Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Hoje eu começo com um imenso agradecimento à DaniiiMoranguiiinho pela recomendação linda! Você não sabe o quanto me deixa feliz saber que mesmo não sendo seu casal favorito, você deu uma chance a minha história! Suas palavras trouxeram um sorriso enorme ao meu rosto, além de me inspirar a continuar. Desculpa pelas horas de sono perdidas hauauah e quanto aos comentários, não esquenta, o importante é que agora você já está em dia com tudo :)
Muito obrigada.

Bom, agora sobre o capítulo dessa semana.... Eu demorei um pouquinho com esse, mas espero que vocês fiquem felizes com o resultado. Pra quem leu DV na semana passada, sabe que uma situação no mínimo inusitada acontecerá aqui... vamos ver como termina.
Espero que vocês gostem :)



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Não foi fácil voltar ao trabalho na segunda feira, o mundo não pararia porque eu estava precisando entender a minha própria cabeça, e menos ainda o trabalho que eu tinha pela frente. A única salvação foi a dondoca entender que eu e o Ron não estávamos mais juntos, parecia que o encanto tinha se desfeito em relação à ficar me provocando, porém ainda era difícil ter que encontrá-la todos os dias, mesmo que calada. Eu estava tão certa das minhas ações quando bati a porta deixando um Ron aturdido para trás, porém os dias que se passaram, ajudados pelo puxão de orelha nada sutil do Ced, iniciaram um processo de dúvidas e contestação, será que eu tinha feito a coisa certa?

Eu conseguia reconhecer que a raiva e o estresse pela constante provocação da Lilá tinham pesado muito na maneira com a qual eu reagi, mas ao mesmo tempo, não era capaz de me convencer de que não tinha algo muito errado naquela história, como aceitar que o Ron a havia deixado entrar na casa dele? Passado a tarde de conversinha com a mulher que ele tinha me dito já não amar mais? Se eu achava que tinha sido difícil me entender quando eu precisei colocar meus sentimentos em ordem em relação ao que eu sentia pelo Ron, nada me preparou para o redemoinho que o meu peito havia se tornado com o que acontecera.

Nos momentos mais vulneráveis, a minha vontade era ir correndo de encontro a ele e pedir desculpas pelo que eu tinha feito e falado, mas eram apenas minutos depois que a mágoa vinha de mãos dadas com a raiva para me dizer que eu não era a única errada, não era a única que tinha falhado naquele momento. Dessa forma, eu permanecia estática, a força que me impulsionava a ir, era igual a que me dizia para continuar longe. Só esqueceram de avisar o meu coração, que insistia em se lembrar dele em cada detalhe do meu dia.

Como todas as vezes em que eu queria me esquecer de qualquer coisa à minha volta, eu me foquei no meu trabalho, o que nem foi muito difícil dado a quantidade de afazeres que me atolavam. Era tanta coisa que precisava da minha atenção que eu fui capaz de me manter atenta apenas a elas, uma verdadeira bênção para que eu continuasse a realizar o meu trabalho de maneira eficiente. A única parte boa era que os afazeres extras da dondoca haviam cessado e ela cruzava meu caminho quase nunca, o que ainda era demais para mim. Na terça feira eu consegui marcar uma reunião a noite com a Martha para entregar o desenho final do vestido da filha dela. Foi um momento pontual de satisfação e felicidade quando eu vi a empolgação no rosto das duas ao contemplar o meu trabalho. Elas ficaram muito satisfeitas, recebi vários elogios que conseguiram levantar o meu ânimo um pouco. Essa parte do trabalho estava pronta, eu as indiquei a uma costureira muito boa que eu conhecia, eu teria apenas que vistoriar o produto final para ver se saiu como o planejado.

Cheguei em casa naquela noite, com um sorrisinho nos lábios. Era o que eu mais amava fazer, criar modelos que fizessem os olhos do dono brilhar. Porém a primeira coisa que eu senti ao abrir a porta do meu apartamento, foi uma vontade imensa de contar para o Ron, de compartilhar com ele esse momento tão importante para mim e ouvir a voz dele feliz por escutar a minha alegria. Esse pensamento me atingiu com toda força, mas ele não chegaria na minha casa e eu não iria até a casa dele. Essa possibilidade ficou para trás quando eu fui embora e ele me deixou ir, contudo não fazia mais fácil encarar a realidade que agora me acompanhava.

Num impulso repentino, eu peguei o meu celular e cheguei até a procurar o nome dele nos meus contatos, mas não consegui ir em frente. O que diríamos um para o outro? Apenas a cara da Lilá aparecia na minha mente, e a raiva já começava a gritar de novo, por mais que o arrependimento não estivesse muito mais silencioso. Coloquei o celular de novo no criado mudo e ergui uma barreira em volta de mim mesma: eu iria apenas tomar um banho e dormir, o dia seguinte seria de mais trabalho e eu não podia ficar remoendo a falta que o Ron me fazia.

A quarta feira foi uma definição padrão de inferno no trabalho, aquele tipo de dia em que tudo dá errado, mas o prazos precisavam ser cumpridos, resultando num prolongamento absurdo do meu expediente. Já eram quase nove horas da noite e eu ainda encarava a tela do meu computador sentada à minha mesa. Felizmente eu estava prestes a terminar os últimos detalhes que precisavam ser finalizados sem falta naquele dia para que pudessem ser entregues para o setor apropriado nas primeiras horas do dia seguinte. O Ced, como ótimo assistente que era, permaneceu trabalhando junto comigo. Ele entrou na minha sala minutos antes de me encontrar pronta para ir.

