Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos, eu estou ansiosa desde o começo da semana para postar esse capítulo! Só pelo tamanho gigantesco já dá pra perceber que muitas coisas acontecem ;)
Já iniciamos com o Ced de volta, eu já estava com saudades dele huahauha
Aaaah! Quero saber se vocês acham alguma relação da capa da história nesse capítulo (ela foi escolhida a dedo)
Espero que gostem



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A segunda feira não tinha começado na melhor das maneiras, primeiro quase perdemos o voo, pois todo o vinho nos derrubou sem piedade por horas e depois eu tive um pouco menos de uma hora para deixar as coisas em casa, me trocar e ir para o trabalho, que para ser sincera eu não tinha sentido tanta falta assim. Com duas semanas apenas para o grande evento da estação, eu tinha chegado a um local que parecia mais uma zona de guerra, onde era o meu trabalho cuidar dos feridos e planejar novas estratégias para que nosso time saísse vitorioso. Mesmo tendo deixado tudo finalizado antes de sair de férias, eu sabia que imprevistos aconteceriam. Eu estava no meio de um telefonema para resolver o que me parecia ser o milésimo imprevisto do dia quando o Ced chegou.

—Booom dia, chefi... – eu levantei a mão indicando que ele devia se calar enquanto eu terminava, para minha surpresa ele me atendeu e sentou à minha frente para esperar.

—Pronto, terminado pode continuar, Ced – eu sorri, feliz de rever o meu amigo.

—Olá, chefinha como foi de viagem? – ele pulou da cadeira e me amassou em um abraço apertado.

—Nossa, tudo isso são saudades? – provoquei.

—Não posso nem mais ficar feliz em te ver?

—Não só pode como deve, também estou feliz de te ver – ele me largou e voltou para a cadeira.

—Já vi pelos relatórios que estamos com alguns probleminhas.

—Sempre tão delicado... probleminhas é um apelido – suspirei, por que as coisas que estavam certas, não podiam simplesmente continuar assim?

—Não tema, Mi! Estou aqui para te ajudar a salvar o dia, e ainda temos duas semanas para isso.

—Eu sei, obrigada, Ced. Parece mesmo que vamos passar esses dias apagando incêndios.

—E nem são do tipo que você gosta, não é? – o sorriso sugestivo que ele me lançou era o suficiente para me dizer do que, ou melhor de quem, ele estava falando.

—Nem de longe.

—Mas então, falando do Sr Incêndio, como foi a viagem? Pode começar dizendo onde foi.

—Fomos para Bariloche, e foi ótimo – respondi sucinta, não muito interessada em estender o assunto, pois eu sabia que se ele começasse a perguntar, não terminaria nunca.

—Que romântico, friozinho, paisagem bonita, vinho, devo dizer que o Sr Weasley não errou no local.

—Não mesmo, a cidade é linda – concordou.

—E?

—E o que? – me fiz de desentendida.

—Você não espera que eu vá aceitar só isso como relatório, né? Preciso de detalhes, eu me alimento deles, necessito de detalhes para viver – respondeu, dramático como só ele sabia ser.

Eu estava tentando esconder o fato de que eu não queria contar nada por trás de brincadeiras e bom humor, mas a verdade era que aquela viagem tinha sido cheia de momentos e situações que eu ainda não tinha tido o tempo de analisar friamente, ou seja, longe do Ron. E por mais que no fundo do meu estômago, eu tivesse uma sensação de que o os dados já tinham sido lançados, eu ainda não estava pronta para ver se o resultado estava de acordo com as minhas apostas.

—Ced, temos muito trabalho a fazer para perder tempo com fofocas, a viagem foi boa e isso resume tudo.

—Ah não! Sempre tem tempo para fofoca, regra número 23 do manual do Ced – ele levantou o dedo indicador.

—Desde quando você tem um manual? – arqueei a sobrancelha.

—Desde agora, muito útil, não acha? Acho que vou até publicar, ia ser um serviço a humanidade, espalhar toda a minha sabedoria.

—Ai, ai, bom saber que a sua humildade voltou de férias também.

—Mas chega de desconversar, você não me engana Mi, diz: qual é a conclusão da grande viagem, afinal? Pelo menos isso você tem que me dizer.

—Vai trabalhar, Ced! – apontei para a porta indicando que ele devia sair, mas ele não moveu um centímetro.

—Vou, claro. Assim que você for uma boa amiga e me contar o que quero saber – ele mudou de estratégia e me lançou uma cara de cãozinho pidão.

Ele não ia parar, eu conhecia o meu amigo, curioso até o último fio de cabelo. Mas eu não queria falar, não queria reviver ainda nem um detalhe dos cinco dias que eu passei como se o mundo fosse uma bolha onde só existia o Ron e eu. Isso provavelmente era o meu subconsciente me dizendo que eu já sabia o meu diagnóstico final, eu precisava ficar calada por enquanto, porque se eu abrisse a minha boca eu saberia o que iria escutar do Ced e isso só faria os sentimentos que me rondavam muito mais difíceis de escapar.

—Ced, não quero falar sobre isso agora – toda a leveza e animação foi substituída por seriedade, eu o encarei tentando fazer com que ele enxergasse que aquilo era o que eu precisava no momento.

Ele ficou me olhando em silêncio por alguns segundos antes de se pronunciar.

—Tudo bem – ele me olhou com simpatia, nem parecia o mesmo Ced de um minuto atrás.

—Sério, fácil assim? – ele suspirou e se levantou.

—Sou um amigo maravilhoso, Mi. Se você precisa não falar no momento, então que seja, mas meus ouvidos estão aqui para quando você chegar na parte de soltar a língua, o que pelas minhas preces acontecerá logo – ele nem me esperou responder e se virou para sair.

—Ced, espera! – me levantei e fui atrás dele, que se virou para mim, ainda com a maçaneta na mão – obrigada.

Eu o abracei, não apenas por ter entendido que o que eu realmente necessitava era de silêncio, mas por estar presente em todos os momentos que eu precisei, e já até ter se voluntariado para os que eu ainda precisaria.

—De nada, chefinha, agora vai trabalhar! – eu olhei feio pra ele pelo atrevimento, mas o sorrisinho dele desarmou a minha expressão.

Ao chegar em casa, algumas horas depois do horário normal, eu estava exausta. Liguei para um delivery e fui tomar banho enquanto a comida não chegava. Assim que minha encomenda estava em minhas mãos, eu não demorei em comer e me preparar para dormir. Tentei manter o Ron afastado da minha mente o máximo possível durante o dia. Eu sabia que tinha prometido a mim mesma que aquela viagem seria o último recurso para decidir o que eu queria da minha vida, no que dizia respeito ao Ron, mas com tão poucos dias para o desfile, eu não podia me dar ao luxo de me distrair, era um risco que eu não ia correr. Claro que existia a vozinha irritante da minha consciência me dizendo que eu estava apenas inventando mais uma desculpa para fugir de ter que enfrentar o que estava a minha frente, mas eu decidi ignorá-la e fui muito bem sucedida, pelo menos até a hora de ir me deitar.

