Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!
Aqui está o último capítulo da viagem. Eu particularmente gosto muito desse pela quantidade de fofurice dos meus dois lindinhos.
Sei que ainda estou super atrasada com as respostas dos comentários de vocês, mas isso será remediado! Estão todos lidos ;)
Espero que gostem
Bjus



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Eu não era acostumada a acordar tarde e estava descansada o suficiente para que os meus olhos se abrissem cedo no sábado, mesmo que a noite anterior tivesse terminado bem tarde. Senti o habitual peso dos braços que me envolviam e me repreendi mentalmente por pensar que qualquer coisa naquela viagem pudesse já ser “habitual”. A verdade era que eu estava gostando além da conta de tudo até o momento, até mesmo as pequenas irritações adicionavam cor à pintura que estava sendo criada. Respirei fundo percebendo que meus pensamentos estavam indo por caminhos muito filosóficos quando deixados sozinhos, então me virei para encarar o ruivo ao meu lado a fim de acordá-lo. Quase desisti da ideia, ele parecia tão satisfeito dormindo, mas eu estava completamente desperta e não queria ficar sozinha.

—Ron, acorda – falei baixinho e chacoalhei de leve o ombro dele, eu não queria acordá-lo com um susto.

Foi como se eu não tivesse feito nada, ele continuou respirando normalmente e os olhos dele não se moveram um milímetro, decidi tentar de novo.

—Ron, já é de manhã – o empurrão foi mais forte dessa vez, ainda sem sucesso.

Sorri ao ter a ideia de tentar outro tipo de tática, me estiquei para que minha cabeça ficasse na mesma altura da dele, me aproximei devagar e encostei a boca no pescoço dele, me afastando rapidamente. Ele estava difícil de acordar naquele dia, o fato só me encorajou a tentar novamente, dessa vez sendo mais incisiva na carícia até capturar os lábios dele com os meus. Eu senti, antes de ver, que ele tinha acordado, pois ele abriu a boca correspondendo ao beijo sem reservas.

—Bom dia – cumprimentei.

—Oi – ele piscou tentando abrir os olhos – acho que eu me acostumaria fácil com esse despertador - comentou ainda sonolento.

—Acho que não é muito eficiente, você ainda está dormindo.

—Não, estou super acordado – ele fechou os olhos e afundou o rosto no meu pescoço fugindo da luz.

—Anda, acorda! Temos um dia de planos seus para cumprir.

—Verdade! – ele pareceu se animar com a lembrança.

—Você podia começar com o café – observei como quem não quer nada.

—Não acho muito justo isso, eu faço café todo dia e você ainda não cozinhou nada pra mim – ele resmungou.

—Mas seu café na cama é tão bom – passei a mão pelos cabelos dele, tentando agradar.

—Eu faço se você fizer alguma coisa pra mim hoje – ele esperou a minha resposta – pode ser o almoço ou jantar.

—Tá bom, seu reclamão, o jantar então, porque temos que comprar as coisas, mas não espere nada elaborado – cutuquei o peito dele fazendo-o rir.

—Aceito qualquer coisa simples, pode ser macarrão – eu assenti – sou tão legal que até te ajudo.

—Você vai me ensinar a fazer aquele molho? – me referi ao molho que ele sempre fazia e se recusava a me mostrar como, estava no topo dos meus favoritos.

—Hum... quem sabe? – ele se espreguiçou – deixa eu levantar pra começar esse café.

—Espera – puxei-o de volta para perto de mim – só mais um pouquinho.

Não sei o que se apossou de mim para agir de tal forma, a vontade de ficar abraçada com ele por mais alguns minutos apareceu e eu não me importei em segui-la. O sorriso que eu recebi em resposta foi o suficiente para me dizer que eu não estava fazendo nada errado, por esse e o próximo dia, ele estaria ao alcance dos meus dedos e eu pretendia aproveitar.

—Bom, tenho que levantar se não esse café sai na hora do almoço – ele deu um beijo na minha testa e foi para a cozinha.

Não muito tempo depois, ele retornou com a habitual bandeja, dessa vez ele preparou torradas, que comemos em meio a uma conversa animada sobre o que faríamos com o sábado.

—Tudo bem, podemos ver esses pontos turísticos pela manhã, não falta muita coisa de qualquer maneira – concordei com o plano dele.

—Aí almoçamos e eu caço alguma coisa para encher a nossa tarde, porque depois temos que passar no mercado já que alguém vai cozinhar hoje – ele estava todo satisfeito com a conquista, eu fiz uma careta só para provoca-lo.

—Vou deixar anotado que você me convida para uma viagem e depois me faz trabalhar – eu quase ri do meu próprio drama, até aos meus ouvidos parecia algo digno do Ced.

—Não vamos começar a contar quem está explorando quem aqui, senhorita – ele tocou de leve o meu nariz, entrando na brincadeira.

—Só não vai achando que eu esqueci que você me ofereceu ajuda.

—Quem, eu? – ele levou as mãos ao peito fingindo surpresa – deve ter sido algum outro ruivo que você conhece.

—Seu álibi acabou de ser destruído, você é o único ruivo da minha vida – apenas depois que as palavras saíram da minha boca, foi que eu percebi o sentindo implícito com a qual elas podiam ser interpretadas e dizer que eu fiquei sem graça foi pouco, ainda mais quando ao olhar para cara dele, ele exibia um sorriso um tanto quanto misterioso.

—Que cara é essa? – desconversei, doida para mover os holofotes da minha cara que provavelmente estava em algum tom entre vermelho e carmim a julgar pelo calor que eu sentia nas minhas bochechas.

—Nada, só pensando em como nós ruivos somos escassos – a cara dele não estava nem um pouco parecida com a de uma pessoa que estava ponderando esse tipo de banalidade, mas resolvi não contrariar, afinal eu já tinha dado um tiro no pé hoje, o que constava como um a mais do que eu gostaria.

