— Encontrou alguma coisa Wayzz? – Louis perguntou em voz alta novamente.

— Ainda não Mestre Louis. – o kwami de tartaruga respondeu.

Já faziam horas que Louis, Cholé e Kattie estavam tentando arrumar um jeito de sair do estúdio de TV e até aquele momento não haviam conseguido nada. O tempo estava passando e não havia ninguém que eles poderiam chamar para ajuda-los. Somente um milagre os libertaria daquela prisão. Lá fora o dia permanecia claro e as nuvens já começavam a cobrir o céu novamente. A luz começava a perder o seu brilho para a escuridão provocada por Hawk Moth. Precisavam agir e rápido, antes que fosse tarde demais para o mundo.

— Não adianta. Chat Blanc deve ter destruído os aparelhos de sinal telefônico. – Kattie constatou desligando o celular, frustrada.

— E agora? – Louis indagou encarando as garotas a sua frente. – Era a nossa última chance.

— Não podemos desistir. Tem que haver alguma coisa que nos tire daqui. Nós só não encontramos ainda. – a ruiva argumentou novamente tentando encontrar alguma solução.

— Kattie, desista. – Louis pediu suspirando. – Já tentamos de tudo e mesmo que conseguirmos sair daqui um dia, já vai ser tarde demais.

 - Não Louis. Nós ainda não tentamos alguma coisa, eu sei. – Cholé insistiu voltando a encarar o novo amigo. – Por favor. Ladybug e Chat Noir ainda precisam de nós.

— Eu posso não saber muito de como ser uma heroína, mas sei que pra sair daqui só um milagre caindo do céu. – Kattie disse ainda concentrada em arrumar seu celular.  

A loira suspirou derrotada. Seus argumentos haviam acabado e ela precisava aceitar. Afinal, realmente não tinha um jeito de sair dali. Sentou-se no chão e apoiou seu queixo em sua mão. Odiava pessoas que a contrariavam. Desejou incontrolavelmente uma maneira de saírem dali para provar que aquilo que acreditava estava certo.

De repente, sentiu sua cabeça doer e a mesma começou a ouvir um zumbido em seu ouvido. Fechou os olhos com força e franziu a testa. O que estava acontecendo? Apertou a cabeça com as mãos e abriu os olhos novamente, sentindo sua visão embaçar rapidamente. Algo branco vinha em sua direção e não pôde fazer nada além de encarar a imensidão clara que lhe atingira.

Sentia um chão frio abaixo de si e levantou-se o mais rápido que pôde, tentando identificar onde estava. Sua visão começava a voltar e quando finalmente conseguiu enxergar de novo constatou que não estava mais presa na jaula com os outros. Estava sozinha. E ao olhar ao redor percebeu que também estava em um lugar totalmente diferente do há poucos minutos atrás. Havia abaixo de si um chão preto de granito e a sua volta uma espécie de areia dourada se amontoava. Tocou levemente aquilo e se assustou quando a areia se desviou de si.

Franziu a testa e encarou o ambiente a sua volta. Milhões de pontos cintilantes começavam a brilhar á sua volta e antes que pudesse pensar em alguma coisa, eles se agruparam junto com a areia dourada a sua frente em forma de algo. Ou melhor, de uma mulher. Logo Cholé pôde reconhecer a silhueta exata de uma mulher de grandes saltos e com uma estranha coroa que cobria boa parte de seu rosto. Sentiu o coração bater mais rápido quando um bastão surgiu saindo do chão escuro ao seu lado e a desconhecida o pegar lentamente.

— Meu nome é Style Queen. – a mesma disse como que lendo a mente da loira.

— C-como sabia que eu iria perguntar isso?... – a mesma indagou assustada.

— Isso não importa agora. – a mulher respondeu tocando o bastão e virando-se de costas para a garota. – Siga-me e então vai saber por que estás aqui.

— E porque eu seguiria uma total desconhecida que apareceu de repente pra mim? – Cholé indagou se levantando rapidamente irritada. – Escuta aqui sua esquisitona, quem você acha que é para mandar em mim? Se eu quiser eu vou e você não pode me obrigar. – terminou cruzando os braços.

— Essa é a mudança que você prometeu para si mesma quando se tornou Abelle? – Style Queen lhe indagou, lhe calando imediatamente. – Foi o que eu pensei. Não vou repetir o que disse novamente então é melhor me seguir.