Puxei as cobertas e me enfiei debaixo delas, me posicionando no lugar que eu sempre escolhia. Fechei os olhos determinada a pegar no sono de uma vez, antes que a minha mente pudesse começar a trabalhar de verdade. Falhei miseravelmente, pois em poucos minutos eu já conseguia identificar a falta de alguém do meu lado. A noite estava fria, claro que nada tão extremo quanto na nossa viagem, mas eu não tinha sistema de aquecimento, então me encontrava encolhida debaixo das cobertas, reconhecendo que faltava um par de braços me envolvendo e o carinho nos meus cabelos que me colocava rapidamente para dormir.

—Pode parar com isso, Hermione! – briguei comigo mesma.

Levantei e peguei outro cobertor para colocar em cima de mim e voltei a minha posição original, mas dessa vez virada para o lado da cama que nos últimos dias se encontrava ocupado toda vez que eu olhava. Não importava quantas vezes eu abrisse e fechasse os olhos, ele não ia aparecer ali miraculosamente, e o desejo em si de que isso acontecesse já estava me irritando, ele devia estar dormindo profundamente sem problema nenhum. Porém a falta falou mais alto, quando dei por mim, o travesseiro, que na minha mente já era tratado como o “travesseiro dele”, estava aprisionado entre os meus braços, onde eu pude afundar o meu rosto, tentando encontrar qualquer resquício da presença dele.

Eu estava quase dormindo quando escutei o meu celular vibrando, e pelo horário um tanto tarde, fiquei curiosa para saber quem era. Peguei o objeto que estava no criado mudo atrás de mim.

“Como foi o trabalho hoje? Deu tempo de chegar?”

Um sorriso satisfeito surgiu no meu rosto, ele também não estava dormindo.

“Foi uma correria, mas deu tempo. Só que as coisas estão uma loucura com a proximidade do desfile, estou exausta, e você?”

Nunca fomos de trocar esse tipo de mensagens, mas me senti com vontade de dividir um pouco do meu dia.

“Cheguei um pouco atrasado, mas meu chefe não liga ;)”

“Engraçadinho”

“Aquele cliente do jantar ligou para mim hoje, ele precisa de um serviço pronto para essa semana, as coisas vão ficar bem doidas por aqui também”

“E dá tempo? Meio em cima, não?

“Bem em cima, mas vai ter que dar, claro que ele vai ter que pagar mais por isso ;D”

“Negócios são negócios”

“Já estou com saudades”

Arregalei os olhos com a mensagem inesperada, meu coração perdeu o compasso, mas antes que eu pudesse pensar em como responder, outra mensagem apareceu.

“Da viagem”

Eu não consegui esconder de mim mesma a decepção com as últimas palavras, resolvi fingir que nada tinha acontecido.

“Eu também, muito mais calmo lá.”

O assunto pareceu morrer, fiquei mais alguns minutos esperando uma resposta, mas nada veio. Eu não queria terminar o dia com a impressão de que o clima estava estranho entre nós, então mudei de assunto apenas para conseguir finalizar a conversa.

“Vou ver se pego os convites do desfile amanhã ou depois, te aviso quando der para entrega-los, boa noite.”

“Ok, boa noite, Mione. Bons sonhos.”

Os dois dias seguintes no trabalho foram tão corridos que eu não tive tempo de pensar nos convites que eu tinha que pegar até o final do expediente da quarta feira. Minha mente não conseguiu para nem para pensar no Ron, o que no momento era quase uma benção.

—Tudo terminado por hoje, chefinha! – o Ced já tinha a mala dele nos ombros, pronto para ir embora.

—Só estou finalizando algumas coisas aqui, pode ir, Ced.

—Se falta pouco eu espero – ele se sentou para me aguardar.

De repente me deu uma impressão de que eu estava esquecendo alguma coisa, levantei a cabeça do computador e levei a mão ao queixo tentando lembrar.

—Que cara é essa?

—Acho que eu esqueci de alguma coisa....

—Mandou os últimos relatórios para a Bruxa?

—Sim.

—Conferiu a lista de convidados atualizada?

—Claro – com um estalo eu me lembrei – é isso, os convites!

—O que têm eles?

—Preciso de cinco, esqueci de entregá-los.

—Posso saber para quem são? – perguntou desconfiado.

—Para os meus pais, a minha vizinha Ginny e o namorado, e um pro Ron – o último nome foi adicionado quando eu já não olhava mais nos olhos dele.

—Ah sim, quer dizer que o Sr Incêndio vai? – eu não precisava olhar a cara dele para saber que tinha um sorriso presunçoso me encarando.

—Sim.

—Vou pegar os convites enquanto você termina ai – eu concordei e ele saiu.

Ele voltou com a quantidade certa de envelopes.

—Obrigada, Ced você é um amor – estiquei o braço para aceitar os convites que ele me entregava.

—Então, me diga – ele começou como se não quisesse nada – o que você vai vestir?

A pergunta dele acionou um alarme na minha cabeça.

—Ai meu Deus! – esfreguei a mão na testa, o nível de preocupação subindo a cada segundo.

—Chefinha, tenha pena do meu pobre coração e me diz que essa cara não tem nada a ver com você não ter escolhido uma roupa ainda.

A minha expressão de culpa foi mais eficiente do que uma resposta.

—Praticamente uma semana e você não tem um vestido? Eu bati a cabeça ao entrar nessa sala? – ele estava incrédulo e sinceramente eu também.

—Sem brincadeiras, Ced! Eu esqueci mesmo, isso é um problema.

—Um problema? Uma unha quebrada é um problema, isso é uma emergência! – ele já tinha pulado da cadeira e estava andando de um lado para o outro.

—Quer parar de ficar me apavorando? A roupa nem é sua, vou dar um jeito – eu não acreditava que tinha deixado aquilo passar, como eu tinha esquecido?

—Não é minha, mas é sua e a minha amiga tem que estar deslumbrante, então me dê licença para eu demonstrar o meu nervosismo – ele me olhou ofendido e eu acabei rindo da demonstração de lealdade.

—Tudo bem, pode pirar comigo então.

—Não vamos achar nada que preste indo no shopping dessa vez, amanhã eu e você vamos falar com o Raul e ver o que podemos fazer aparecer entre os nossos melhores modelos – a voz dele indicava que eu não tinha nenhuma escolha, mas na verdade era uma boa ideia.

