguir conter a minha animação.

—É menino ou menina?

—Ainda não sabemos, o presente é para o pai - expliquei.

—Ah, entendi! Então um papai sortudo vai receber uma notícia hoje?

—Sim - confirmei.

—Temos várias opções de macacões com frases e figuras, ou acessórios, venha por aqui que eu te mostro todos.

A vendedora colocou na minha frente uma pequena montanha de roupinhas que diziam frases divertidas como “o papai sabe muito, mas a mamãe sabe tudo”. Foi engraçado averiguar todos os modelos, já que eu tinha chegado a conclusão de que aquele seria um bom presente. Depois de vários minutos, selecionei o que eu tinha gostado mais e pedi para que fosse embrulhado numa embalagem pequena e discreta que não denunciasse de onde o item vinha, pois não teria a mesma graça se ele já desconfiasse de cara.

Cheguei em casa com tempo de sobra para respirar fundo e me arrumar antes do jantar. Eu já sentia a empolgação e o medo em relação ao que o futuro reservaria. Por um lado, uma criança seria completar o amor que eu e o Ron tínhamos um pelo outro, mas era impossível não ficar apreensiva em pensar que dentro de poucos meses, haveria um ser humano que dependeria de nós para tudo, e que era nossa responsabilidade assegurar que ele, ou ela, fosse saudável, amado e feliz.

Tudo aconteceu tão rápido, não tive nem dias de desconfiança antes de estar com o resultado escancarado nos meus olhos, então de alguma forma, ainda me parecia meio surreal. Entretanto, quando fui tomar banho, foi impossível não prestar mais atenção à minha barriga, tentando ver os sinais de que ali dentro tinha o nosso bebê crescendo. Devia ser mesmo verdade que as mulheres ficavam mais sensíveis quando grávidas, pois eu senti novamente vontade de chorar, mas consegui segurar as lágrimas, que - mesmo sendo de felicidade - não tinham motivos de existir.

O Ron me mandou o endereço do restaurante onde me encontraria, e eu vi que era um restaurante bem elegante, que aliás eu adorava. Achei um pouco de graça ele ter escolhido um lugar que geralmente só íamos em ocasiões especiais, mesmo sem saber que aquela era uma. Levei um bom tempo selecionando o que vestiria, já que aquele local, requeria um pouco mais de pompa. Por fim, escolhi um vestido rosé de corte elegante, combinando-os com os sapatos de salto na cor certa e escolhendo uma bolsa que combinasse, além de ter tamanho suficiente para poder esconder o presente que eu daria ao Ron.

Eu estava ansiosa demais para esperar depois que fiquei pronta, então as 19:30 entrei no taxi que me levou até o restaurante. Acabei chegando alguns minutos mais cedo, mas o Ron já estava lá, o que quase me fez rir, até parecia que ele estava mais ansioso ainda. Sorri ao vê-lo todo bem vestido, ainda mais com aquela camisa azul escuro que eu adorava. A mesa que ele escolheu ficava em um dos cantos, dando um ar um pouco mais íntimo ao local, o que também seria muito bom para a notícia que eu tinha que dar, já que ficaríamos mais afastados dos olhos alheios.

Ele se levantou e sorriu ao me ver chegando e eu aceitei o abraço e o beijo que ele me estendeu, me segurando para não contar de uma vez só, eu queria que fosse especial.

—Você chegou cedo, amor - ele falou assim que voltou a se sentar de frente para mim.

—Posso dizer o mesmo de você… - foi impressão minha ou ele pareceu sem graça? Achei aquilo um pouco estranho, mas logo tirei da cabeça.

—Ah… é que… eu não queria correr o risco de perder a reserva, sabe como aqui é disputado - ele explicou se embolando um pouco.

—Sei, na verdade é até bem impressionante você ter conseguido uma - falei admirada.

—Eu também não acreditei quando liguei e me disseram que ainda não estavam lotados para hoje, destino, não? - ele esticou a mão para pegar a minha que estava apoiada sobre a mesa.

Eu abri a boca para responder, mas o garçom encerrou a conversa ao nos entregar o menu. Levei um tempo avaliando os pratos, com medo de que algo me desse enjoo como no almoço. Optei por uma refeição mais leve, cruzando os dedos para que o resultado fosse bom. Decidi esperar até termos terminado de comer para dar a notícia, mas não foi uma tarefa fácil. A cada novo tópico que entrava na nossa conversa, minha mente vagava para a realidade que seria depois que nosso bebê estivesse conosco, mas mesmo assim me mantive firme na decisão. O Ron parecia de alguma forma distraído, me espiando pelo cantos dos olhos de tempos em tempos, porém eu sabia que era impossível que ele sequer desconfiasse do que eu tinha a dizer, então não me preocupei.

Nossos pratos foram retirados e eu sabia que a hora tinha chegado. Senti uma onda de nervosismo, por mais que eu estivesse muito confiante de que a reação dele seria positiva, sempre ficaria aquela pequena dúvida no fundo dos pensamentos, de que talvez não fosse bem assim. O Ron passava os olhos pelo menu de sobremesa, por mais que parecesse que ele não estava olhando atentamente para nada.

—Amor, tenho um presentinho pra você - chamei a atenção dele ao puxar o pequeno embrulho da bolsa.

—Pra mim? Meu aniversário foi no mês passado - ele brincou, aceitando o item.

—Eu sei, só achei a sua cara quando vi na loja, é só um presentinho - expliquei fazendo todo o esforço do mundo para manter o meu rosto sereno, impedindo o sorriso imenso que queria surgir.

Ele abriu a embalagem sem nenhuma pressa, quando puxou conteúdo de dentro, vi as sobrancelhas dele se juntando, claramente não entendendo nada. Então ele abriu o tecido pequeno e eu prendi a respiração. Foi possível ver todas as emoções dele retratada pelo olhar ao dar de cara com as palavras “eu amo o meu papai”. Primeiro veio uma ligeira confusão, mas o arregalar de olhos me indicou exatamente quando o significado da frase fez sentido. Ele ainda tinha as mãos no ar segurando o macacãozinho quando buscou o meu rosto, e esse foi o instante em que eu não consegui mais conter o sorriso, pois ele me olhava com um espanto em êxtase, esperando apenas uma confirmação minha.

As palavras ficaram difíceis de serem encontradas, então eu apenas assenti com a cabeça. Ele fechou os olhos, mas não conseguiu evitar as lágrimas que caiam soltas pelo seu rosto. Sem nem perder tempo em tentar enxugá-las, ele levantou e eu fiz o mesmo, apenas para ser envolvida num abraço emocionado. Ele me apertou contra si, o rosto escondido no meu pescoço, e eu sentia cada um dos soluços dele, agora já acompanhado das minhas próprias lágrimas. Naquele instante, eu realmente esqueci que estávamos num restaurante, e que possivelmente várias pessoas nos olhavam sem entender nada. O importante era a sensação dos nossos corações igualmente acelerados com a notícia que mudaria as nossas vidas para sempre.