A mesma bateu fortemente seu bastão dourado no chão negro enquanto a garota se aproximava em silêncio. Logo milhares de pontos cintilantes amarelos surgiram acima da cabeça de ambas e começou a mostrar várias imagens em si, como se fosse um filme. Cholé também pôde notar que essas imagens eram coisas que já haviam acontecido: antigas batalhas em que os miraculous haviam sido utilizados para combater o mal que se erguia contra o mundo. Admirou-se quando viu a evolução das portadoras do miraculous da abelha e como elas eram mais espertas do que a mesma. Mas antes que pudesse abaixar a cabeça e se lamentar viu algo que lhe chamou a atenção. Era a sua antepassada e a antepassada de Volpina... lutando juntas!

— Sim, nesse tempo elas eram amigas. Apesar de tudo aquilo que Abelle foi, as duas eram inseparáveis. – Style disse encarando a cena da luta das duas heroínas com egípcios mumificados por Faraó. O mesmo faraó que queria resgatar Nefertiti do deus do sol, Rá. – Foi exatamente no meio desta luta que elas descobriram um poder especial na combinação de seus dois miraculous.

— Poder especial? – indagou olhando para a misteriosa mulher que somente apontou seu bastão para a cena á sua frente.

***

— Encontrou alguma coisa My Lady? – Adrien perguntou enquanto ajudava a garota a subir no grande vitral do esconderijo de Hawk Moth.

— Ainda não... eu... – Marinette respondeu tentando se segurar nas grades que formavam o desenho de borboleta. Sentiu seus dedos escorregarem e soltou um grito. Logo estavam novamente no chão. – Argh, meus dedos escorregaram.

— Você está bem? – o loiro perguntou sentindo dores no local que sua garota havia caído. A mesma assentiu um pouco envergonhada. Havia caído encima do garoto.

— Não adianta. Temos que achar outro jeito de sair daqui. – disse saindo rapidamente de cima do garoto e dando um pequeno suspiro. – Alguma sugestão?

— Bom, em contraste a situação em que nós nos encontramos aqui, eu diria que não temos muita opção a não ser encontrar uma porta de emergência. Se houver uma aqui. – Adrien disse olhando para a garota amarrar o cabelo em um coque.

— Tem razão. – concordou voltando a olhar para o mesmo. – Se Hawk Moth lança mesmo seus akumas desse lugar então ele deve entrar por algum lugar. Uma porta é o mais provável. – concluiu encarando a kwami pousar em seu ombro.

— Nós procuramos por todo lugar Mari. Se houvesse alguma porta por aqui já teríamos encontrado. – Tikki ressaltou observando a morena levar a mão ao rosto.

— Talvez não seja uma porta. – murmurou olhando para Adrien e em seguida para o seu redor. – E se Hawk Moth não precisasse usar uma porta? E se talvez a identidade civil dele for tão importante que ele não pudesse simplesmente revelar que é um vilão? 

— Como assim Marinette? – Plagg indagou olhando para a garota. – Ele seria um “fantasma” que atravessa paredes?  

— Plagg.

— Não sendo um fantasma... Mas usando uma passagem secreta. - Marinette concluiu batendo uma mão na outra. – É isso! Hawk Moth só pode usar uma passagem secreta para entrar nesse lugar!

— Tipo naqueles filmes de suspense que os mocinhos encontram as passagens secretas para serem os heróis da história? – Adrien perguntou com um brilho de criança no olhar. – Nós vamos ser como eles?

— Tecnicamente nós já somos os heróis da história. – respondeu batendo levemente na parede mais próxima a ela. – Nós só... Precisamos dar a volta por cima desta situação. Agora para de falar e vem me ajudar.

— Como quiser My Lady. – o loiro respondeu indo na parede oposta da garota.

***

— Eu não ainda entendi... – Cholé comentou após terminar de assistir o momento exato em que Abelle junto com Volpina egípcia haviam segurado a mão uma da outra e gritado o nome do feitiço que, há muito, estava sendo descoberto pela história e por elas mesmas. – Porque está mostrando essas coisas? Porque apenas pra mim? – indagou, tentando enxergar o que havia por trás dos grandes óculos negros.

— Na hora certa você saberá o motivo. – a mesma disse desfazendo os demais filmes que haviam sido criados. – Agora, o importante é que saibas como o arrependimento e o amor podem ser ainda mais poderosos do que todos os miraculous. Recorde-se de tudo o que Ladybug te disse a respeito dos antigos pergaminhos e então saberá tanto sobre esse assunto que não precisará da minha ajuda. Não conte para ninguém o que você ouviu de mim. – disse encarando a garota e tocando seu ombro com o estranho bastão dourado. Rapidamente vários pontos dourados começaram a desfazer a silhueta da mulher a sua frente e era o suficiente para a cabeça da garota começar a doer novamente. – Lembre-se, uma Bourgeois nunca desiste.