—E você acha que vai ficar pronto?

—Nem que eu tenha que ficar de guarda na frente das pessoas enquanto elas trabalham, e já vou dizendo, o Ced em modo de ameaça é altamente assustador – eu nunca tinha visto um sorriso tão diabólico no rosto dele.

—Ok, você me convenceu, pode voltar a ser o Ced alegrinho que eu gosto tanto, deixa o ameaçador para os que precisam.

—Vai pelo menos já pensando no que você quer, assim é meio caminho andando.

—Sim, senhor! – respondi irônica com a atitude autoritária dele.

—Sem gracinhas, chefinha isso é para o seu bem. E eu até que gosto de dar ordens – meu assistente era sem dúvidas muito atrevido.

—Imagina, nunca percebi. Por hoje chega, vamos para casa.

Acordei no dia seguinte animada para decidir a roupa que eu usaria no desfile, esse tipo de coisa nunca falhava em me deixar ansiosa. Lembrei de passar os convites da Ginny por debaixo da porta antes de sair como tínhamos combinado que eu faria, e fui para o escritório. O dia até que correu bem, tudo sendo resolvido de maneira rápida e no fim da tarde eu e o Ced fomos até a sala do Raul que já estava a nossa espera.

—Ah, aqui está a minha estrela favorita! – eu o abracei em cumprimento, o Raul era extremamente simpático, e para a sorte de todos, eficiente.

—Raul, querido, precisamos de um pequeno milagre – o Ced se apressou a dizer.

—Não sei se sou muito bom com milagres, mas eu tento – ele coçou a cabeça esperando para saber o que precisávamos.

—Eu preciso decidir um vestido para usar no desfile.

—Você ainda não tem um? – ele me olhou surpreso.

—Viu, chefinha! Até o Raul sabe como isso é inadmissível – o Ced fez uma careta em minha direção.

—Eu sei, vamos pular a parte das broncas – levantei as mãos pedindo trégua – o que você pode fazer por mim?

—Se você conseguir escolher um modelo hoje, eu posso tentar fazer para o fim da semana que vem.

—Tentar não, Raul, conseguir! – o Ced não ia admitir nada menos do que uma vitória.

—Estamos meio atolados, mas vai dar tempo, vamos ver logo o que você quer.

Ele me levou até a sala onde guardávamos vários dos modelos que estavam em fase de elaboração, muitos ainda apenas rascunhos em papel. Foi um debate acalorado, principalmente no que dizia respeito ao Ced, de como o meu vestido seria, olhamos vários modelos, cores e tecidos, até que eu cheguei naquele que eu considerava saído de um sonho.

—Vai ficar lindo, Chefinha! – ele sorria olhando para o desenho que eu tinha terminado de fazer.

—Espero que sim – concordei.

—Bom, eu tenho toda as suas medidas anotadas, só me diz em que cor você quer e pode vir na quarta experimentar pra ver se precisa de ajustes – o Raul falou, feliz de termos chegado a um consenso.

—Hum... que cor? – olhei para o Ced pedindo ajuda.

—Ah, Mi só tem um cor pra poder ficar perfeito – eu entendi na hora o que ele estava querendo dizer e mencionei a cor para o Raul.

—Boa escolha.

Sai do trabalho aliviada por ter conseguido resolver o meu pequeno grande problema, só restava esperar que ficasse pronto, porque eu não precisava nem me preocupar se ficaria bem feito, pois eu sabia que a nossa equipe era meticulosa. Além disso, eu vi o Ced entrando na sala para falar com os responsáveis por fazer o meu vestido e ele parecia muito determinado, ia dar tudo certo.

Voltei para casa pensando que eu podia passar no Ron para entregar o convite dele, mas acabei decidindo deixar isso para depois. Não nos falávamos desde as mensagens da segunda feira, e eu fiquei um pouco insegura quanto a procura-lo. Era melhor ir para casa e dormir, e foi exatamente o que eu fiz.

Nada melhor para melhorar o meu humor do que acordar e lembrar que era sexta feira. Pulei da cama rapidamente, tomei um banho e o meu café e levei mais tempo do que o normal selecionando o meu vestuário. Eu me sentia muito contente por ter apenas mais uma semana de batalhas antes do dia final, então me dei ao luxo de vestir um dos meus vestidos novos que não tinham nem sido usados ainda. Talvez o modelo, que deixava a maior parte das minhas costas de fora, além de terminar no meio das minhas coxas, não fosse completamente indicado para o ambiente de trabalho, mas nada me faria escolher outro. Combinei a cor preta do vestido com sapatos de salto azul forte, escolhi a bolsa mais adequada e fui trabalhar, sentindo que naquele dia nada ia dar errado.

—Uau, chefinha! Está arrasando hoje – eu agradeci o elogio animado do meu amigo.

—Um pouquinho de ânimo de sexta feira ajudou na escolha da roupa – expliquei – você não está nada mal também – olhei de cima a baixo, fingindo averiguar o que ele vestia.

—Eu estou ótimo, como sempre – ele revirou os olhos.

—Bom, o que temos para hoje?

Ele começou uma lista de tarefas que precisavam ser feitas no dia. Cada uma foi sendo executada ao longo do nosso expediente. Assim que tudo estava terminado, um pouco depois das sete, eu juntei as minhas coisas para ir embora. O Ced tinha um compromisso e acabou partindo mais cedo. Por algum motivo eu não queria ir para casa, a Ginny estaria no plantão, então nem adiantava ligar para ela... minha mente se deslocou para a imagem do outro Weasley que eu conhecia. Eu estava ponderando a sensatez de ir até a casa dele quando recebi uma mensagem do próprio.

“Oi sumida”

Eu ri ao ler a mensagem, não era como se eu fosse a única com meios de comunicação, e foi exatamente isso que eu disse a ele.

“Eu sei, é que essa semana foi jogo duro.”

Tomei a decisão de que eu iria vê-lo, eu não podia e nem queria evita-lo para sempre, a no final das contas tinha que entregar os convites.

“Você está em casa?”

“Estou, por quê?”

Eu nem respondi, fui direto para o carro e tracei o caminho até a casa dele. Como sempre, a minha entrada foi autorizada automaticamente no condomínio, então quando ele abriu a porta em resposta a campainha que eu toquei, ele ficou surpreso ao me ver.

—Mione, o que você está fazendo aqui?

—Vim entregar o seu convite – estendi o envelope para ele - está ocupado? Qualquer coisa eu já vou.

—Não! Vem, entra – ele pegou a minha mão e me puxou para dentro.