—Nós vamos ter um bebê! - ele conseguiu falar mesmo com a voz entrecortada.

—Vamos - concordei ainda abraçada a ele - você está feliz? - era bem evidente para mim, mas por algum motivo eu precisava ouvi-lo dizer.

—Feliz? - ele se endireitou para conseguir me olhar - feliz não começa nem descrever, amor - com a mão no meu rosto, ele me deu um beijo apaixonado - eu te amo, sabia? Você e o nosso bebê - o olhar apaixonado que eu recebi, foi o suficiente para me transformar quase numa gelatina.

—Eu também te amo, Ron - susurrei - e o nosso bebê também.

—Eu tenho um milhão de perguntas, podemos ir embora? - agora eu via ansiedade naquela declaração.

—Você não quer sobremesa? - brinquei. A verdade era que eu não queria comer mais nada também, apenas passar as próximas horas falando sobre tudo o que viria pela frente.

—Não, eu quero ir pra casa para poder escutar todas as respostas agarradinho a você - não precisava de mais nenhum convencimento.

—Então vamos - em tempo recorde, a conta chegou, foi paga e nós percorremos o caminho até a casa dele

No trajeto, ele me perguntou sobre como e quando eu tinha descoberto, e eu relatei toda a história do almoço, e do Ced sendo o Ced ao chegar sempre às conclusões certas. O mais engraçado foi que de tudo o que eu disse, a primeira coisa que o Ron se ateu foi me dar sua própria bronca por não estar comendo direito.

—Concordo totalmente com o Ced, onde já se viu não comer direito? Não é nem porque você estar grávida, isso pode te fazer mal em qualquer situação, amor.

—Eu sei, eu sei… - concedi - vou prestar mais atenção.

Assim que chegamos, trocamos de roupa para algo mais confortável e ele se acomodou sentado na cama, me chamando para me juntar a ele. Me sentei entre as pernas dele, de modo a apoiar as costas em seu peito. Por alguns instantes ficamos em silêncio, absorvendo apenas a proximidade, os braços dele me envolviam, as mãos vindo pousar - junto com as minhas - na minha barriga.

—Você está assustado? - perguntei por fim.

—Um pouco - ele confessou.

—Eu também.

—Mas de um jeito gostoso - ele continuou - a verdade é que…

—Que? - eu queria saber o que se passava na cabeça dele, então o incentivei a continuar, escutei-o suspirar antes de falar novamente.

—Quando eu me vi sozinho todos aqueles anos atrás, eu pensei que tudo tinha ido embora junto com ela… o amor que eu tinha, a promessa de um futuro e a esperança de ter uma família pra mim e para a Ginny.

A voz dele tinha notas tristes que me davam a certeza de que ele estava recordando daquele período difícil da vida.

—Oh, amor, não precisa continuar - enlacei os dedos dele nos meus, tentando transmitir o meu apoio.

—Não, eu quero falar - ele deu um beijo na minha bochecha e continuou - eu achava que a minha família ia ser pra sempre eu e a Ginny, qualquer possibilidade de adição, seria apenas por parte dela, mas aí você apareceu… - os braços dele me apertaram um pouco mais para junto de si - você é pra Ginny a irmã que ela nunca teve, e pra mim, tudo o que eu achei que nunca teria. Então pode ser com um susto, pode ser com o medo de não saber muito bem se eu vou ser um bom pai ou não… nada disso importa porque é a nossa família, e eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo.

As palavras dele encheram o meu coração e foi impossível que não transbordasse pelos meus olhos. Me virei ligeiramente para conseguir enxergar o rosto dele. Senti os seus dedos secando as minhas lágrimas e eu o puxei para beijá-lo, uma carícia delicada e suficiente para transmitir os meus sentimentos.

—Acho que você vai ter que se acostumar com algumas lágrimas pelos próximos meses - brinquei, ao me afastar.

—Não tem problema, posso passar a andar sempre com um lenço - ele riu e eu me juntei a ele.

—E agora, por onde começamos? - eu não queria esperar nem um momento para iniciar todas as decisões que teríamos que tomar - temos muitas coisas a decidir…

—Muitas… - ele concordou.

—Primeiro eu vou marcar logo uma consulta para essa semana, isso tem prioridade.

—Claro, me fala o horário que eu quero ir junto - ele pediu e eu concordei - já podemos contar? - eu sabia que ele estava falando da irmã.

—Sim, estou animada para contar para todos, a Ginny, meu pais...- o pensamento de que eu teria que dizer aos meus pais que eles seriam avós pelo telefone, acabou me deixando um pouco triste, o que eu não consegui tirar da minha voz.

—Por que nós não vemos se dá para ir até lá contar a eles? - ele sugeriu.

—Sério? - o sorriso já estava imenso no meu rosto.

—Seus pais vão ficar muito feliz, amor, e depois vai ficar mais difícil de ir com o bebê pequeno.

—Vou arrumar uma folga então! Obrigada, Ron.

—Minha mãe estaria pirando... - ele falou bem humorado.

—E a Ginny? - perguntei curiosa, afinal de um jeito ou de outro, ela era a primeira filha dele.

—Ela vai pirar também, talvez por outros motivos no começo, mas você vai ver que ela vai ser a maior tia babona.

—Vai ser engraçado de ver! - comentei me divertindo - será menino ou menina?

—Isso é o que menos importa.

—Também acho - concordei.

—Mas eu acho que vai ser menina - ele disse convicto.

—Nossa, quanta certeza!

—E ela vai ser linda igual a mãe - ele beijou o meu ombro.

—Espero que ela tenha os cabelos ruivos do pai, de acordo com a minha mãe, vão ficar lindos nos netos dela.

—Ela disse isso? - ele riu.

—Disse, quando estávamos lá - expliquei - nomes! Precisamos de nomes.

—Mas já?

—Quero saber o nome do bebê assim que descobrirmos o sexo - argumentei.

—Tudo bem, vamos lá… que nomes você gosta? Pode começar com os de menina, porque é o que vamos usar - ele brincou.

Começamos um debate onde vários nomes foram sugeridos e descartados, até que chegamos a dois finalistas.

—Rose e Hugo - falei saboreando os nomes.

—Já que a Rose chega em breve, depois vamos ter que providenciar o Hugo - ele brincou.

—Uma coisa de cada vez, amor.

—Não dá pra perder nomes tão bonitos… - ele deu de ombros.

—Estou animada para saber logo se é a Rose ou o Hugo, tenho um guarda roupa inteiro pra comprar! - só de pensar nas várias roupinhas lindas, eu me sentia empolgada.

—Já to vendo que essa criança vai ter mais roupas do que vai conseguir usar - eu torci o nariz para a brincadeira.

—É só o necessário…

—Amor? - ele me chamou depois de alguns instantes calado.

—Uhm…

—Você sabe que eu não vou querer ficar mais longe de você, não sabe? Quero estar presente em todos os momentos.