—E então, chefinha, tudo terminado por aqui? - ele se jogou na cadeira, tão exausto quanto eu.

—Quase, mais uns dez minutos, mas você já pode ir, Ced - ele tinha terminado tudo o que eu pedi, não ficaria segurando-o ali só pela companhia.

—Dez minutos não vão me matar, e além disso, minha presença deixa o trabalho muito mais prazeroso - ele sorriu convencido.

—Metido - torci o nariz, mas ele apenas riu com mais vontade.

Voltei a me concentrar na tela do computador e nem percebi o som do meu celular tocando.

—Mi, não vai atender? - o Ced chamou a minha atenção para a musiquinha baixa.

—Ah, sim - peguei o aparelho, sem imaginar quem poderia ser numa hora daquelas já que a opção mais óbvia estava descartada - é a Ginny - declarei, meio sem saber se eu queria ou não falar com ela.

—Não vai tender? É a sua amiga! - ele me olhou feio, provavelmente sabendo a dúvida que se passava na minha mente.

—Você tem razão - aceitei a ligação e coloquei o aparelho no ouvido - Oi, Gin.

O motivo da ligação dela não foi algo que me animou logo de cara, ela tinha me convidado para jantar com ela e o Harry no sábado, porém eu não me sentia muito inclinada a participar de nenhum tipo de interação. No entanto, acabei sendo convencida, ela sabia que eu não estava muito animada e queria ajudar, se tratava da minha melhor amiga no final das contas, era importante que eu esquecesse a parte de que ela também era a irmã do meu ex namorado. Aceitei o convite, combinando de chegar por volta das 19:30 no apartamento dela.

—O que ela queria? - o Ced perguntou assim que eu desliguei o celular.

—Me convidar para jantar com ela e o Harry no sábado - falei sem muita empolgação.

—Isso é bom, Mi!

—É? - perguntei com pouco convicção.

—Você não pode passar os dias vegetando em casa, ou decide assumir suas ações e aprende a viver com elas, ou trata de tentar mudar isso - ele disse sem nenhuma pena de jogar palavras difíceis na minha cara.

—Alguém já te disse que você é sincero demais? - reclamei.

—Só estou falando a verdade, não toquei mais no assunto… mas sei que você está triste, Mi.

—Claro que eu estou! - rebati - quase uma semana, Ced… - minha voz sumiu com a percepção de todo o tempo que tinha se passado, parecia muito mais.

—Isso é arrependimento nos seus olhinhos lindos?

—Não… sim, talvez… - eu não conseguia sumarizar o que sentia - não sei, Ced.

—Ai, Mi… - meu amigo suspirou - detesto te ver assim, mas minha opinião continua a mesma, e infelizmente eu não posso fazer nada por você.

O Ced achava que eu deveria conversar com o Ron, mas o pensamento de vê-lo só me assustava mais do que o de nunca mais colocar os olhos nele. Para minha sorte, meu amigo acabou percebendo o lugar para o qual a minha mente começou a vagar e me colocou de volta no mundo real.

—Anda, termina logo isso pra gente poder ir pra casa - ele balançou a mão em direção ao meu computador.

Fiz como ele pediu e alguns minutos depois estávamos nos dirigindo ao elevador para deixar o escritório para trás pelas poucas horas que poderíamos.

O resto da semana passou numa sucessão de dias iguais, a pior parte foi a reunião da sexta feira com a minha chefe e a consultora. Mesmo que ela não estivesse mais me atacando diretamente como antes, eu ainda percebia os olhares superiores e a provocação velada por comentários aparentemente inocentes. O exercício de paciência não estava surtindo muito efeito e eu me peguei tendo que morder a língua várias vezes para não falar coisas inteiramente inapropriadas que com toda certeza me garantiriam problemas no trabalho. No entanto, se ela continuasse com aqueles sorrisinhos para cima de mim, eu acabaria chegando à conclusão de que ser mandada embora nem seria tão ruim assim, desde que eu pudesse fazê-los desaparecer junto com todo o resto daquela atitude dela.

No fim da tarde do sábado, eu fui me arrumar para ir ao tal jantar organizado pela minha amiga. Eu não estava muito empolgada para sair de casa, mesmo que fosse apenas para cruzar o corredor, então não passei muito tempo pensando no que usaria. Peguei o primeiro conjunto de lingerie ao meu alcance, uma saia jeans e uma blusa básica branca de alças. Completei o look com um par de sapatilhas azuis e acabei não resistindo em colocar um colar comprido para dar pelo menos um ar de ânimo à minha aparência desmotivada. Levei apenas alguns minutos para colocar um pouco de maquiagem no rosto e nem me dei ao trabalho de escovar os cabelos, ele iriam enrolados mesmo, era apenas a casa da minha amiga, que já tinha me visto em dias de cabelo bem ruim.

Tranquei a porta do meu apartamento, levando apenas a chave e toquei a campainha da casa em frente. Encontrei uma Ginny estranhamente animada à minha espera, mas acabei deixando de lado a atitude inusitada, ela com certeza estava tentando melhorar o meu astral. Agradeci mentalmente o esforço dela, mas coloquei em palavras o fato de que eu esperava que o assunto Ronald Weasley permanecesse longe daquele jantar. Exigência essa, que ela não hesitou em concordar da maneira que eu sabia que ela faria. Entrei e cumprimentei o Harry, que estava todo alegre e sorridente como sempre, quando o assunto era ele, o padrão era uma pessoa animada o tempo todo. Eu ainda achava graça o quanto aqueles dois eram diferentes, mas pareciam se completar e eu já até conseguia ver como eles influenciavam um ao outro. Minha amiga carregava mais sorrisos agora.

