Continuei na minha vida simples, voltei a usar minhas roupas velhas, e nem sempre tinha o que comer. Nada longe do normal, do que eu estava acostumado. Sara apareceu em algumas revistas, em algumas fotos, como uma pessoa importante, dona de si, e algumas vezes acompanhada de alguns homens. Remoí-me por dentro imaginando aqueles homens tão perto dela.

Alicia também sentia falta de Ana Paula, nunca mais se viram depois do ocorrido, e sempre que ela me perguntava, eu diria que seria na próxima semana.

Haviam-se passado três meses, nos primeiros dois Sara era o alvo das revistas, e no último mês nem isto eu tinha para matar a saudade. Das duas uma: Ou a mídia havia se cansado dela, ou ela havia se cansado da mídia.

Era precisamente uma quinta-feira, quando cheguei em casa e deparei-me com Henrique. Alicia estava em casa também, brincando com Ana Paula e Arthur, que agora passava mais tempo fora do berço do que nele, pois corria de um lado para o outro com uma energia que não podíamos controlar.

— Senhor Henrique? – Disse surpreso em vê-lo. – O que faz por aqui?

— Preciso de sua ajuda Grissom. Sara precisa...

— Aconteceu algo com ela? – Perguntei preocupado.

— Desde que você voltou para casa, há uns três meses, Sara voltou a frequentar a vida que tinha antes. Amigas, festas, porém visitando a filha e passando a noite com ela, como sempre fazia. Porém há quase um mês, Sara cismou que Sophia havia mexido a mão, coisa que duvidamos, mas então ela saiu do coma por em torno de uns dez minutos, voltando a entrar em coma de novo. O fato é que Sara não estava presente naquele momento, e desde então ela não sai do quarto de Sophia. Ela não come direito, ela não dorme há pelo menos três dias, ela sofreu uma série de desmaios...

— E o que eu posso fazer? – Estava abismado, nunca pensei que Sara estivesse tão mal.

— Ajudá-la, como você fez da outra vez.

— Mas eu... As crianças... Não é que esteja me negando a ajudar, mas é que... – Na realidade tinha medo de como Sara iria me encarar novamente.

— As crianças podem ficar lá novamente, eu ajudo com qualquer gasto, mas eu estou preocupado demais com ela.

— Eu e Sara discutimos, não sei se ela irá querer me ver.

— Grissom, uma vez ela salvou a vida do seu filho. E eu estou pedindo que salve a vida da minha filha. Eu já perdi minha esposa, minha neta pode ir a qualquer momento, e eu não suportaria perder Sara. – Os olhos de Henrique marearam, e eu entendia o que ele queria dizer.

Não tive escolha. Logo Fábio veio buscar as crianças para leva-las para casa, e depois de um banho eu fui com Henrique direto para o hospital. Eu não queria aceitar, mas Henrique fez questão de cuidar de tudo para meus filhos, para que eu tivesse a inteira disposição de Sara.

Quando cheguei ao hospital, e fui até o quarto de Sophia, vi Sara lá. E ela não parecia mais a mesma pessoa. Como alguém poderia mudar tanto em três meses? Estava extremamente magra, seu olhar estava sem brilho, e sua vida totalmente entregue a Sophia.