Coloquei minha bolsa no local de sempre e fui até a sala que parecia ter sido atingida por um furacão, pastas e papeis para todo o lado.

—Que bagunça! – eu ri da cara de embaraço dele.

—Ah, são alguns projetos que eu tenho que terminar na semana que vem.

—Sei como é.

—Deixa eu guardar essas coisas – ele se apressou para o sofá, tentando recolher tudo.

—Não precisa, Ron – eu o assegurei que não tinha medo de bagunças.

—Está com fome? Eu pedi uma pizza agora há pouco.

—Estou, vim direto do trabalho, pizza seria ótimo.

Ele voltou para minha frente e ficamos nos encarando, meio sem saber o que dizer, parecia que tinham se passado anos desde que nos vimos pela última vez. Tudo o que eu queria era enrolar os meus braços em volta da cintura dele e afundar o rosto em seu pescoço, mas não me movi. Com um passo, ele eliminou a distância entre nós e realizou os meus desejos sem que eu precisasse pronunciá-los. Fui envolvida por um abraço apertado que eu não hesitei em retribuir, senti o nariz dele tocando o meu pescoço e eu me inclinei de modo a aumentar o acesso.

—Por que parece que faz tanto tempo que eu não te vejo? – as mãos dele acariciavam as minhas costas nuas.

—Não seja exagerado, foram só quatro dias – eu estava tentando diminuir a situação, mas a verdade era que eu gostei de escutar a urgência na voz dele.

—Quatro dias sem ninguém para me pentelhar para levar o café na cama, é nem foi tão ruim assim – ele zombou e ganhou um tapa na bunda, que era o local mais perto para as minhas mãos alcançarem.

—Agora estou até apanhando – ele me encarou fazendo bico.

—Cale a boca, Ronald – levei a boca ao exato local onde eu a queria, e silenciei as gracinhas dele com um beijo nem um pouco delicado.

Ele subiu a mão direita para acariciar o meu rosto, me trazendo ainda mais para perto com a mão que continuava na minha cintura. O corte do meu vestido facilitou que ele afastasse o tecido que encobria o meu ombro. Ele logo foi dar atenção ao novo pedaço de pele desnudo.

—Preciso dizer que adorei esse vestido – eu ri da observação, antes de prender um suspiro em virtude dos dedos dele que alisaram a minha coxa.

Eu insinuei minhas mãos por debaixo da blusa dele, preparada para me livrar da peça, quando a campainha tocou.

—Juro que a minha próxima casa não vai ter campainha – ele se afastou, me dando um selinho antes de pegar a carteira e ir pagar a pizza.

Eu ajeitei meu vestido de volta ao lugar e fui para a cozinha arrumar a mesa para comermos.

—Vamos dispensar os pratos e talheres? – ele voltou com a caixa de pizza e a garrafa de refrigerante.

—Tudo bem, guardanapos então? – ele assentiu e coloquei tudo na bancada.

Nos sentamos e atacamos a comida, eu estava com mais fome do que antecipei, o que foi traduzido por alguns minutos de silêncio.

—Ninguém está te alimentando esses dias? – percebi apenas nesse momento que o Ron já tinha acabado de comer e tinha ficado me observando com um sorrisinho no canto da boca.

—Não tive tempo de almoçar direito hoje, muitas reuniões – me defendi, mas não tive nenhum pudor de continuar comendo – mas acho que você está certo.

—Sobre? – ele me olhou parecendo confuso.

—Não estou comendo tão bem, acho que preciso contratar alguém para cuidar disso – inclinei a cabeça, como se estivesse ponderando o assunto – sugestões?

—Já tentou olhar os classificados? – ele zombou.

—Boa ideia, vai que eu ache um belo cozinheiro?

—Não sei se gostei muito dessa ideia – ele fez eu bico que me arrancou uma gargalhada.

—Eu deixo você ocupar o cargo sempre que quiser – me inclinei em sua direção dando um beijo na bochecha dele.

—Me sai bem hoje?

—Como sempre – concordei e ele sorriu satisfeito.

Arrumamos toda a bagunça da cozinha fomos para a sala.

—Acho que o seu sofá está interditado, está meio tarde, melhor eu ir.

—Mas já? Fica mais um pouco – pediu, me abraçando novamente.

—Hum... tudo bem – a pouca vontade que eu tinha de ir acabou se esvaindo.

Ele me puxou para o quarto e assim que eu passei ele fechou a porta, passou a chave e a tirou da maçaneta.

—Por que você trancou a porta? – perguntei confusa.

—Estou te sequestrando por essa noite – ele me abraçou por trás, me mantendo presa em seus braços no meio do quarto - só te devolvo para o mundo quem sabe amanhã.

—Da onde veio isso? – ri da atitude infantil dele.

—Se eu deixar a porta aberta, você vai sumir daqui a pouco, te conheço, senhorita – ele beijou meu pescoço.

—E você quer que eu fique? – minha atenção estava toda focada em ouvir a resposta dele.

—Eu falei que tinha ficado mal acostumado com a viagem.

—Que tal me pedir para ficar, então? Assim você pode manter a porta destrancada – brinquei tentando disfarçar o quanto aquilo significava pra mim, meu coração martelava em meus ouvidos.

—Se eu pedir, você fica? – ele me virou de modo que eu ficasse de frente para ele, e por um segundo eu jurei ter visto um vislumbre de insegurança em seu olhar.

—Não sei, por que não tenta? – arqueei a sobrancelha lançando o desafio, mas que na verdade eu já tinha total consciência da minha resposta.

—Mione, dorme aqui comigo essa noite – nem foi uma pergunta propriamente dita, a voz dele saiu baixa, e ele não desviou os olhos dos meus.

—Tudo bem, eu fico – assenti, e vi o exato momento em que aqueles olhos azuis se iluminaram - mas eu não trouxe nada.

—Isso não é um problema, até porque eu vou adorar te tirar desse vestido, e o resto eu te empresto – ele não perdeu tempo em fazer como queria, e meu vestido foi lançado para algum lugar do quarto.

—Maneiras muito convincentes, Sr Weasley – consegui falar em meio aos beijos.

—Sou muito persuasivo quando quero, Srta Granger.

Algum tempo depois, estávamos os dois deitados na cama plenamente satisfeitos, e repetindo a configuração que desenvolvemos durante a nossa viagem, o braço dele por debaixo da minha nuca, nossos corpos colados em um abraço.

—Você sabe que vai ter que fazer o meu café da manhã, né? – perguntei com a voz já sonolenta.

—Eu já imaginava, mas não abuse, não vai ser café na cama.

—Poxa – fiz um bico exagerado, me virando para olhá-lo.

