Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 7
Mais cedo ou mais tarde




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Denise encarou a porta do quarto, por onde as amigas haviam acabado de sair. Elas haviam ficado lá conversando por alguns minutos, mas ela apenas fingia interesse. Depois do que dissera sobre Xaveco, se sentira instantaneamente culpada.

Não sabia porque tinha dito aquelas coisas. A noite passada deixara muito claro que ela sentia algo muito forte por ele. As borboletas no estômago foram mais fortes do que as que o beijo roubado de Xavecão lhe causara. Tudo isso porque era por ele que estava apaixonada. Não mais pelo Xaveco “do futuro”, mas por aquele que estava ali agora. O nerd bobão esquisito.

Ainda assim não conseguia admitir e nem mesmo sabia a razão para tal. Negara tudo para as amigas num impulso. Se arrependera, mas continuava sem coragem de contar para elas o que realmente sentia.

Levantou-se da cama e, ainda pensando nisso tudo, trocou o pijama por um biquíni azul e uma saída de praia preta. Esbarrou com Nimbus no corredor e ele lhe deu um bom dia muito sonolento, aparentemente indo tomar um banho. Cascuda, Magali e Mônica estavam sentadas à mesa com Franja e Marina, conversando e tomando café da manhã.

— Como está nosso casal sensual favorito? – a ruiva riu, indo pegar uma xícara e um prato na cozinha, antes juntar-se ao grupo, sentando-se na última cadeira restante.

— Para Dê! – protestou Marina, com o rosto corando curiosamente.

— A festa foi boa pra vocês? Vendo de fora parecia estar ótima... – Cascuda sorriu, dando uma piscadela.

— Não sei como eles tão acordados... Se eu tivesse gastado aquela energia toda ia dormir até a semana que vem, meu! – brincou Cascão, que já havia terminado de comer, mas estava esparramado no sofá.

As meninas riram alto com aquele comentário, Marina corou mais ainda, mas sorriu para o namorado que fez cara feia para o amigo e murmurou um xingamento aborrecido. De qualquer jeito, por mais que tivessem que aguentar a zoação pelo resto do verão, não se arrependiam de nada.

Denise arriscou uma olhadinha para a sala. Do Contra lia um livro de física quântica, Cebola assistia desenho na televisão (embora o som fosse quase inaudível, de tão baixo que estava o volume) e não havia nem sinal de Xaveco. Ela suspirou pesadamente e voltou a prestar atenção na conversa dos amigos.

Minutos depois o loiro entrou na casa pela porta da frente, acompanhado por Bia. Os dois comentavam alguma coisa sobre um cara que tinha tomado um caldo feio na água e riam da história toda. A ruiva congelou por um instante, sem saber o que fazer, mas logo abriu um sorriso. Ele cumprimentou Franja e Marina com brincadeiras similares à que ela tinha feito, conversou com os outros por alguns instantes, mas não dirigiu sequer um olhar à garota, como se ela nem estivesse ali.

Cebola fez cara feia, amaldiçoando a claridade. Estava à sombra do guarda-sol, usando um boné e um par de óculos escuros, mas mesmo assim o sol continuava incomodando. Naquele dia descobrira que ressaca era uma das piores coisas da face da Terra e jurara para si mesmo nunca mais beber. A cabeça doía, o estômago continuava meio enjoado e qualquer barulhinho o fazia se sentir como se tivesse levado um soco bem no meio da testa.

Desde de manhã estava dando seu melhor para agir naturalmente e fingir que estava em perfeitas condições. Era tão irritante saber que, além de ter cuidado dele a noite inteira, Do Contra estava numa boa, sem nenhum sinal de cansaço. E ele lá, parecendo que tinha sido atropelado por um caminhão de carga.

Nimbus, Mônica, Xaveco e Cascuda tinham feito um esforço conjunto para preparar o almoço e agora o grupo todo estava na praia, se dividindo em várias atividades. Ele se apressara para se sentar numa espreguiçadeira, o mais distante possível dos outros, para aproveitar o silêncio.