Tudo já estava pronto, então fomos direto para a mesa aproveitar a comida que estava de fato muito cheirosa. Eu não andava com muita fome ou tempo para comer nos últimos dias, mas a visão de um jantar todo bem preparado conseguiu trazer a minha fome de volta à vida, com o único ponto negativo de me recordar dos vários jantares, exclusivos para mim, que o Ron costumava fazer. A comida dele continuava sendo a minha favorita, porém eu tinha perdido o acesso ao menu, o jeito era tirar aquilo da cabeça e me contentar com o que tinha ao meu alcance.

O jantar estava uma delícia, o Harry realmente tinha os talentos culinários que a Gin não cansava de propagandear. Eu até consegui relaxar um pouco mais, percebendo que a noite não seria tão penosa quanto eu imaginava. Conversamos sobre nada importante, rindo das besteiras que surgiam. Meu prato se encontrava na metade, quando a campainha soou. Achei o fato um pouco estranho, mas não dei atenção, continuei focada em enrolar o macarrão no garfo, conversando com o Harry sobre um assunto qualquer. Foi aí que eu ouvi a voz dele, o timbre que eu reconheceria de longe. O Ron estava parado na porta, o corpo relaxado, a voz tranquila, tudo apontava para a conclusão de que ele não sabia que eu estava ali. Por um segundo eu amaldiçoei o acaso que o fez visitar a irmã no exato momento em que eu jantava com ela, porém a maneira ressabiada da Ginny, falando com ele como se esperasse alguma coisa e se recusando a me olhar, foi o suficiente para me dizer que de acaso esse encontro não tinha nada.

Sempre esteve no fundo da minha mente que se relacionar com o irmão da sua melhor amiga podia vir a gerar situações difíceis, mas a preocupação nunca se concretizou, isso é, até aquele momento. Estava claro, pela total falta de habilidades teatrais, que a Ginny havia convidado a ambos. Tudo ficou pior ainda quando uma ligação muito conveniente a chamou para uma emergência no hospital, para onde claro, o Harry precisou levá-la, insistindo em deixar a namorada no trabalho, percurso esse que ela fazia todo santo dia há anos. A conclusão foi que, em menos de 15 minutos, eu e o Ron nos encontrávamos sozinhos na casa da Ginny, e claramente nenhum de nós sabia o que dizer.

Ele, assim como eu, não enunciou mais do que meia dúzia de palavras desde que chegou, o olhar se fixando em tudo menos em mim. Tínhamos os semblantes igualmente sérios, mas eu não conseguia determinar o que ele sentia. Raiva? Mágoa? Tristeza? Como eu poderia saber, se não entendia nem o que eu própria sentia? Porém, ali estava ele, sentado à minha frente, a uma largura da mesa de distância dos meus dedos. A decisão de encontrá-lo ou não, havia sido escolhida por mim, e por mais que eu fosse ter uma conversinha com a Ginny depois, eu sabia que não dava para simplesmente levantar e ir embora. Mas o que dizer? Falar primeiro ou deixá-lo falar? Eu estava mais magoada com a cena que presenciei, ou mais arrependida da maneira que encarei as coisas?

Os minutos foram se arrastando, cada vez mais constrangedores e pesados. O ar estava carregado de algo indefinido, e com certeza mal resolvido. Meu apetite não existia mais, impossível comer quando seu estòmago é feito de nós e o seu coração literalmente tentava sair do peito. Eu desisti de continuar com o teatro daquele jantar, pousei meus talheres no prato, fazendo barulho que atraiu meus olhos azuis favoritos para cima de mim.

—Não estou mais com fome - falei baixo e sem pensar, porém percebi logo que a minha escolha de palavras tinha sido infeliz, a cara séria dele, conseguiu se fechar mais ainda.

—Eu não sabia que você estaria aqui senão, não teria vindo para estragar o jantar - a voz dele carregava não raiva, mas um ressentimento que eu senti no fundo do peito.

—Tenho certeza que a intenção não era nenhum de nós saber.

—Não sei o que a Ginny tinha na cabeça - subitamente, ele arrastou a cadeira e se levantou - eu já vou.

—Ron, espera! - antes mesmo que eu registrasse a ação, eu já tinha levantado também e pedido para que ele não fosse.

—Esperar o que, Hermione? - o jeito que ele disse o meu nome, se juntou à minha coleção de batidas mais difíceis do meu coração. - Você foi ótima em sair andando, parabéns aliás, não sabia que você tinha essa habilidade, mas agora é a minha vez.

A ironia espetou, porém acabou me tirando da bolha do arrependimento, e trazendo de volta a raiva. A maneira que ele agia, me dizia que ele pensava não ter feito nada errado, e isso eu não aceitaria! Se eu tinha que reconhecer os meus erros, ela precisava fazer o mesmo, pois ninguém era a vítima completa ali.

—Eu saí andando, mas você deu motivo! - me defendi, fazendo-o parar já perto da porta e se virar para mim.

—Eu tentei explicar e você não se deu ao trabalho nem de ouvir!

—Não teve explicação nenhuma, Ron! Só você me dizendo as mesmas palavras: não faço ideia, não faço ideia! - imitei a frase dele, colocando para fora o que estava ainda me magoando.

—E eu tenho que saber tudo, certo? Porque a perfeita Hermione Granger nunca erra, e sempre tem as respostas, não é mesmo? Bom, pelo menos poupou o meu trabalho, não precisei explicar nada - o olhar dele era frio em minha direção, e eu estranhei quase que fisicamente. Era de um absurdo tão grande ser alvo daquela indiferença toda que eu não sabia muito bem como lidar com isso, apenas querer ver o gelo se derretendo. No entanto, eu nunca consegui encarar insultos de maneira completamente pacífica, e nesse caso, os ânimos já estavam exaltados demais para que não falasse nada.

