Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, mais um capítulo essa semana.
E a viagem dos dois continua! Primeiro vamos ver que tipo de retaliação o Ron preparou depois do castigo da noite anterior....
Espero que gostem :)



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De vez em quando nos encontramos num sonho tão bom que fica difícil querer se separar dele e acordar. Na manhã seguinte, eu me encaixava exatamente nessa situação. Sem saber onde ou como, meu sonho tinha tudo a ver com as pernas do Ron me enlaçando e as mãos ele me acariciando, eu senti tão perfeitamente os dedos dele provocando os meus seios, apenas para deslizarem por todo o comprimento do meu abdômen e chegarem às minhas coxas. Ainda me julgando dentro de um sonho, eu não refreei um gemido alto quando ele esfregou a mão exatamente no lugar que a minha calcinha fingia cobrir, e arqueei as costas para me encostar mais no corpo dele que se encontrava prensado atrás do meu. As sensações foram aumentando até que a névoa do sono se dissipou, me mostrando que a situação não era nada além da realidade.

—Ron! – gritei com a voz rouca, os movimentos dele já muito próximos de me levar ao clímax.

—Que bom que você acordou, porque já amanheceu – ele sussurrou afundando o rosto no meu pescoço e lambendo sem piedade o contorno do meu ombro, apenas para finalizar com uma mordida no exato momento em que as mãos dele se afastaram de mim.

Eu abri a boca para protestar a interrupção repentina, mas ele se ajoelhou ao meu lado e me virou de modo que eu ficasse deitada com as costas plantadas no colchão, passando uma das pernas por cima de mim, ele se ajoelhou sentado um pouco abaixo do meu quadril. Novamente eu tentei reclamar, mas ele se inclinou para frente e calou minha boca com um beijo que não transmitia nada de ternura e tudo de pressa e desejo. A língua dele explorava a minha boca de maneira feroz, e eu entrei no duelo, já acordada o suficiente para entender com precisão do que se tratava aquilo: alguém de fato tinha tido uma noite ruim.

Ele tinha me deixado muito excitada com o bom dia que preparou, então eu não evoquei nenhuma objeção quando o senti desfazendo os laços que mantinham a minha camisola no lugar e jogando-a para longe, sem um intervalo muito grande, a minha calcinha foi se juntar a ela.

—Você ainda está muito vestido – observei, tirando as minhas mãos do cabelo dele para puxar o elástico do shorts que ele usava, porém ele me impediu, recolocando-as de volta onde estavam.

—A noite foi muito difícil pra mim, você não acha que eu vou fazer tudo ser fácil pra você hoje, não é? – ele me deu um sorriso petulante, o fogo em seus olhos era quase palpável - hoje eu que não vou ser bonzinho.

Não me orgulho de dizer que a ameaça, dita numa voz grave e séria, conseguiu me arrepiar, aquele era um lado do Ron que eu nunca tinha visto, mas tinha que admitir já estar ansiosa para ser apresentada. Ele voltou a me beijar, prendendo meu lábio entre os dentes antes de se desviar para descer os beijos até os meus seios agora nus e arrancar mais alguns gemidos involuntários de mim. A carícia foi ficando mais impiedosa até que eu não consegui conter um grito quando ele mordeu a pele macia. Ele levantou os olhos para encontrar os meus, parecendo extremamente satisfeito.

—Quero te escutar gritando da mesma maneira que eu quis gritar ontem – ele voltou a abaixar o rosto

O afinco em conseguir o que queria estava evidente, aquele era definitivamente o dia para conhecer a força daquelas mãos grandes, ele me acariciava e apertava nos lugares certos para arrancar gritos e suspiros, me enlouquecendo cada vez mais. Ele separou os meus joelhos abruptamente, afundando os dedos sem pena nas minhas cochas, seguindo de perto por uma trilha de beijos e provocações mais quentes até chegar ao lugar exato que me fez agarrar os seus cabelos apenas para ter certeza que o manteria no lugar. Contudo eu não obtive sucesso, ele me conhecia bem demais, o suficiente para saber as reações do meu corpo a tudo o que ele fazia, então quando percebeu que eu estava próxima de chegar onde queria, ele se afastou novamente, recebendo um grunhido de frustração em resposta.

—Ronald! O que.. – ele não me deixou terminar a pergunta, levou o dedo indicador aos meus lábios e me respondeu apenas com um sorriso ferino que me dizia que ele não estava nem perto de ter terminado.