— Ei careca! – cumprimentou Cascão de repente, assustando o garoto. – Tá melhor?

— Tô ótimo. – ironizou, sem disfarçar o mau humor. – Eu dei muito trabalho ontem?

— Bom, eu tive que te impedir de brigar com um mamute enorme lá na boate, você quase vomitou no pé da Mônica, nós tivemos que te arrastar pra casa, o DC te deu banho.. – Cascão numerou, fazendo uma cara bem séria, mas logo explodindo em risadas ao ver a expressão do outro. – É brincadeira, careca! – riu – Quer dizer, a parte do banho. O resto é verdade.

— Nunca mais eu bebo na vida! – fez cara feia. – Mas a festa foi boa... A parte que eu me lembro, pelo menos. – completou. Isso era verdade e mentira ao mesmo tempo. Verdade porque tinha sido bom se soltar e se divertir, mentira porque havia uma cena que não saía de sua cabeça e fora terrível de assistir. Fora por causa dela que ele começara com a bebedeira toda, afinal.

— Espero que não beba mesmo. Na festa da Carminha vai ser a minha vez de dar trabalho! – o moreno brincou, abrindo um sorriso maroto.

— A festa da Carmem... – Cebola suspirou pesadamente, desviando o olhar para Mônica, que conversava animadamente com as amigas. Por um minuto ele pensou em fazer um plano infalível para conquista-la, mas em todos esses anos (em especial na noite passada) ele aprendera que seus planos sempre terminavam em desastre. Dessa vez ele não queria derrota-la e nem ao menos provar que estava à sua altura. Só queria que ficassem juntos.

Depois de perde-la uma vez, todo aquele orgulho que carregava dentro de si parecia não ter sentido algum.

— Vocês me ajudam a escolher uma roupa de novo? – Mônica sorriu animada.

— Não precisa nem pedir, mona! – comemorou Denise, já imaginando várias possibilidades de figurino. Há alguns minutos as garotas falavam sobre a tão esperada festa de ano novo de Carmem FruFru, que aconteceria na noite seguinte.

A loira como sempre fora passar as férias na mansão de veraneio de sua família, numa ilha próxima. Por conta da ocasião especial da formatura, conseguira convencer os pais a lhe cederem o iate particular e convidara toda a turma para uma megafesta a bordo, da qual vinha falando há semanas.

Denise fez de tudo para se animar, mas nada nesse mundo conseguia fazê-la parar de pensar no loiro e no fato de que ele não trocara uma única palavra com ela durante o dia inteiro. Era estranho. Ela nunca achara, que de todas as hipóteses, logo essa fosse acontecer. Por que de repente ele decidira ignorá-la completamente?

A menina engoliu em seco, pensando em tudo o que acontecera. Por um minuto se arrependeu de ter ido para aquela viagem. Poderia muito bem ter ido passar o verão com Carmem e seus primos, ou ficado no Limoeiro fazendo compras e assistindo reality shows. Não que não estivesse feliz em estar ali com as amigas. Depois de tudo o que acontecera, Mônica e Magali se tornaram suas maiores companheiras, embora ela custasse a admitir. As férias estavam sendo divertidas, o clima estava bom e ela sabia que ainda fariam muitas memórias boas.

Mas não podia negar para si mesma que a razão principal para sua presença ali era Xaveco. De um jeito absurdo, ela chegara naquela casa com vontade de fugir e ao mesmo tempo de ficar junto com ele o máximo possível. Fantasiara várias vezes, em segredo, os momentos que passariam juntos.

E agora ele estava ignorando-a.

Se esforçando para voltar a prestar atenção no assunto das meninas, ela sorriu fingiu entusiasmo. Ela não era mulher de ficar sofrendo por sentimentos mal resolvidos.

Faria o que sempre fez. Vestiria suas melhores roupas, passaria uma boa maquiagem e se esqueceria dele.

Mais cedo ou mais tarde, se esqueceria.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curtinho, meio que um "aquecimento" pra a festa da Carmem!
Conhecendo a patricinha mais divosa da TMJ, essa festa promete, né?
Espero que gostem
kisses :*



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