—Nem esse biquinho lindo vai me fazer mudar de ideia – ele me deu um selinho desmanchando a minha manha.

—Estou com sono – como prova, um bocejo apareceu.

—Pode dormir.

—Eu vou, mas parece que falta alguma coisa....

—O que? – ele pareceu curioso.

—Não vou dizer, mas você vai perder pontos se não lembrar – não acreditei no nível de manha que eu estava fazendo, mas se eu tinha ficado, queria o pacote completo.

Ele ficou alguns segundos em silêncio, até que aparentemente se tocou do que eu estava falando, pois caiu na gargalhada.

—Essa gatinha manhosa está pedindo carinho, é?

—Também tenho o direito de ficar mal acostumada – me defendi.

Ele levou os dedos aos meus cabelos e começou a fazer as carícias que embalaram o meu sono durante os dias da nossa viagem.

—Está bom assim?

—Ótimo – concordei - boa noite, Ron.

—Boa noite.

Na manhã seguinte, acordamos meio tarde, ele me emprestou uma camiseta que me cobria até quase os joelhos e fomos até a cozinha para que eu ganhasse o meu café da manhã como prometido.

—Você podia mudar de profissão se quisesse – comentei me deliciando com a comida que ele tinha preparado.

—Viver de fazer café da manhã nas casas das pessoas por aí? – ele levantou a sobrancelha soando pouco convencido.

—Nas casas das pessoas não – rebati mais rápido do que deveria.

—Como você quer me contratar se não posso ir cozinhar na sua casa – ele me olhou com uma expressão engraçada, e ficou me encarando até que eu respondesse.

—Mas a minha casa não é a “das pessoas” – revirei os olhos - na minha pode.

—Estamos egoístas hoje, é? – ele me deu um beijo na bochecha, colocando uma mecha do meu cabelo, que tinha escapado, para trás da orelha.

—Talvez um pouco – concedi empinando o nariz.

Aquele não era o assunto muito seguro, pois a minha reação não tinha nada a ver com egoísmo e sim com puro e simples ciúme. Eu não conseguia aceitar de bom grado nem a imaginação do meu café da manhã favorito ser distribuído “por aí”, era melhor eu desviar o rumo dessa conversa antes que eu tivesse que encarar coisas para as quais eu ainda não me sentia pronta.

—Você tem que trabalhar hoje?

—Não, me recuso. Está tudo caminhando dentro do prazo, e minha companhia está muito agradável, e você? – ele retirou os pratos que tinham sido terminados, levando tudo para a pia.

—Também estou livre, na verdade esta tudo quase perfeitamente terminado para o desfile, a semana final é só de pequenos ajustes – expliquei e ele balançou a cabeça insinuando que entendia.

—Podíamos estender esse café da manhã então, ou você tem planos?

—Plano nenhum – ele sorriu.

—Plano numero um então, tomar um banho muito demorado. Vamos colocar em votação – ele levantou a mão – eu voto sim.

—E se eu votar não, quem desempata? – provoquei.

Ele se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido:

—Eu, sou o dono da casa, meu voto vale mais.

—Belo exemplo de democracia – falei sarcástica.

Apesar da minha fraca resistência, acabei acompanhando-o até o chuveiro, onde levamos realmente um bom tempo para tomar banho. Eu estava enrolada em uma toalha e terminando de secar o cabelo com outra quando escutei o toque do meu celular que tinha ficado em um dos criados mudos ao lado da cama.

—É o meu celular, Ron, você pode trazer aqui pra mim? – ele já estava vestido, apenas me esperando terminar.

—Claro – ele saiu em direção ao quarto e voltou segundos depois com uma cara nada amigável – é o seu “amiguinho”.

Fiquei meio confusa quanto ao tom que ele usou, mas ao ver que era o Ced, a compreensão chegou. Atendi sem prestar atenção na cara feia dele me olhando, era difícil o Ced me ligar numa hora dessas, devia ser algo importante.

—Oi, Ced, o que foi?

—Oi, chefinha espero não estar interrompendo nada.

—Não está, eu só estava secando o cabelo – o Ron falou alguma coisa ininteligível, mas eu não dei atenção - mas diga, por que me ligou?

—Infelizmente a notícia não é boa, Mi

—Fala logo que estou ficando nervosa! – minha mente começou a conjurar inúmeras possibilidades desastrosas.

—Uma das nossas modelos sofreu um acidente de carro – ele falou pausadamente, como se tivesse medo de me assustar.

—Ai meu Deus, ela está bem?

—Sim, mas quebrou a perna, está fora do desfile.

—Que droga, quem foi? – esfreguei a mão na testa já avaliando o problema que poderia ser.

—A Susie – o tom dele quase pedia desculpas pela notícia que tinha que dar.

—Puta que pariu! – eu não era de falar palavrões mas a situação pedia, consegui ver a expressão de espanto do Ron - Tinha que ser ela? A principal?

—Eu sei, chefinha.

—Eu não acredito nisso – eu tinha saído do banheiro e estava andando de um lado para o outro do quarto - já estou indo, me encontre no escritório daqui a pouco

—Também já estou a caminho, vou logo começar uma lista das possíveis substitutas.

—Vão ser dias entrevistando candidatas, Ced – eu estava na beira de um ataque - e quando vai sobrar tempo para elas ensaiarem? Que desastre!

—Vai dar tudo certo, chefinha – ele tentou ao máximo soar convincente.

—Vai ter que dar, até daqui a pouco – desliguei o telefone e o joguei na cama, eu precisava me arrumar.

—O que aconteceu? – o Ron parecia preocupado.

—Desculpa, Ron, mas teve um contratempo no trabalho e eu preciso ir.

—Algo sério?

—Mais do que sério – andei pelo quarto recolhendo a minha roupa, não dava pra ir vestida com a camiseta dele.

—Vai ficar lá até tarde?

—Sim, e provavelmente amanhã também, ai que droga! – eu estava tão nervosa que não conseguia me achar entre o forro do vestido para coloca-lo da maneira certa - Me ajuda aqui – estiquei o vestido na direção dele.

Ele pegou a peça e, com calma, consegui desvirar até que ficasse da maneira correta, enquanto isso eu coloquei a minha lingerie. Ele me devolveu o vestido e em poucos minutos eu estava pronta para sair.

—Tchau, Ron desculpa sair com tanta pressa assim – eu já me encontrava na porta com a bolsa no ombro e a chave do carro na mão.

—Não tem problema, acontece – abri a porta e dei um passo em direção a saída quando ele segurou o meu braço – ei, onde pensa que vai assim?

Ele me puxou para me dar um beijo profundo, que me pegou de surpresa, minha mente estava tão preocupada com o que teria que ser feito no escritório que nem me lembrei de me despedir direito.