—Você e a Ginny são quase espécies em extinção.

—Bom, isso depende... olhando qualquer álbum de fotos da minha família, você veria que era a regra – ele riu.

—Sua mãe e seu pai eram ruivos também? – lá estava eu de novo caçando algumas migalhas, curiosidade era um perigo.

—Sim, meu pai já não tinha muito cabelo, mas o pouco que tinha era ainda mais vermelho do que o meu e para saber como era a minha mãe, é só olhar para a Ginny e imaginar uns bons 20 anos a mais, iguaizinhas até no gênio.

—Você puxou mais o seu pai, então?

—Eu diria que sou uma mistura bem equilibrada dos dois, mas meu temperamento sempre foi mais parecido com o do meu pai – ele ficou alguns minutos olhando para o prato quase vazio no seu colo – e você?

—Se eu pareço mais com a minha mãe ou meu pai? – ele balançou a cabeça afirmativamente – fisicamente sou a cópia da minha mãe, mas não tenho nada de parecido em gênio, ela é toda calma e paciência, eu e meu pai que somos os agoniados da família, mas isso você vai poder concluir sozinho.

—Vou? – ele pareceu confuso.

—Eles vem para o desfile, acho que não mencionei – fiquei curiosa para ver como ele reagiria à noticia, eu não ocultei a informação de propósito, realmente tinha me esquecido, só esperava que ele não se importasse.

—Ah sim, então finalmente vou conhecer o Sr e a Sra Granger de quem eu ouvi tanto falar – ele não pareceu receoso com a situação, o que me deixou contente.

—Eles estão muito animados com a visita, principalmente a minha mãe, faz tanto tempo que eles não vêm, ela está toda contente que vai finalmente conhecer... vocês – adicionei o plural no último segundo, me salvando de mais um deslize.

—Vocês quem?

—Oras, a Ginny, você, o Ced, as pessoas de quem ela sempre ouve falar – eu tive a impressão de vê-lo apertando os olhos por um momento, e a verdade era que te todos daquela lista, ela só não conhecia o Ron.

—Hum... não sabia que você falava de mim pra ela.

—Você é o irmão da minha melhor amiga, aparece de vez em quando nas histórias – expliquei num tom neutro, mas parecia que aquela conversa não estava caminhando para um lugar muito seguro.

—Pobre de mim, fui relegado ao papel secundário de irmão da melhor amiga – ele colocou a mão na testa fazendo drama.

—E você queria que eu classificasse como? – eu quis costurar a minha boca só para nunca mais deixar nenhum besteira sair dela, mas palavras ditas não voltavam atrás.

Eu prendi a respiração, por alguns segundos nenhum dos dois disse nada, ficamos nos encarando com os olhos ligeiramente arregalados.

—Olha o horário, melhor nos arrumarmos para não perder a manhã – eu pulei da cama, nem me importando de dar na vista que eu tinha totalmente mudado de assunto, para minha sorte o Ron dançou conforme a música e foi como se aquela última pergunta não tivesse existido.

Entrei no banheiro, e numa atitude nada comum, tranquei a porta. Eu precisava de alguns minutos com a certeza de que não veria a cara dele. Encarei meu reflexo no espelho, ainda meio perturbada com o meu display de falta de noção, talvez eu não estivesse muito bem da cabeça, porque a minha língua estava mais rápida do que o meu cérebro. O pior era o desejo no meu peito de ter escutado a resposta dele. Só consegui pensar que o Ced adoraria estar vendo essas cenas.

—Segura essa língua, Hermione! – briguei comigo mesma, mantendo a voz baixa para que ele não me escutasse.

Ao que parecia eu estava virando um perigo para mim mesma, essa viagem ainda nem tinha acabado e já estava saindo do controle. Eu vim com a intenção de deixar meus desejos e sentimentos para serem avaliados no final de tudo, aproveitando nosso tempo juntos sem preocupações, mas pelo andar das coisas, eu estava mais afetada do que previa. Respirei fundo, colocando todas as minhas dúvidas e hesitações de volta nas devidas caixas que tinham como dever contê-las por mais algum tempo. Quando eu terminei de me arrumar e principalmente de me colocar de volta a normalidade, eu abri a porta do banheiro, pronta para continuar o dia como se nada tivesse acontecido. O Ron me esperava sentado na cama, arrumado para sair, ele passou por mim para usar o banheiro e alguns minutos depois estávamos no taxi para começar nosso passeio.

Para o meu alívio, nenhum tom constrangedor ficou entre nós durante as visitas que fizemos pela manhã. Acabei resolvendo deixar de lado e sensação de desconforto, apenas mantendo em mente que eu devia prestar mais atenção às palavras que saiam da minha boca. Depois de andar muito resolvemos para e almoçar, eu me levantei para sair assim que terminamos, mas ele me impediu.

—Espera um pouco aqui, eu já volto.

—Aonde você vai? – aquela atitude era muito esquisita, claro que eu ficaria curiosa.

—Cuidar de ocupar a nossa tarde – ele me deu um beijo rápido e saiu.

—O que é? – perguntei quando ele já estava alguns passos distante.

—Se der certo daqui a pouco você descobre.

Lá vinha ele com mais uma surpresa, pelo jeito eu ia ter que me acostumar com isso, pois ele parecia gostar muito de fazê-las. Ele demorou quase vinte minutos para voltar, o que me deixou com um nível considerável de curiosidade quanto a natureza dessa ideia repentina. Quando ele retornou ao restaurante, apenas para me dizer que eu já podia sair, o tamanho do sorriso dele quase não cabia no rosto, era evidente que ele estava satisfeito por ter conseguido realizar o que pretendia.

—Pelo jeito deu tudo certo.