Eu sabia que ele também estava excitado, eu sentia em cada movimento que o trazia de encontro a mim, mas ao invés de seguir em frente e terminar o que nós dois queríamos, decidiu continuar nessa brincadeira torturante. Ele se levantou, só o suficiente para me virar de costas e eu, como uma tola, não apresentei nenhuma objeção, minha respiração saia em cortes e meu cérebro já tinha parado de funcionar há muito tempo. As mãos dele começaram a dar o mesmo tratamento, que eu tinha experimentando a pouco, as minhas costas. A força de vontade de conter todas as minas reações tinha sumido com o resto do meu bom senso, então enquanto ele lambia a minha cintura com uma mão firmemente agarrada à minha bunda e a outra encontrando novamente a parte mais sensível entre as minhas pernas, não me importei de adicionar mais um grito aos que ele estava colecionando no dia.

Eu fui uma tola ao achar que dessa vez ele me libertaria da doce teia de torturas que ele tinha elaborado, mas estava muito enganada, mais uma vez ele se distanciou bem no momento em que eu o queria o mais perto possível. Aquilo já era demais para mim, num momento de irritação, peguei-o de surpresa e consegui me virar ficando de novo frente a frente com ele, dessa vez me levantando para ficar sentada apoiada no encosto da cama.

—Você vai ficar me provocando? – eu tentei passar indignação, mas muito para o meu desgosto, a minha voz saiu fraca e entrecortada.

—Com gosto – ele abriu um sorriso nada bondoso, se sentando na minha frente com as pernas me ladeando - tive uma noite inteira para planejar tudo.

—Pois se você for continuar com isso, eu dou um jeito sozinha.

Não era nem que eu estava irritada, apenas que me sentia muito próxima de enlouquecer com toda essa situação. Antes que ele pudesse entender o sentido das minhas palavras, eu afastei meus joelhos e levei meus dedos para o local que precisava desesperadamente de atenção. Mal consegui alcançar o meu destino quando a mão dele se fechou no meu pulso, puxando sem esforço nenhum a minha mão para longe.

—Nada disso – as pupilas dele estavam dilatadas ao me encarar, todo o desejo que eu sentia estava espelhado ali, o que me deu uma boa dose de satisfação - ontem a noite nada era meu, hoje eu quero tudo – ele trouxe a minha mão até os lábios, iniciando mais uma vez o seu jogo ao lentamente dar atenção a cada um dos meus dedos.

—E quanto ao que eu quero? – consegui perguntar.

—O que seria? – ele se inclinou e lambeu sem piedade o meu umbigo

—Você – declarei sem rodeios.

—Ontem você não parecia muito interessada.

—Já é outro dia, você por acaso não muda de ideia? – desafiei.

—Claro – ele parava de me beijar apenas para enunciar aquelas poucas palavras, o que tornava muito difícil defender o meu caso – e como você me quer?

Eu quase ri, então agora era isso, ele ia me fazer pedir.

—Todo – respondi sucinta.

Ele riu da resposta e se impulsionou para frente me puxando ao mesmo tempo, fazendo com que eu ficasse no seu colo.

—Assim? – ele provocou mais uma vez, me apertando de encontro a si.

—Só que com menos roupas.

Eu quase gritei de alívio quando ele se livrou do shorts e da cueca que ainda o cobria. Ele voltou a mesma posição, mas dessa vez sem nada que o separasse de mim. Ainda tentando conter a minha ansiedade, não antecipei a ferocidade com que ele se enrolou em mim, me invadindo de uma só vez.

—Eu falei que não vou ser bonzinho hoje – ele murmurou ao meu ouvido.

—E quem disse que eu quero? – eu não ficaria para trás nesse desafio e rebati no mesmo tom.

As investidas dele não foram delicadas, ambos estávamos famintos um pelo outro. Eu afundei minhas unhas nas costas dele sem pena, e ele devolveu a ação se aproveitando da minha boca. Nosso nível de excitação era tanto que não precisamos de muito tempo para finalmente atingir o clímax, a sensação foi intensa e dessa vez eu contive meu último grito cerrando os dentes no pescoço dele. Ficamos abraçados por alguns minutos, nossos corpos suados, as testas coladas enquanto tentávamos recuperar o fôlego.

Eu escorreguei as costas pelo colchão para me deitar e ele me acompanhou vindo para o meu lado. Ficamos deitados nos encarando, ele apoiou o braço sobre o meu ombro e eu acabei enrolando minhas pernas nas dele antes de trazer o cobertor para cima de nós. Ainda sem falar nada, tudo o que se passava era o sorriso indiscretamente satisfeito que cada um de nós exibia.

—Bom dia – eu quebrei o silêncio sem desviar os meus olhos dos dele.

—Bom dia – ele riu e me deu um selinho, me fazendo perceber pela primeira vez, como meus lábios estavam sensíveis depois daquela atividade toda, o mesmo poderia ser dito de vários outros lugares.

