Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 6
A última vez


Notas iniciais do capítulo

Queria ter postado esse no fim de semana, mas fiquei muito enrolada e acabou não dando tempo, então vai na segunda mesmo!
Espero que gostem ♥



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— A gente precisa ajudar ele a se limpar. – murmurou Magali, vendo o estado do amigo de infância. Ele estava sentado numa cadeira nos fundos da casa, segurando um balde para conter eventuais enjoos e parecendo muito perdido. Do Contra e Cascão se entreolharam, como se estivessem tentando decidir com quem ficaria a tarefa.

— Nem olha pra mim. – Cascão fez cara feia. – O que foi? Eu já livrei ele de tomar uma surra lá na festa, mas água eu não enfrento não. – completou, ao ver as expressões dos amigos. O moreno tinha conseguido evitar que o outro se metesse numa confusão enorme com uns garotos desconhecidos no meio da pista de dança, o levado para fora, trazido para casa e agora cuidado dele, mantendo-o hidratado e acordado enquanto ele passava mal. Por mais que quisesse ajudar o amigo, tinha seus limites.

— O que? – a garota arqueou as sobrancelhas. – Vocês querem que eu dê banho nele? Nem pensar! – protestou, o rosto corando violentamente.

— Não é dar banho... É só ficar lá pra garantir que ele não caia de cabeça no vaso ou sei lá. – o sujinho deu de ombros.

— Mesmo assim! – ela continuou, envergonhada. – Do Contra? – e sorriu para o menino, fazendo sua melhor cara de pidona.

— Vocês tão de zoação com a minha cara, só pode. – ele girou os olhos, ao mesmo tempo em que Mônica gritou lá de dentro da casa que o chuveiro estava livre. – Tá, tá. Mas eu só vou ficar na porta, não vou entrar no banheiro com ele não!

— Você é o melhor! – a comilona riu, lhe dando um beijo na bochecha. – Vão indo lá que eu vou passar um café. Tenho a impressão de que a gente vai demorar a dormir... – completou, já seguindo para a cozinha, sendo seguida pelos dois, que praticamente arrastavam Cebola pela casa.

Separou as coisas para o café e mais alguns ingredientes para os sanduíches, porque estava louca de fome. O final da noite tinha sido estressante, mas ela se divertira e gastara bastante energia. Cantarolava uma canção qualquer quando Mônica chegou, ainda usando a mesma saia da festa, porém com uma camiseta velha do Superhomão no lugar da blusinha de alças e os pés descalços.

— E aí, como está todo mundo? – Magali perguntou, ao mesmo tempo em que a outra se sentou no banco do balcão.

— A Mari ta quase dormindo. A Cascuda ficou lá no quarto com ela. – respondeu, cruzando os braços sobre o mármore e apoiando a cabeça sobre eles – Ainda bem que o Franja não passou mal também, porque ia dar um trabalho danado. – E... Os meninos?

— O Cebola tá bem, amiga. Mas vai ter uma ressaca daquelas amanhã. – respondeu, sabendo que aquele era o jeito da amiga perguntar sobre o garoto. 

— E aí, cadê esse café? – perguntou Cascão, aparecendo de repente e se instalando no banco ao lado de Mônica.

— Já vai sair. – sorriu – Agora vamos encher a barriga que saco vazio não para em pé. – completou, colocando a cestinha de pães e a vasilha com queijo e presunto sobre o balcão.

— Tá tudo em ordem aí? – Do Contra perguntou, notando que estava silêncio há muito tempo no banheiro.

— Não plecisa ficar cuidando de mim! – o outro respondeu, aborrecido, abrindo a porta de uma vez, já vestido com uma calça de moletom e uma camiseta. Já ia andando em direção ao quarto quando perdeu o equilíbrio e teve que se segurar no rival para não dar de cara com o chão outra vez.

— To vendo. – murmurou, girando os olhos.

Sem dúvida nenhuma ele parecia melhor depois do banho, mas ainda não estava nem perto de ficar bem. Falava enrolado, tropeçava nas palavras, mal conseguia dar três passos sem perder o controle.

Assim que conseguiram chegar ao quarto, Cebola despencou na cama, encarando o teto. Ficou levemente nauseado pelo movimento brusco, mas conseguiu controlar.

— Por que você tá me ajudando? – perguntou, vendo que o roqueiro se sentara numa poltrona no canto do cômodo, parecendo esperar alguma coisa.

— Porque tá todo mundo esperando que eu te largue todo vomitado no chão. – fechou a expressão, nem um pouco afim de conversar.

— Eu te deixalia vomitado no chão. – continuou, rolando de um lado pro outro no colchão, obviamente incomodado. – Deve ser por isso que a Mônica escolheu você.

Do Contra bufou, mas não disse nada. Nem sabia o que dizer, já que aquela era a conversa mais longa que já havia tido com aquele garoto em anos. Tinham se acostumado com a presença um do outro, já que todas as suas amizades eram em comum, mas sempre estavam rodeados dos outros. E trocando farpas, muitas farpas.

— Acho que nem eu me escolhelia. – ele riu sozinho – Por que vocês terminalam? – perguntou de repente.

— Não é da sua conta. – respondeu, aborrecido. Por mais que soubesse que no outro dia ele provavelmente não se lembraria daquela conversa, se recusava a dizer o motivo real.

