Beijamo-nos por mais algum tempo, e confesso que dividir aquela cama com ela, mantendo meu membro em seu lugar era uma tarefa árdua. Minhas mãos limitaram-se a acariciar sua face, e por um momento lembrei-me de Judy. Era a primeira vez que estava com alguém depois de sua morte, embora antes de Judy tivesse conhecido muitas mulheres. Nenhuma delas se comparava a Sara, e não me dei à oportunidade de comparar Judy a Sara, este tipo de comparação era impossível para mim.

Amei Judy com toda a força que um homem pode amar uma mulher. Com a morte dela havia se ido uma parte do meu coração, deixando um buraco que talvez Sara fosse capaz de tapar. Embora isso fosse impossível, não me importava de me iludir um pouco.

Porém como tudo que é bom acaba, tive de me contentar com o fim dos beijos, e lhe depositando um último sobre os lábios, suspirei:

— Está na minha hora.

— Então você vai mesmo? – Seu ar novamente era frustrante.

— Sim.

— Achei que te convenceria a ficar mais um pouco, dizem que é fácil se acostumar com o que é bom. E cá entre nós, ficar na minha companhia é algo ótimo. – Ela riu.

— Com certeza se acostumar com tudo isso aqui é muito mais fácil do que se acostumar do modo em que eu vivo. Você não duraria um dia lá. – Falei na brincadeira, mas pela expressão de Sara, parece que ela não levou o fato tão tranquilamente.

— Como?

— Desculpe, não quis ofender.

— Você nunca quer. Mas acredite, eu sobreviveria uma vida inteira assim com a única condição de ter minha filha do meu lado. – Ela pareceu irritada, levantou-se da cama, e foi até a porta. – Por favor, saia.

— Sar... – Disse indo até a porta.

— Por favor, Grissom, saia. Pode pedir para Fábio levar você e as crianças para casa, e... – Então ela afastou-se indo para seu closet, e pegou algo. – Isso é para Alicia. Como prometi, depois da melhora de Arthur não iria mais interferir na sua vida, e como sempre, cumpro o que eu digo.

Sem despedidas formais, terminei de organizar as coisas e Fábio nos levou de volta para casa. Cheguei lá, e organizei tudo, no outro dia Alicia teria aula, Arthur ficar com Milena e eu voltaria a lutar pela sobrevivência, como sempre havia sido.  Sara provavelmente em uma semana esquecer-se-ia de mim e de meus filhos.

Porém não conseguiria esquecer-me dela. E por aquela noite não consegui dormir, tentando entender o que a deixou tão irritada no que eu disse. Talvez já tivesse sido pobre, e eu a tenha ofendido, ou talvez fosse apenas a sensibilidade de tudo que passara. Não importa o que eu fosse, havia chateado ela demais. O suficiente para não ouvir falar dela por um longo tempo, a única coisa que vinha dela, era alguns presentes mandado pelas crianças através de Fábio, mas nenhum recado, ou algo referente a mim. De algum modo fora mais fácil ela me tirar da vida dela, do que eu tirá-la da minha vida.