—Sim, já tenho aqui os tickets - ele me mostrou dois pedaços de papel retangulares, que tinham a aparência tradicional de ingressos.

—E onde vamos?

—O barco sai em uma hora, mas temos um bom caminho até lá, é um passeio pelo lago – ele declarou triunfante.

—Barco? – meu estômago afundou, e eu já sentia minhas mãos meio trêmulas, contudo eu tentei soar o mais despreocupada possível?

—Você não gosta de barcos?

Eu ia confirmar que uma das coisas que eu menos gostava na vida era estar num meio de transporte flutuante cercada por quantidades exageradas de água, mas a cara de decepção dele me partiu o coração, então decidi respirar fundo e aproveitar o passeio, ou ao menos tentar, não devia nem demorar muito mesmo.

—Não é isso, deve ser um passeio lindo, vamos? Não temos muito tempo – esbocei o melhor sorriso que pude, mesmo que a minha vontade fosse correr para o outro lado.

Chegamos faltando poucos minutos para o barco sair, fiquei orgulhosa de mim mesma por ter conseguido andar pelo píer e entrar no veículo sem ter nenhum tipo de colapso nervoso. Pelo menos tinha cabines onde nos sentamos, mas claro que o Ron escolheu os melhores locais, que possuíam uma vista panorâmica do lago através das paredes todas envidraçadas. Não precisei nem pensar duas vezes para escolher o assento mais afastado da janela, se desse eu ficaria até de costas.

—Pode sentar na cadeira da frente, você não vai ver muita coisa daí, eu fico nessa – ele ofereceu.

—Não precisa, dá pra ver tudo daqui – confirmei e ele acabou sentando no lado mais próximo.

Até então tudo bem, ele começou a me contar que da última vez que tinha entrado num barco foi há vários anos atrás numa viagem com os amigos, um dos quais passou mal o tempo todo. Eu consegui me distrair um pouco ouvindo a história bem humorada dele, mas assim que os motores foram ligados e começamos a nos movimentar, eu fiquei tensa. Era mais forte do que eu, para minha sorte o Ron estava tão maravilhado com a vista que não ficou prestando muita atenção nas minhas expressões, se continuasse assim até o fim, eu talvez conseguisse encarar a viagem sem muito alarde.

Os minutos passaram e o barco não mostrava nenhum sinal de que ia dar meia volta e retornar, aquilo começou a me preocupar.

—Quanto tempo dura o passeio?

—A gente volta no final da tarde, pelo jeito.

—Tudo isso? – pronto, agora eu estava definitivamente nervosa.

—Algum problema, Mione? – ele me olhou parecendo levemente preocupado.

—Não, é só que... será que vai dar tempo de comprar as coisas para o jantar? – falei a primeira coisa que me veio a cabeça.

—Dá sim, se não der a gente janta em algum lugar, vai valer a pena, tem algumas paradas que pareceram bem legais no cartaz do passeio – eu assenti, virando pra fingir apreciar a vista para que a conversa terminasse por ali.

A vantagem de ter paradas no caminho, é que significava menos tempo flutuando, mas mesmo assim, entrar e sair de um barco não era nada divertido. Eu estava admirando atentamente os meus sapatos quando outro barco passou por nós na direção contrária, a ondulação da água causou um movimento mais acentuado e eu me agarrei ao banco, prendendo a respiração abruptamente.

—Tem certeza que você está bem? – Ron me olhou meio desconfiado.

—Claro, ótima – meu sorriso que era pra ser radiante, saiu amarelo.

—Estou te achando meio pálida, você fica enjoada em barcos?

—Não – eu estava tão tensa e me esforçando tanto para que ele não percebesse, que apenas monossílabos se tornara possíveis.

Alguém estava se divertindo muito às minhas custas, essa era a única explicação para o tranco que o barco deu.

—Ai, Jesus! – antes que eu pudesse me impedir, agarrei o braço do Ron com as duas mãos, o que só aumentou a desconfiança dele.

—Mione, você quer fazer o favor de me dizer por que você está nervosa?

—Nervosa? – outro tranco e foi a vez de afundar a cabeça no pescoço dele – impressão sua.

Ele riu da a minha atitude e principalmente do tom tremido com o qual as minhas palavras saíram.

—Acho que eu sou um pouco mais esperto do que isso – ele levantou meu queixo delicadamente com a ponta dos dedos.

—Eu morro de medo de água – confessei.

—O que? – os olhos dele dobraram de tamanho, e ao invés das risadas ou da cara de decepção que eu esperava, ele estava bravo – como você não me diz isso? E me deixa te arrastar para uma tarde inteira num barco?

—Eu não queria estragar o passeio, você estava tão contente – expliquei.

—E agora você está com medo, como eu vou ficar feliz assim? Vem cá – ele passou o braço pelos meus ombros, me enlaçando num abraço apertado.

—Eu devia ter falado, é que...

—Tudo bem, Mione, mas agora não dá pra simplesmente voltar, você vai ter que aguentar firme.

—Eu sei, nunca passei tanto tempo num lugar com tanta agua junta – ele me olhou claramente se sentindo culpado.

—Mas também você nunca esteve comigo num lugar desses, e eu deixo você ficar o tempo toda grudada em mim, fica tranquila que eu sei nadar.

—Ótimo, eu só sei nado prego – ele riu e eu me juntei a ele, no fim das contas era uma situação engraçada olhando de fora.

—Mas me explica direito isso, você tem medo de água...

—Lagos, rios, mar, piscinas, nem de poças eu gosto.

—Você nunca me pareceu nervosa quando estamos na banheira – ele observou.

—Bom, não tem muito espaço para água lá dentro, não tenho medo de baldes nem de copos – falei irônica.

—Dá para dizer o mesmo de poças – ele rebateu.

—Ah, mas essas tem agua suja, o desgosto é por outra razão – ele riu da minha explicação inesperada.