—Dormiu bem essa noite? – provoquei.

—Como uma pedra – ele respondeu irônico - não gostei de você má – ele declarou depois de mais uns momentos de silêncio.

—Ah, mas eu adorei o Ron bravo – deslizei o dedo pelo peito dele - o que torna tudo mais perigoso pra você do que pra mim – completei num tom sugestivo.

—Vamos concordar em sermos nossos eus habituais pelo menos até o resto da viagem, nem que seja só pelo bem dos meus nervos.

—Seus nervos? E as minhas pobres coxas? Acho que você deixou seus dedos lá – resmunguei manhosa.

—Deixa eu ver – ele se levantou para sentar e me descobriu – pobrezinha, deixa eu ver o que posso fazer para melhorar – não me surpreendi com o fato de que realmente tinham ficado algumas marcas na minha pele, por mais que não doessem nem um pouco.

Ele se inclinou e começou a distribuir beijos em cada um dos locais afetados, não fazendo esforços para conter o riso.

—Para com isso! – eu o puxei de volta, ele claramente estava se divertindo as minhas custas e eu ainda não estava preparada para me empolgar novamente com beijos.

—Desculpa se não sinto muita simpatia – zombou, depois de se acomodar de novo ao meu lado - mas eu tenho certeza que se eu olhar no espelho vou encontrar as suas unhas cravadas em belos riscos nas minhas costas.

—Onde? – ele se virou e eu consegui ver direitinho o caminho dos meus dedos - estão mesmo!

—E uma mordida no pescoço – ele adicionou reclamando.

—Para de ser resmungão, nem foi tão forte assim – olhei o local apenas para constatar que realmente estava vermelho, mas não tinha marcas de dente nem nada.

—Como a parte que levou a mordida, acho que posso julgar melhor – ele declarou em tom superior e eu revirei os olhos - não sabia que tinha trazido uma vampirinha para a minha cama.

—Seu bobo – dei um tapinha no seu ombro e fiquei olhando as marcas – que violento da nossa parte – brinquei.

—Valeu só pra escutar cada grito seu, acho que acabei descobrindo uma Hermione meio selvagem no meio disso tudo – o olhar dele indicava que tinha gostado de cada momento.

—O que sobrou agora foi a Hermione cansada, você me acordou quase de madrugada! – protestei.

—Culpa de quem que eu não consegui dormir? E você falou que o castigo era só durante aquela noite

—Preciso me lembrar de nunca deixar furos nas nossas negociações, pelo jeito você é ótimo em encontra-los, seria um advogado de muito sucesso.

Ele riu e eu percebi que os olhos dele estavam pesados, me aconcheguei nos braços dele, pronta para encarar mais algumas horas de sono.

—Só não se esquece que eu ainda tenho um café na cama para ganhar – lembrei, mesmo não estando muito certa de que ele ainda estava acordado, pouco tempo depois eu também estava dormindo.

Da próxima vez que eu abri os olhos, foi o cheiro de alguma coisa deliciosa sendo preparada na cozinha que me despertou, nada tão auspicioso quanto algumas horas antes, mas o suficiente para me fazer sentar e me espreguiçar. Engraçado como parecia estranho estar sozinha naquela cama, mas a ausência do Ron era mais do que justificada, antes do que eu esperava ele apareceu com uma bandeja nas mãos e um sorriso no rosto.

—A bela adormecida resolveu acordar – ele colocou a bandeja no meu colo e subiu na cama, sentando-se ao meu lado.

—Panquecas, que prendado! – brinquei cumprimentando-o com um beijo rápido.

—Espero que estejam boas, tem anos que não faço... – ele pareceu se distrair com alguns pensamentos.

—Já vamos descobrir – peguei os talheres e cortei um pedaço.

A massa estava muito saborosa, ainda mais em conjunto com a geleia de morango. Ele voltou a atenção a mim, observando enquanto eu mastigava. Fiz questão de deixar a minha cara impassível, sem demonstrar nenhuma opinião.

—É... pelo menos está melhor que o café da manhã de ontem – comentei fingindo o maior desinteresse.

—Só isso? – a cara dele se fechou num piscar de olhos.

Sem mais nenhuma observação, ele pegou os talheres da minha mão e separou um pedaço para si.

—Ei, minhas panquecas estão uma delícia, senhorita! – a indignação dele foi tão divertida que não consegui mais me manter indiferente e cai na risada.

—Estão mesmo, eu só estava brincando com você, é tão fácil – ele torceu o nariz, mas logo desfez a cara feia para me dar um beijo com gosto de morango.