—Assim está melhor, tchau – ele sorriu e eu acabei o acompanhando, dei mais um selinho nele e fui embora.

—Ced, como está essa lista? – perguntei assim que chegamos os dois no trabalho.

—Grande e deprimente, chefinha, temos um longo processo de garimpo pela frente – ele parou me olhando de cima a baixo pela primeira vez - ei espera ai, você estava com essa roupa ontem....

—Nem faça perguntas para as quais você já sabe a resposta, não temos tempo para isso – afirmei de modo incisivo.

—O Sr incêndio deve ter ficado decepcionado por estragar os planos do dia.

—Já falei que não é para perder tempo, Ced.

—Ah, mas isso não foi uma pergunta, foi um afirmação mesmo, se quiser eu reformulo – ele abriu a boca para repetir a frase, mas eu o interrompi.

—Ai, Jesus, me de paciência – levantei as mãos, exasperada.

—Tá bom, tá bom, paro de brincar – ele parecia uma criança decepcionada por terem roubado o brinquedo favorito dele - aqui está a lista inicial.

—Vou começar a fazer as ligações, vá procurando mais nomes.

—Sim, senhora!

O resto do final de semana passou com uma miríade de entrevistas a modelos, sem que nenhuma chegasse exatamente a ser o que queríamos. Nessa altura do campeonato, não dava tempo de fazer mudanças, então precisávamos de alguém que fosse parecida ao máximo com a Susie, além de ter o talento necessário, pois por mais que as pessoas duvidassem, desfilar não era só andar de qualquer jeito numa passarela. O Ron me mandou mensagens para se certificar de que eu estava bem, para as quais eu respondi que sim, porém não tive tempo de alongar a conversa, nem de explicar exatamente o que estava acontecendo.

Na terça feira parecia que tínhamos finalmente a nossa substituta, o alívio era enorme, agora era com o departamento que cuidava das coreografias, a responsabilidade de ter certeza de que ela saberia o que fazer.

—Nem acredito que achamos alguém a tempo! – eu estava animada, além de muito cansada do ritmo incessante de entrevistas.

—A Sasha não vai ganhar nenhum prêmio em oratória, mas a menina tem talento – comentou o Ced.

—Não seja mau, Ced – mas era a mais pura verdade, a menina era linda e sabia como desfilar, porém não era muito brilhante em outras áreas – além disso, ela tem o mesmo tamanho da Susie, não vai precisar de ajustes.

—Verdade, e ânimo também não falta, ela nos olhava como se fossemos o próprio Papai Noel.

—Bom, considerando que ela vai liderar o desfile, é bem por ai – olhei sério para ele antes de continuar – ela vai dar conta, né Ced?

—Claro que vai, a menina é boa nisso.

—Assim espero.

Na quarta feira eu fui experimentar o meu vestido, que para minha alegria tinha ficado perfeito. Nenhum imprevisto mais havia aparecido, se tudo continuasse assim, as coisas seriam tranquilas até o sábado. Quinta à noite eu já estava sentindo um frio na barriga, nervosa com a ansiedade de que tudo desse certo. Eu iria ao aeroporto buscar os meus pais na tarde seguinte, eles ficariam até domingo e a visita deles era algo que conseguia desviar a minha atenção da apreensão do desfile. Meu jantar já estava quase pronto, fiz uma pausa para atender o meu telefone.

—Oi, Ron – eu não escutava a voz dele desde o nosso sábado interrompido.

—Tudo mais calmo agora?

—Sim, sem mais acontecimentos – respondi aliviada.

—Está ocupada?        

—Não.

—Posso ir ai, então? – um sorriso involuntário apareceu em meu rosto.

—Pode, estou terminando o jantar, mas não á nada de mais – avisei logo, para que ele não reclamasse mais tarde.

—Não tem problema, até daqui a pouco.

Ele chegou e nós comemos sentados no sofá, eu estava com preguiça o suficiente para não arrumar a mesa, e ele nunca foi de reclamar de um bom contorno nos protocolos. Ele me perguntou o que exatamente tinha acontecido no sábado e eu me pus a explicar tudo sobre minha enxurrada de entrevistas.

—Então você ficou praticamente quatro dias entrevistando modelos? – ele estava surpreso.

—Sim, e por mais que isso possa parecer o sonho da maioria dos homens, já vou dizendo que é bem entediante.

—Não era isso que eu estava pensando, só me admirei de existirem tantas por aqui que ocupassem quatro dias – ele coçou a cabeça e eu ri da conclusão inesperada.

—Você não tem ideia, se eu não tivesse achado uma na terça, provavelmente estaria no escritório até agora. E você? Como foi com o cliente que precisava do trabalho pra ontem?

—Deu tudo certo – ele terminou e colocamos os pratos na mesa de centro, nos aproximamos, até que eu deitei entre as pernas dele, apoiando as costas em seu peito – Ah! Eu conheci o Harry.

—Até que enfim, e? – eu não negava a curiosidade para saber o que ele tinha pensado do namorado da irmã.

—E nada, ele parece normal, só – ele deu de ombros.

—Você não pode ter pensado só isso – respondi incrédula.

—Pelo menos ele não me pareceu um psicopata – ele fez uma pausa antes de continuar – e ela parece feliz, tem até apelido fresco e tudo.

—Eu não disse? – meu sorriso presunçoso foi respondido com uma careta.

—É até meio estranho...

—O que?

—Nada, só não estou muito acostumado com isso.

—Pois trate de se acostumar, até porque ele vai ao desfile, vocês vão ficar um bom tempo juntos – ele deu uma resposta meio contrariada.

—Amanhã a tarde vou buscar os meus pais no aeroporto! – contei animada.

—Esse sorriso todo, já me diz que você está ansiosa.

—Claro, faz tempo que eles não vêm aqui, eles vão ficar até domingo.

—Onde eles vão ficar? – perguntou interessado.

—Aqui em casa mesmo, meu pai não é muito fã de hotéis – expliquei.

—E você vai dormir aonde?

—Exatamente onde estamos – ei ri da cara de espanto.

—Por que você não dorme lá em casa? Assim fica mais confortável.

Levei alguns segundos para processar o convite, de primeira meu instinto foi negar, mas eu já tinha dormido lá, e para dizer a verdade, não tinha intenção nenhuma de deixá-lo ir embora naquela noite.

—Não vai te atrapalhar?

—Claro que não – ele ajeitou os braços a minha volta, me apertando mais um pouco – e eu sei que você vai querer curtir os seus pais, então pode passar o dia com eles e ir lá só para dormir.