Então tudo voltou a ficar branco.

— Cholé... Cholé... – ouviu alguém lhe chamar e lhe sacudir até que abrisse os olhos novamente. Era Kattie preocupada com ela. – Você está bem? Fazia um tempão que você estava falando sozinha.

— Eu... eu... – a loira gaguejou piscando várias vezes. Não iria conseguir explicar o que tinha acabado de acontecer. – Hã...

De repente alguma coisa bateu nas grades da jaula, lhe abrindo com força. Os três heróis olharam para a direção de onde o objeto havia aparecido e se surpreenderam com quem estava ali. Não podiam acreditar. Depois de tudo o que havia acontecido há alguns momentos atrás ela ainda tinha a coragem de aparecer onde estavam presos. Cholé acompanhou a morena com os olhos até próxima de onde os mesmos estavam e segurou o desejo de lhe xingar ali mesmo.

— O que você está fazendo aqui? – Kattie perguntou ainda imóvel dentro da jaula aberta. – Já não foi suficiente o seu showzinho de agora há pouco?

— Bela maneira de tratar sua melhor amiga não é mesmo Kattie? – retrucou prendendo sua flauta nas costas.

— Você ainda tem a audácia de me chamar de melhor amiga? – perguntou elevando o tom da voz e ficando de pé a frente de Volpina. A raiva transbordava em seu olhar. – Você deixou de ser minha melhor amiga desde que se envolveu com Chat Blanc e traiu a todos nós. Você deixou de ser minha amiga quando disse que iria mudar e fez essa burrada. E você deixou de ser a minha melhor amiga desde o momento em que você nos fez cair em uma armadilha do Hawk Moth, correndo um risco dele dominar todo o mundo. A culpa é toda sua Lila! Você falhou com todos e principalmente comigo. – gritou fazendo a mesma recuar passos para trás de si. Lágrimas molhavam os olhos de ambas.

— Kattie você não entende. Eu tenho meus motivos para ter feito o que fiz. – Volpina tentou argumentar, sendo interrompida por um tapa da ruiva em seu rosto. Virou a face e lhe tocou levemente. O local começava a arder.

— Caso você não tenha entendido o recado Lila, você não tem motivos para justificar o que você fez conosco. – Louis completou tocando o ombro de sua melhor amiga. – Agora nos dê licença, temos um vilão para derrotar e...

— Esperem! – Cholé gritou se posicionando entre os três e os fazendo olhar para a mesma. O silêncio reinou até que a loira olhasse para os dois mais novos amigos e para Lila, respirando fundo. – Eu... sei que isso pode parecer loucura... mas nós precisamos dela. Não podemos encontrar Hawk Moth sem o pergaminho dela.

— Cholé você não viu tudo o que ela fez para nós? Traindo nossa confiança nela? – Kattie perguntou apontando irritada o dedo indicador em seu rosto.

— Sim Kattie eu vi... E eu compreendo ela. – respondeu fazendo todos ficarem surpresos. – Fala sério, quantas vezes nós todos já erramos? Quantas vezes já fizemos algo que nos arrependemos depois? Lembrem-se do pergaminho que Ladybug te deu Louis: “O traidor está mais perto do que se imagina. O fim logo se aproxima. Quando a pedra mágica brilhar e o arrependimento vier, lembre-se de que todos merecem uma nova chance onde estiver.” As vezes a pior atitude é a escolha mais certa a se fazer. Não devemos julgar um livro pela capa. Nós não sabemos o que aconteceu realmente, não podemos acusar alguém até que se prove que essa pessoa está errada. – Cholé disse virando-se para a garota. Deu um sorriso triste. – Às vezes as pessoas acham que podem fazer tudo, mas não podem. Eu posso dizer isto por experiência própria Lila. E... eu acredito que, se eles me perdoaram por tudo aquilo que já fui, eles vão perdoar você também. Mesmo que isso leve algum tempo.

— Nunca pensei que você diria algo assim para mim Cholé... eu realmente julgava você mal. – Lila soltou deixando que algumas lágrimas molhassem seu rosto. A loira apertou a mão da mesma com força. – Eu vim até aqui pedir desculpas para vocês. Desculpas de verdade. Eu sei que não fui a melhor heroína desta cidade e que falhei muito com todos vocês... Mas eu precisava fazer aquilo. Chat Blanc não é ruim. Eu sei disso. Eu vi bondade nele... Ele me contou o porque de ter se aliado ao Hawk Moth e por isso eu fiquei do lado deles.