—Achei que eu tinha errado a receita, minha mãe ficaria arrasada, foi ela que me ensinou a fazer – adentramos num tópico que nunca tinha sido explorado de maneira tão espontânea.

Eu tinha mil perguntas sobre a família dele, mas sabia qual era o meu lugar e que isso não me dava o direito de fazê-las, mas ao mesmo tempo, como simplesmente ignorar quando ele próprio trazia o assunto à tona?

—Ela era uma boa cozinheira? – perguntei com cautela.

—Ótima, para a sorte de todos nós porque meu pai não fritava nem ovo – ele riu e eu notei que de novo ele se perdeu em memórias.

Decidi não forçar a barra, por enquanto ele parecia nostálgico e feliz com as recordações, porém a última coisa que eu queria era ressuscitar lembranças dolorosas, e se tinha alguma coisa que cinco anos conhecendo os irmãos Weasley me ensinaram, foi que tais lembranças existiam e que o procedimento padrão era fingir que não.

—Você está contratado, então – ele piscou voltando de onde quer que ele estivesse.

—Contratado?

—Para tomar conta do nosso café – expliquei.

—Nem vem, era só hoje – ele balançou a cabeça – já disse que não vou te deixar mimada.

—Tarde demais – ele revirou os olhos ainda negando – são só mais dois dias – murmurei com a voz mais manhosa do que era a minha intenção.

—Vou pensar no seu caso, se você se comportar direitinho pode ser que ganhe café na cama de novo – pronto, eu já tinha conseguido.

—Serei um anjo de tão comportada – o sorriso indecoroso que enfeitava o meu rosto contradizia completamente as minhas palavras.

—Por que será que eu não acredito nisso? – dei de ombros me fazendo de desentendida.

Terminamos o café da manhã que mais se aproximava de um almoço, dado o horário avançado, e decidimos tomar banho para sair, afinal não estávamos viajando para passar o dia todo no hotel. Não me dei ao trabalho nem de pegar alguma peça de roupa, apenas me dirigi ao banheiro com o Ron me seguindo logo após.

—Vou encher a banheira – eu concordei com a ideia.

Quando a água já estava num nível aceitável, entramos e eu me acomodei entre as pernas dele, com as costas apoiadas no seu peito. Em poucos minutos o que podia ser classificado como a definição tradicional de banho já tinha acabado, mas mesmo assim permanecemos onde estávamos. Uma das mãos dele estava entrelaçada na minha, enquanto a outra deslizava suavemente pela minha pele enquanto conversávamos.

—Ah! Quase me esqueço de falar, o desfile da coleção nova da empresa é daqui a duas semanas, se você quiser ir me avisa que eu te dou o convite – eu sabia que aquele não era o tipo de evento que ele morria de vontade de ir, então no fim das contas me abstive de fazer um convite direto.

—Vai ser todo chique e elegante, né?

—Bom, eu vou estar muito bem vestida – mais uma coisa que ele não tinha alto na lista de preferências era ter que usar roupas sociais.

—Já me convenceu – ele apoiou o rosto na curva do meu pescoço e me abraçou pela cintura – pode separar o meu convite.

—Isso foi rápido – brinquei, eu pensei que ele precisaria de mais convencimento para decidir ir.

—Você está trabalhando há tanto tempo nisso, claro que eu vou, ainda mais tendo você toda linda para ver – ele beijou o meu pescoço.

—Ok, tenho que entregar os convites da Ginny também, aí já pego um pra você – eu já tinha convidado a minha amiga com antecedência, os horários dela exigiam um certo planejamento.

— Você disse convites? – ele perguntou meio confuso.

—Sim, o Harry vai junto – expliquei.

Ele se endireitou e eu segurei o riso, pois sabia que o Ron irmão mais velho ciumento estava pronto para dar as caras.

—Agora esse moleque vai com ela pra cima e pra baixo, é?

—Não sei, Ron. Só sei que eles passam bastante tempo juntos e que estão se dando muito bem, ela está feliz.

—Está?

—Sim, e eu acho melhor você se acostumar logo com o “moleque” porque eu não prevejo ele indo embora, nem que seja por enquanto.

Ele resmungou alguma coisa ininteligível e eu me virei para constatar que a cara dele estava tão emburrada quanto eu imaginava.

—Que cara é essa? O Harry é ótimo.

—Tenho certeza que deve ser mesmo – ele concedeu.

—E a sua irmã já é bem grandinha.

—Eu sei – ele respirou fundo e conseguiu esboçar um sorriso fraco – é só besteira minha, não liga.

—Eu acho uma graça esse seu ciúme, mas imagino que a Ginny não encararia tão bem.