—Se você precisava saber o motivo que levou sua ex esposa a ficar de visitinha na sala? Claro que sim! E… - eu ia continuar a argumentar, porém ele me interrompeu.

—Essa conversa não vai chegar a lugar nenhum, e já está tarde demais para ter começado, uma semana atrasada - fiquei sem reação, tentando entender o que ele queria dizer - diz pra Gin que eu precisei ir quando ela voltar.

Ele se virou e foi até a porta, virando a maçaneta para abri-la, mas sem obter sucesso.

—Filha da puta! - eu nunca tinha visto o Ron xingando a irmã, então era provável que a minha dedução estivesse correta, ela nos trancou ali. - eu não acredito que eles fizeram isso!

Ele se virou para mim, a dureza do olhar, momentaneamente distraída pelo absurdo da situação.

—Eu tinha que esquecer a merda da chave hoje! - ele passou a mãos pelos cabelos exasperado.

—Parece que estamos presos aqui então - conclui, cruzando os braços, eu não estava com humor para ser a pessoa mais acessível do mundo.

—Ela não deve demorar muito - ele sentou no sofá, determinado a esperar a irmã chegar para ir embora.

—Você sabe que ela não vai voltar hoje… - se ela e o Harry tinham se dado ao trabalho de montar aquele teatro todo, não iriam desistir tão fácil.

Sentei no canto mais distante do mesmo sofá, não lembrando de quando havia sido a última vez que eu tinha ficado tão desconfortável na presença dele. Eu já tinha claro na minha mente, que passaríamos a noite trancados ali, e se não fosse essa a chance de tomar coragem e colocar tudo o que eu tinha enterrado para fora, eu provavelmente não teria outra.

—Ela ficou me provocando - declarei, depois de mais alguns minutos de silêncio em que não nos olhávamos.

—O que? - ele estava confuso, se virando para me encarar, apenas para se dar conta do ato e voltar a vista para longe de mim logo em seguida.

—A Lilá - o nome dela era amargo na minha boca - desde o dia do meu aniversário, ela me provocou em cada oportunidade que teve e até nas que não teve, pois ela arrumava um jeito. Primeiro foram comentários sutis, mas eu não caia na isca então ela foi ficando mais maldosa, até de como as suas mãos eram maravilhosas no corpo dela eu escutei. - continuei, minha voz escorrendo veneno.

—E você não me contou por quê? - ele perguntou ainda me acusando.

—Será que era porque eu não queria trazer esse assunto para a sua vida de novo? Você me disse que não gostava de falar nela! Como eu ia reclamar disso para você? - me defendi.

—Mas era sobre você, e isso tinha toda a minha atenção - as palavras com significados tão doces, ditas de modo distante, e no passado, conseguiram contrair ainda mais o meu estômago.

—Eu não queria te chatear com isso, te magoar - continuei a argumentar.

—Ah claro - ele jogou as mãos para cima com toda a ironia possível - porque me deixar daquele jeito não teve nem de longe o mesmo efeito.

—Quer parar de falar como se só eu tivesse feito algo errado? - vociferei, eu não ia aguentar apenas ataques, não tinha ninguém inteiramente certo ali - Se é para conversar, vai ter que ser direito.

—Agora você quer conversar, quer me escutar? - ele cruzou os braços me olhando de canto.

—Não é como se tivesse alternativa - foi a minha vez de fechar a cara e cruzar os braços.

—Eu não vou te obrigar a escutar o que não quer, não se preocupe, vou para outro cômodo se você preferir - ele se impulsionou com os braços e levantou do sofá.

—Não! Você! - eu levantei atrás dele batendo pé - quer deixar de ser cabeça dura?

—A teimosa aqui é você - ele se virou para mim, ambos separados apenas pela mesa de centro.

—Pelo jeito somos os dois - rebati de cara fechada -Isso vai funcionar assim: um fala e o outro escuta.

—E por que você vai querer me escutar agora? Você foi embora! - ele estava tão magoado que eu conseguia perceber em tudo, no tom de voz, no olhar embaçado, na postura em direção a mim.

—Porque eu errei! Porque eu não devia ter ido! - falei colocando a mão no peito e sem conseguir não levantar a voz - Mas você também errou, também me magoou. Se precisar eu começo. Fiz tudo do jeito errado! Devia ter ficado, mas fui, devia ter te falado, mas ocultei… só que… - minha voz foi diminuindo com o peso de cada confissão - eu queria te manter o mais longe possível dela, porque era uma vida inteira com ela com a qual eu competia, e isso não…

—Você nunca competiu com ela, não tem competição!

Meu coração batia tão acelerado com tudo o que eu estava colocando para fora, mas mesmo assim não deixei de notar que ele usou o tempo presente para dizer que entre eu e ela não tinha competição. Um detalhe que bastava para me envolver inteira nos primeiros indícios de esperança. Esperança de que talvez essa conversa chegasse a algum lugar feliz, porém para isso, eu tinha que ir até o fim e dizer tudo o que ainda estava entalado na minha garganta, tanto as partes que me acusavam quanto as que evidenciavam a minha mágoa.

—Mas eu tive medo! Você pode até achar que eu sou sempre segura de tudo, mas não sou, eu não sou a pessoa perfeita que todo mundo imagina! Eu tenho os meus medos e as minhas inseguranças, e sou só uma pessoa, uma pessoa que deixou a raiva falar mais alto, o medo de perder, de te perder. - minha voz tremeu com a última frase, e eu senti meus olhos ardendo com a proximidade de lágrimas que eu não deixaria cair sem muita luta.