—Isso é uma enrolação para dizer que devemos morar juntos? - eu me virei, sentando de frente para ele.

—O bebê precisa de um quarto, e assim eu posso te ajudar com qualquer coisa que precisar, e eu vou ficar preocupado e… - ele começou a tagarelar, o que já me dizia que ele estava nervoso.

—Ron - eu peguei a mão dele na minha, interrompendo o fluxo de palavras - por que você não faz a pergunta? - indaguei num tom divertido, ainda mais ao ver o alívio percorrendo o rosto dele.

—Mione, você quer vir morar comigo? - o olhar esperançoso por si só já teria me feito sorrir.

—Claro que sim - respondi sem rodeios - mas já vou dizendo que eu ocupo bastante espaço.

—Isso pode a gente dá um jeito, pode colocar quantos armários você quiser aqui no quarto.

—Ainda bem que tem espaço sobrando, sempre achei mal aproveitado - brinquei.

—E pra que eu ia precisar de mais armários? - ele se defendeu - eu nem te conhecia quando comprei a casa...

—Ótima resposta - sorri, me inclinando para dar um selinho nos lábios dele.

—E temos que arrumar o quarto da Rose também - ele continuou.

—Amor, não fica chamando assim, porque se for o Hugo ele não vai gostar - repreendi - o quarto dela vai ter que ficar no lugar do da Ginny…

—A Ginny não vai se importar, amor. Talvez um pouquinho, mas aposto que depois ainda vai fazer pouco de todos porque ela que vai poder dormir com a Rose quando vier pra cá - ele tentou me tranquilizar, e eu desisti de chamar atenção pelo nome.

—Eu sei, só não quero que ela pense nunca que qualquer coisa está ocupando o lugar dela....

—Claro que não está. Vou te dizer exatamente o que vai acontecer, a Ginny vai ficar surpresa e desconcertada quando ficar sabendo que vai ser tia, e sim ela é ciumenta, mas ela também nos ama, então eu sei que não vai demorar nem uma semana para ela já querer acompanhar em todas as expedições para comprar coisinhas de bebê.

—Ela vai ser uma ótima tia - eu não tinha nenhuma dúvida na minha mente de que fosse verdade.

No dia seguinte, o Ced quis saber tudo e mais um pouco sobre como foi a reação do Ron. Ele ficou muito contente pelo andar das coisas, e já se dispôs a me ajudar na arrumação do quarto do bebê - que de acordo com ele também seria uma menina. Eu consegui marcar uma consulta para o dia seguinte, na qual o Ron me acompanhou. A médica disse que estava tudo bem comigo e o bebê, eu apenas teria que tomar cuidado com a alimentação por ter tido um episódio de tontura, e por minha pressão ser baixa, mas eu a assegurei que isso seria feito.

O Ron me ligou de tarde no próximo dia para me dizer que ligaria para a Ginny ir até, o que agora era, a “nossa casa”, contaríamos para ela a novidade pela noite. Eu estava animada por compartilhar a novidade com a minha cunhada, que primeiramente era a minha melhor amiga. Percebi que o Ron carregava em si uma certa ansiedade também, ele teve o cuidado até de fazer o prato favorito dela, tudo o que pudesse ajudar a diminuir o efeito da surpresa. Ele estava certo quando disse que ela ficaria surpresa, era claro no rosto da Gin, que ela não tinha a menor ideia de como se sentir a respeito. Porém ao fim da conversa, ela já estava fazendo mil perguntas e dizendo que gostaria de estar o mais presente possível, o que me deixou muito feliz. Contamos a ela que a nossa viagem para a Austrália estava programada para duas semanas depois e que moraríamos juntos, todas as novidades de uma vez só.

Foi quase um malabarismo conseguir convencer a minha chefe a me dar dois dias de folga para ir visitar os meus pais, o que me permitiria apenas um pouco mais de dois dias com eles, porém era o que bastava para dar a notícia. Nós decidimos que dessa vez a nossa chegada faria parte da surpresa, e eu passei as duas semanas numa ansiedade extrema. As náuseas matinais ainda estavam me incomodando bastante, mas de acordo com a médica eram normais e tendiam a diminuir depois. O Ron era todo cheio de dedos, conforme os dias foram passando, eu já tinha uma extensa lista de comidas que me enjoavam, e as que eu tinha vontade de comer a toda hora, não me surpreendi ao ver que a nossa geladeira passou a conter apenas o que não me fazia mal. Um dos mil jeitinhos dele de cuidar de mim.

Deixamos para cuidar da mudança definitiva das minhas coisas  assim que voltássemos, mas aproveitamos os dias que estaríamos fora para que o novo armário fosse montado no nosso quarto. Foi uma pequena loucura escolher tão rápido, mas no final das contas, achamos o que nos encantou. O Nick foi muito gentil de se oferecer para ficar com a chave e deixar os trabalhadores entrarem e sairem da casa. Ao ir viajar, eu já queria voltar para saber como ficaria.

Dessa vez fui eu que fiquei pior durante o vôo. O Ron até se esqueceu um pouco do medo para tentar me distrair do enjoo que acabou com o meu apetite, ainda mais para aquela comida de avião. Foi engraçado chegar pela primeira vez naquele aeroporto sem ter os meus pais me esperando, mas tinha que ser assim para conseguirmos fazer surpresa. Como chegamos num dia de semana, eles estavam na universidade, porém eu tinha a chave, então entramos e nos acomodamos, esperando ansiosamente para quando eles chegassem.

—Você não acha que a gente vai matar os seus pais do coração quando eles chegarem? - o Ron perguntou - nem as luzes estarão apagadas…

—Eles podem ficar um pouco apreensivos mesmo - pensei.

—E se acharem que são ladrões e chamarem a polícia?

—Você está vendo filmes demais, Ron! - zombei - mas eu posso colocar um aviso na porta se te deixar mais tranquilo…

—Mas aí estraga a surpresa.

—Não se for escrito direito - procurei por uma folha e uma caneta, onde eu escrevi “não se assustem, uma surpresinha os aguarda” - pronto, não vão saber o que é.

—Só pela sua letra - ele falou ironico.

—Pelo menos evitamos a polícia - colei a folha na porta da entrada.

Meus pais chegaram bem de noite, eu e o Ron ainda estávamos dormindo para nos livrar do cansaço quando eu escutei a porta da sala batendo e as vozes dos meus pais chamando.

—Mione? - minha mãe disse em voz alta.

—Eles chegaram, amor - balancei o Ron que levantou num pulo.

—Dormimos demais - ele se espreguiçou, correndo para trocar de roupa, e eu fiz o mesmo, apenas colocando o vestido que estava a mão.

Foi a vez do meu pai de soar cautelosa.

—Estamos aqui - chamei abrindo a porta - só descontem a cara de sono.

—Que surpresa boa, filha! - minha mãe veio correndo me abraçar - e o Ron veio também, oi, querido - o abraço passou para ele.