—Deus me livre! Nada de me dedurar, viu! Ela já me pentelha o suficiente.

—Meu silêncio pode ser comprado por um preço módico – puxei o rosto dele para mim e grudei os nossos lábios.

—Gosto desse seu lado mercenário.

Ficamos mais algum tempo na banheira, até que eu achasse que tinha sido bem recompensada para não divulgar aqueles fatos para a Ginny, mesmo sem ter a mínima intenção de contar de qualquer maneira. Era meio complicado, às vezes, se relacionar com o irmão da sua melhor amiga, mas eu sempre tentei manter o que cada um me dizia em caixas separadas, assim não criava problemas que não me diziam respeito.

O passeio da tarde envolveu um almoço bem atrasado e visitas a alguns pontos turísticos. Nos divertimos aproveitando os locais e tirando várias fotos. Já era fim de tarde quando eu avistei uma propaganda de uma apresentação de dança que seria em algum dos hotéis mais luxuosos da região, infelizmente não estaríamos mais lá para poder assistir.

—Que pena, eu gostaria de ver – observei meio decepcionada.

—São só algumas pessoas dançando, nada de mais – ele deu de ombros.

—Falou o grande dançarino – debochei.

—Ei, mais respeito com as minhas habilidades, se você quer saber eu danço muito bem.

—Ron, um passo para um lado e para o outro não vale.

—Nada disso, eu aprendi direitinho nas aulas – falou confiante.

—Aulas? – arregalei os olhos admirada, pois uma das últimas coisas que eu apostaria que o Ron já tinha feito na vida era aulas de dança.

—Sim... – ele passou a mão pelos cabelos, subitamente desconcertado.

—Me explica isso direito.

—Não é nada demais, eu fiz aula por um tempo.

—Por quê? – eu estava realmente curiosa, aquilo não combinava em nada com a imagem que eu tinha dele.

—Por nada, só fiz e pronto – ele deu a entender que não elaboraria mais a resposta e eu fiquei relegada a conviver com a curiosidade.

—Mesmo assim eu não estou muito convencida – levantei as sobrancelhas em desafio.

—Agora é uma questão de honra, Srta Granger – ele enlaçou a minha cintura, segurando a minha mão direita em posição de dança – pode se preparar que vamos sair pra dançar hoje.

Ficou decidido então que voltaríamos ao hotel para nos arrumarmos a fim de sair pra jantar num restaurante que tinha música ao vivo e bastante espaço para dançar. Eu ainda não conseguia acreditar muito na informação recente, e meu cérebro não tinha parado de inventar hipóteses para explicar o Ron fazendo aulas de dança, mas guardei o assunto para ser retomado mais tarde. Para completar a minha surpresa, ele tinha trazido roupas formais, então saímos vestidos com estilo para o tal restaurante. Jantamos sem pressa, aproveitando a comida e observando os outros casais que seguiam o ritmo da música na pista.

Quando nossos pratos foram retirados, ele sorriu em minha direção e estendeu a mão.

—Me daria a honra dessa dança? – perguntou todo elegante.

—Não sei se tomei vinho suficiente – frisei a testa, ele podia até ser bom nisso, mas eu não era nenhuma expert.

—Você sabe que a pergunta foi retórica, né? Não está em discussão – eu ri e aceitei a mão que ele ainda matinha a minha frente.

Realmente, estávamos ali só porque eu quis ser engraçadinha, então nada mais certo do que seguir até o fim. Ele me conduziu até o local onde a banda tocava uma música lenta. Eu ia ter que dobrar a língua e admitir que ele sabia o que estava fazendo, suas mãos firmes seguravam a minha cintura e os pés me guiavam com precisão, estávamos dançando sem fazer um papelão.

—E então, eu sei ou não sei dançar? – ele perguntou quando eu apoiei o rosto no ombro dele.

—Você sabe a resposta, não vou falar só pra você ficar exibido.

—Ah, mas eu quero escutar – ele levantou o meu queixo com os dedos, até que o meu olhar encontrasse o dele.

—Ok, seu convencido, você sabe dançar.

—Agora sim – ele puxou meu queixo e terminamos mais uma música adicionando beijos à mistura.

—Preciso de uma pausa para ir ao banheiro – ele declarou no fim da terceira música.

Voltei para espera-lo na nossa mesa, aproveitando para bebericar mais um pouco do vinho que tinha ficado na minha taça. Levantei depois de alguns minutos para ver se ele já se encontrava a caminho, eu estava tão distraída com o ambiente que nem percebi um homem se aproximando.

—Quieres bailar conmigo, señorita? – ele pediu com um sorriso.