Cebola ficou em silêncio por algum tempo, mas logo voltou a falar, dessa vez sobre os assuntos mais aleatórios possíveis. Falou sobre matérias da escola, algum jogo de videogame, compartilhou algumas histórias sobre os amigos que Do Contra já sabia de cor. Do meio pro fim o roqueiro se perguntou se ele ainda sabia com quem estava falando e chegou à conclusão de que provavelmente não. Ainda assim, ficou lá até que o outro dormisse, só para garantir que não aconteceria nenhum outro desastre. E depois foi para a cozinha, mas abriu um refrigerante porque não queria café.

Ao contrário do que esperava, Xaveco acordou bem cedo no outro dia. Saiu do quarto para beber água e encontrou a casa toda silenciosa. Até pensou em voltar para a cama, mas estava estranhamente desperto, apesar da dor de cabeça que sentia. Pegou uma muda de roupas no quarto, tomou um banho rápido, se trocou e tomou café da manhã checando as redes sociais e seus sites favoritos no celular. Encontrou Cascão e Do Contra dormindo em seus colchões na sala, enquanto Nimbus estava praticamente desmaiado no sofá, ainda com as roupas da noite anterior. Saiu pelos fundos da casa para pegar sua prancha na lavanderia e desceu para a praia, aproveitando que o sol ainda estava baixo.

O mar estava calmo, com ondas bem menores do que as que costumava pegar, o que era bom, porque apesar de estar se sentindo bem, ainda estava de ressaca. Se espreguiçou lentamente e tirou alguns minutos para limpar e parafinar a prancha, antes de sair correndo para o mar.

Surfar continuava sendo, ano após ano, sua atividade favorita. Todo o tempo que passava na cidade, era esperando as folgas que tinha para visitar a praia. Depois da separação dos pais, a família deixara de fazer suas costumeiras viagens ao litoral. De vez em quando Xabéu passava um ou dois fins de semana de suas férias na casa, ou o pai vinha com ele e passava os dias pescando. Mas ele continuava aparecendo sempre que possível. Às vezes parecia até que mantinham a propriedade só por causa dele.

Pegou algumas ondas, mas logo desistiu, sentindo o corpo reclamar do cansaço. Então deixou a prancha pairar na água, atrás de onde as ondas estavam quebrando, e ficou lá sentado contemplando a vista.

Ficara muito surpreso com o que acontecera na noite anterior. Por muitos anos sonhara com aquele momento, imaginara o dia que finalmente conseguiria um beijo de Denise, mas nunca pensara que ela que roubaria um beijo seu, ao invés do contrário. Naqueles dois dias ele já se vira totalmente apaixonado por ela de novo e perdera até a vontade de lutar contra aqueles sentimentos.

De repente ele sorriu, se permitindo pensar em todas as coisas que queria. Se perguntou o que ela diria quando o visse de novo, se ela aceitaria ser sua acompanhante na festa de ano novo de Carmem, para onde poderia leva-la em seu primeiro encontro. Imaginou todos os momentos românticos que poderiam ter ali na praia... Esperara tanto por aquele momento que agora nem sabia o que fazer.

Saiu do mar e seguiu para a casa, largando a prancha na lavanderia e se molhando rapidamente no chuveirão de fora da casa, só para tirar o sal do corpo. Tirou o excesso da água dos cabelos com uma toalha que deixara ali especialmente para isso e entrou pela cozinha, encontrando Cascão tomando um suco de laranja e Cebola com uma xícara de café fortíssimo, os dois conversando sem muita animação.

Avistou Do Contra lendo um livro de física quântica deitado em seu colchão da sala e Nimbus roncando sonoramente. Seguiu até o corredor dos quartos, decidido a ir para o seu pegar uma roupa para se trocar, mas parou ao ouvir vozes femininas vindo do quarto de hóspedes. Sabia que era errado ouvir atrás da porta, mas não conseguiu evitar a curiosidade e, depois de checar se não havia ninguém vindo, grudou o ouvido na madeira.

— Eu tô tão cansada... – Magali disse.

— Também, a gente foi dormir tão tarde ontem. – murmurou Cascuda – Agora o que eu quero saber é o que certas pessoas estavam fazendo lá fora por tanto tempo... – riu animada. O garoto arregalou os olhos e fez de tudo para ouvir melhor.

— Eu? – respondeu Denise. – Ai gente, eu sei lá... – disfarçou.

— Engraçado que o Cascão me disse hoje cedo que o Xaveco também chegou super tarde no quarto dos meninos... – começou Mônica. – Que coincidência, né Dê?

— Er... Eu... – a ruiva começou. – Ai gente, eu não queria entrar porque tava muito calor, só isso! – desconversou. O loiro arqueou as sobrancelhas, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Tem certeza? – perguntou Marina, a voz obviamente mais sonolenta do que a das amigas.

— Claro! Eu e o Xaveco... Que viagem, monas!

Ele não ficou para ouvir o resto da conversa, subitamente se sentindo muito burro. Ela sempre o esnobara, por que agora ele achara que seria diferente? Para ela a noite anterior não significava nada.

Essa era só mais uma na lista de ilusões que ele vinha cultivando por todos esses anos.

Estava cansado de fazer papel de idiota por causa dela.

Aquela seria a última vez.


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Notas finais do capítulo

Ah, as tretas pós bebida... Muitas coisas acontecendo, sentimentos confusos... Enfim, aguardem que o próximo tem mais tensões! hahaha (mas prometo que em algum momento os personagens vão ter um pouco de paz)
Beijos e até o próximo!
Mia



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