—Se soubessemos que vocês estavam vindo, teríamos saído mais cedo - meu pai se desculpou.

—Não se preocupe, pai, ficamos aproveitando para dormir - o tranquilizei.

—Vocês não jantaram ainda? - minha mãe perguntou e nós concordamos - então vou fazer alguma coisa gostosa para comermos.

—Antes será que podíamos conversar um pouquinho? Nós temos uma notícia para dar - peguei a mão do Ron.

—Ah… mas é claro - eu conseguia ver as engrenagens do cérebro da minha mãe se movendo para conseguir deduzir do que se tratava.

—Vamos para a sala então - meu pai sugeriu, me olhando de uma maneira engraçada.

—Preciso só pegar uma coisa no quarto - ele foram indo para a sala e eu voltei para pegar o envelope que continha uma cópia do primeiro ultrassom que eu fiz.

Fui para a sala e me sentei ao lado do Ron, ficando de frente para o sofá onde os meus pais se encontravam.

—Então, filha, o que é essa notícia? - a curiosidade brilhava nos olhos da minha mãe - não conseguimos tirar nada do Ron - ela brincou.

—Nada que precise de preocupação, espero… - era bem a cara do meu pai já estar preocupado.

—Não, pai. Na verdade estamos muito felizes, não é, amor? - eu olhei para o Ron.

—Estamos mesmo - ele concordou - e esperamos que vocês também fiquem.

—Quanto suspense, pode falar logo - minha mãe nos apressou, em geral ela era bem tranquila, mas não saber todas as respostas era algo que ela não encarava tão bem assim.

Me estiquei para dar o envelope na mão dela, que começou a abrir na hora.

—Esse é o seu netinho ou netinha - expliquei.

A mão da minha mãe voou para a boca, contendo uma exclamação.

—Adam, vamos ser vovôs! - ela olhava para a imagem como se houvesse uma foto ali.

Foi uma festa de abraços e felicitações e muita empolgação por parte dos novos avós. Minha mãe não cansou de agradecer por termos ido até lá contar, ela estava muito feliz mesmo, e meu pai, por mais que fosse mais reservado, estava tão animado quanto.

—Quando você souber o sexo, nos ligue na hora, tenhos que comprar vários presentinhos para o meu netinho - ele disse entusiasmada.

—Claro, mãe.

O jantar acabou virando uma comemoração que durou até consideravelmente tarde, o que não era um problema pois eles não trabalhariam no sábado. Minha mãe me deu várias dicas e conselhos, aquele conhecimento de causa que apenas quem já tinha passado pela experiência conhecia. Foi muito gostoso estar ali com eles, imaginando o dia em que uma criancinha nos acompanharia nas viagens e correria por toda a extensão daquele quintal que nunca foi realmente usado.

No dia seguinte, ficou combinado que iríamos todos jantar fora, uma continuação da comemoração do dia anterior. Ainda bem que eu tinha me precavido e trazido uma roupa apropriada para a ocasião, além de insistir para o Ron fazer o mesmo, me impressionado ao ver que ele próprio já tinha pensado naquilo, devia ser a convivência. Meus pais foram no carro do meu pai, e nós no da minha mãe, o que eu estranhei um pouco, mas fiquei mentalmente agradecida, já que andar na parte detrás do carro não era muito bom para o meu estômago.

Seguimos o carro deles até o restaurante, mas no meio do caminho o Ron virou na direção oposta deles.

—Ron, você errou o caminho - apontei para o outro lado.

—Não errei não, amor - ele não se voluntariou a dizer mais nada, então tive que insistir.

—Mas meus pais foram para lá.

—Já conversei com eles, nós vamos jantar em outro lugar - ele me olhou com um sorriso misterioso.

—Por quê?  - falei confusa.

—Se eu te disser não vai ter graça nenhuma, não é?

Em poucos minutos chegamos num restaurante lindo, construído de maneira que parecia que estávamos dentro do mar. Nossa mesa era na parte da varanda, o vento agradável da noite, juntamente com a paisagem criando um cenário incrível.

—Nossa, que lugar bonito, eu nunca estive aqui - comentei.

—Que bom que você gostou.

—O que você está planejando, Ron? - perguntei desconfiada.

—Tem que ter alguma razão para eu querer jantar com a minha namorada num lugar lindo? - ele perguntou com cara de inocente.

—Não exatamente…

—Pois então, vamos aproveitar.

O menu era cheio de coisas deliciosas, principalmente frutos do mar que eram especialidade da casa. Os pratos que selecionamos estavam deliciosos, seriam melhor aproveitados com uma bela taça de vinho, mas me limitei a um suco de laranja, no qual o Ron me acompanhou. Eu disse que ele podia pedir o vinho para si, mas ele insistiu que não teria a mesma graça tomar sozinho, e se eu não podia, ele não beberia também. A conversa caminhou tranquila e divertida, principalmente com o alívio do Ron por ter dado tudo certo com os meus pais. Porém, eu percebi quando ele assumiu um tom mais sério.

—O que foi, amor? - eu percebi que tinha algo que ele queria dizer.

—Eu achei que ia estar menos nervoso dessa vez, mas pelo jeito é impossível - ele deu uma risadinha ansiosa.

—Nervoso? - não entendi nada.

—Já faz mais de um mês que eu estou ensaiando esse momento, mas nunca me parecia perfeito - ele começou a dizer, me prendendo com a profundidade do seu tom - aí eu cheguei a conclusão de que não tinha que ser tudo perfeito, tinha que ser apenas você e eu, e isso é a definição de perfeito para mim - escutei a voz dele tremendo um pouco e minha respiração começou a ficar acelerada com a ideia do que estava acontecendo começando a surgir na minha mente.

—Nós nos conhecemos há tanto tempo… e o único arrependimento que eu tenho, é não ter me agarrado a você muito antes para não soltar nunca mais - era impossível não sorrir com as palavras lindas que ele me dizia, mas eu sabia que não era a hora de responder, apenas de deixá-lo falar - desde que estamos juntos, eu me pego pensando várias e várias vezes “acho que esse é o dia mais feliz da minha vida” só para chegar a conclusão de que eu estou sempre errado, porque todos os dias são o mais feliz da minha vida, só preciso te ver sorrindo. Agora, a minha felicidade ainda será multiplicada e eu quero muito que seja assim pra sempre, você me fazendo feliz por todos os dias que tivermos, e eu tentando ao máximo te dar toda a felicidade que você merece, então… - ele fez uma pausa, colocou a mão no bolso de onde ele tirou uma caixinha aveludada.

Naquele momento eu já estava com os olhos cheios de água, meu coração batia imenso no peito, tamanho era o amor que eu tinha por ele, e a felicidade por escutar tudo aquilo. Ele esticou a mão, abrindo a caixinha em minha direção. Deixei escapar um suspiro quando vi uma aliança linda e uma pulseira pequenininha.