—Você teve alguma experiência ruim? Já quase se afogou ou algo do gênero? – como explicar? Entender era difícil até para mim.

—Não, e meus pais tentaram de tudo, é um medo irracional.

—Desculpa, mas concordo com eles, pensei que tinha acontecido algum acidente – ele zombou.

—Falou o homem que tem medo de cair do avião sem nunca ter caído – se ele ia tirar sarro do meu medo, ia ter que aguentar o mesmo tratamento.

—Bom argumento.

Não muito tempo depois, o barco chegou à primeira parada, o bosque que visitamos era lindo, e tudo me parecia melhor ainda por estar firmemente ligado ao chão. Eu me diverti o suficiente para esquecer que teria que entrar no barco de novo, mas dessa vez o Ron estava ao meu lado, segurando a minha mão, o que por mais que pareça besteira, ajudou um pouco. Depois da segunda, e última parada, voltamos ao barco para traçar o caminho que nos levaria de volta ao ponto de partida. Já era fim de tarde, o sol começava a se por, nos presenteando com uma bela paisagem, que eu tentei ao máximo aproveitar.

—Detesto te ver assim – ele declarou do nada, estávamos novamente sentados nos nossos lugares, eu agarrada a ele.

—Assim como?

—Com esses olhos arregalados, assustada – a preocupação refletida nos olhos dele conseguiu fazer o nó do meu estômago se afrouxar um pouco.

—Nem estou com tanto medo assim – balancei a mão tentando desconversar, eu não queria que ele se sentisse mal com a situação.

—Mentirosa, suas mãos estão congelando – ele prendeu as minhas mãos nas dele e levantou-as até os seus lábios, dando um beijo em cada uma - mas já estamos chegando.

—Não vou dizer que isso não me deixa alegre, mas o passeio foi realmente lindo, Ron – era a mais pura verdade, fora os momentos estressantes da locomoção, eu tinha amado cada minuto - Ainda bem que você fez uma surpresa, se não eu nunca teria ido conhecer, só é uma pena que não tem uma ponte até lá ou um heliporto – brinquei.

—Se você fosse de helicóptero eu teria que insistir em vir de barco.

—Que bela dupla nós somos, um tem medo de voar e o outro de transportes aquáticos.

—Já falei que não tenho medo de voar! – eu revirei os olhos – e eu vim de avião, não vim?

—Isso é verdade – apreciei pela primeira vez o quanto deve ter sido difícil pra ele.

—Será que se você soubesse nadar, não ia se sentir mais segura?

—Ron, meus pais tentaram a vida toda, desde pequena eu fazia escândalo quando me colocavam na piscina.

—Mas agora você já é uma mocinha – ele cutucou a minha bochecha, rindo – já tentou de novo depois de adulta?

—Não.

—Tive uma ideia! – o rosto dele se iluminou.

—Ai meu Deus, o que foi agora? – franzi a testa, já temendo o que vinha pela frente.

—Tem uma piscina no hotel.

—Ah não! Nem inventa – eu chacoalhei as mãos e a cabeça veementemente.

—Vamos, só um pouquinho – ele empurrou o meu ombro com o dele, soando como uma criança pidona – tenho certeza que você tem um biquíni em algum lugar no meio daquela roupa toda que trouxe.

—Tenho mesmo, mas isso não vem ao caso.

—Claro que você não vai aprender a nadar em alguns minutos, mas só pra ver se fazendo isso agora você não se sente menos desconfortável.

—Acho difícil.

—Você já é alta o suficiente para alcançar o pé no fundo da piscina – ele estava arrumando todos os tipos de argumento.

—Não necessariamente, tem as partes mais fundas – rebati tentando ganhar pontos para a minha causa.

—A gente fica na parte mais rasa, prometo – ele juntou as mãos – e eu sou mais alto, se ficar muito profundo, pode se segurar em mim – o sorriso dele fugiu do modo inocente da conversa.

—Eu acho que a sua mente já está pensando o que não deve.

—Claro que não, só quero ajudar.

—Um verdadeiro santo – zombei.

—Mas falando sério, vamos, não precisamos ficar muito tempo e se você se sentir desconfortável nós vamos embora.

—Mesmo se eu ficar desconfortável em trinta segundos? – arqueei a sobrancelha desconfiada.

—Até se forem dez – os olhos dele não transmitiam nada mais do que sinceridade – mas pensa, se você conseguir se acostumar um pouco, isso pode melhorar, quem sabe ainda não te faço uma nadadora?

—Não fique muito esperançoso – avisei, se eu não tivesse um treco já estaria bom.

Como nós lanchamos logo antes de entrarmos pela última vez no barco, ficou decidido então que passaríamos no mercado e ao retornar par ao hotel, faríamos a nossa pequena expedição até a piscina, deixando para ter um jantar mais tarde. Estava frio demais para desfilar até a piscina de biquíni, então levamos as coisas até o local da piscina aquecida, ele pediu a chave na recepção, e nos trocamos lá. O Ron não tinha se precavido de que precisaria desse tipo de traje, então teve que se contentar com uma boxer. A sorte é que eu não precisaria ficar apreensiva de alguém entrar e me ver tendo um colapso, já que de acordo com o recepcionista, era a coisa mais rara alguém querer usar a piscina com esse clima, ainda mais a noite.

—Pronto, aqui estamos nós – a piscina era muito bonita, e assustadoramente grande – se quiser eu entro primeiro.

Eu balancei a cabeça numa afirmação muda, subitamente eu me senti meio cambaleante, porque, olhando do meu ponto de vista, parecia que eu não ia atingir o fundo daquela piscina e aqui não tinham nem aqueles equipamentos de mergulho, que eu usei quando visitei meus pais, para me salvar.

—Ei – ele levantou o meu queixo para que eu deixasse de olhar a água e o encarasse – eu estou aqui, não vou deixar você se afogar, ok?