—Mione… - ele contornou a mesa de centro e veio para perto de mim, agora nos encarávamos a poucos passos de distância.

—Imagina ficar uma semana inteira ouvindo como o seu namorado era um marido maravilhoso e fazia mil coisas para ela das quais eu nunca ouvi falar, imagina depois encontrar a cena que eu vi, não deu tempo de pensar, Ron, só de agir e saiu tudo errado…. - passei a mão pelos meus cabelos revoltos, tentando de alguma maneira conter tudo que se revirava num tornado dentro de mim.

—Você ainda trabalha com ela, e como eu fico? Toda vez que ela falar alguma coisa eu vou ser despachado? - pela primeira vez os olhos dele encontraram os meus e eu vi claramente a dor estampada neles.

Eu não tinha resposta para me isentar de culpa ali, porém, mais uma vez as palavras dele falavam de um futuro que eu sabia ser tudo o que eu queria.

—Uma hora ela vai embora e… eu não vou mais escutar - falei baixinho.

Um momento de silêncio se ocupou da sala toda, cada um perdido em seus próprios pensamentos, avaliando tudo o que já havia sido dito. Meu peito subia e descia acelerado em conjunto com o compasso do meu coração. Quando eu achei que o assunto tinha morrido e que não passaria daquilo, o Ron se endireitou deixando escapar um suspiro pelos lábios antes de dizer:

—Eu não devia tê-la deixado entrar.

—Não - apenas concordei, pois quanto aquilo eu não tinha nenhuma alternativa de pensamento.

—Ela apareceu na minha porta, eu nem sabia como, e disse que precisava conversar, eu neguei, Mione! - foi a vez dele de me olhar com cara de culpado, a defesa dele começando a surgir -  Mas ela começou a fazer um escândalo...

—Agora escândalo te convence a tudo? - eu o interrompi, foi mais forte do que eu.

—Eu devia ter feito o que? Jogado ela para fora? - ele balançou as mãos enunciando o quão ridícula seria a cena.

—Eu com certeza teria - dei de ombros.

—Mas logo que ela entrou vocês chegaram, eu nem sei o que ela esperava conseguir, além do que ela conseguiu claro, que foi te mandar para longe de mim.

—O Ced falou a mesma coisa - confessei baixinho.

—Falou o que?

—Que eu fiz exatamente o que ela queria, mordi a isca e fui embora - aquilo não era fácil para mim, admitir erros e falhas me custavam muito, mas eu tinha que enxergar a besteira que eu tinha feito ao me deixar levar pelo plano ridículo daquela mulher.

—Seu amigo entende das coisas.

—Mas como ela sabia, Ron? Como ela sabia o endereço - eu precisava entender aquilo, pois não tinha explicação na minha cabeça além da que continuava me machucando.

—Ela ligou para a Beth se passando por você, conseguiu todas as informações possíveis - ele me explicou indignado.

—Ah… - eu tinha sido uma idiota, aquela hipótese não tinha nem sequer me ocorrido.

—A Beth ainda não se recuperou do choque de saber disso.

—Ela armou tudo direitinho, me falou que tinha um encontro antes e no dia seguinte me falou que você a convidou.

—Não convidei! Eu não faria isso, jamais! - ele insistiu, e eu acreditei. O desespero era evidente nos olhos dele - Aquela mulher não significa mais nada para mim, não senti nada ao vê-la nem a raiva de antes, nada. Fiquei muito tempo remoendo o que passou entre nós, o buraco que havia ficado, mas ele foi preenchido há tanto tempo que não tem mais espaço para ela - ele deu mais um passo, o colocando diretamente à minha frente, um esticar de braços nos separava.

—Ron... - eu murmurei e ficamos nos encarando o que pareceu uma eternidade.

—Você não pode mais ir embora assim - ele falou baixinho.

—E você não pode deixar aquela mulher te convencer com escândalos - rebati.

Aquilo estava realmente acontecendo? Estávamos nos acertando de novo? Concedendo a segunda chance que era o que eu mais queria. Uma semana era tempo demais longe dele, como foi que eu pensei que aguentaria para sempre? Eu realmente estava atordoada naquele dia, essa era a única explicação.

—Desculpa por não ter escutado, desculpa por ter ido embora.

—Desculpa por não ter insistido, e por ter deixado ela entrar - ele se aproximou mais, e prendeu a minha mão na sua, o toque delicado sendo o suficiente para aumentar a minha vontade de tê-lo todo de volta pra mim.

—Eu não vou mais cair nas armadilhas dela, não vou mais ser idiota - continuei as minhas desculpas.

—Você não é idiota! - ele me defendeu e naquele momento eu quase sorri de alívio ao ver de novo um olhar carinhoso em minha direção.

—Mas eu fui, deixei o ciúme falar mais alto… mas é você, e eu quero você só para mim - foi a minha vez de capturar a mão livre dele  na minha, cada pedacinho de aproximação me dizendo que tudo ficaria bem.

—Não existe e nunca existirá mais nada entre eu e ela, você acredite em mim? - os olhos dele procuraram os meus, exigindo uma resposta.

—Sim - declarei, e me senti aliviada ao perceber que era realmente verdade, meu coração tinha entendido de uma vez por todas que não tinha espaço para a Lilá na vida dele.

—Mas essa confiança tem que ser pra sempre, Mione, porque eu não aguento isso de novo, doeu muito mais do que eu podia imaginar - a voz dele tremeu e meu coração afundou ao pensar em tudo que eu o fiz passar.