—Vou aceitar essa oferta tão generosa – zombei – minhas costas agradecem.

—Posso até levar algumas coisas hoje se você quiser, assim você tem menos trabalho depois – ofereceu.

—Não – ele me olhou confuso com a negativa – você pode levar amanhã de manhã.

—Melhor ainda – ele sorriu entendendo a implicação da minha declaração.

De manhã, o Ron saiu com as mãos cheias de coisas que eu precisaria para o fim de semana, inclusive o meu vestido que eu levaria para me arrumar no sábado. O trabalho pareceu voar, todos estavam meio fora de órbita com a eminencia do desfile, mas nada de errado aconteceu. Quando deu a hora eu me despedi do Ced e fui até o aeroporto buscar os meus pais.

—Ai está a minha princesa! – meu pai foi o primeiro a me ver e me envelopar em um abraço de urso.

—Oi, pai – quando ele me liberou do abraço, foi a vez da minha mãe – oi, mãe.

—Que saudade, querida! Tudo bem por aqui?

—Sim, e vocês, como foi a viagem?

—Tudo tranquilo, seu pai e eu estamos muito ansiosos para o desfile  - ela sorriu orgulhosa.

Eu os guiei até o local onde meu carro estava estacionado e os levei para casa.

—Tem certeza que não é melhor nós ficarmos em um hotel, princesa? Você precisa estar bem descansada amanhã – meu pai, como sempre, preocupado em excesso.

—Não se preocupe pai, não vou dormir aqui, assim você não precisa se remoer, não vou ficar no sofá – ele pareceu satisfeito com a resposta e foi levar as coisas para o quarto que eles ocupariam.

Já a minha mãe, muito mais atenciosa, me puxou de lado.

—E onde você vai dormir? – a expressão dela me dizia que ela tinha uma boa ideia.

—Na casa do Ron, ele ofereceu – respondi sem rodeios.

—Ah, o seu hábito? E como foi a viagem? – ela estava mais curiosa do que o normal, mas eu decidi agradá-la um pouco.

—Foi maravilhosa, Bariloche é linda.

—Com esse sorriso no rosto, tenho certeza de que sim – percebi naquele momento que eu realmente estava sorrindo.

Ela continuou a me fazer mais algumas perguntas, das quais eu tentei me desviar da melhor maneira possível. Quando deu um certo horário, pedimos o jantar e assim que eles decidiram se deitar eu fui para a casa do Ron, que já estava me esperando. Na manhã do desfile, eu acordei cedo e fui para o local, acompanhar os últimos preparativos, eu me arrumaria por lá mesmo. Meus pais viriam de táxi e o Ron viria sozinho também.

Alguns minutos antes de começar, eu estava finalmente pronta, sai pelos bastidores a procura do Ced, só para ter certeza de que tudo estava no lugar.

—Tudo certo? – perguntei assim que o encontre, deslumbrante em seu terno moderno.

—Sim – ele me avaliou e puxou a minha mão me fazendo dar uma volta – aprovadíssimo, Mi! Esse vestido está um arraso.

—Ficou lindo, não é? – eu estava apaixonada pelo vestido vermelho que se agarrava perfeitamente ao meu corpo, deixando as minhas costas de fora. O tecido esvoaçante, se abria em uma saia ampla que tinha um caimento muito bonito.

—Sem dúvidas.

—Vamos, já vai começar – nos encaminhamos para as nossas posições, perto da onde as modelos entrariam – Meu Deus, está lotado – comentei nervosa, procurando na multidão algum sinal dos meus convidados, sem conseguir realmente distinguir ninguém.

—Claro que está, e vai ser um sucesso.

Para a minha felicidade, tudo ocorreu da maneira planejada, as modelos estavam deslumbrantes e foram todas muito bem aplaudidas. Assim que terminou, eu e os outros responsáveis, entramos na passarela para receber os últimos aplausos, eu estava com o estomago dando piruetas, mas me senti orgulhosa de ter dado tudo certo. Assim que consegui, me infiltrei entre os convidados, primeiro encontrando os meus pais que se acabaram em elogios, eles ficaram conversando com alguns dos outros trabalhadores, matando toda a curiosidade e eu continuei, tentando achar a Ginny, o Harry e o Ron.

Minha vizinha estava linda em um vestido verde, e claro que o Harry não estava menos bonito. Eles me parabenizaram, e eu agradeci de coração por eles terem vindo, eu tinha completa noção de que aquele não era o tipo de passatempo usual para eles. Meu olhar procurou mais um pouco pelo salão, tentando achar o meu último convidado até que a Ginny disse que o Ron estava no banheiro. Eu ia esperar com eles, mas um dos assistentes veio me dizer que eu era necessária nos bastidores, me despedi dos dois e fui cumprir minhas obrigações. No final das contas não passava de um mal entendido entre as equipes que deveriam desmontar os equipamentos, mas levou quase meia hora para ser resolvido. Quando eu abri de novo a cortina para voltar à plateia, o local já não estava tão cheio e eu consegui avistar o Ron sem problemas, mas ele não estava sozinho.

Uma loira alta, que eu reconheceria de longe como sendo a última modelo que eu contratei estava numa conversa animada com ele, que sorria em resposta. Aquilo me desequilibrou, na hora que eu a vi colocando a mão no braço dele, eu senti uma raiva que eu não entendia da onde vinha, e o pior foi ele simplesmente continuar conversando, um drink numa mão e a outra gesticulando de vez em quando. Eu não queria continuar vendo aquela cena, voltei para os bastidores e me afundei na primeira poltrona que encontrei. Todos os sentimentos que eu tentei reprimir desde que eu voltei da viagem estavam me atacando, e ainda por cima cobrando juros pelo atraso. Respirei fundo, tentando lidar com aquilo tudo, mas as lágrimas estavam já me ameaçando, por mais que eu tivesse declarado mentalmente que não choraria por aquilo. Escutei um barulho de foto sendo tirada e vi o Ced ao meu lado com o celular na mão.

—O que você está fazendo? – perguntei tentando disfarçar meu estado de espírito.

—Você estava tão poeticamente triste, chefinha, afundada nessa poltrona com a cabeça apoiada na mão que eu tive que tirar uma foto. – percebi como a minha situação estava séria quando eu não achei palavras para responder.

O Ced deve ter chegado à mesma conclusão, pois arrastou uma cadeira para o meu lado e esperou em silêncio.

—Ced – quebrei o silêncio em voz baixa - eu estou perdida.

—Opa! Já estamos dando um passo para o lugar certo – ele respondeu bem animado.

—Para de brincar, eu estou falando sério – olhei feio para ele.