Novamente eu concordei em silencio. Ele me puxou para perto e prendeu meus lábios em um beijo doce e delicado, acariciando as mechas do meu cabelo que não estavam bem presas. Sem dar um aviso, ele se afastou e se atirou na água, criando pequenas ondas enquanto ele mergulhava. Alguns segundos depois a cabeça dele surgiu por cima da água, o cabelo molhado agora grudado à testa.

—Á agua está ótima – ele passou a mão nos cabelos, puxando-os para trás e se aproximou da borda – vem – ele esticou a mão em minha direção.

Não foi difícil para ele conseguir enxergar a minha hesitação.

—Por que você não senta aqui na borda um pouco então, coloca só os pés na água – ele tinha os braços cruzados se apoiando na beirada da piscina.

—Tudo bem – respirei fundo e me sentei como ele sugeriu.

A água morna envolveu as minhas pernas até a altura da canela, a sensação não foi tão ruim.

—Então, dá pra aguentar por enquanto?

—Dá, estou imaginando que é uma banheira grande.

—Boa ideia – ele veio para frente de mim e pousou as mãos nos meus joelhos, separando-os para que ele pudesse se posicionar mais perto de mim entre as minhas pernas.

—Já dá pra entrar? – ele me olhou esperançoso.

—Acho que vou ficar aqui mais um pouco – sorri.

—A sua cara de nervosa é ótima, principalmente quando está tentando esconder.

—E eu achando que era uma ótima atriz – reclamei em tom sarcástico.

—Vamos ver o que eu posso fazer para te deixar mais relaxada – a voz dele saiu baixa e eu senti um arrepio de ansiedade.

A piscina era funda o bastante para que ele não estivesse numa altura suficiente para me beijar, então ele apontou o dedo indicador para mim e fez um gesto me chamando para que eu me inclinasse em sua direção. Os lábios dele estavam molhados e eu sentia a pele dele quente em contato com a minha, nos demoramos alguns minutos com beijos lentos, que conseguiram me distrair um pouco do local onde estávamos. De repente ele me empurrou de leve, separando os nossos lábios, apenas para continuar os beijos nas minhas cochas. As mãos dele massageavam as minhas pernas por dentro da água, enquanto a boca dele chegava perigosamente perto do laço que segurava o meu biquíni.

—Ron, aqui não é lugar pra isso, alguém pode entrar e.... – eu engasguei com as palavras quando a língua dele provocou a pele logo a cima do tecido colorido que eu usava.

—Se você não quer que eu continue, é melhor entrar na piscina – ele desafiou, deslizando o nariz do meu umbigo até onde ainda tinha pele disponível.

Eu sentia a respiração quente dele que, junto com as carícias que as suas mãos ainda faziam, já estavam conseguindo me deixar ligeiramente febril, antes que eu decidisse jogar tudo para o alto, deitar as costas e arrancar aquele biquíni, eu afundei as minhas mãos nos ombros dele e me impulsionei para dentro da piscina. Pronto, tinha água por todos os lados desde o meu pé até a base do meus pescoço, eu fiquei com medo de tentar colocar o pé no chão e não achar um chão, então minha primeira ação foi passar as pernas pela cintura do Ron e me agarrar a ele.

—Ei, eu preciso respirar também – ele riu.

—Ai, desculpa – afrouxei um pouco a força que eu tinha usado para me prender a ele, mas sem me mover.

—Não está tão ruim assim, está? – ele colocou uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, aguardando ansioso a minha reposta.

—Não – ele sorriu e começou a se mover, andando em passos lentos. – o que você está fazendo?

—Só andando, calma! Indo pro lado mais raso – ele chegou a uma parte onde a agua tocava na metade do peito dele – pronto, aqui dá pé pra você.

Eu adiei o máximo que pude, e ele não me apressou, mas acabei me desgrudando dele e ficando em pé na piscina, a agua batendo nos meus ombros. Ele se abaixou para ficar na mesma altura que eu.

—Viu só, nada demais, certo? Só uma banheira grande – ele estava tão animado que eu acabei rindo.

—Nessa altura até que não é tão ruim – concordei – mas eu não quero ir mais pro fundo.

—A gente fica aqui – ele me olhou por alguns segundos antes de sugerir – mas você vai pelo menos molhar os cabelos, né?

—Prefiro manter a minha cabeça acima do nível da água, obrigada.

—Você já chegou até aqui! Não tem como se afogar, isso é só o medo na sua cabeça.

—Não é medo de me afogar eu já até mergulhei – ele me olhou admirado – eu só prefiro não enfiar a cabeça na água se der pra evitar.

—Eu faço uma troca, a sobremesa fica por minha conta – eu não entendia essa insistência toda por parte dele.

—Não vou cortar nenhuma frutinha sequer então! – ele ia ter que fazer o fondue todo sozinho se eu ia mergulhar.

—Combinado – ele me deu um beijo para selar o acordo e esticou as mãos para que eu me segurasse.

Eu sorri com o gesto, de qualquer maneira eu teria me agarrado a ele, mas o fato de ele ter previsto a atitude me agradou. Prendi a respiração e afundei até que eu estivesse toda coberta pela água. Eu sabia que não tinha a menor possibilidade de me afogar ali, mesmo assim era uma agonia sem tamanho, eu imaginava que fosse algo parecido com quem sofria de claustrofobia. Voltei a superfície o mais rápido possível, ele estava me esperando com um sorriso radiante no rosto.

—Tão corajosa a minha Mione, estou orgulhoso – ele me abraçou, os lábios dele achando facilmente o caminho familiar até os meus, sem me dar chance de digerir o fato de que mais uma vez eu o escutava me chamando de “minha”, só que dessa vez eu tive dificuldade para enquadrar a frase em qualquer tipo de brincadeira.

