POV Scorpius Malfoy

Caminhei pelo salão, deslizando o solado pesado sobre o assoalho de madeira. O que havia acontecido lá em cima? Rose Weasley certamente está fora de si. E agora eu não sei o que fazer. Todos me cumprimentam e desejam felicidades, eu nem ao menos sabia que estávamos namorando. Imagine, eu, Scorpius Malfoy com Rose Jean Weasley. Nunca. Impossível. Incogitável. Só de pensar já fico tonto. Aqueles cabelos ruivos embaraçados, aquele senso de moda, aquelas sardas nojentas... Só podia ser uma Weasley.

Mas Dominique é diferente, uma mestiça. Metade francesa. Linda, loira, sem sardas, seus olhos azuis combinam com o cinza dos meus. Ela é a garota que ocupa meus pensamentos, sempre foi.

— Scor? - Fui acordado pela voz de Melody, minha prima.

— Sim? - Perguntei meio perdido.

— Você está namorando mesmo com a prima do Albus? - Melody perguntou duvidosa, cruzando os braços.

—... Sim. - Pensei antes de responder. Pensei na coisa certa a se fazer. Eu odeio a ruiva Weasley, eu odeio o jeito dela. Odeio tudo sobre aquela garota, mas... Deve haver um motivo para o que ela fez. Para a humilhação que ela me fez passar. E ela vai ter que explicar. - Há pouco tempo, mas sim.

— Então é verdade, afinal. - Virei para o lado. Dominique. Sua voz soava como uma melodia em meus ouvidos. - Realmente cheguei a pensar que era brincadeira. - Seu sorriso estava diferente hoje, era sem graça e fraco, diferente do habitual.

— Então... - Comecei, nervoso. - Não é assim, Domi... Eu vou te explicar tu... - Fui interrompido.

— Não precisa explicar, Scor. Não precisa. - Ela dedilhou o cabelo loiro. -Vocês combinam. O Magnus pediu para sair comigo, e eu aceitei. - Sorriu novamente, porém agora de ponta a ponta do rosto. - Podemos ter um encontro duplo, afinal!

Magnus. Magnus Lestrange, meu primo, é a pessoa que eu mais odeio em toda Hogwarts. Se acham que eu sou arrogante, Magnus ultrapassa todos os limites conhecidos. Ele é um ano mais velho. Seus cabelos pretos são tão escuros quanto os de sua mãe, Bellatrix, assim como seus olhos e... Sua alma. Aquele vira-lata sarnento é cruel. Pior que eu e qualquer outro sonserino juntos. Algumas pessoas o consideram tão ruim quanto Voldemort. Ok, talvez eu esteja exagerando. Mas Magnus é sim uma pessoa ruim.

— Claro! - Respondi sorridente. - Ros irá adorar. - Como eu consigo mentir assim? Dominique me deixa com raiva, nervoso. Meu sangue ferve a cada palavra que sai da boca dela... Sobre ele. - Aposto que vocês irão adorar ir ao Madoxx, um restaurante muito bom que Rose amamos ir.

Uma mentira atrás da outra. Não, não. Isso não é ciúme. Me recuso. Falei sem pensar, apenas. Depois desminto tudo e falo que foi uma brincadeira.

— Adoraríamos! - A loira Weasley retrucou.

— Ótimo. - Conclui.

— Ótimo. - Ela repetiu.

Dei as costas para ela e comecei a atravessar o salão de festas, ignorando o fato de Melody e Dominique ainda estarem lá. Comecei a correr com os olhos pelo salão. Pessoas de todas as idades estavam lá. Mas eu tinha que achá-la. Após alguns muitos segundos tentando encontrar uma cabeleira ruiva, achei um tom bem diferente: Um verde. Romana, a garota estranha. Andei em passos acelerados em sua direção, ainda procurando a ruiva Weasley com o canto dos olhos.

— Burton. - Cumprimentei formalmente. - Você sabe onde se encontra a Weas... A minha namorada? - Corrigi rapidamente, para que ela não notasse o erro.

— Sai dessa, mané. Eu sei que vocês não estão juntos. - Revirou os olhos enquanto cruzava os braços.

Nervosismo. Tudo o que eu estava sentindo no momento.

— C-Claro que estamos! - Afirmei, gaguejando. - Onde está minha namorada?

— Seu merda, achou mesmo que eu não sabia? Rose me contou, eu sei a verdade, Malfoy. - Continuou com a postura exibida, revirando os olhos novamente. - Mas então, não sei onde está a sua fake girlfriend. Há alguns segundos ela estava comendo bolo bem aqui - Apontou para a cadeira. -, e agora eu não sei.

Consenti com a cabeça. Inútil. Garota inútil. Respirei fundo e voltei a procurar Rose. Após alguns minutos de procura, desisti. Decidi que precisava de um ar para conseguir entender tudo o que se passava. Segui em direção à saída do salão, e chegando no terraço externo, lá estava ela.

As curvas da ruiva se destacavam na luz noturna. Seus cabelos ruivos eram soprados pelo vento, assim como seu vestido. Curto, pensei. Dei exatamente dez passos em direção à ela até ela perceber que eu estava lá, e se virar para me olhar. Nos encaramos por bastante tempo, que eu até parei de contar. Seu rosto estava vermelho, seus olhos também. Notei que ela estava chorando. Me aproximei da garota, ainda sem falar nada, e puxei meus fones do bolso. Fiz sinal para ela pegar. Sem hesitar, ela os apanhou. Sem hesitar, ela os encaixou em seus ouvidos. Pesquisei rapidamente no celular. Let's Go, do Stuck In The Sound.

