— É assim que quer que Sophia te veja quando ela acordar? – Falei sério enquanto entrava no quarto.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu estou te perguntando. É assim que quer que Sophia te veja quando ela acordar? Ou você prefere estar numa cama de hospital morrendo também, e quando Sophia acordar esteja sem mãe?

— O que está dizendo?

— Uma vez você me perguntou por que todo mundo mentia para você, e eu lhe disse que realmente achava que tudo iria ficar bem. Eu não menti, apesar de ninguém ter esperanças, eu tenho muita esperança de que ela irá acordar. E sabe o que Sophia vai encontrar quando acordar? Uma mãe doente e sem condições de cuidá-la. – Meu tom era decepcionado.

Sara ficou calada por alguns instantes, talvez estivesse pensando no que eu disse, pensando em Sophia, mas ainda sim não me respondeu nada.

— Vem? – Estendi a mão. – Vamos comer algo?

Percebi que Sara me fitara de cima a baixo e não estava como nos dias que fiquei na casa dela. Apesar de não estar sujo como no dia que nos conhecemos, estava com roupa velha,  barba ainda estava por fazer, os cabelos desajeitados, dava para lembrar-se bem quem eu era e de onde eu vinha.

— Sente-se mal por eu estar assim?

— Por que você sempre diz isso? – Ela me encarou profundamente.

— Agora eu que não entendo.

E da mesma forma dura que fui com ela a poucos minutos atrás, agora estava sendo comigo:

— Quando lhe ajudei tinha de ter interesse em algo, quando disse que não podia estar contigo era por sua condição financeira, depois não poderia me acostumar a uma vida como a sua por que segundo você eu não duraria uma dia lá – ela fez aspas com as mãos na última oração –, e agora não quero estar contigo pelo modo que está vestido. Você já percebeu o tamanho do preconceito que você tem comigo, enquanto eu a única coisa que lhe fiz foi estender a mão?

Chocado, eu entendi por que ficara tão irritada aquele dia. Dei-me conta de que estava colocando empecilhos entre nós que ela mesma nem tinha pensado.

— Sar... Eu... – Eu simplesmente não sabia o que responder, havia sido um completo idiota e somente agora havia caído a ficha.

— Obrigado por vir Grissom, mas já pode ir. Vou levar em conta seus conselhos e cuidar melhor de mim. Só se lembre de que eu não tenho culpa de ser rica. – Falou indiferente, mas sabia que ela segurava-se para não cair no choro.

— Arthur e Alicia estão em sua casa. – Tomei coragem de falar.

— Como eles estão? Arthur recebeu o presente que mandei para ele de aniversário? Ele deve estar enorme. E nem deve mais se lembrar de mim. – Seu sorriso estava novamente abalado.

— Só existe um jeito de saber, você pode ir à sua casa e vê-lo.

— Boa tentativa. – Ela piscou. – Vou ficar. Pode ir e sinta-se em casa.

Retirei-me de lá, não havia mais por que ficar, novamente ela ficaria irritada, novamente brigaríamos e a ideia não era esta. Prometi a Henrique que iria ajuda-la, e esperaria a raiva passar para que pudesse fazê-lo. Tinha um plano.