Antes que eu percebesse onde estávamos indo, ele me encostou na borda da piscina, minhas pernas se enroscaram nele de novo, quase automaticamente. Eu estava bem apoiada pela parede o que deixou as mãos dele livres para percorrer o meu corpo, a sensação aliada ao movimento da água era nova, e nem um pouco desconfortável, muito pelo contrário, parecia me fazer sentir mais intensamente cada uma das carícias. Ele me puxou um pouco pra cima a fim de ter acesso ao meu pescoço, eu senti com um arrepio os dentes dele me arranhando, mas não era só isso que ele estava fazendo, o laço que segurava o meu biquíni no lugar foi desfeito num puxão, deixando-o preso apenas nas minhas costas, o que foi resolvido com mais um movimento rápido.

—Ronald, espero que você tenha em mente que eu não vou fazer sexo numa piscina de um lugar público – eu puxei o rosto dele para que ele me olhasse nos olhos e entendesse que eu não estava brincando.

—Lugar público que ninguém vem – os dedos dele não perderam tempo em acaricias os meus seios agora, nus e eu quase me deixei levar pela distração.

—Mas pode vir, mesmo assim – ele sabia muito bem o que fazer para desviar a minha atenção, a pressão dos dedos dele arrancou um gemido involuntário – para com isso, Ron – eu apoiei a testa no ombro dele, meus olhos já fechados.

—Tudo bem, vamos só ficar mais um pouco, criar umas memórias agradáveis ligadas a piscinas – ele sussurrou no meu ouvido.

Esse “mais um pouco” se estendeu por vários e vários minutos que me fizerem ver que de fato piscinas não precisavam ser relacionadas a sensações ruins. As mãos dele visitaram cada pedaço do meu corpo, a boca raramente se afastando da minha. Quando ele se afastou de mim, eu estava num estado em que comecei a cogitar a possibilidade de mudar de ideia sobre lugares públicos.

—Melhor a gente ir, ainda temos um jantar pela frente, e se eu ficar mais um minuto aqui, eu não saio mais – eu via em seus olhos escurecidos que as sensações era as mesmas para ele.

—Vamos – eu dei mais um beijo nele antes de pedir – pesca o meu biquíni, está atrás de você, não vou sair assim.

Ele riu, mas se virou e fez como eu pedi. Eu estendi a mão para pegar a peça, mas ele passou as fitas maiores até as minhas costas amarrando-as.

—Vira.

Eu me mexi e ele puxou a outa ponta do biquíni até o meu pescoço terminando de colocar tudo no lugar.

—Pronto – ganhei um beijo na nuca e ele me abraçou passando um das mãos por baixo das minhas pernas.

—O que você está fazendo? – eu ri de ser carregada como um bebê.

—Te levando pra escada, ué.

Ele me baixou para que eu pudesse apoiar os meus pés na escada e sair da piscina. O choque de sair do contato da água quente para um lugar bem mais frio me deixou toda arrepiada, fomos correndo para o vestiário para nos secar e nos enfiar em roupas mais quentinhas até que conseguíssemos chegar ao nosso chalé. Tomamos um banho verdadeiramente rápido dessa vez, a fome nos incentivando a deixar vários beijos para depois. Mesmo assim, enquanto eu esfregava os meus cabelos pela segunda vez, tentando tirar todo o cloro das mechas, o Ron se manteve grudado às minhas costas, abraçado a minha cintura, já que ele teve bem menos trabalho com os cabelos dele.

Nos vestimos e finalmente nos posicionamos de frente a bancada da cozinha para começar a preparação do tal jantar.

—Vou fazer o macarrão, pode começar a cortas as frutas – apontei para a sacola que continhas morangos, uvas e kiwis.

—Sim, senhora – ele elevou a mão na testa fazendo o gesto tradicional dos soldados.

Enchi uma panela com água e esperei ferver para adicionar o espaguete que seria a nossa refeição, nesse meio tempo fiquei observando o Ron trabalhar em diminuir os pedaços de frutas que seriam cobertos por chocolate mais tarde.

—Ei, o macarrão vai ficar pronto logo e não tem molho ainda – ele observou.

—Você disse que ia me ajudar com essa parte – sorri já fazendo manha.

—Tá bom, eu vou te falando e você faz ok? – eu assenti e ele começou a enumerar vários passos do que eu deveria fazer, ele era bom nisso, eu consegui repetir na prática tudo o que ele dizia.

—Tem certeza de que esse é o seu molho, mesmo? – perguntei desconfiada ao experimentar e sentir que faltava alguma coisa.

—Claro, deixa eu ver – ele pegou a colher da minha mão – você pode pegar outra colher pra mim ali na gaveta?

Eu me virei e andei até o local para cumprir o pedido um tanto estranho dele, quando voltei, o vi colocar alguma coisa de volta junto com os ingredientes que eu tinha usado.

—Você colocou mais alguma coisa ai! – reclamei.

—Faltava só um detalhezinho – ele piscou.

—Não vale, era pra você me ensinar – resmunguei, provei novamente e constatei que agora sim, aquele era o molho que eu tanto gostava – eu quero aprender a fazer, adoro esse molho.

—Não precisa, sempre que você quiser, eu faço – ele me deu um selinho rindo da minha cara emburrada.

—Mas e se eu tiver com vontade de comer e você não puder? – eu olhava com minha melhor expressão de cachorrinho pidão, tentando convencê-lo.

—Eu dou um jeito mesmo assim – revirei os olhos com a afirmação inconcebível – eu já te disse que você fica linda fazendo bico assim?

Ele estava só tentando desviar a minha atenção do fato de que não ia me passar o segredo da sua receita, mas foi impossível não me render ao elogio, o sorriso apareceu antes que eu pudesse expulsá-lo.

—E eu já te disse que você é um cara de pau? – eu bati de leve no peito dele.