—Mione… - ele fez uma pausa, e naqueles segundos, era como se nenhum de nós respirasse, dava para ver que ele estava nervoso, e eu não me aguentava de felicidade, a resposta já na ponta da minha língua - você aceita se casar comigo?

Aqueles olhos azuis me olhavam com todo o amor do mundo, e mesmo eu nunca tendo contemplado casamento assim tão rapidamente, eu sabia sem sombra de dúvida que era o que eu mais queria: eu e o Ron juntos em todos os momentos das nossas vidas.

—Sim! - respondi emocionada, e percebi o peso que saiu dos ombros dele.

Ele se aproximou para me beijar, o primeiro beijo do meu noivo. Ainda sem se afastar, ele pegou a minha mão direita, e escorregou a aliança no dedo correto, cabendo perfeitamente. Olhei sorridente para o objeto que agora adornava a minha mão.

—O outro vai ter que esperar um pouco para usar - ele puxou a pulseirinha e colocou na palma da minha mão. Em letras elegantes estava escrito Rose, na plaquinha clássica de pulseiras de criança.

—É lindo, Ron - eu o beijei novamente - mas e se for o Hugo? - brinquei.

—A gente guarda essa pra Rose e compro a do Hugo - ele explicou, pegando a minha mão, e se demorando com os dedos onde agora ficava a minha aliança - mas eu estou bastante seguro.

Minha felicidade estava completa, e realmente ele tinha me pegado de surpresa. Fiquei olhando para ele, sem palavras para explicar nada do que eu sentia.

—Você está feliz, amor? - me lembrou das mesmas palavras que eu disse a ele ao contar que estava grávida.

—Agora você vai ser meu pra sempre - brinquei - claro que eu estou feliz, muito feliz - ele sorriu radiante de felicidade.

—Quero ir correndo para casa contar para os meus pais - falei animada, foi ótimo ele ter me pedido em casamento aqui.

—Eles já sabem, amor - eu o olhei confusa - precisei de ajuda para conseguir essa escapadinha.

—Você contou sozinho para eles? - perguntei rindo ao imaginar o quanto ele devia estar nervoso - como foi?

—Eu quase tive um treco… mas seus pais são pessoas ótimas, sua mãe chorou e falou que eu vou ser um genro maravilhoso - ele disse presunçoso.

—Você com certeza tem uma fã, e o meu pai?

—Foi o abraço mais comprido que eu já ganhei, e ele disse só assim: bem vindo a familia, filho - ele estava tão contente ao me contar aquilo, orgulhoso do bom desempenho.

—Se eu bem o conheço, estava se segurando para não chorar - era típico do meu pai.

—Estou com essa caixinha no bolso há tanto tempo… sorte a sua que você nunca vai ter que pedir ninguém em casamento - ele brincou.

—Desde quando? - eu quis saber.

—Umas duas semanas antes de sabermos do bebê.. na verdade naquela noite eu ia fazer o pedido.

—Por isso você estava tão distraído! - tudo fez sentido.

—Sim, mas as sua novidade me pareceu muito mais importante, e aí eu quis fazer algo mais especial que incluísse a Rose.

—Seria perfeito de qualquer jeito, não precisava ficar nervoso eu nunca diria não - falei convicta.

—Não é por isso exatamente… não dá explicar - ele deu de ombros.

—Deixa eu ver se eu consigo entender - num impulso, peguei as duas mãos dele nas minhas e o encarei solene - eu claramente vim despreparada, não tenho uma aliança para te oferecer, mas eu tenho todo o meu amor para te dar, e a promessa de que todos os dias eu continuarei ao seu lado, te fazendo feliz, e agradecendo por ter essa pessoa maravilhosa na minha vida - ele estava completamente calado, apenas o sorriso bobo no rosto traía sua imobilidade - Ron, você quer casar comigo?

—Você está me pedindo em casamento - ele falou divertido.

—Se você pode eu também posso - brinquei.

—Claro que eu quero me casar com você, amor quantas vezes você quiser.

Meus pais estavam emocionados ao nos encontrar depois do jantar, uma pena que no dia seguinte, tivemos que nos despedir provavelmente até a data do casamento - que eu já tinha decidido que não demoraria muito a acontecer. A longa viagem de volta me deixou bem cansada, mas eu tinha que ir trabalhar na segunda feira, apesar da insistência do Ron de que eu deveria ficar em casa descansando. Além de ter muito trabalho me esperando, eu tinha que sutilmente colocar a minha aliança no alcance dos olhos do Ced para ver o meu amigo pirando com gosto. Eu estava certa sobre a reação dele.

—Miiiiiii! - ele veio saltitante me abraçar todo ansioso - parabéns, você vai ser oficialmente a Sra Incêndio.

—Obrigada, Ced - ele me soltou, mas continuou a andar de uma lado para o outro da minha sala enquanto me perguntava todos os detalhes do pedido.

—Temos um casamento para planejar, ai meu Deus! - a empolgação dele era contagiante, como se eu precisasse de mais.

—E quem te disse que você está no time de organização? - provoquei.

—Me poupe, Mi, quem você vai achar por aí melhor e mais legal do que eu? - ele revirou os olhos.

—E mais humilde também, claro…

—Mas me conta logo, quando vai ser? Você já pensou em alguma coisa? - foram várias perguntas de uma vez.

—Concordamos com no máximo o final de julho depois do desfile, nesse mês meus pais podem vir sem problemas, depois disso já fica mais difícil porque eu estarei entrando no sexto mês - expliquei e ele assentiu.

—E o local? Presumo que será de noite?

—Não discuti nada com o Ron ainda, mas ele falou que é para eu fazer tudo do jeito que eu quiser.

—Ótimo, assim fica mais fácil - ele sorriu satisfeito - agora, sobre o seu vestido…

Eu tive que lembrar ao Ced que tínhamos muito trabalho a fazer, pois se não, gastaríamos o resto do dia com planos para o meu casamento. Apesar de que foi difícil para mim também, eu estava tão empolgada em escolher cada mínimo detalhe que passaria facilmente a semana inteira discutindo esse assunto.

Seriam apenas três meses até o casamento, então os meus finais de semana viraram reuniões intermináveis com o Ced. Ele aparecia na minha casa no sábado de manhã e só saia quando já estava escuro. O Ron já tinha até se acostumado a esperar pela presença do meu amigo, que não precisava de mais nada para se sentir à vontade. Além disso, tinha todo o quarto do bebê para montar, porém decidimos esperar até a consulta do terceiro mês quando já saberíamos o sexo.

No dia de fazer o ultrassom que finalmente revelaria se era a Rose ou o Hugo que estaria em breve conosco, eu tive que escutar mais uma das reclamações da minha chefe por estar saindo mais cedo, e não tive nenhum problema em lembrá-la de que era um direito meu. O Ron veio me buscar e fomos direto para o hospital onde seria feito o exame. Claro que a Ginny já nos aguardava também ansiosa, como ela mesmo havia dito, sua presença estava sendo intensa em tudo o que se relacionava ao futuro sobrinho, de fato eu já conseguia ver a tia babona que o Ron previu que ela seria.