—Desculpa - olhei pra baixo num súbito arroubo de vergonha pelo que eu tinha feito, claro que ele também agiu errado, mas as minhas ações não deixavam de me fazer sentir uma boa dose de arrependimento.

Ele soltou uma das mãos e levou-a ao meu queixo, levantando meu rosto para que ele pudesse me encarar mais uma vez.

—É só você me prometer que não vai embora de novo, nunca mais.

—Nunca mais - eu prometi.

—E me desculpar também por ser tão lerdo, e por não ter deixado ela do lado de fora.

—É só você prometer chamar a polícia da próxima vez - exigi também, a sombra de um sorriso sem insinuando em meus lábios.

—Prometo.

—Você não está mais bravo comigo, mesmo? - eu só precisava de uma confirmação final, aquietar de vez os meus temores.

—Com você, o jogo nunca é imparcial, eu não consigo ficar bravo por muito tempo, eu te amo demais pra ser possível - meu coração deu uma pirueta com a declaração e a visão do sorriso lindo dele.

—E eu te amo demais pra ficar longe, não ia conseguir também - naquele momento, eu percebi que era a mais pura verdade, eu teria acabado por ceder e ir atrás dele. Eu geralmente não dava meu braço a torcer por nada, mas o Ron era o meu ponto fraco.

—Eu senti sua falta, amor - ele subiu a mão para o meu rosto, tocando a minha bochecha e tudo voltou a fazer sentido.

—Eu ainda estou com saudade, amor - repeti o apelido, saboreando a palavra nos meus lábios.

Sem dizer mais nada, ele envolveu a minha cintura com a mão me trazendo de encontro a ele. Eu fiz o mesmo e me abracei a ele apoiando a cabeça em seu ombro. Era uma sensação tão reconfortante, tão familiar a de estar de novo nos braços dele. O abraço apertado nos assegurava de que estávamos mesmo ali, novamente juntos do jeito que tinha que ser. Senti os dedos dele acariciando os meus cabelos e respirei fundo, feliz de ter o perfume dele perto de mim de novo.

—Senti falta desse abraço - ele murmurou, os lábios próximos ao meu ouvido.

—Eu também - confessei - não percebi que você estava tão misturado na minha vida até não poder te ver mais.

—Não tem problema, não vou mais ficar longe, nem tente - ele brincou.

—Você não tente também, porque eu quero poder ligar toda vez que acontecer alguma coisa e eu quiser te contar - falei sorrindo de maneira brincalhona, levantei o rosto para poder encará-lo, mas sem sair do abraço que ainda me envolvia.

—E eu tenho uma chapinha sem ninguém para usar se você não estiver comigo - ele foi lembrar de uma bobeira dessas e eu acabei rindo.

Ele ficou me observando atentamente enquanto eu ria com gosto. A gargalhada esmaeceu e meus olhos se prenderam nos dele deixando de lado a graça da situação e trazendo a tona a saudade e o desejo. Num gesto lento, ele passou os dedos pelos meus lábios, um toque sutil que foi o necessário para acelerar o meu pulso. A outra mão dele veio emoldurar também o meu rosto ao mesmo tempo que ele se inclinou para dissipar de uma vez por todas a distância que separava as nossas bocas. Foi um beijo doce, um simples roçar de lábios, que terminou bem antes do que eu gostaria. Eu abri a boca para protestar mas ele foi mais rápido e, com um sorriso me calou. Dessa vez não houve tempo perdido para aprofundar o beijo. Nossas línguas se encontraram na costumeira dança onde explorávamos cada canto da boca um do outro.

Minhas mãos subiram pelo corpo dele, se insinuando por debaixo da camiseta que ele usava, arrancando um gemido de encontro aos meus lábios quando eu arranhei a pele de leve. Senti os seus dedos perdendo o contato com o meu rosto para navegar pelos contornos do  meu corpo, até achar o fim da minha saia,e apertar a minha coxa e me fazer ofegar com um arrepio gostoso. Os lábios dele se separaram dos meus, traçando um caminho de beijos pelo meu rosto e chegar ao meu pescoço, me roubando mais uma vez o fòlego ao lamber a pele sensível. Ele prendeu os dedos na barra da minha blusa puxando o tecido para cima.

—Ron… - murmurei, com certa dificuldade em virtude das carícias que ele ainda fazia no meu pescoço.

—Hum...

—Nós estamos na sala da sua irmã - agarrei as mãos dele, tentando conter o avanço em me deixar sem aquela peça de roupa.

—Ninguém mandou ela prender a gente aqui - ele falou numa voz maldosa - vou aproveitar e fazer muita bagunça - ele se afastou apenas o suficiente para conseguir passar a blusa pela minha cabeça e jogá-la praticamente no meio da sala, um sorriso atrevido enfeitando seu rosto.

—Se é assim, também quero fazer bagunça - protestei, puxando-o de volta para mim e tirando rapidamente a camiseta dele e lançá-la para perto da minha.

As outras peça de roupa foram sendo jogadas para cantos diferentes da sala, porém eu só me importava e poder sentir a pele dele na ponta dos meus dedos. A boca dele estava me provocando logo acima da renda do meu sutiã. Prendi os cabelos dele na minha mão, me agarrando a ele ao começar a me sentir trêmula com todas as sensações que me provocava. Ele apertou a minha cintura, antes de deslizar as mãos pelas minhas costas e chegar ao fecho do meu sutiã. Foi com uma antecipação gostosa que eu o ajudei a me separar do tecido vermelho. O elástico da alça ainda estava preso entre os meus dedos quando ele puxou o sutiã para atirá-lo para longe, fazendo com que o trajeto fosse bem mais longo do que o esperado, acabando num barulho estranho.