—Tudo pronto, é só misturar e comer – ele nem se deu ao trabalho de negar a minha acusação.

Levamos tudo para a mesa e comemos tudo numa velocidade consideravelmente alta.

—Posso derreter o chocolate?

—Pode – eu concordei enquanto levava os pratos para lavá-los.

Minutos depois a nossa sobremesa estava pronta, dessa vez levamos os potes para o sofá, sentando lado a lado e apoiando a comida nas pernas e começamos a nos deliciar com o fondue de chocolate.

—Tem chocolate no seu queixo – eu ri apontando para o local.

—Onde?

—Vira aqui – ele inclinou o rosto na minha direção.

Claramente ele esperava que eu passasse a mão para me livrar do chocolate, mas eu resolvi o problema com os lábios, ele pareceu gostar da ideia e se mexeu para que a boca dele encontrasse a minha, num beijo que tinha gosto doce.

—Minha vez agora – antes que eu conseguisse entender, ele passou o dedo no pode do fondue e melecou a ponta do meu nariz.

—Ronald! – eu tentei soar brava, mas já estava rindo, ele tinha a cara de uma criança peralta.

As frutas foram esquecidas, passamos a saborear o chocolate em vários partes dos nossos corpos. A brincadeira resultou em ambos usando apenas as roupas de baixo enrolados no sofá. Mesmo depois que o chocolate acabou, os beijos e as carícias continuaram. Já era bem tarde e eu sentia o sono chegando, acabei aconchegada a ele no sofá. Em algum ponto da noite eu senti por alto alguém mexendo em mim, me tirando do lugar só para depois sentir os lençóis gelados sobre a minha pele. Inconscientemente eu procurei a fonte de calor que me aquecia há algumas noites.

Acordei no dia seguinte apenas para descobrir que o Ron já estava bem desperto ao meu lado.

—Está acordado há muito tempo?

—Não, acabei de abrir os olhos – ele se espreguiçou e eu me dei conta de que não fazia ideia de como tinha chegado até a cama.

—Eu não dormi no sofá ontem? – perguntei ainda esfregando os olhos para me ajudar a acordar.

—Dormiu e como uma pedra, tentei te acordar um tempão.

—E o que eu estou fazendo na cama então? – de algum modo o meu cérebro ainda estava lento demais para entender a situação, ou quem sabe apenas não quisesse ligar os pontos.

—Eu te carreguei – ele falou tentando esconder o humor na voz.

—O que? – eu levei as mãos ao rosto num súbito ataque de timidez – você me carregou igual a um saco de batatas? – zombei.

—Claro que não, te carreguei que nem uma princesa, sou um cavalheiro! – ele fez o melhor para soar indignado, mas acabamos rindo da situação um tanto quanto ridícula.

—Trate de me acordar da próxima vez, não precisa ficar me carregando para lugar nenhum – eu reclamei dando um tapinha no ombro dele.

—O que eu posso fazer se a princesa à minha disposição era a bela adormecida? Dificílima de acordar, sabia? – ele e inclinou para me dar o primeiro beijo do dia.

—Você tentou um beijo? É assim que o príncipe faz – passei meu braço pela cintura dele prolongando o contato dos nossos lábios.

—Droga, perdi essa aula no curso de como ser um príncipe encantado, acho que foi por isso que eu reprovei – ele completou a encenação com uma cara fingida de decepção.

—Não tem problema, eu não sou nenhuma princesa também – espalmei as minhas mãos no peito dele empurrando-o para que ficasse de costas e passei a minha perna por cima dele de modo que me permitisse sentar sobre o quadril dele.

—É, acho que não tinha nada disso naqueles filmes da Disney – o sorriso indecente em seu rosto, apenas me incentivou a me inclinar para frente afundando minha mão em seus ombros e calando todas as gracinhas com beijos esfomeados.

Depois que terminamos as atividades nada principescas que iniciamos na cama, o Ron me convenceu a pedir o café da manha no hotel, eu acabei concordando para não atrasar mais ainda a nossa manhã. Tomamos um banho rápido enquanto a comida não chegava, e assim que a campainha tocou já estávamos devidamente vestidos, prontos para comer e sair.

—O que vamos fazer hoje? Último dia... – meus pensamentos se desviaram para o fato de que o tempo tinha passado muito rápido durante essa viagem, parecia que tínhamos acabado de chegar.

—Verdade, e nem temos o dia todo, não esquece que nosso voo é essa noite.

—Como eu esqueceria que vou ter que ir praticamente direto para o trabalho amanhã?

—Ei, eu já me desculpei por isso, era o único horário de voo sem escala – ele parecia mortificado, eu não estava realmente irritada com isso, então me apressei a sorrir e mudar a opinião dele.

—Eu sei, estou só brincando. Se você tivesse que aguentar dois pousos e duas decolagens, eu ia ter trabalho nessa viagem – ele torceu o nariz.

—Mas então, hoje nós podíamos fazer aquele passeio de degustação de vinhos que você queria.

—Verdade! E aproveitar e levar algumas garrafas para casa – eu tinha até me esquecido do tal passeio.

—Então vamos, não sei direito a hora que começa, nós enrolamos pela cidade até dar o horário.

Foi exatamente o que fizemos, o passeio era longo e começava um pouco antes do almoço, indo até o meio da tarde. Estava inclusa uma refeição ao meio dia em um dos restaurantes. Eu não tinha dúvida alguma de que adoraria o tour gastronômico, mas foi ainda melhor do que eu esperava. Provamos diversos tipos de vinho que não conhecíamos, e acabamos nos empolgando no número de garrafas que compramos. Voltamos para o hotel perto das quatro da tarde, com as cabeças leves de tanto vinho.

—Acho melhor arrumarmos logo as coisas, assim não nos preocupamos mais até a hora de ir para o aeroporto – sugeri.