—Oi, Ron, oi, Mione - ela nos cumprimentou - como está a Rose? - ela tinha adquirido o mesmo hábito do irmão de acreditar ser uma menina.

—Está muito bem - contei sorridente - sem dó da mãe no entanto…

—Ainda enjoando?

—Me disseram que passava depois do terceiro mês.

—Vai passar, amor - o Ron me confortou passando a mão pelos meus ombros.

—Vai mesmo, Mione - minha cunhada concordou - mas deixa eu levar vocês logo para desvendar esse mistério.

A Ginny nos guiou pelos corredores do hospital até chegar na sala onde seria feito o ultrassom. A médica já estava aguardando e eu não demorei em deitar na maca com ajuda do Ron. A sala estava cheia com a presença de todos, o que não impediu que a porta se abrisse para mostrar o Colin entrando também. Ele e o Ced estavam bem e felizes juntos, o que me deixava mais do que contente. Entretanto, foi engraçado vê-lo ali.

—O que foi, gato? Precisa de mim? - a Ginny perguntou, claramente relutante em sair.

—Não, gata, estou aqui em missão - nossos olhares curiosos o fizeram continuar - o Ced me incumbiu de ligar assim que tiver o resultado, falou que não dá pra ter certeza que vocês iam se lembrar, sabe como é. o drama de sempre - ele revirou os olhos, mas eu notei o tom carinho com que ele se referia ao meu amigo.

—Não vai demorar muito - a médica falou colocando o gel na minha barriga.

Alguns segundos silenciosos passaram, em que eu olhava para aquelas imagens em branco e preto que não me diziam absolutamente nada. Finalmente a médica resolveu falar.

—Bom, primeiro podem ficar tranquilos que o bebê está completamente saudável, tudo normal. E meus parabéns, vocês vão ter uma menina.

—Não falei que era a Rose! - o Ron era a animação em pessoa.

Assim que eu consegui levantar, ele me puxou num abraço.

—Nossa menininha - ele sussurrou no meu ouvido.

Oficialmente a Rose chegaria em novembro, porém depois que tudo foi confirmado, eu não perdi tempo em colocar a preparação para o quarto dela junto com os preparativos do casamento. Com a ajuda do Ced, o casamento já estava todo elaborado e do jeitinho que eu queria. Meu vestido não tinha me dado trabalho nenhum para desenhar, saiu naturalmente no bloco de desenhos, e quanto mais próximo do grande dia, mais ansiosa eu ficava.

—Amor, que tal se a gente for dormir, hum? - o Ron me chamou num sábado a noite, algumas semanas antes do casamento - a Rose com certeza está cansada.

Dizer que o Ron já era um pai cuidadoso seria pouco, ele se atinha a todos os detalhes, mas eu não podia negar que ele sempre tinha sido assim comigo. Eu gostava de todo o carinho e atenção, nunca negando um café da manhã na cama, ou uma massagem nos pés, principalmente depois que eu já conseguia sentir bem o peso que carregava.

—Só queria terminar de rever a lista do buffet, amor - expliquei ainda olhando os papéis amontoados na mesa da sala.

—Mione, você já olhou isso, o Ced já olhou isso e aí olharam mais uma vez, está tudo perfeito - ele passou as mãos pelos meus ombros, me abraçando pelas costas, a mãos naturalmente vindo acariciar a minha barriga.

—Eu sei… só mais duas semanas - olhei para ele, com a certeza de que meus olhos estavam brilhando.

—Sim, mais duas semanas e você vai ser todinha minha - ele brincou.

—E você todinho meu - sorri antes de beijá-lo.

—Vem, deixa isso aí e vamos dormir - ele me puxou pela mão e eu acabei cedendo.

Dois dias antes do casamento, meus pais chegaram. Dessa vez eles ficariam num hotel pois não tínhamos espaço para acomodá-los, ainda mais agora que o quarto da Rose estava pronto e tudo o que havia era um berço e uma cama de solteiro que ela usaria no futuro. Mas naquela noite eles foram jantar conosco, junto com a Ginny e o Harry.

—Querida, você está linda - a minha mãe falou assim que chegou, eles insistiram que não era necessário buscarmos os dois no aeroporto - e a minha netinha como está?

—A nossa netinha, você quer dizer - meu pai resmungou brincalhão.

—Ih, Rose, não é só o papai que vai ser ciumento - o Ron falou entrando na brincadeira.

—Coitada da menina, nem nasceu ainda e já tem um pai e um avô ciumentos - zombei - mas ela está muito bem, mãe.

—Que bom, é só o que importa.

—O jantar está quase pronto só estamos esperando a minha irmã e o namorado - o Ron explicou.

Ficamos na sala jogando papo fora até que a campainha tocou, trazendo o restante dos convidados.

—Desculpa a demora - a Ginny disse ao chegar - tive uma emergência de última hora.

—Sem problemas - eu a tranquilizei.

Depois de todos os cumprimentos feitos, a minha amiga puxou a sacola que o Harry carregava e veio me entregar.

—Um presentinho da tia Ginny para a Rose - ela falou.

—Mais um? - brinquei.

—Deixa eu mimar a minha sobrinha? E eu vi na vitrine, tão lindinho e acho que assim ela não tem ainda…

—É lindo, Ginny adorei - eu tinha nas mãos um vestidinho florido em tons de lilás que eram uma gracinha, só de imaginar que não demoraria muito mais para que eu pudesse usar todas as roupinhas que estavam guardadas no armário dela, eu já ficava animada.

—Bom, agora podemos jantar - o Ron anunciou e todos fomos para a mesa.

Os dias passaram tão rápido, que quando eu dei por mim, estava me arrumando para o meu casamento. Meu cabelo e maquiagem já estavam prontos, só o que restava era colocar o vestido que permanecia maravilhoso no cabide. Minha mãe e a Ginny estavam comigo, e me ajudaram a entrar nas várias camadas de tecido. O resultado que eu vi no espelho foi exatamente o que eu havia imaginado e por um momento não consegui desviar os meus olhos. Aquilo estava realmente acontecendo!

—Você está linda, filha - minha mãe falou emocionada.

—Está mesmo - a Ginny concordou.

—Obrigada - minha voz saiu um pouco embargada pela emoção.

—Só mais uma coisinha - minha mãe pegou na bolsa uma caixinha e tirou de lá um par de brincos lindo - eu usei no meu casamento, agora são seus.

Eu sorri ao ver o presente, combinaria perfeitamente com o tom claro do vestido, e o mais importante era o que significava, Meus pais tinham um casamento de muito amor há vários e vários anos e isso era tudo o que eu mais queria para mim e o Ron.

—Obrigada, mãe - coloquei os brincos e me olhei mais uma vez para constatar que realmente ficaram perfeitos.