—Ei, onde foi parar? - desviei o meu rosto ao tentar ver onde o meu sutiã tinha pousado, mas ele capturou o meu queixo e voltou minha atenção toda para si.

—Não importa - a boca dele já estava colada de novo na minha, as carícias chegando aos meus seios, me arrancando um gemido.

Mordi o lábio dele ao sentir um aperto mais intenso, fazendo-o sorrir o sorriso atrevido que eu amava. Sem me deixar nem respirar, as mãos dele foram substituídas pela língua, extinguindo o meu fôlego imediatamente. Sem se desgrudar de mim, ele foi guiando os meus passos até chegarmos no sofá, onde eu sentei pouco antes dele se abaixar, ficando entre as minhas pernas, nossos rostos no mesmo nível. As  mãos dele estavam nas minhas coxas, nossas respirações aceleradas se misturavam. Ele ficou me olhando por alguns instantes, antes de levantar a mão para colocar uma mecha do meu cabelo de volta para trás da orelha, mantendo-a no meu rosto. Me perdi na visão dos meus olhos favoritos, presa na felicidade que era estar junto com ele.

—Eu te amo, Mione, não quero brigar nunca mais - as palavras aqueceram o meu coração, que não parava de dar piruetas, além de colocar um sorriso enorme no meu rosto.

—Eu te amo, Ron, e não quero mais você longe de mim - foi a vez dele de sorrir para mim, me deixando mais feliz ainda.

Dizer tudo diretamente pela primeira vez não pareceu nada mais do que certo, natural. Eu o amava, ele me amava, no momento nada mais importava. Eu o puxei de novo para mim, precisando do contato entre nós. Ele se inclinou cobrindo o meu corpo com o seu, assim que eu deitei no sofá. Não demorou muito para os últimos pedaços de roupa desaparecerem e podermos eliminar de uma vez por todas o restante da distância entre nós.

—Amor, acho que ela não vai voltar mesmo hoje - ainda estávamos no sofá, eu deitada  sobre o peito dele, meus olhos quase se fechando de sono depois de todo o tempo que passou.

—Se eu bem conheço a Ginny, agora tá com medo de levar uns tapas - ele zombou.

—Ron! Você não vai bater na sua irmã - olhei feio pra ele, por mais que eu soubesse que ela estava apenas brincando.

—Mas ela bem que merecia dessa vez…

—Por quê? Por ter nos dado um empurrãozinho para nos entendermos de novo?

—Claro que não, amor - ele se inclinou e deu um selinho nos meus lábios - só pelo teatro absurdo mesmo, e por nos trancar também, merece uma boa dose de provocação.

—Quanto a isso eu concordo - dei risada tentando imaginar o que esperar para a volta da minha amiga no dia seguinte.

—Amanhã a gente dá um jeito nisso, porque já vi que hoje seremos só nós dois aqui - ele se impulsionou, fazendo menção de levantar.

—Onde você vai?

—Pro quarto - o deboche era evidente no tom dele - minha irmã pode tirar o cavalinho da chuva se acha que eu vou dormir na sala, vem - por um instante achei meio estranho o pensamento de dormir com o Ron na cama da minha amiga, mas dei de ombros e me rendi a única opção confortável que tínhamos disponível.

Ele me levou pela mão até o cômodo, puxei as cobertas e me acomodei ao lado dele assim que ele apagou a luz e veio se juntar a mim.

—Não consigo não achar isso meio estranho - falei rindo.

—Não tem nada de estranho - ele dispensou as minhas preocupações se virando para mim.

—Ah, então se um dia você chegar em casa e a Ginny estiver dormindo com o Harry na sua cama, não vai ter problema nenhum? - zombei, sabendo que - mesmo sem conseguir ver - a cara dele teria se fechado.

—Não tem nada a ver uma coisa com a outra, o que o moleque ia estar fazendo na minha cama?

—Rabugentinho - meus dedos encontraram os cabelos dele, onde eu fiquei fazendo carinho.

—Não sou rabugento - ele resmungou - e nem vou prender os dois na minha casa, além do que, eu tenho um quarto de hóspedes - ele continuou com os argumentos contra a ideia de ter a irmã e o namorado juntos na cama dele.

—Tá bom, amor já entendi - eu estava com sono, o melhor era acabar aquele assunto que eu mesmo comecei, pois eu já tinha experiência de que o ciúme do Ron podia durar bastante - não vai ter Harry nenhum na sua cama, agora vamos dormir.

—Estou sendo dispensado, é? - ele resmungou fazendo graça.

—Não, é pra você dormir comigo - passei a mão pela cintura dele, colando nossos corpos.

—Se for assim, tudo bem - ele apoiou a cabeça no meu ombro, dando na minha bochecha, o último beijo do dia.

—Boa noite, amor - sussurrei.

—Boa noite.

Acordamos cedo na manhã seguinte, e dizer que eu estava com fome seria atenuar demais a sensação. Com o jantar frustrado da noite anterior, fazia muito tempo que ambos não viam comida pela frente.

—Vamos ter que assaltar a geladeira - falei para o Ron quando ele saiu do banheiro vestindo ainda apenas a cueca.

—Nada que ela já não tenha feito lá em casa também - ele riu me chamando para ir a cozinha.