O rapaz era muito bonito e tinha um sorriso simpático, contudo eu não estava ali sozinha e não tinha nenhuma intenção de dançar com outra pessoa. Abri a boca para dizer exatamente isso, de uma maneira delicada, porém antes que eu enunciasse a primeira palavra senti um par de braços agarrando possessivamente a minha cintura por trás e voz nada contente do Ron soou.

—A señorita está acompanhada, colega – ele não se esforçou nem para usar o espanhol que eu já o tinha visto falar perfeitamente.

Sem precisar de mais encorajamento, o meu ex-futuro parceiro de dança evaporou, ele tinha uns bons quinze centímetro a menos que o Ron e claramente não sentiu necessidade em lidar com a animosidade dele.

—O que foi isso, Ronald? Precisa sair por ai rosnando e assustando os outros? –  virei de frente para ele para reclamar, mas no fundo gostei de vê-lo incomodado.

—Esse cara que não tem que sair convidando quem já tem companhia.

—E se eu quisesse dançar com ele? – rebati.

Os olhos dele escureceram ao ouvir as minhas palavras, e ele me soltou, me arrependi de ter falado aquilo, pois não era nem de longe verdade.

—Você quer? – ele tentou parecer indiferente, mas eu notei a súbita dureza na voz dele.

—Claro que não, não sei porque eu disse isso.

—Porque se você quiser, vai lá eu espero, quem sabe não arrumo uma argentina pra dançar comigo também – agora ele estava querendo me provocar.

—Pode parar com isso, eu não vou dançar com ninguém e você também não! – acabei me exaltando mais do que pretendia, mas só de pensar que ele ia sair por aquele salão procurando alguma outra mulher para grudar as mãos, eu me descontrolei um pouco além do que eu consideraria próprio.

—Ótimo – ele pegou as minhas mãos e eu achei que fosse me levar de volta para a pista, mas ele permaneceu no lugar apenas me trazendo para perto para que pudesse capturar a minha boca num beijo nada dócil e correr as mãos pelas minhas costas.

—Aquele folgado ainda estava te olhando – explicou ao se afastar – agora não está mais, vem.

Eu revirei os olhos com a atitude tão territorialista, mas o segui para dançar mais algumas músicas. Acabei realmente gostando da experiência, além de aprender a não fazer mais nenhum tipo de suposição sobre a vida do Ron, vai que ele me dissesse a seguir que era treinado em karatê ou qualquer outra coisa, depois dessa noite eu não me surpreenderia com mais nada. Claro que essas decisões são mais fáceis na teoria do que na prática, pois quando ele me disse que havia um cassino famoso num hotel ali perto e me convidou para ir, eu fiquei levemente admirada por mais esse interesse escondido.

—Vamos, nunca fui em um antes – confessei.

—Eu fui uma vez só, então não tenho muito mais experiência – ele me ajudou a colocar o casaco e saímos na noite fria para percorrer a pé a pequena distância entre o restaurante e o Hotel.

—Ganhou alguma coisa?

—Um pouco.

—Sorte de principiante, será?

—Quem sabe, só não vamos perder uma fortuna hoje, se controla – ele zombou.

—Não se preocupe que eu sou muito controlada, obrigada – empinei o nariz.

—Podemos fazer uma aposta entre nós então – sugeriu, claramente empolgado.

—Qual seria? – eu já tinha acionado meu modo de cautela, negócios com o Ron tendiam a não terminar em minha vantagem ultimamente.

—Quem ganhar mais decide o roteiro de amanhã.

—Hum... – mesmo se tivesse alguma pegadinha, que eu acreditava piamente que era o caso, o preço não me parecia muito alto – tudo bem, combinado.

Chegamos ao casino e eu me senti entrando numa cena de filme, mesas de jogos lado a lado com as fichas coloridas sendo passadas de mão em mão, além da quantidade imensa de máquinas enfileiradas, prontas para capturar a maior soma de dinheiro possível. Trocamos um pouco do nosso dinheiro em fichas e demos uma volta para decidir por onde começar.

—Então? O que você quer jogar? – ele perguntou.

—Não conheço as regras de nenhum desses jogos de cartas, vai ter que ser algo mais simples.

—Vamos para a roleta então.

Achamos dois lugares vazios na mesa que buscávamos e começamos as apostas.

—Isso! – me empolguei ao ser a primeira de nós a ganhar qualquer coisa.

Nas rodadas que se seguiram, o Ron apenas perdeu dinheiro, e eu consegui ganhar o suficiente para cobrir as minhas perdas e ter algum lucro, mesmo que não fosse nada muito significativo, já me colocava a frente dele.

—Acho que cansei desse, vou tentar um pouco naquelas máquinas – apontei.

