Terminamos o percurso com um trajeto curto de carro até o palácio, onde também haviam muitas pessoas. Quando chegamos, um par de mulheres levaram cada uma para um canto. Me direcionaram para a estação oito, onde uma garota que parecia ter uns vinte anos começou a falar sobre opções de visual.

 — Do que você gosta exatamente? Eu posso te deixar ousada, do tipo sexy, ou mais menininha inocente. Acho que a segunda opção é melhor, já que combina com você e...

— Espere! — falei, cortando-a. — Eu tenho uma ideia.

Comecei a descrever o modo como eu imaginava uma verdadeira princesa. Ela encontrou um vestido parecido com o que eu queria, precisando fazer apenas alguns ajustes. Hidrataram minha pele toda, pedi para que a mulher que fosse fazer a maquiagem usasse uma sombra de cor parecida com a do vestido e um tempo depois eu estava pronta. Meus cabelos formavam cachos sobre os ombros, com uma trança que fazia papel de tiara. Minhas unhas foram pintadas de branco e o vestido, que começava num tom claro e aos poucos ia escurecendo, se ajustou perfeitamente no meu corpo. E aquele sapato... Nossa, eu nunca fora do tipo "diva da moda", mas aquilo era uma das coisas mais lindas que já vi.

Me colocaram na frente de um espelho, onde pude ver exatamente o resultado. Eu mal me reconhecia. Nunca me achei muito bonita, mas, levando em conta o que eu era antes, estava estonteante.

— Você ficou maravilhosa, senhorita — disse a garota, me olhando de cima a baixo. — Tem um ótimo senso de moda!

Sorri.

— Obrigada.

Fui direcionada para tirar a foto e depois para a entrevista. Uma mulher sentou atrás da câmera, dizendo um "oi" logo em seguida. Ela começou a mexer em uns papéis. Quando achou o que queria, olhou para mim.

— Eu farei algumas perguntas e você só precisa responder. Seja sincera e... aja normalmente. É como uma entrevista. Vocês também vão aparecer no próximo Jornal Oficial. Ah, e isso é tudo para o especial de transformação. As pessoas estão ansiosas por isso.

Eu assentia enquanto ela falava, digerindo as informações.

— Já podemos começar? — perguntou, me encarando.

— Sim.

Uma luz vermelha acendeu na câmera, me avisando de que havia começado a gravação.

— Adorei o seu vestido. Poderia me dizer como foi sua transformação?

— Claro. Elas fizeram um ótimo trabalho, e até aceitariam minhas ideias — falei, me lembrando da garota que fez quase tudo.

— Aceitaram suas ideias? Então foi a senhorita quem decidiu o que usar?

— Ah, sim, mas não teria dado certo sem a ajuda de toda a equipe! Eles são muito bons!

— Realmente, eles são mesmo. Você é uma das meninas Cinco na Seleção. Como está sendo a experiência até agora?

Pensei em tudo pelo que passei até chegar ali.

— Sinceramente? Maravilhosa — respondi, sorrindo.

— Eu imagino — disse ela, assentindo. — E o que está achando da concorrência?

Pensei um pouco no assunto. Eu pensava nas meninas como concorrência, mas não para mim, e sim para a Meri.

— São todas lindas e simpáticas, tenho certeza de que nos tornaremos grandes amigas um dia — admiti, sincera.

— Um dia? — perguntou, notando a intenção da minha frase.

— Um dia, acredito que por enquanto estão todas focadas.

— Entendo. Muito obrigada pela participação. Você pode sentar naquele sofá que logo alguém virá.

Me direcionei para o sofá e encontrei America e Marlee conversando animadamente. Quando cheguei, as outras meninas que estavam ali me encararam. Uma de boca aberta e a outra olhando feio.

— Annalise! Você está linda! — começou Marlee, colocando as mãos na frente da boca.

— Arrasou — comentou America, dando palminhas silenciosas.

Sorri, tímida.

— Que isso meninas, vocês estão maravilhosas também. Gostei muito do cabelo — falei para Marlee — e do vestido também — dessa vez para America.

Continuamos conversando durante um tempo quando a Sílvia chegou, olhando para o relógio.

— Muito bem, garotas, estão prontas? — ela esperou um pouco, depois continuou. — Vou fazer um passeio rápido com vocês pelo palácio e depois mostrar seus quartos.

Marlee bateu palmas, e nós cinco nos levantamos para sair. Silvia contou que aquele lugar onde nos maquiaram e paparicaram era o Salão das Mulheres. Geralmente a rainha, suas damas de companhia e outras mulheres da realeza se divertiam ali.