—Eu também, só que de uma maneira agradável – ele deu de ombros - Conta, o que aconteceu na viagem – não sei como, mas ele sabia exatamente sobre o que eu precisava conversar.

—Foi tudo ótimo – declarei mais uma vez.

—Claro que foi, isso você já falou.

—Mas acabou...

—Quando foi que você pensou que 5 dias não acabariam?

—Me deixa falar! – já não era fácil colocar aquilo pra fora sem ele me interromper.

—Tá bom, escutarei calado – ele levantou as mãos pedindo desculpas.

—Eu gostei, Ced.... gostei de tê-lo por perto todos esses dias, gostei de dormir com ele do meu lado e mais ainda de acordar com ele ainda lá. E...

—E?

—E eu coloquei na minha cabeça uma meta de que essa viagem seria a minha prova final, que eu definiria a bagunça na minha cabeça e chegaria a uma conclusão.

—Que é? – ele estava quase na ponta da cadeira.

Eu respirei fundo antes de responder.

—Eu conclui que ele é um ótimo dançarino, que gosta de nadar, mas detesta voar, que é ótimo em ensinar a cozinhar e não apenas em cozinhar sozinho, que consegue me fazer rir e me divertir sem muito esforço, que eu gosto da companhia dele em todas as horas do dia, pois não me cansei dela nem um minuto – fiz uma pausa em que o meu amigo se absteve de falar.

—E no dia que chegamos eu já senti falta dele ao meu lado, um dia depois, Ced! Fui dormir esperando que ele fosse aparecer. Eu me impedi de pensar no que eu queria para nós dois até essa viagem, depois por duas semanas por causa do trabalho e agora parece que eu sinto tudo ao mesmo tempo – levei às mãos a testa.

—Como assim?

—Não sei se ele é um hábito, um vício, só sei que eu não me sinto nem um pouco inclinada a me separar dele, eu tentei e não deu certo, agora tentei o oposto e eu estava feliz, muito feliz nesses cinco dias.

—E porque não pode ser assim sempre? – ele parecia genuinamente querer entender.

—Porque não depende só de mim – declarei sincera.

—E você acha que ele não quer a mesma coisa, é isso?

—Não sei, Ced e é isso que está me deixando louca – uma lágrima teimosa caiu pela minha bochecha e eu me apressei a enxuga-la - E agora ele está lá fora com aquela Sasha quase esfregando os peitos na cara dele, e eu só consigo pensar que quero arrancar os olhos dela – completei ácida.

—Violência não combina com você, Mi.

—Eu sei! Mas é isso, não é? Eu estou aqui sem fazer nada e ele pode achar alguém mais interessante – no fim das contas esse era o meu maior medo.

—Em nenhuma dimensão aquela barbie seria mais interessante do que você – ele revirou os olhos, como se aquela afirmação fosse um absurdo.

—Não precisa ser ela, mas alguém, qualquer pessoa. E eu não quero, não quero ele olhando para mais ninguém, só para mim – pronto, ali estava a minha confissão.

—Ai chefinha, esperei tanto por esse momento – ele juntou as mãos e me olhou com um sorriso radiante.

—Não aprecio o seu sarcasmo na atual conjuntura dos fatos – rebati, mal humorada.

—Não estou sendo irônico, sua teimosa, só estou feliz por você ter ficado um pouco menos ceguinha, claro que você não quer ele longe – ele colocou a mão no meu ombro.

Eu encostei a cabeça na poltrona e fechei os olhos, estava cada vez mais difícil não chorar, mas eu não era esse tipo de pessoa, então me controlei ao máximo.

—Ced – murmurei.

—Oi.

—Não tem mais volta – minha voz era quase um fiapo.

—Nunca achei que tivesse, mas vou te ajudar perguntando: por quê? Vai ser bom pra você falar em voz alta – ele me encorajou, mas eu permaneci calada - Anda pode falar.

—Eu estou apaixonada por ele – assumi, e depois de falar as palavras em voz alta, tudo me pareceu muito mais real, além de uma verdade que já estava viva há muito tempo.

—Claro que está – ele pegou a minha mão, dando uns tapinhas reconfortantes.

—O que eu faço?

—Primeiro, pode parar de chorar, vai estragar a sua maquiagem.

—O que? – levei a mãos ao rosto para perceber que ele estava certo, algumas lágrimas escorriam pelas minhas bochechas.

—Depois você tem que dizer para ele – ele continuou.

—Não mesmo, eu... – minha voz morreu, mas ele logo me interrompeu.

—Você quer estar apaixonada sozinha?

—Não.

—Então acho que esse é o jeito mais fácil, mesmo sendo difícil – ele falava como se fosse tão simples quanto passear no parque.

—Sua lógica não me anima nem um pouco. Mas eu não sei o que ele sente, Ced, o que ele quer... e se... e se pra ele não for a mesma coisa? E se eu falar e ele não sentir o mesmo? Seria o fim – todas as minhas dúvidas estavam escapando pelos meus lábios.

—Mas pode ser o começo, não vale a pena o risco? – ele sorriu tentando me animar.

—O risco é de ter que me separar de vez dele, não sei se tenho coragem para essa aposta.

—Do jeito que ele age, você realmente acha que ele não está na mesma situação que você?

—Isso é o que eu espero, não o que eu sei... não tenho coragem de perguntar

—Não tem agora, mas vai ter em breve, né?

—Vou? – ele tinha muito mais segurança em mim do que eu mesma.

—Vai sim, eu te conheço.


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Notas finais do capítulo

Ai meu Deus!!! Ela confessou que está apaixonada!!! Momento marcante na história!
Esse capítulo teve muita fofura dos dois, teve um quase desastre no desfile e o Ced sendo o Ced (agora ainda quer publicar um manual huahauh)
Mas e agora? O que será que a Mione vai fazer com a nova descoberta? Foi necessário ver o boy dela perto de outra pessoa para que ela admitisse que é só pra ela que ele tem que olhar. E ficou o medo de que ele possa conhecer outra pessoa enquanto ela espera passiva....
O Ced é um amigo nota 10, não é? Queria um desses pra mim huahuaha
Deixem nos comentários as opiniões de vocês, quero muito saber o que vocês acharam da maneira que as coisas aconteceram... já era hora!

Bjus

Crossover: O Ron finalmente conheceu o Harry! Se vocês quiserem saber como foi, basta ler o capítulo 18 de DV que a Paulinha postou na semana passada. Além disso teve todo o desfile na perspectiva da Ginny, e eu já adianto que a melhor parte é o que aconteceu depois que eles foram embora, vocês não podem perder!
E eu acho melhor vocês correrem para ler o capítulo de DV dessa semana (19, que será postado amanhã), porque algo me diz que vai ser muito importante para a história!