Não demorou muito para o meu pai passar a cabeça por uma abertura na porta para perguntar se eu já estava pronta. Tive que conter a pressão que as lágrimas faziam, ao ver o semblante dele emocionado e orgulhoso assim que colocou os olhos em mim. Nas poucas palavras que ele conseguiu falar, me disse que eu estava linda, e que já era hora de todos irmos para a igreja. Um por um, os meus acompanhantes foram deixando o quarto. até que me vi sozinha pela última vez antes de oficialmente virar a Sra Weasley. Respirei fundo em antecipação, passei a mão pela minha barriga, sentindo o momento em que a Rose chutava, sem se deixar ser esquecida.

—Vamos, querida, o papai está esperando - sussurrei para ela e finalmente saí do quarto.

Eu nunca fui uma pessoa que pudesse ser considerada chorona, mas aquele dia estava todo embalado numa mágica de sonhos e promessas que transformou a experiência em algo impossível de caber dentro do meu peito, Os passos firmes do meu pai, que segurava com carinho a minha mão ao entrar na igreja. O sorriso da minha mãe e dos nossos padrinhos que me observavam no altar. E, principalmente, a felicidade estampada em cada contorno do rosto que eu conhecia de cor. O Ron me olhava como se não pudesse esperar a hora de dizer “sim”, e notei no canto de seus olhos que as lágrimas também se formavam. As palavras, escutadas tão automaticamente nas dezenas de casamentos que assisti, dessa vez foram sentidas com toda a profundidade do compromisso que estávamos assumindo, e ao sair da igreja, tudo se resumia a alegria e felicidade.

Com o Ced encabeçando a maior parte da organização da nossa festa, eu não tinha a menor dúvida de que estaria tudo exatamente de acordo com o que eu queria. As decorações, a iluminação, a comida, até a disposição das mesas estava perfeito. Fizemos a volta no salão cumprimentando todos os convidados, dispensando um tempinho a cada um dos nossos amigos e familiares. O Ron se manteve ao meu lado sorridente, nos divertimos dançando e participando das pequenas tradições que só se viam em acontecimentos assim.

Eu não dispensei o momento de jogar o meu buquê para as convidadas solteiras. Anunciei que todas deveriam se juntar no centro do salão para podermos conhecer a ganhadora da “sorte”. Eu estava indo me posicionar na frente da concentração de mulheres, quando meus olhos sentiram falta de uma ruiva. Escaneei o salão, e encontrei a minha cunhada conversando distraidamente na mesa dela. Sorri para mim mesmo, e sem pensar duas vezes fui buscá-la.

—Vem Ginny - chamei a atenção dela, já pegando em sua mão com a que não estava segurando as flores.

—Ir onde? - ela me olhou surpresa e confusa.

—Está na hora de ver quem pega o buquê - expliquei, e a cara dela denunciou toda a hesitação em participar - não aceito não como resposta - anunciei antes que ela pudesse negar.

—Vai lá, ratinha - o Harry, que estava ao seu lado, a encorajou - vai lá mostrar para a mulherada como se pega um buquê - ele brincou.

—Não posso mandar o Harry no meu lugar? Ele com certeza é melhor que eu nisso - ela respondeu, mas já tinha levantado aceitando o seu destino quando eu neguei efusivamente.

Percebi que o Harry veio atrás de nós, claramente mais interessado do que parecia a princípio. Quando cheguei com a Ginny no local onde estavam esperando, o Ced fez uma cara de vítima.

—Ah, não, mais concorrência? Nem vem, Incendinho que essa obra de arte em forma de flores já é minha - ele olhou torto para a Ginny.

—A vontade, Ced - eu a ouvi responder antes de me afastar.

—Vou contar até três - falei, me virando de costas - 1, 2, 3 - lancei as flores por cima da minha cabeça e me virei imediatamente, a tempo de escutar os gritos e a correria.

Não aguentei e caí na risada ao ver que ninguém menos do que a minha cunhada tinha o buquê nos braços, ainda parecendo não saber o que fazer com a informação. Mas ao escutar o resmungo do Ced, ela logo se recuperou.

—Mais sorte da próxima vez, Ced - ela zombou

Eu me aproximei para parabenizá-la.

—Tá vendo só, ainda bem que fui atrás de você - nós rimos juntas.

—Acho que já sabe o que isso significa né, ratinha? - o Harry disse zombeteiro, passando braço pela cintura da Ginny, sem tirar os olhos das flores.

—Significa que eu ganhei umas flores, claro - ela se divertiu em frustrar a brincadeira dele.

Eu sabia que flores não eram as coisas favoritas da minha amiga, e vi quando ele entregou discretamente o buquê para o Harry segurar.

—Se você está me dando, quer dizer que eu posso escolher a data? - ele indagou com o costumeiro sorriso bem humorado.

—Claro que não! - ela disse enfática, fazendo-o franzir as sobrancelhas - eu quero escolher também - se não fosse o tom carinhoso da última frase, a piscadinha que ela deu na direção dele seria o suficiente para enfeitar o rosto do Harry com o sorriso apaixonado que eu já havia visto tantas vezes.

Percebi que os dois já estavam totalmente dentro do mundo deles com aquela conversa, então saí discretamente para ir procurar o Ron. O encontrei perto da mesa de frios, ocupado em esvaziar o prato que tinha nas mãos. Ele sorriu ao ver a minha aproximação, e me ofereceu um pedaço da torta que comia.

—Não, obrigada, amor já comi mais do que devia - meu estômago não ficaria de bem comigo se eu exagerasse.

—Ah, mas a Rose me falou que quer - ele brincou.

—Você não entendeu direito, ela falou que não quer - recusei, dando um selinho no bico que ele fez.

—Viu quem pegou o meu buquê? - perguntei conseguindo distraí-lo com sucesso.

—Vi - ele ficou rabugento imediatamente - bem que você podia ter deixado a Ginny na mesa, né?

—Ai, ai sem ciúmes - abanei o dedo indicador para ele - é melhor se acostumar logo, porque eu tenho certeza que esse casamento sai, mais cedo ou mais tarde.

—Mais tarde, bem mais tarde - ele resmungou e eu acabei rindo.

A festa foi até bem tarde, e já perto do final eu estava exausta, a sorte era que os noivos podiam sair primeiro sem nenhum tipo de problema, então nos despedimos e fomos para o hotel que o Ron tinha reservado para ser um lugar diferente para as nossa primeira noite de casados. A minha médica desaconselhou qualquer viagem dado o meu estágio avançado de gravidez, então a nossa lua de mel ficou como uma promessa adiada, a ser cumprida assim que desse.

Foi engraçado ver como, por mais que agora eu carregasse uma aliança na mão esquerda e um novo sobrenome, nossa rotina permaneceu a mesma. Já vivíamos como um casal há bastante tempo. Minha única implicância com o Ron era o tanto que ele se preocupava. Se eu permitisse, ele não me deixaria tirar nem um prato da mesa, mas eu sempre insistia em afastar o excesso de zelo, por mais que muitos deles me agradassem, principalmente porque eu já me sentia bem mais cansada do que o normal.