— Acostumem-se àquele salão. Vocês passarão boa parte do tempo lá. Agora, quando vocês entraram, viram o Grande Salão, que geralmente é usado para festas e banquetes. Se houvesse muitas mais de vocês por aqui, seria lá que faríamos as refeições. Mas a sala de jantar normal é grande o suficiente para suas necessidades. Vamos dar uma passada por lá.

Silvia mostrou onde a família real fazia suas refeições, em uma mesa à parte. As Selecionadas ficariam em mesas compridas dispostas como um "U" bem estreito. Nossos lugares já estavam marcados com plaquinhas muito elegantes.

Com toda aquela correria eu mal tive tempo de observar o lugar, coisa que eu estava ansiosa para ver. E, com toda a certeza, eu nunca estivera em lugar melhor e mais bonito. Não entendi bem o motivo, mas eu me sentia extremamente confortável ali.

— Outra coisa fora dos limites: o terceiro andar. Lá ficam os cômodos reservados à família real, então nenhuma intrusão será tolerada. Os quartos de vocês estão localizados no segundo andar. Vocês ocuparam boa parte dos quartos de visitas, mas não se preocupem: ainda temos espaço para quem chegar. Estas portas aqui dão para o jardim dos fundos. Olá, Hector. Olá, Markson.

Os dois guardas à porta cumprimentaram com a cabeça.

— Vocês não podem sair do palácio em nenhuma circunstância — prosseguiu Silvia. — Às vezes, durante o dia, poderão ir até o jardim, mas nunca sem permissão. Isso é exclusivamente para manter vocês seguras. Apesar de nossos esforços, os rebeldes entraram no palácio uma vez.

Franzi a testa. Havia me esquecido completamente dos rebeldes. Por mais que fossem bons, no começo podiam ser destrutivos. Só de imaginar eu sentia medo. Entramos em um corredor e subimos as enormes escadas que davam para o segundo andar.

— As coisas de vocês já estão nos quartos. Se não gostarem da decoração, basta avisar as criadas. Cada uma de vocês tem três, e elas também já estão nos quartos. Vão ajudar vocês a desfazer as malas e a se preparar para o jantar. Antes do jantar de hoje, vocês se reunirão no Salão das Mulheres para uma projeção especial do Jornal Oficial de Illéa. Semana que vem, estarão ao vivo no programa! Esta noite vocês verão algumas das imagens feitas desde quando saíram de suas casas até a chegada aqui. Será bem especial. Saibam que o príncipe Maxon ainda não viu nada. Ele verá o mesmo que Illéa esta noite. Amanhã vocês o conhecerão oficialmente. Vocês jantarão em grupo, para que possam se conhecer melhor, e amanhã os jogos começam!

A última parte quase me fez dar pulinhos de alegria. Começamos a percorrer o segundo andar; e cada menina ia ficando em seu quarto. O meu era o último, ao lado de Bariel. O de America também ficava ali pertinho. Quando entrei, as três meninas — minhas novas criadas — estavam dispersas pelo quarto, cada uma fazendo uma coisa diferente.

— Oi! — exclamei, ficando parada e observando-as.

Duas delas vieram me cumprimentar com entusiasmo. Gisele e Bianca. A outra, que continuou com o seu trabalho, virou a cabeça para mim e murmurou um "olá, sou Ana" meio rabugenta. Então voltou a limpar por dentro das gavetas.

— Está tudo bem? — perguntei, estranhando um pouco.

— Está sim, senhorita, peço que não se incomode com o... O jeito de Ana — respondeu Bianca, com uma expressão de quem iria levar bronca.

— Ah, sem problemas. Está tudo bem.

Ela suspirou, aliviada. Eu queria continuar a leitura do livro para ter uma ideia do que iria acontecer mais tarde. Para isso precisava ficar sozinha.

— Meninas? Eu gostaria de ficar sozinha um pouco, se for possível — falei, dando um meio sorriso. — Quando chegar a hora vocês voltam aqui para eu me vestir.

Ana foi a primeira que correu até a porta, fez uma breve reverência e saiu. As outras pediram desculpas silenciosas novamente e saíram também. Eu não entendi o motivo do comportamento de Ana, mas planejava investigar o assunto depois. Fechei a porta do quarto, procurei na mala até achar o livro e me sentei na cama enorme e aconchegante para ler. Planejava ficar ali por muito tempo, perdida nos momentos de America.