— Claro. – Louis comentou sarcástico.

— Eu juro que é verdade. – afirmou olhando profundamente nos olhos dos três. – Desde que a mãe dele desapareceu há alguns anos, ele vem tentando encontrá-la de todas as maneiras. Um dia ele conheceu Hawk Moth e acreditou que ele o ajudaria se ele se tornasse Chat Blanc. É óbvio que ele foi enganado e usado até hoje pelo vilão. – explicou olhando novamente para Cholé. – Ele ainda é bom Cholé, eu posso sentir. Se eu estivesse aliada a eles poderia ajudar a trazer esta bondade à tona de novo.

— Infelizmente não foi o que aconteceu. Hawk Moth também te enganou. – Kattie a lembrou com os braços cruzados.

— Infelizmente sim. Mas é por isso que eu estou aqui. Eu vou mostrar a todos o quanto eu estou arrependida com o que eu fiz. – continuou abaixando a cabeça. – Não vim pedir uma segunda chance... Porque sei que ninguém confia em uma raposa traiçoeira. Só quero que saibam que eu estou do lado de vocês. – assegurou olhando esperançosa para Kattie.

— Sinto muito Volpina. Eu não vou acreditar no que você está me dizendo. – a ruiva afirmou friamente virando-se na direção onde seu kwami estava. – Dussu, me transforme.

Em poucos segundos Paon estava de volta. Já mascarada e com seus leques em mãos saiu do estúdio de TV rapidamente. Lila abaixou a cabeça e suspirou. A amizade de ambas estava realmente acabada. Sentiu suas orelhas pontudas se abaixarem e sentou-se no chão. Logo o remorso e um vazio começaram a penetrar no coração da morena. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Preferiu esquecer a ideia de voltar atrás. Ladybug e Chat Noir jamais a perdoariam também.

— Ela só está chateada com você Lila. – ouviu a voz de Louis falar perto de si. – Mais cedo ou mais tarde ela vai te perdoar.

— Isso. Ela vai ver que você está mesmo arrependida. – Cholé continuou colocando uma mão em seu ombro.

— Não. Kattie jamais acreditará nisso. Não importa o que eu faça. – garantiu enxugando o rosto. – Nossa amizade acabou para sempre.

— Ela pode não acreditar, mas nós dois acreditamos. – a loira afirmou encarando o seu rosto vermelho. – Como eu disse para Louis, você não é pior do que eu. Já pensou em quantos akumas eu já provoquei por ser tão mimada e “irritante” com os outros?

— Exatamente. – Louis concordou. – Eu posso te assegurar que ela seria a última pessoa que eu pensaria em dar um miraculous. Afinal, ela era uma pessoa totalmente arrogante, chata, mandona, mimada pelo papai...

— Nós já entendemos Louis. – a garota o cortou com um sorriso amarelo. O que fez Lila soltar uma pequena gargalhada. – Enfim, o que queremos dizer é que não devemos julgar alguém pelo que fez no passado. E sim pelo que ela faz a partir do momento em que se arrepende.

— Obrigada pessoal. – Lila agradeceu encarando ambos com quase imperceptível sorriso.

Foi então que o colar de Volpina começou a brilhar. Em poucos instantes o brilho laranja tomou conta de seu miraculous e fez com que a pulseira de Louis e o pente de cabelo de Cholé também brilhassem. As cores laranja, amarelo e verde começavam a tomar conta de todo o estúdio de TV. De repente, ali estava ele. O pergaminho que faltava. Seus miraculous ainda continuavam acesos quando Louis juntou todos os outros pergaminhos sob o de Volpina.

— Finalmente! – o moreno comemorou mostrando para as garotas as exatas coordenadas do esconderijo de Hawk Moth. – Volpina, já que você está transformada procure estas coordenadas no seu comunicador. Por favor.

— Claro. – disse pegando os números agora visíveis aos olhos de todos.

— Finalmente vamos descobrir quem é Hawk Moth. – Cholé comentou sorrindo. – Então Lila, você encontrou a localização?

— Vocês têm certeza de que isso está certo?

— Sim, são as mesmas coordenadas que os pergaminhos nos revelaram. - Louis reafirmou olhando para a flauta da raposa. – Algum problema?

— Bom... a longitude e a latitude estão apontando para a mansão dos Agreste. – respondeu deixando os outros surpresos.

— Então... isso quer dizer que...

— O Gabriel Agreste é o Hawk Moth. – Volpina concluiu.