As nossas roupas permaneciam jogadas pela sala e, num entendimento mútuo, decidimos que elas não sairiam dali. Devido às inúmeras vezes que eu tinha estado ali, não foi nem um pouco difícil encontrar algo para comer. Fiz café com leite para nós, enquanto o Ron preparava torradas. Ele terminou rapidamente as dele e eu permaneci na cozinha comendo, quando ele levantou para verificar o celular dele na sala, o aparelho tinha anunciado a chegada de alguma mensagem. Eu só conseguia pensar no quão engraçado seria quando a Ginny - e eu supunha também o Harry - chegassem. Eles realmente mereciam ser provocados pela atitude no mínimo infantil, contudo eu estava também agradecida, afinal eu tinha o meu ruivo favorito de volta e, por mais que eu soubesse que não conseguiria me manter longe por muito mais tempo, eles com certeza aceleraram o processo.

Meus pensamentos pareciam ter sido ouvidos pelos dois, já que poucos minutos depois eu ouvi a porta abrindo e a voz do Ron debochada cumprimentando a irmã. Me apressei a voltar para a sala, fui carregando a minha torrada, a fome era o suficiente para não deixá-la para trás, e o que era uma torrada em comparação com meu estado de completo desalinho e minha escolha um tanto exótica de guarda roupa, que ainda consistia em apenas a camiseta do Ron. A cara da Ginny englobava curiosidade e cautela ao nos observar. No entanto eu logo vi um sorrisinho no canto dos seus lábios, a marca de um plano bem sucedido. Porém,, o que eu percebi também foi o olhar rápido dela ao visualizar minha falta de vestuário, indo automaticamente verificar para onde o Harry estava olhando, eu quase ri com a ação descabida.

—E a emergência de ontem, tudo certo, Ginny? - eu tinha a mais completa certeza de que não havia emergência alguma, mas foi engraçado ver o rosto dela se transformar numa mistura de embaraço e satisfação.

—Pelo jeito sim - ela olhou de mim para o Ron, o Harry permaneceu calado, apenas levando a mão à boca para segurar o riso.

—Muito intrometidinha, pirralha! - o Ron deu um peteleco na testa da irmã que logo reclamou.

—Funcionou não funcionou?

—O que você ganhou foi uma bagunça para arrumar, porque não vamos fazer a cama.

—A cama? Você que vai dar um jeito nisso, Harry as consequências do plano vão ser suas também.

—Nada disso, ratinha, você aceitou participar completamente - ele protestou sorrindo para ela.

—Ah, então a idéia foi do moleque? - o Ron cruzou os braços, empregando uma cara séria, que quase me convenceu, porém eu o conhecia bem demais para saber que era tudo encenação, o Harry no entanto, não tinha a mesma expertise e percebi os olhos dele se arregalando de leve.

—Amor, para com isso, temos que agradecer os dois, e se foi ideia do Harry, ele merece agradecimento em dobro, até porque convencer a Ginny não deve ter sido nada fácil - argumentei.

—Não foi mesmo! - ele assumiu um olhar satisfeito pela conquista, sendo encontrado por um torcer de nariz da namorada.

—Obrigada, Harry - eu me adiantei até ele e o abracei, mal meus braços encontraram as costas dele, eu escutei as vozes dos dois Weasleys reclamando.

—Já tá bom de abraço! - eles entoaram juntos e eu soltei o Harry rindo, aquele ciuminho era a coisa mais engraçada.

—Vou me afastar para garantir a sua sobrevivência, Harry - zombei, voltando para o lado do Ron e prendendo no meu braço no dele.

—Obrigado, Mione, não pretendia mesmo morrer hoje - ele riu junto comigo.

—Vocè podia ter colocado uma roupinha, né, Mione? Tenho um guarda roupa inteiro no quarto - a Gin reclamou.

—Magina, eu não quis abusar da sua hospitalidade - provoquei.

—Não seria abuso nenhum - ela me assegurou ainda levemente contrariada.

—Vamos, Ron a Gin deve estar cansada de tanto trabalhar a noite passada - ela riu da minha frase totalmente falsa.

Eu comecei a caçar as minhas peças de roupa, assim como o Ron.

—Depois a gente conversa melhor sobre isso - ele riu para a irmã que revirou os olhos - pegou tudo?

—Não estou achando o meu sutiã, me devolve quando achar, Gin? - ela levantou a sobrancelha, mas conseguiu manter para si os pensamentos que vieram na sua cabeça, eu tinha passado do ponto de me importar em constranger alguém, eu só sabia que a minha felicidade era tanta que não me incomodava com nada daquilo.

—Claro - foi tudo o que ela disse antes de nos levar até a porta.

O Ron abraçou a irmã e eu ouvi ele sussurrando um “obrigado” no ouvido dela.

—Tchau, Gin, obrigado pelo jantar, mas é melhor eu nunca mais brigar com o meu namorado, porque vai saber onde eu vou acabar presa da próxima vez - ela deu um sorriso culpado, mas acabou se juntando a mim numa gargalhada.

—Não briguem mais mesmo! - ela concordou.

Atravessamos o corredor para entrar no meu apartamento e aproveitar o resto do nosso final de semana, que dessa vez não seria passado sozinho.


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Notas finais do capítulo

Oooooooooown os dois lindinhos estão de bem de novo! Confesso que fiquei agoniada nos dias que levaram para eu conseguir colocar os dois juntos novamente hauhauha
Me digam o que vcs acharam do plano da Ginny e do Harry.
E sobre as motivações do Ron e da Mione? No final os dois estavam errados e certos, cada um ao seu modo, mas são humanos, né? Todo mundo erra... o importante é que essa fase ruim passou!
Espero os comentários de vocês!

Bjus

Crossover: no capítulo passado de DV, dá pra ver melhor o que a Ginny achou de encontrar a amiga e o irmão naquele estado de desarrumação na casa dele, não deixem de ler!



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