Damon dormiu com a cabeça no meu colo, eu fiquei o observando por horas, seu rosto angelical que me fazia tanta falta nas minhas manhas, ele parecia uma paisagem que te hipnotiza e você não consegue parar de olhar, porque tinha que ser assim? O meu azar é uma coisa absurda.

 Fiquei horas ali com Damon em meu colo, e Lord deitado ao meu lado, isso trazia a minha paz de espirito, e me fazia esquecer tudo, toda a dor, toda a decepção, todas as coisas que haviam acontecido, era reconfortante estar ali, e acabei pegando no sono.

                                                                                     *

 Acordei na cama, olhei ao redor e estava no quarto de Damon, mas ele não estava lá, eu não queria sair dali, era uma bolha particular, onde nada me alcançava, mas infelizmente não era real. Me levantei e fui até a cozinha, Damon estava em frente ao fogão fazendo algo.

— Estou preparando o café da manhã, e depois eu te levo para o trabalho.

— Tudo bem.

 Tomei um banho rápido, vesti minhas roupas de ontem, e arrumei meu cabelo, Damon estava sentado á mesa, me sentei na sua frente, e me servi do suco de laranja e uma panqueca com bluebarry.

— Desculpa pela choradeira de ontem a noite. – ele começou – eu não esperava por isso, e é muito difícil ter que me divorciar de você.

— Não tem problema, você precisava daquilo – sorri.

— Espero que sua vida dê certo Lena, tudo.

— Eu também espero isso para você Damon, com todo meu coração.

 Nós terminamos o café da manhã, e ele me levou para o trabalho, parou bem na frente da loja, ele segurou minha mão por longos segundos, e deu um beijo no meu rosto, desci do carro e fui para dentro da loja.

— O que foi isso? – Dani estava rindo.

— Não foi nada.

— Sei, claro que não – ela continuou rindo – seu irmão te xingou a noite toda porque você não atendia o celular.

— Eu não pude.

— Você conseguiu pedir o divórcio?

— Sim – abaixei a cabeça.

— E depois um sexo de despedida? – ela riu.

— Não Daniela – segurei um sorriso – ele ficou arrasado, e me pediu para ir para a casa dele, porque quando ele ficava assim, ironicamente só eu conseguia entende-lo e acalma-lo, e eu não podia dizer não, nem queria, ele ficou muito mal.

— Claro e você foi consola-lo com beijos.

— Sem beijos, nós só – suspirei – só apoiamos um ao outro.

— Sei muito bem. – ela riu e foi para a sala de descanso.

 Vesti meu uniforme e subi para o estoque, comecei a arrumar as coisas por lá, chegariam mais peças hoje, então isso teria que estar totalmente organizado.

 A noite fui caminhando até a universidade, ao chegar lá Lexa me abordou animada, justo hoje que eu não queria conversar com ninguém.

— A viagem vai ser muito legal, tomara que você consiga sair mais cedo na sexta.

— Espero que eu consiga, estou precisando me distrair.

— Você está bem? – ela ficou me analisando.

— Estou sim – forcei um sorriso.

— Oi meninas – disse Nick aparecendo e colocando um braço em volta dos meus ombros e o outro no de Lexa, que revirou os olhos.

 Fomos para a aula juntos, agora Lexa tagarelava com Nick, e eu fiquei em silêncio. No meio de uma das aulas senti meu celular vibrar, era uma mensagem do Damon.

                        Lena, já falei com o meu advogado, ele disse que entre segunda e terça ele já vai ter os documentos, se quiser posso levar na sua casa, ou você pode vir até a minha, ou podemos sair para jantar, você que sabe.

                        Tudo bem, nós combinamos o que for melhor, obrigada.

   E não houve mais resposta.

 Por um lado fiquei aliviada, e por outro triste, mas infelizmente não tem como deixar tudo para lá, Nick percebeu meu estado de espirito e aproximou o rosto de mim.

— Esta tudo bem? – sussurrou.

— Está sim – forcei um sorriso, e ele torceu a boca em reprovação.

 Eu estava indo embora, não queria que Nick me alcançasse, não queria ter que dizer para ele o que estava acontecendo, não queria ter que conversar.

— Elena, quando você vai aprender a me esperar? – ele segurou meu braço.

— Nick eu vou de taxi, isso não é um problema.

— Vem logo – disse ele brincalhão e foi me puxando pela mão até o carro.

 Coloquei o cinto de segurança e fiquei encarando minhas mãos, eu sabia que ele iria me perguntar o que aconteceu, e isso não demorou.

— Agora me fala, o que aconteceu que você está tão triste hoje? – uma hora ou outra eu teria que falar, e eu precisava desabafar com alguém, embora ele não fosse a pessoa ideal para isso.

— É sobre o meu marido – assim que comecei a falar, já senti as lagrimas vindo – eu pedi o divorcio ontem.

— E você não queria? – ele franziu a testa.

— Não, eu gosto dele, muito.

— Então porque vocês terminaram?

 Expliquei toda a história para ele, que ouviu tudo em silêncio, eu já não conseguia segurar o choro, e as lagrimas escorriam de meus olhos, minha fala já era embolada, ele me ouvia com atenção, e quando terminei, ele me puxou e me abraçou.

— Não fica assim – acariciando minhas costas – Não era para ser Elena.

— Ai é que está, eu sei que tudo é minha culpa, e culpa daquele acidente idiota, e desse meu cérebro ridículo que insiste em não me devolver minhas memórias.

— Elena, a culpa não é sua, ele fez sexo com outra garota porque ele quis. – eu apenas assenti, sabia que ele estava certo, mas alguém dizer isso parecia bem pior do que realmente era. – Tenta esquecer, amanhã você fala com a sua chefe, e na sexta nós vamos para praia, já temos a casa, vamos beber muito e vamos nos divertir certo? – ele segurou meu rosto e sorriu.

— Sim – forcei um sorriso.

 Eu nem havia reparado que estávamos parados em frente ao meu prédio, me despedi de Nick e sai do carro.

 Jeremy me fuzilou assim que me viu.

— Muito bonito né Elena? Fica falando que sou irresponsável, que isso e aquilo, sai sem me falar onde vai, com quem vai, não me atende e não volta para casa, quem é a criança agora?

— Desculpa pai – revirei os olhos.

— É sério Elena, eu estava preocupado, sua sorte é que a Daniela me falou que você tinha saído com o Damon, mas custava atender o telefone?

— Não dava Jeremy, você não entenderia.

— É, e não entendo mesmo, você está com o Damon ou não afinal?

— Não.

— Então por que ainda sai com ele? Por que ainda dorme na casa dele?

— Eu fui pedir o divórcio – disse baixo e sua feição se alterou para surpresa.

— Você pediu o divórcio Lena? Por quê?

— Porque sim. E eu não quero falar sobre isso.

 Ele não disse mais nada, eu jantei sozinha, depois tomei um banho relaxante, vesti meu pijama quente e me deitei na cama.

                                          DAMON.

 Era uma coisa insuportável que eu sentia, meu coração doía desde o minuto em que Elena disse que queria o divórcio, eu ainda tinha esperança de tudo isso acabar, e nós conseguirmos voltar, ainda tinha esperança de algo entre nós. Como eu iria ficar sem a minha pequena? Como eu ia aguentar levantar da cama todos os dias e não ter ela lá para tomar o café da manhã comigo? Quando ela ficou em coma, não foi tão difícil, no fundo eu sabia que ela iria acordar e voltar para mim, mas isso? É muito pior, porque ela está consciente, e está me deixando, para sempre.