No trabalho, o ritmo intenso diminuiu depois que o desfile passou, porém em setembro teríamos um evento secundário para reapresentar algumas de nossas peças. Nada comparado ao evento maior, porém estavam me dando dor de cabeça mesmo assim, minha chefe não conseguia ter um pingo de solidariedade, principalmente no que dizia respeito a prazos. Eu também recebi várias ligações atrás de designs para roupas, porém acabei recusando pois sabia que eu não disporia do tempo nem da energia para isso no momento.

—Como vai a minha afilhadinha? - o Ced perguntou ao chegar na minha sala. Ele não chamava a Rose de nenhuma outra maneira desde que o convidamos, juntamente com a Ginny, para ser o padrinho.

—Sua afilhadinha não me deixou dormir direito essa noite - comentei.

—Se mexendo muito?

—Acho que tem alguma festa acontecendo ai dentro, porque ela decidiu não ficar quieta, minhas costelas não gostaram muito - brinquei, apoiando automaticamente a minha mão sobre a barriga num carinho inconsciente.

—Isso é a ansiedade dela para conhecer o padrinho - ele disse convencido fazendo um carinho rápido na minha barriga.

—Pois você que controle a sua ansiedade, ainda faltam mais de dois meses.

—Vou ver se compro paciência em algum lugar.

—Se achar, compra para mim também porque eu tenho reunião com a Dolores hoje - falei insatisfeita.

—Ela vai chiar pelos layouts que são para a semana que vem - ele supôs.

—Exatamente, mas são para a semana que vem!

Dito e feito, ela reclamou e reclamou, mas eu usei a minha melhor cara de paisagem para não escutar nada. Ela tinha me dado o prazo e teria tudo como combinado. Na semana seguinte, mais precisamente na quinta feira, era o meu aniversário, e o Ron tinha combinado comigo de me buscar na saída do trabalho para podermos jantar. Acordei naquele dia com os costumeiros beijos e abraços, porém me sentia mais cansada do que o normal, o que, claro, o meu marido percebeu.

—Tem certeza que você quer sair mais tarde, amor? Não é melhor você descansar? Você podia ficar em casa hoje - ele me olhava preocupado.

—Nada disso, só estou um pouco cansada, o sono está ficando difícil, mas não posso simplesmente ficar descansando até a Rose nascer - mesmo contrariado, ele sabia que eu tinha razão, então me levantei para começar a me arrumar.

Tudo correu bem naquele dia, apenas alguns detalhes tinham ficado para o dia seguinte quando entregaríamos os layouts finais para a minha chefe, portanto eu dei o meu trabalho por encerrado. Em outras circunstâncias, eu até ficaria até mais tarde e terminaria logo, mas além de tudo era o meu aniversário, então, quando o Ron me ligou as 17:45 dizendo que já estava lá embaixo me esperando, eu peguei a minha bolsa, me despedi do Ced e fui em direção ao elevador.

—Onde pensa que está indo, Sra Weasley? - a voz ácida da Dolores soou atrás de mim.

—Embora - respondi sem rodeios.

—Não vi o seu trabalho pronto na minha mesa - ela cruzou os braços.

—Não viu porque é para amanhã - rebati, fazendo o meu melhor pra permanecer calma.

—E isso te dá o direito de sair antes do horário?

—Faltam cinco minutos - olhei no meu relógio para conferir.

—Exatamente, cinco minutos que você está sendo paga e não fazendo nada, volte para a sua sala! - ela apontou em direção a minha sala e aquilo acendeu o fogo da raiva em mim.

—O que? - a maneira com  a qual ela falava, parecia que eu era uma funcionária relapsa, o que eu não aceitaria.

—Você escutou, quero isso terminado hoje! - ela gritou.

—Isso é um absurdo! E todos os dias que eu fiquei aqui até a noite? Eu sempre cumpri o meu trabalho, se estou saindo cinco minutos mais cedo, é porque sei que está tudo em ordem - retruquei levantando a voz, acabei me exaltando mesmo sem querer, mas aquela mulher estava sendo ridícula com algo que não dava para ignorar.

—E se eu estou mandando você voltar, você volta! - ela se aproximou me enfrentando, naquela altura já tinham vários olhos observando o pequeno circo.

Abri a boca para cuspir mais uma resposta torta e ir embora de vez, mas tudo o que saiu foi um gemido. Senti uma pontada forte demais na barriga, leve a mão imediatamente ao local. Reagindo instintivamente, eu fechei os olhos, tentando respirar, mas a minha chefe não parou.

—E olha para mim enquanto eu falo com você!

Nem registrei direito a frase, pois mais uma onda de dor me acometeu, e parecia que o ar não chegava aos meus pulmões.

—Mi, você está bem? - o Ced estava ao meu lado em poucos segundos, me aparando, o rosto aterrorizado.

—Alguma… coisa… não está… certa - falei com a voz entrecortada pela dor.

Ninguém dizia mais nada, mas eu nem me dei ao trabalho de reparar na expressão no rosto da Dolores.

—Vamos para o hospital! - ele tentou me guiar, mas eu não me sentia com forças de dar nem um passo.

—O Ron… chama o Ron - eu pedi, eu estava com medo de que algo sério estivesse realmente acontecendo, e precisava dele ao meu lado.

Quase como se ele tivesse algum meio de saber o que estava acontecendo, os portas do elevador se abriram para revelar o meu marido, que num piscar de olhos estava me apoiando também.

—Amor, o que foi? - eu sentia no tom dele o esforço para permanecer calmo, principalmente quando eu engoli um grito de dor.

—O bebê… - nesse momento eu senti a umidade escorrendo pelas minhas pernas e temia que o pior estivesse acontecendo.

—Me ajuda a levá-la, Ced - não precisou pedir duas vezes, os dois num esforço conjunto me guiaram até o carro - desculpa, amor, aguenta só mais um pouco - ele dizia culpado por todas as vezes que eu me contraia com as pontadas fortes.

O Ced sentou no banco de trás junto comigo, me dando sua mão para que eu apertasse enquanto tudo o que eu fazia era me concentrar em conseguir respirar. O Ron partiu acelerado pelas ruas que levavam até o hospital onde a Ginny trabalhava, porém mais rápidos ainda eram os meus pensamentos. Aquilo não podia estar acontecendo, não podia! Nosso bebê ainda tinha muitas semanas antes de nascer. As lágrimas escorriam livres pelo meu rosto, uma mistura de dor e medo. Dor pelas contrações cada vez mais fortes, e medo de que o nosso sonho e felicidade pudessem ser levados de uma vez só numa rasteira fatal do destino.


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Notas finais do capítulo

Só tenho a dizer uma coisa desde já: por favor não me fiquem com raiva de mim :)

Não esqueçam de me deixar comentários lindinhos com todos os seus pensamentos.
Bjus e até o próximo capítulo.

Crossover: Pra ver a reação completa de Ginny ao saber que vai ser titita, não deixem de ler DV.