—Tudo bem, vou dar uma olhada por ai pra ver se me animo com algum jogo.

Nos separamos, mas não por muito tempo, pois a minha paciência foi testada com a probabilidade mínima que existia de ganhar alguma coisa com aquele tipo de jogo. Levantei, irritada por ter gastado dinheiro com aquilo, e me pus a procurar pelo Ron. Eu o avistei sentado numa mesa com mais quatro homens e uma mulher, um grupo de cartas na mão e o rosto fechado em concentração. Encostei-me nele, apoiando a mão em seu ombro.

—O que está jogando?

—Pôquer.

—Não sabia que você jogava, posso assistir?

—Claro – pedi uma cadeira e me sentei ao lado dele.

Aquele era um jogo silencioso, cheio de olhares de canto de olho e decisões calculadas. Eu não entendia absolutamente nada da lógica das cartas ou das sequencias que tinham que ser formadas, apenas o sorriso triunfante no rosto do ganhador da rodada me indicava quem estava tendo sucesso, e mais uma vez para meu espanto, era o Ron que tinha o maior monte de fichas. Era evidente a seriedade e concentração no rosto dele, a expressão não deixando transparecer nada do que tinha nas mãos. Eles começaram uma nova partida e eu não aguentei segurar a curiosidade e fiz várias perguntas sucessivas para tentar fazer aquilo ter algum sentido na minha mente, ele até que tentou responder rapidamente no inicio, mas à medida que as fichas iam sendo aumentadas, ele desistiu.

—Amor, pode segurar a língua só um pouquinho?

Não sei o que me desconcertou mais, o fato dele ter me pedido para ficar quieta ou o jeito com o qual ele se referiu a mim, porque eu tinha escutado direito, não tinha? Ele se virou instantaneamente.

—Prometo que te explico todas as regras depois, coisa linda – ele beliscou a minha bochecha com uma expressão zombeteira voltando a atenção para o jogo, mas eu percebi que as bochechas dele tinham assumido um tom muito mais próximo dos cabelos dele.

—Sem problemas, amorzinho – respondi ácida, nem um pouco satisfeita de ter sido calada como uma criança tagarela.

Encostei na cadeira de braços cruzados, meu interesse pelo jogo já totalmente esquecido, fiquei tentando repassar mentalmente o tom que ele tinha usado ao me chamar de amor. A atitude foi tão inesperada que, ao ser pega desprevenida, eu mal consegui computar a palavra, quanto mais analisar para compreender da onde aquilo tinha vindo. Para o bem do meu coração, que ainda não tinha retomado o compasso normal, eu decidi enquadrar o gesto carinhoso junto com a ironia da próxima frase que ele falou, porém não consegui esconder de mim mesma o quanto a palavra soou bem aos meus ouvidos, e nem que aparentemente eu não me importaria de escutá-la de novo.

—Terminamos aqui – o Ron se virou para falar comigo e notou a minha cara fechada – quer ir embora?

—Você que sabe – dei de ombros, ainda contrariada.

—Você ficou chateada comigo.

—Não fiquei – respondi mesmo não tendo sido uma pergunta.

—Ah é mesmo? Então por que esses braços cruzados – ele os separou, pegando as minhas mãos – e essa boca apertada? – ele passou o polegar pelos meus lábios antes de me dar um selinho.

—Não é nada – mas eu já estava me esforçando para não sorrir, não sei o que acontecia que nem irritada por muito tempo eu conseguia ficar.

—Prefiro quando você está sorrindo – sem aviso prévio ele fez cosquinhas na minha cintura e o riso que eu estava segurando com afinco foi atropelado por uma gargalhada.

—Para com isso! – minha advertência foi completamente minada pelos risos descontrolados.

—Não sabia que você tinha tantas cosquinhas – ele parou o ataque e levantou a mão para enxugar uma lágrima solitária que caiu.

—Agora já sabe, mas nem se atreva a usar esse conhecimento de novo! Ou eu vou descobrir o seu ponto fraco também – dessa vez eu consegui soar ameaçadora.

—Já consegui o meu objetivo que era te deixar sorridente de novo, não faço mais, prometo – ele levantou as mãos.

—Você já está avisado.

—Vamos, está tarde – concordei em retornar ao hotel, a madrugada tinha dado as caras há um bom tempo e para falar a verdade meus olhos estavam pesados.

Eu fui para a saída pegar os nossos casacos e ele foi trocar as fichar no caixa.

—Ganhou bastante dinheiro? – eu não precisava nem perguntar para saber que a quantia dele era maior do que a minha.

—Um pouco, mas ganhei a aposta – ele declarou triunfante.