—Tudo bem, mas vamos ter que abrir uma dessas garrafas de vinho pra me convencer – eu ri do pedido, mas acabamos abrindo a garrafa e enchendo dois copos que foram bebidos antes mesmo de começar qualquer tipo de arrumação.

Eu já estava me sentindo ligeiramente alterada, mas nada demais, apenas parecia que tudo a minha volta tinha ficado mais engraçado. Depois de mais um copo, eu consegui arrastar o Ron para começar a guardar as coisas.

—Ai, detesto fazer mala – ele declarou de repente, provavelmente efeito do vinho

—Não é meu passatempo favorito, mas não podemos deixar tudo aqui.

—Pena que seu amigo Ced, não está aqui pra te ajudar dessa vez, né? – ele falou aquela frase com tanto desdém que eu me acabei de rir.

—Ron, acho que você já tomou vinho demais! – dei um selinho nele e voltei a atenção para a minha mala.

Terminamos de arrumar a mala, junto com o fim da garrafa de vinho. O Ron insistiu para que abríssemos outra, e eu definitivamente não estava em condições normais, pois aceitei. Pegamos os copos e levamos a garrafa para a cama, já estávamos a vontade nos roupões cedidos pelo hotel. A garrafa foi bebida em pouco tempo, com pausas apenas para alguns beijos e muitas risadas. Quando chegamos ao final, minha cabeça decididamente estava enxergando movimentos em coisas que deveriam estar paradas, mas eu me sentia quase consciente de tudo.

—Mais uma? – ele ofereceu sorrindo.

—Não, chega!

—Mas esse vinho é tão bom.

—Não acredito que estamos bêbados no último dia da viagem – cobri o rosto com as mãos.

—Fale por você eu não estou bêbado.

—Como eu vou trabalhar amanhã? Pera ai, não tá bêbado? Seu mentiroso, se eu pedir pra você levantar dessa cama e dar uma pirueta você vai cair de cara no chão! - virei de frente pra ele.

—Sorte a minha que você não quer que eu saia daqui, né? – ele me puxou para perto de modo que nossos corpos ficassem colados - E quem precisa trabalhar? A gente pode ficar aqui pra sempre! – ele estava animado como se tivesse achado a solução de todos os problemas do mundo.

—Pra sempre tipo até essa madrugada? – perguntei em meio a uma risada.

—Pra sempre não tinha que ser mais longo? – ele coçou a cabeça parecendo meio confuso.

—Não sei, não me lembro – as minhas ideias estava um pouquinho fora de sintonia.

—Vou ter um problema a partir de amanhã – de repente ele tomou um ar de seriedade.

—Qual? – fiquei interessada em saber o que era.

—Você me deixou mal acostumado

—Eu? – o que é que eu tinha feito?

—Meus sonhos tem cheiro do seu perfume agora – ele afundou o rosto no meu pescoço - como eu vou dormir?

—Posso te dar o nome do perfume, que tal? – o problema era que eu me fazia a mesma pergunta.

—Não adianta, não é a mesma coisa – ele voltou a me olhar, ajeitando uma mecha do meu cabelo que tinha saído do lugar.

—Eu sei – balancei a cabeça afirmando.

—Sabe? – ele frisou as sobrancelhas.

—O travesseiro que você usou da última vez lá em casa, ficou com o seu perfume, não é igual, só quase, mas agora já não deve ter cheiro nenhum – o que em nome dos céus me fez confessar aquilo? O pior é que a nuvem, que o vinho tinha colocado no meu bom senso, não me permitia nem enxergar as barbaridades que estavam saindo da minha boca.

—Como você sabe disso? – ele estava com uma cara de satisfação muito misteriosa.

—Porque o travesseiro dorme comigo – um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios, e num lampejo de clareza eu percebi o que tinha acabado de dizer e tentei consertar - dorme do meu lado, eu quis dizer.

—Aham – ele falou sarcástico.

—Não é isso, ele fica na minha cama, só. Jogado lá em algum lugar.

—Tá bom, eu já entendi.

—Você tem que trabalhar amanhã? – mudei de assunto na maior cara de pau, e ele me olhou demostrando que tinha percebido a tática, mas para minha sorte decidiu deixar passar.

—Não muito, só algumas coisas para resolver, nada urgente.

Ficamos abraçados em silêncio por algum tempo, aproveitando a moleza de ter tomado de vinho demais. Eu estava quase caindo no sono quando ele voltou a falar.

—Você gostou da viagem, Mione?

—Claro! – fiquei surpresa dele precisar de alguma confirmação.

—Até da parte em que eu te enfiei num barco o dia todo? – ele me soou meio hesitante.

—Até essa parte, por mais que eu não esteja muito convencida se quero repetir em breve. E você, também gostou? – era a minha vez de saber.

—Muito.

—Mesmo do seu castigo? – provoquei.

—Nem me lembra daquela noite horrível, mas eu gostei do dia seguinte – ele apertou os braços em volta de mim me beijando no pescoço – por que a gente nunca fez isso antes?

—Isso o que? – perguntei confusa.

—Viajado, devíamos ter feito... – ele deixou a frase morrer, mas me deu muito o que pensar, pois mesmo a minha mente estando mais lenta do que o normal, aquelas palavras foram o suficiente para acionar todas as engrenagens.

—Não sei – era a única resposta que eu podia dar.


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Notas finais do capítulo

E então o que vocês acharam?
Teve muita coisa acontecendo nesse capítulo. O que me dizem da Mione perguntando pra ele como ela deveria classificá-lo? E a coitada passando o dia num barco?
Os dois estavam tão animadinhos que terminaram a viagem bêbados e falando mais do que deviam....
Me contam o que acharam.
No próximo cap a vida volta ao "normal", vamos ver quais serão os efeitos colaterais.
Bjus

Crossover: esse capítulo é independente de DV.