Here I am tied and bound

Every night feeling low

Bad days come back, whatever.

E ela começou a chorar novamente. Odeio garotas chorando. Quando eu era pequeno, sempre ouvia minha mãe chorar. Não era culpa do meu pai, mas... Eles foram obrigados a se casar. Até chegar em Hogwarts, nunca nem sonhei que o primeiro amor de meu pai fosse Hermione Granger, a sangue-ruim.

In the sun I bathe, in everyday light

You draft me down for a split second tomorrow

What am I supposed to do?

Enlacei-a entre meus braços, confortando-a em um abraço. Canela. Rose Weasley cheira a canela, o oposto de Dominique, que tem o delicado cheiro de Chanel número 5. Por que eu, Scorpius Malfoy, estava ali, abraçando a garota que só me meteu em problemas até agora? Minha consciência faz eu querer ser bom, só pode.

I know you would make me happy

Girl I found my way out

I found it at last, now I'm sober

Eu simplesmente odeio canela, sempre odiei. Assim como sempre odiei Rose. E agora, de um segundo para o outro, meu termômetro de compaixão subiu estrondosamente.

Silence's on, I attempt

Bow and scrape, tope the line

Never get back together

Você pode estar pensando "Ah, ele está apaixonado". Muito pelo contrário. Isso me faz ter vontade de atirá-la sacada à baixo. Isso faz eu ter vontade de matá-la, ou melhor, tirar proveito disso. Sim, dessa situação. Dominique irá se apaixonar por mim, guarde minhas palavras.

With the same old style rand down my life

You drag and drop, attract me after all

Anyway I'm gone tomorrow

Weasley... Após o que fiz hoje, eu aceitei a sua mentira. Agora você deve aceitar os meus termos.  Agora você deve aceitar a minha parte do contrato, pois somos parceiros. Parceiros do crime, quem sabe?

We're back to back for hours

We're weak and what they say

'Bout loving like we do

We'll never give this up

You cryin'

How sweet the sound

Agora você é minha. Não romanticamente falando, mas de certa forma é minha. Você precisa de mim e eu preciso de você. Meus pais nunca me deixaram ter um cachorro de estimação... Eu sempre quis saber qual era a sensação de ter um. Obrigado, Rose. Agora você ocupa esse cargo. Que a nossa história comece.

— Malfoy? - Ela chamou, entre lágrimas.

— O que foi, Weasley?

— Eu vi o que você fez na frente de Dominique... Obrigada. - Suas bochechas coraram.

— Não agradeça por isso. Eu te fiz um favor, agora você me deve uma. Simplesmente isso, entendeu? Eu aceitei o seu jogo, agora você que aceite o meu. - Retruquei contragosto, retirando os braços de sua cintura e cruzando-os.

— Como assim? - A ruiva se espantou, um pouco irritada.

— Simples, ué. - Soltei uma risada irônica. - Você será o meu cachorro. Você fará tudo o que eu mando.

— Um cachorro? Você está louco? Quem você pensa que é? - Weasley berrou, já irritada.

— A pergunta é: Quem você pensa que é, Weasley? Você simplesmente afirma para sua família que eu sou seu namorado, e depois faz um discurso na minha festa de aniversário praticamente se declarando, e não quer que eu peça nada em troca? Que eu ia ser bonzinho de graça? - Eu perdi a paciência. - Você é realmente muito ingênua. Ou você aceita, ou essa farsa acaba aqui.

— O que você quer?

— Eu nunca tive um cachorro, minha mãe é alérgica. Mas você é a chance perfeita. Eu amo cães. Eles são alegres. Se você dizer-lhes para esperar, ficam à espera como idiotas. Não importa o quão faminto ou quantas lágrimas escorreram de seus olhos, fazem tudo o que o mestre diz. Aqueles olhos são diabolicamente atraentes para mim. Você atrapalhou o meu dia hoje, Weasley. Eu ia pedir a Dominique em namoro. Agora você tem que me pagar.

A ruiva engoliu seco e estralou os dedos. Não olhava para mim, mas fitava perdidamente o chão de mármore.

— Tudo bem, Malfoy. - Finalmente concordou. - Você venceu. Eu faço isso.

Acho que a fiz se sentir culpada, pois bem. Eu não ia pedir Dominique em namoro. Não hoje. Mas essa pequena chantagem emocional sempre funciona.

— Ótimo. Vou enviar o contrato pelo correio, caso discorde de algo, me procure. Até mais, Weasley. - Terminei, já me virando para voltar ao salão. - Ah sim, três meses. Três meses de fingimento, entendido? É uma pena você ser tão boba. É apenas um passatempo para mim. Eu vou cuidar bem de você, Rose. - Conclui com um sorriso de lado, já ultrapassando a porta de vidro.

— Eu te odeio, Malfoy! - A ruiva Weasley berrou fora do salão.

Eu sei.

Eu ri. Isso pode ser mais divertido do que eu imaginei. É claro que eu não vou fazer nada com ela, mas... Assustar é divertido. Principalmente quando é seu maior inimigo. Rose Jean Weasley, você acabou de assinar a sua morte. Nesses três meses, eu nunca mais precisarei fazer o dever de casa.