—Não precisa esfregar na cara – entramos no taxi e pedimos para sermos levados até o nosso hotel.

—Vou pensar com cuidado no que quero fazer amanhã.

—Ai, Deus! Não sei pra que eu me meto a fazer negócios contigo, no final das contas você é um expert em pôquer.

—Eu?

—Posso não entender nada do jogo, mas vi direitinho as fichas dos outros virem parar na sua mão – a cara de inocência fingida dele ruiu.

—Jogo há bastante tempo e não gosto de perder.

—Acontece muito?

—Não, a Ginny consegue ganhar as vezes, ela é a melhor adversária – ele ficou sério antes de continuar – outra coisa que você não tem que dizer pra ela.

—Eu nem sabia que ela jogava! – ri do absurdo de me imaginar começando uma conversa só para contar aquilo a ela.

Passei o resto do caminho tendo as minhas perguntas sobre pôquer respondidas e consegui visualizar melhor o funcionamento do jogo, o que acabou me deixando mais impressionada, pois no final das contas era tudo sorte misturado com blefe. Eu tinha que me lembrar dessa habilidade excepcional dele em enganar. Ele se ofereceu para me ensinar a jogar, mas eu acabei dispensando a oferta, eu não seria nem de longe tão boa quanto ele e não estava a fim de acumular derrotas, ainda mais quando eu tinha certeza de que ele não apostaria baixo.

Nossa noite estava oficialmente terminada, dispensamos as roupas elegantes do jantar e nos preparamos para ir dormir. Eu me aprontei primeiro e corri para baixo das cobertas, deitando de bruços e me cobrindo quase até as orelhas, a noite estava muito fria, e parecia que o aquecedor ainda não tinha feito o efeito necessário. O Ron se deitou ao meu lado, se manteve olhando para cima com o a mão por baixo da nuca.

—Adorei nosso dia – ele comentou - até a parte que você duvidou que eu sabia dançar – recebi um olhar de “eu te disse”.

—Até quando você teve que assustar o coitado que queria dançar comigo? – algo me fez reviver a cena, talvez por lembrar da sensação de tê-lo implicando com alguém por mim.

—Ah essa parte eu gostei especialmente – ele se virou de lado para me encarar.

—Por quê?

—Porque no final das contas era comigo que você estava dançando – pensei que veria um sorriso convencido, mas me enganei ao encontrar seus olhos nublados numa expressão que eu não conseguia ler com clareza, era melhor mudar de assunto.

—E o que vamos fazer amanhã?

—Eu tive algumas ideias, infelizmente vamos ter que descartar esquiar, nós chegamos antes da neve.

—Não sou muito adepta a esportes radicais de qualquer forma.

—Eu decido amanhã, agora já não estou pensando mais – ele afofou o próprio travesseiro e se ajeitou mais confortavelmente - vem cá você está muito longe de mim.

Fiquei feliz em aceitar a oferta de me aninhar entre os seus braços e terminei novamente acomodada apoiada no seu peito, com o rosto dele próximo ao meu. A verdade era que se ele não tivesse reclamado da distância, eu provavelmente o teria feito, aquela cama era espaçosa o suficiente para que pudéssemos dormir em lados opostos sem nos tocarmos, mas o que eu já aguardava no fim da noite era estar o mais próximo possível dele. Me assegurei de que não tentaria avaliar no momento a sensatez de me acostumar com isso. Apenas fechei os olhos e deixei o carinho das mãos dele nos meus cabelos me embalarem.

—Boa noite, Ron – murmurei em meio a um bocejo.

—Boa noite, Mione.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam?
O Ron foi bem danadinho na resposta ao castigo, mas a Mione bem que gostou hauahuah
Parece que o ruivo está se abrindo mais, até dos pais ele falou! A Mione se coça de curiosidade, mas sabe que não deve perguntar.
Que tal o momentos ciúmes do Ron em relação ao Harry? E mais ainda com o cara que quis tirar a Mione pra dançar? Alias, alguém ai achou estranho o Ron ter feito aulas de dança? Como vocês acham que isso aconteceu? Ele não ofereceu muitas explicações.
A noite foi terminada no cassino, onde o Ron ganhou de novo, e ali tem a minha parte favorita: ele a chamando de amor s2
Claro que ele tentou encobrir o desliza, e a teimosa da Mione se recusa a simplesmente aceitar os fatos, mas foi muita fofura, né?
Deixem seus comentários que sempre me animam.
Ainda tem mais um capítulo antes que a viagem acabe, mais algumas surpresinhas pela frente e muuuuuita fofura.
Até lá
Bjus

Crossover: esse capítulo é independente de DV, mas não deixem de ler pois a história está cada vez melhor ;)